Hoje, como em outros tempos...

 

 

 

 

 

 

Hoje, como em outros tempos...

 

Vozes se erguerão contra mim. E dirão que prego a dissolução da família, sobre a qual se constrói a sociedade.

 

Porém, o meu desejo é fazê-la assentar sobre o Amor; para que não desmorone com o passar dos anos, que modifica a vaidade dos homens.

 

Dirão que ataco as instituições que regem os destinos da humanidade. Mas tudo que desejo é que o homem possa reger o seu próprio destino.

 

Hoje, como em outros tempos...

 

Hei de pregar no deserto; a minha recompensa será o viajante solitário, que ouça as minhas palavras e nelas reconheça a sua verdade.

 

E que rica recompensa terei!

 

Pois, há dois mil anos, alguém diferente trilhou os nossos caminhos; e aos ouvidos do homem entregou as suas ricas palavras.

 

Porém, se hoje voltasse a andar entre nós, precisaria repetir as mesmas palavras. E, por certo, teria o mesmo destino.

 

Hoje, como em outros tempos...

 

É preciso que eu volte a partir. Que embarque em outros navios; que singre mares desconhecidos e aporte em lugares iguais.

 

E, nas minhas viagens, o vento que se renova há de ser sempre o mesmo, a enfunar as minhas velas e conduzir as minhas embarcações.

 

Pois, se são outras as roupas e os corpos que as usam, são as mesmas as almas que habitam esses corpos.

 

E, se algum dia houver algo de novo em um porto:

 

- se os pássaros pousarem nas mãos dos homens;

 

- se a lua não for um objeto a ser conquistado, mas o adorno da noite;

 

- se a chuva não for apenas água, mas a fonte da vida;

 

- se o amor não for uma palavra, mas uma canção na alma dos homens,

 

Então terá chegado o fim das minhas viagens.

 

E me deixarei ficar, entre os meus irmãos, que me reconhecerão e chamarão o meu nome. Assim como tantas vezes, antes, os chamei por seus nomes, sem que reconhecessem a minha voz aflita.

 

Hoje, como em outros tempos...  

 

        

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