Aos meus filhos

 

 

 

Coube-me trazer-vos a este mundo. 

Nos primeiros passos pela vida, remover as pedras do vosso caminho; e buscar ensinar-vos como remover as pedras que no futuro vos couberem. 

Outra não é a função dos pais, pois cada pessoa tem o seu próprio caminho e as suas próprias pedras. 

Assim, eis que não posso caminhar por vós. Porque necessitais tropeçar, para que possais aprender a erguer-vos; e sofrer, para que possais conhecer a felicidade. 

Pois assim aconteceu e ainda acontece a vosso pai; e antes dele, a todos os pais deste mundo, que um dia foram também filhos. 

E esta é a essência da vida, que se renova a cada momento. 

É necessário que eu me conforme com a idéia de que não vos posso ter sempre entre os meus braços; de que não vos posso proteger, senão através do que vos possa ensinar. 

É necessário que eu não vos veja apenas como partes do meu ser, mas como seres humanos; e, assim, merecedores do riso e do pranto. Que possais ter as vossas próprias alegrias e as vossas próprias tristezas. 

Pois não está em meu poder promovê-las ou evitá-las, mas apenas compartilhar de ambas; festejar as vossas vitórias e reconfortar-vos nos fracassos, embora neles chore também o meu coração. 

Não sei se vos faço entender o quanto vos amo. 

Pode o vento explicar a um botão como é a rosa, quando desabrocha? Ou a borboleta transmitir à crisálida a sensação de voar? 

Assim, como poderiam as minhas palavras fazer-vos sentir algo que apenas experimentei ao vos ver nascer? 

Sabei, entretanto, que sois parte de mim. 

E os vossos risos, como as vossas lágrimas, ecoam em meu coração; e são, muitas vezes, a causa dos meus próprios risos ou das minhas próprias lágrimas. 

Acreditai que o meu maior sonho é ver realizados os vossos sonhos; e, assim como tendes as vossas esperanças, sois as minhas esperanças. 

Um dia partireis, pois a vida vos reclama; e não é a mim que pertenceis, mas ao mundo e a vós mesmos. Pois ninguém pertence senão a seus próprios pensamentos e anseios. 

Todavia, deveis saber que sempre podereis retornar aos meus braços, como jamais vos afastareis do meu coração. Porque não foi unicamente o ser que eu vos dei, mas também o meu amor. 

E, assim, não sois apenas os filhos do meu corpo. 

Mas do meu verdadeiro Eu.

           

 

 

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