Niilismo
Expressão exacerbada do materialismo e do
positivismo, o niilismo negou toda autoridade ao estado, à igreja
e à família.
Niilismo (do latim nihil, "nada") é uma doutrina filosófica
e política baseada na negação seja da ordem social estabelecida,
seja de todas as formas de esteticismo, assim como na defesa do utilitarismo
e do racionalismo científico. Influenciado pelas idéias de Feuerbach,
Darwin, Nietzsche, Henry Buckle e Herbert Spencer, o niilismo surgiu na Rússia
czarista do século XIX. Segundo Martin Heidegger, o termo foi empregado
pela primeira vez em 1799, pelo filósofo alemão Friedrich Heinrich
Jacobi. Mais tarde, o romancista russo Ivan Turgueniev o empregou para designar
a concepção que, afirmando a existência apenas do que é perceptível
pelos sentidos, negava tudo o que se fundamenta na tradição e
na autoridade.
O niilismo russo, pregado por Dmitri I. Pisarev, Nikolai A. Dobroliubov, Nikolai
G. Tchernitchevski e outros, negava Deus, o espírito, a alma, as idéias,
as normas e valores supremos e, quanto a suas origens, deve ser visto como
fenômeno religioso. É a negação dogmática
do mundo mergulhado no mal e de tudo o que é luxo, arte, metafísica
e religião. Tudo deveria concentrar-se na libertação da
classe trabalhadora, na luta contra as superstições e preconceitos,
idéias e convenções que oprimem o homem e o impedem de
ser feliz. O niilismo também foi por muito tempo, no Ocidente, a designação
de vários movimentos revolucionários na Rússia, mas estes
não foram realmente niilistas -- nem mesmo o anarquismo de Bakunin --
porque sempre acreditaram em soluções futuras para os problemas
da humanidade.
Niilismo nietzscheano. Tal como Nietzsche o entendeu, o niilismo tem significação
muito mais ampla e profunda. O filósofo não se refere ao niilismo
russo ou alemão, mas ao niilismo europeu, ou seja, ocidental. É um
movimento ou processo histórico que, de raízes mergulhadas nos
séculos anteriores, deverá determinar os séculos futuros.
Sua essência consiste na morte de Deus e nas conseqüências
dessa morte. O Deus morto é o Deus cristão que, para Nietzsche,
representa não só a figura histórica do Cristo, mas o
mundo supra-sensível em geral, e os ideais, as normas, os princípios,
os fins, os valores que, colocados acima do mundo terreno, lhe davam orientação
e sentido.
A negação do mundo supra-sensível e dos valores que o
constituem acarreta o esvaziamento do mundo sensível, que se vê privado
de consistência e de razão de ser. O niilismo não é,
para Nietzsche, a interpretação deste ou daquele espírito,
nem um acontecimento histórico semelhante ou comparável a qualquer
outro, mas o advento da consciência de que todos os fins e todos os valores
que até então davam sentido à vida humana se tornaram
caducos.
A libertação, no que diz respeito aos valores até então
vigentes, não somente torna possível mas exige o que Nietzsche
chama de "transmutação de todos os valores", que não
consiste apenas em sua modificação, mas no desaparecimento do "lugar" em
que se situavam, quer dizer, do mundo supra-sensível. Concebendo o ser
como valor, a metafísica, em Nietzsche, passa a ser uma axiologia, isto é,
uma teoria dos valores. Não só os valores tradicionais decaem,
como sua necessidade se desloca do mundo supra-sensível para o sensível,
princípio a partir do qual se deve definir a nova tábua ou hierarquia
de valores.
O niilismo, portanto, tal como Nietzsche o concebe, não consiste apenas
na desvalorização dos valores supremos aceitos, pois a ruína
desses valores torna urgente a criação de novos valores que os
substituam. O niilismo seria a característica desse estádio intermediário,
entre o crepúsculo dos deuses antigos e o anúncio do mundo novo,
feito à imagem e semelhança do homem.
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