DOUTRINA CATÓLICA

Doutrina Católica

Encontrar Cristo no marido, na mulher e nos filhos “Depois do jantar, ainda há tanta coisa a ser feita... Hoje vi o cêntuplo por um que Cristo promete a quem renuncia a si mesmo”. Testemunho de Paolo Pugni, escritor e jornalista.

21 de Março de 2004

A família é comunhão de pessoas, disse o Papa: nela «a pessoa humana não só é gerada e progressivamente introduzida, mediante a educação, na comunidade humana, mas mediante a regeneração do batismo e a educação na fé, é introduzida também na família de Deus, que é a Igreja» (João Paulo II, Exortação apostólica “Familiaris consortio”, 15).

Fantástico..., mas a minha família somos a minha mulher, os meus filhos e eu, cada um com os seus desejos, as suas necessidades, os seus cansaços, as suas limitações. A educação: eis uma palavra que parece até banal de tanto que foi esvaziada do seu significado nos programas escolares e nos ensaios alucinantes dos psicopedagogos. Mas, na realidade, é uma palavra que encerra esforço e fadiga.

Mas Monsenhor Escrivá nos dá o remédio, oferece-nos a argamassa adequada para reconstruir a cada dia um fragmento desse muro destruído de que tanto precisamos para manter afastados os “animais ferozes”.

As coisas pequenas, esse é o segredo A vida cotidiana de uma família é feita de coisas pequenas: coisas pequenas que é preciso conquistar, que é preciso saborear, que é preciso admirar. A mulher que finalmente fecha as gavetas — por que será ver uma gaveta aberta me deixa tão nervoso? — o filho que apaga a luz sem que seja preciso lembrá-lo outra vez...

É noite. O dia foi duro: o seu colega não o ajudou como tinha prometido e você teve que fazer tudo sozinho; depois, no último instante, quando já você já tinha esticado os braços para pegar o casaco — faz frio lá fora, o céu está escuro — aquele outro entrou no escritório com uns papéis e pediu, como sempre, uma resposta imediata... Você chega a casa e se esforça para sorrir, mas não acha resposta. Você está tenso, à beira de um ataque de ira, com a válvula de alívio comprimida por uma violenta pressão que, você não sabe como, está explodindo dentro de você...

“Cala-te sempre que sintas dentro de ti o referver da indignação. - Ainda que estejas justissimamente irado. — Porque, apesar da tua discrição, nesses instantes sempre dizes mais do que quererias dizer” (Caminho, 656). Está bem, mas... eu..., não tenho direito a ..., eu não sou também...? “Por que te zangas, se zangando-te ofendes a Deus, incomodas os outros, passas tu mesmo um mau bocado... e, por fim, tens de acalmar-te?” (Caminho, 8).

Depois do jantar, ainda há muita coisa para fazer. Mas hoje, veja só, a menina não quer dormir: revolve-se na cama e, se me afasto, começa a choradeira, com esse choro irritante, insuportável, que não é mais do que a expressão do capricho. Estou sentado de cócoras junto a ela: em uma posição incômoda, anti-natural. Penso nos papéis que me esperam em cima da minha mesa, no descanso de que tanto preciso e que parece estar cada vez mais distante.

Tento levantar-me pela enésima vez e ouço um novo alarido: é sério que tenho vontade de soltar a mão. “Pretextos. - Nunca te faltarão para deixares de cumprir os teus deveres. Que fartura de razões... sem razão!” (Caminho, 21). Volto a ficar de cócoras e forço minha boca a sorrir. Apóio a cabeça na cabeceira da cama diminuta. A criança se ergue um pouco e se recosta em meu cabelo. Beija-me, acaricia minha barba. Tudo desaparece: hoje vi o cêntuplo por um que Cristo promete a quem renuncia a si mesmo.

Agora começo!

É assim que São Josemaría me ajuda a viver o Magistério. Com a sua voz. É assim que, nos momentos de dificuldade, parece-me que vejo o seu dedo apontar para a Sagrada Escritura, para que me sirva de exemplo. Certamente, nem sempre se tem a lucidez para..., não, digamos melhor, que nem sempre se tem a vontade, a força necessária para sedar a fúria do próprio egoísmo. Mas então...: “Nunc coepi!” (Agora começo!), basta recomeçar, pedindo perdão a Deus e a quem se tenha ofendido. E o olhar se volta para a oficina de Nazaré, da que tantas vezes nos falou o fundador do Opus Dei — e continua falando, através dos seus escritos — e na qual tudo é perfeito, porque naqueles corações não há rastro algum do “eu”.

Sim, é verdade, empenhar-se porque outros — e que outros! — se esforçaram antes de mim, é muito diferente de sentir-se obrigado por umas normas incompreensíveis ou forçosas.

Este é o aspecto mais fascinante da religião católica: que os seus ensinamentos não vão contra o homem, mas pelo contrário, levam a uma dimensão sobrenatural o que é próprio, natural, da pessoa humana. Não há uma só norma que Deus tenha querido impor ao homem para afastá-lo da felicidade. Pelo contrário: com a delicadeza de um Pai, nos sugeriu o caminho mais direto para alcançar a nossa meta. E permanece ao nosso lado “todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20), para sustentar-nos ao longo do caminho.

E isso tudo não é uma teoria, mas vida: a vida de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que nos ensina com o seu próprio agir.

Josemaría Escrivá nos convida a lembrar essa vida de Jesus, de Maria e de José escondida e silenciosa, feita de pequenos sacrifícios encaminhados a servir e agradar os outros, isto é, a transformar em alegria cada instante da vida”.

Relato de Paolo Pugni, publicado em “Un amor siempre joven” (Edições Palabra, 2003), livro que recolhe alguns ensinamentos de São Josemaría sobre a família, e uma série de testemunhos de pessoas que se esforçam por encontrar a Deus na vida cotidiana.

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