Estamos juntos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Muito vos tenho ouvido.

 

E, ao ouvir as vossas vozes, não posso ouvir os vossos corações. Pois as palavras do homem não traduzem os seus sentimentos, mas os seus desejos.

 

Por isto, às vezes preciso retirar-me um pouco. Para ouvir a mim mesmo.

 

Então, me julgais só. E me procurais, como se o vosso desejo de estar comigo pudesse ser a demonstração do vosso amor.

 

Entretanto, jamais estou só.

 

Ao estar comigo, posso estar convosco; pois as batidas do meu coração em nada se diferenciam do bater dos vossos corações.

 

E os meus pensamentos são como os vossos pensamentos.

 

No silêncio, posso ouví-los. E saber como vos posso falar, para que possais entender a vós mesmos.

 

Pois não sou diferente de vós. E, se o fosse, como poderia falar-vos? Algum de vós, acaso, pararia para ouvir-me?

 

Deteria a águia o seu vôo, para ouvir a cobra que rasteja?

 

Ou deixaria a toupeira de cavar, para ouvir o pássaro descrever o sol?

 

Não. Ninguém ouve senão aquilo que pode entender; como não procura senão o que lhe faz falta.

 

Por isso, os vossos ouvidos acolhem as minhas palavras. E os vossos corações se abrem ao meu coração.

 

Por isso, ouço a vossa voz a dizer as minhas palavras. E vos recebo no meu coração.

 

Estamos juntos, nesta jornada. Como as pétalas da flor, que aguardam o seu desabrochar.

 

Ou como as estrelas, que constroem um único céu.

 

E se vos falo, ao invés de vos ouvir, é apenas porque tive a coragem de erguer a minha voz. E deixar que as palavras fluam através de mim.

 

Pois não sou mais que um córrego, que alimenta o vosso rio; e, juntos, desembocaremos no oceano do Saber definitivo. De onde a água, em forma de chuva, voltará a cair e alimentar novos córregos.

 

Até que a terra esteja ensopada e a semente floresça.

 

De nada vos falo, senão do que tendes em vós.

 

E do que tenho em mim mesmo.

 

Por isto, deveis perdoar-me se às vezes me afasto; como poderia ouvir as vossas vozes, senão em meu coração?

 

Acaso me ouvis, senão em vós mesmos?

 

Deixai, pois, que eu me afaste por um pouco.

 

E não me julgueis só, pois, sempre estareis comigo. Não podeis deixar-me, assim como o mar não abandona a areia.

 

E não posso deixar-vos, assim como o molusco não abandona a concha que o envolve.

 

Como a tristeza não abandona a saudade.

 

Ou a esperança não se afasta do amor.

 

 

       

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