Doutrina Catolica

Doutrina Catolica

A aceitação do Concílio vaticano II pelos padres de Campos

35) Os senhores aceitaram o Concílio Vaticano II?

Em nossa declaração, assim nos expressamos:

"Reconhecemos o Concílio Vaticano II como um dos Concílios Ecumênicos da Igreja Católica, aceitando-o à luz da Sagrada Tradição". Reconhecemos que o Concílio Vaticano II foi legítimamente convocado e presidido pelo Papa Beato João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI, com a participação de bispos de todo o mundo, inclusive de Dom Antônio de Castro Mayer e Dom Marcel Lefebvre, que assinaram as suas atas. Dom Antônio de Castro Mayer escreveu várias cartas pastorais sobre o Concílio, especialmente uma, em 1966, sobre a aplicação dos Documentos promulgados pelo Concílio.

Surgiu, porém, o "pernicioso espírito do Concílio", que, segundo o Cardeal Ratzinger, " é o antiespírito, segundo o qual se deveria começar a história da Igreja a partir do Vaticano II, visto como uma espécie de ponto zero" (Card. Ratzinger, Rapporto sulla fede, cap.II). Por isso, dissemos em nossa declaração: "Reconhecemos o Concílio Vaticano II como um dos Concílios Ecumênicos da Igreja Católica". A Igreja não pode se desligar do seu passado nem contradizê-lo.

Mas quanto aos ensinamentos do Concílio, devido ao seu caráter eminentemente pastoral, por ele mesmo proclamado, de adaptação da proclamação da doutrina imutável aos nossos tempos, é preciso que sejam aceitos em consonância com todo o conjunto do Magistério da Igreja, ou seja, à luz da Sagrada Tradição. Isso dizemos porque muitos, aproveitando-se do Concílio, tentaram e ainda tentam introduzir doutrinas heréticas no seio da Igreja, doutrinas já condenadas pelo Magistério perene, que constitui a Tradição. É claro que eles contaram com a linguagem do Concílio e sua lamentável falta de precisão doutrinária em muitos pontos, caso contrário não conseguiriam dar a interpretação herética que deram ao Concílio. O Papa Paulo VI falava na "fumaça de Satanás" penetrando no Templo de Deus (Alocução de 29/6/1972) e S. S. o Papa João Paulo II lamentava: "foram espalhadas a mãos cheias idéias contrárias à verdade revelada e sempre ensinada: propagaram-se verdadeiras heresias nos campos dogmático e moral... também a Liturgia foi violada" (Discurso no Congresso das Missões, 6/2/1981). Por isso, usamos, como critério de interpretação, a luz da Sagrada Tradição.

E aceitar o Concílio à luz da Tradição é o que todos devem fazê-lo, pois esse foi o critério de interpretação indicado pelos Papas que o convocaram e presidiram. Na alocução de 11 de outubro de 1962, na abertura do Concílio, assim se expressou o Papa João XXIII: "O objeto essencial deste Concílio não é a discussão sobre este ou aquele artigo da doutrina fundamental da Igreja... Presentemente, o necessário é que toda a doutrina da Igreja, sem mutilação, transmitida com aquela exatidão que aparece esplendidamente sobretudo nos conceitos e na exposição com que a redigiram os Concílios de Trento e do Vaticano I, seja, nos nossos tempos, por todos aceita com adesão nova, calma e serena...; é necessário que esta doutrina, certa e imutável à qual se deve obsequiosa obediência, seja investigada e exposta do modo que nossos tempos exigem. Porque uma coisa é o próprio depositum fidei, isto é, a verdade contida na nossa veneranda doutrina, e outra é o modo com o qual elas são enunciadas, mas sempre conservando o mesmo sentido e o mesmo alcance (eodem tamen sensu eademque sententia)" (AAS, 1962, pag. 791-793). E na reabertura do Concílio, confirmou o Papa Paulo VI: "É preciso que a doutrina da Fé, certa e imutável, declarada e definida pelo supremo Magistério da Igreja e pelos Concílios anteriores, sobretudo pelo de Trento e pelo do Vaticano I, à qual se deve obsequiosa obediência, seja exposta de maneira adaptada aos nossos tempos..." (AAS 55, pag. 742).

E esse foi precisamente o critério usado pelo Papa João Paulo II quando falou da "doutrina integral do Concílio", quer dizer, explicou ele, "doutrina compreendida à luz da Santa Tradição e referida ao Magistério constante da própria Igreja" (João Paulo II, discurso à reunião do Sacro Colégio, 5 de novembro de 1979). E não poderia ser de outra maneira, pois assim ensinou o Concílio Ecumênico Vaticano I: "O Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para que estes, sob a revelação do mesmo, pregasssem uma nova doutrina; mas para que, sob a sua assistência conservassem santamente e expusessem fielmente o depósito da Fé..." (sess. IV,c.4, Dz-Sch 3070). Aliás, dizia o próprio Dom Marcel Lefebvre: "aceito o Concílio, interpretado segundo a Tradição". E Dom Bernard Fellay, sucessor de Dom Lefebvre, declarou: "Aceitar o Concílio não é problema para nós. Há um critério de discernimento. E este critério é o que foi sempre ensinado e crido: a Tradição" (entrevista ao jornal suíço La Liberté, 11/5/2001). Sobre como aplicar ao Concílio esse critério de interpretação, a luz da Sagrada Tradição, explicou bem o famoso escritor católico francês Jean Madiran (Itinéraires, novembro de 1966, pag. 13): "Nós recebemos as decisões do Concílio em conformidade com as decisões dos Concílios anteriores. Se tais ou tais textos aparecerem, como pode acontecer com toda palavra humana, susceptíveis de várias interpretações, nós pensamos que a interpretação justa está fixada precisamente pelos ensinamentos dos Concílios precedentes e em conformidade com eles e com o conjunto do ensinamento do Magistério... Se fosse preciso - como alguns ousam sugerir - interpretar as decisões do Concílio em um sentido contrário aos ensinamentos anteriores da Igreja, nós não teríamos então nenhum motivo de receber essas decisões e ninguém teria o poder de no-las impor. Por definição, o ensinamento de um Concílio se coloca no contexto e na continuidade viva de todos os Concílios. Aqueles que quisessem nos apresentar o ensinamento do Concílio fora desse contexto e em ruptura com essa continuidade, estariam nos apresentando uma pura invenção de seu espírito, sem nenhuma autoridade". É assim, com esse critério, que reconhecemos e aceitamos o Concílio Vaticano II.

Hosted by www.Geocities.ws

1