Canto do amor real

 

 

 

 

 

 

 

Posso ter-me perdido nos teus olhos.

 

Mas de que importa isso, se é certo que me encontrei nos teus braços? Pode a mariposa reclamar da luz que a atrai, se o seu calor lhe sustenta a vida?

 

E é certo que ninguém se encontra completamente, até que se perca em outro alguém. Assim como o afluente não se completa, até despejar-se em outro rio.

 

Sim, brigamos.

 

Mas acaso teria o mar, sem as borrascas e as calmarias o mesmo encanto e sedução? Ou o deserto o mesmo mistério, sem o vento turbilhonante que faz voar as suas areias?

 

O que seria da vida, sem a atração da luta e a alegria da vitória?

 

O que seria da felicidade e da tristeza, sem a plenitude e as dúvidas do amor?
 

Sim, amamos.

 

Às vezes, com a intensidade de apaixonados; em outras, com o afeto de irmãos.

 

E não é esse, acaso, o verdadeiro amor?

 

Pois o que seria da terra, se o calor do sol não fosse amainado pelo frescor da noite? E o que seria de nós, se a amizade não se alternasse à paixão?

 

Sim, sentimos saudades.

 

Mas apenas para que possamos desfrutar da felicidade do reencontro.

 

Pois, sem a tortura da sede, não seria a água a mesma maravilha.

 

E, sem a mágoa do pranto, não seria tão doce a alegria do sorriso.

 

Sim, vivemos.

 

E talvez não como queríamos, pois não se pode ter tudo que se quer; afinal, não é neste mundo a moradia da felicidade.

 

Mas de que isso nos importa, se temos um ao outro? Acaso a abelha,ao sugar o néctar da flor, reclama a falta de um jardim?

 

Ou o marinheiro que chega a um porto haverá de queixar-se, porque nem todos lhe pertencem?

 

Sim, envelhecemos.

 

Devagar, mansamente. Porque não chegamos a sentir a passagem do tempo, enquanto a juventude está em nossos corações.

 

Assim como não sentimos a passagem da brisa, enquanto nos aquece o sol. Ou não vemos o tempo passar, enquanto somos felizes.

 

Sim, choramos.

 

Pois, quando as lágrimas não brotam dos olhos, a seca está no coração. E o coração que ama é como uma terra fértil, aberta às sementes da alegria e da tristeza

 

Porém como aprenderíamos a sorrir, sem aprendermos a chorar?

 

E, sem chorar e sem sorrir, como aprenderíamos a viver?

 

Posso ter-me perdido nos teus olhos.

 

Mas graças a Deus, te encontrei.

 

 

        

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