A mãe e o sábio
Conta a história que, um dia, uma mulher foi ter com o velho sábio.
Em seus olhos brilhantes de lágrimas, pôde o ancião vislumbrar a tristeza; e nos seus lábios sorridentes descobriu a felicidade.
Pois ambas, tristeza e felicidade, nela coexistiam; como o dia e a noite, que neste mundo coexistem e apenas se alternam aos nossos olhos.
Disse-lhe a mulher:
“- Senhor, hoje o meu filho casou-se e partiu. E na vossa sabedoria venho buscar consolo para a minha tristeza.”
Perguntou o sábio:
“- Estarás, acaso, realmente triste? O sorriso em teus lábios nega o pranto dos teus olhos. E, assim como a chuva é o oposto do sol e juntos criam o arco-íris, a tristeza e a felicidade que se juntam em teu coração fazem brilhar o teu rosto.
E isso acontece porque sabes que, em verdade, o teu filho não partiu. Pois um homem sempre estará onde estiverem as suas lembranças; e que lembrança mais forte pode existir que a de uma mãe extremada?
Para onde voltará ele os seus pensamentos, quando em busca de consolo, se não para a lembrança de teus braços? E, de cada vez que alguém o acusar de algo, onde poderá encontrar forças para defender-se, se não na certeza do teu perdão?
Como poderá viver os seus amores, se não recordar o amor que de ti recebeu desde antes de vir a este mundo? E como se dedicará aos seus filhos, se não recordar como a ele mesmo foste dedicada?
Não; este mundo e, mesmo, este Universo, são muito pequenos para que uma mãe se possa separar de seus filhos; ou um filho de sua mãe.
Pois isso seria como se o sol se afastasse do céu, ou o rio pudesse deixar o seu leito.
Entretanto, não podes deter a marcha do tempo; como não te é possível encarcerar o vento.
Por isso, o teu filho deve seguir.
Pois, senão o fizer, como poderá ele conhecer outra mulher e torná-la também em mãe?
Como poderia o amor sobreviver, se estivesse encerrado apenas em duas pessoas?
Junta, pois, as tuas lembranças. E forma com elas o cobertor que te agasalhará o coração, durante as frias noites de saudade.
Pois, desde o princípio dos tempos, o amor é apenas a véspera da saudade. “E, todavia, é o único caminho, que conheceis para a felicidade”.
Disse, então, a mulher:
“- Senhor, agradeço a vossa bondade e a sabedoria das vossas palavras. Mas eis que o meu coração se debate entre a alegria de ver o meu filho preparado para a vida, e a tristeza de vê-lo partir. E como pode alguém encontrar na alegria a razão da própria tristeza?
Serei, acaso, louca?”
Sorriu o sábio:
“- Não. És mãe.”