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Doutrina Católica

EUGÊNIO SALES

DOMINGO DE PÁSCOA

O 4º Domingo da Páscoa é conhecido como o Domingo do Bom Pastor. O trecho do Evangelho que contém essa parábola é lido na Missa do "Dia Mundial de Oração pelas Vocações". Este ano é o XXXVI e tem como tema "A Eucaristia, fonte de toda a vocação e ministério na Igreja".

O Concílio Vaticano II dedicou todo um documento, o "Optatam Totius" à questão das vocações sacerdotais. Estabelece, de início, o princípio de que "o incentivo às vocações sacerdotais obrigação de toda a comunidade cristã promovendo-as, sobretudo, por uma vida plenamente cristã. Enumera aspectos concretos do cumprimento desse dever. Evidentemente, em primeiro lugar está a família "animada pelo espírito de fé, de caridade e piedade, tornando-se assim, como que um primeiro seminário". ("Optatam Totius", 2a). Seguem depois "as paróquias, de cuja vida fecunda participam os próprios adolescentes" (ibidem), "Os professores e todos quantos, de algum modo, têm a seus cuidados, a formação de jovens, em particular as associações católicas" (ibidem). O texto conciliar exalta a importância do testemunho do próprio sacerdote "manifestem o máximo de zelo apostólico no fomento das vocações e por sua própria vida humilde, operosa, levada com ânimo alegre e também com mútua caridade sacerdotal (...) entusiasmem os adolescentes pelo sacerdócio" (ibidem). Portanto, a comunidade cristã é responsável pela transmissão de sua fé às novas gerações e, para isso, se torna fundamental o trabalho de recrutamento e de formação dos seminaristas. A Igreja sabe que a vocação é algo rigorosamente pessoal. O apelo que vem de Deus, deve encontrar, na consciência e no coração do vocacionado grande generosidade. O jovem rico busca algo maior, mas esbarra diante das exigências sem meias verdades da parte de Jesus. Eis um exemplo de como a graça de Deus pode se frustrar na falta de magnanimidade. Na descoberta de uma genuína e profunda amizade de Cristo, o jovem consegue entender o Mestre que o chama: "Tu segue-me... Farei de ti pescador de homens" (Mc 1,17). Tanto a contribuição da comunidade como o chamamento individual na consciência do vocacionado estão sob o influxo de um terceiro fator, e este é o mais profundo. Por isso, Jesus admoesta aos seus: "A messe é grande, mas poucos os operários! Pedi, pois, ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe" (Mt 9,36ss) Também São Paulo declara que é por Deus que ele foi "segregado para o Evangelho" (Rm 1,1). É Jesus Cristo "por quem recebemos a graça e a missão de pregar, para louvor do seu nome (...) entre todos os gentios" (Rm 1,4s). Assim ele vê sua vocação como um chamado direto da parte de Deus. "Sou o último dos apóstolos, mas pela graça de Deus sou o que sou" (1 Cor 15,3ss).

O Santo Padre, em sua Mensagem para esse Dia Mundial, nos adverte: "Toda vocação é dom do Pai. E como todos os dons que vêm de Deus, chega através de muitas mediações humanas: a dos pais ou dos educadores, dos pastores da Igreja, de quem está diretamente empenhado no ministério de animação vocacional ou do simples fiel" (nº 4).

Em todas as turmas do último retiro espiritual do clero do Rio de Janeiro, apresentei aos sacerdotes um pedido formal, como fruto do Grande Jubileu: paróquia alguma sem, ao menos, um seminarista no Seminário de São José ou em preparação, nos Grupos de Vocações de Jovens (GVJ) ou Grupos de Vocações Adultas (GVA).

A presença de seminaristas e seu número, são sinais de vitalidade paroquial. A ausência de candidatos ao Sacerdócio deve ser motivo de grave interrogação sobre os métodos pastorais utilizados ou o zelo do pároco. Sem o sacerdote, e em número suficiente, correm risco a presença da Eucaristia, a administração de vários sacramentos, a formação dos leigos, a transmissão da Fé, de modo conveniente.

No Dia Mundial, a Obra das Vocações Sacerdotais e o Clube Serra, que se dedicam a essa causa, devem se sentir estimulados em seu labor. E cada um de seus membros questionar-se sobre o trabalho realizado e a maneira de executá-lo. O mesmo se diga de outros grupos e pessoas que, generosamente, se consagram ao fomento de vocações e a sua manutenção no Seminário de São José. Nossa casa de formação sacerdotal recebeu, este ano, 64 novos seminaristas, sendo que 8, no Menor, vindos dos grupos vocacionais e 56 nos Cursos de Filosofia e Teologia, vindos do Menor ou dos GVA. O número anual de ordenações sacerdotais nesta Arquidiocese tem se elevado substancialmente. Desde 1971, quando assumi a Arquidiocese, até nossos dias, foram ordenados 146 presbíteros para o Rio de Janeiro. O número de defecções é muito reduzido. O Seminário está cheio, atendendo também outras dioceses.

Acolhamos dois apelos do Papa João Paulo II, em sua Mensagem: "Cada fiel torne-se educador de vocações, sem ter receios de propor escolhas radicais; cada comunidade compreenda a centralidade da Eucaristia e a necessidade de ministros do Sacrifício Eucarístico; de todo o Povo de Deus se eleve sempre mais intensa e apaixonada a oração ao Dono da Messe, a fim de que mande operários para a sua messe. Confie essa sua súplica à intercessão dAquela que é a Mãe do Eterno Sacerdote."

E não nos esqueçamos: "A Eucaristia é fonte de toda a vocação e ministério na Igreja". E o Seminário é fundamental à vida eclesial. A responsabilidade de todos os fiéis no campo vocacional, fomento das vocações e manutenção dos seminários, casas de formação de futuros padres se estende à santificação do clero. A santidade de vida dos presbíteros multiplica seu número pela maior eficácia de seu trabalho pastoral.

Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

18/04/2003

Páscoa

Em pleno século XXI, nós, cristãos, participamos de celebrações litúrgicas do Tríduo Sagrado,cujas origens podem ser comprovadas historicamente que já existiam no século II. Em tempos tão remotos, encontramos uma estrutura litúrgica para este período que integra a Semana Santa. E no exíguo espaço que medeia esses acontecimentos e a denominada era apostólica, claros vestígios dessas ocorrências extraordinárias, podem ser encontrados. Assim, São Paulo escreve em sua 1ª Epístola aos Coríntios (5,7-8): “Pois nossa páscoa, Cristo, foi imolada. Celebramos, portanto, a festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da malícia e perversidade, mas com os pães ázimos na pureza e na verdade”.

Nos primórdios de nossa era até o Concílio Ecumênico Vaticano II, sob a autoridade da Igreja de Cristo, aperfeiçoamentos foram introduzidos com a restauração da Vigília Pascal em sua autenticidade e dando unidade que enriquece a celebração. O Tríduo Pascal tem início com a missa vespertina da instituição da Eucaristia, na Quinta-feira Santa, a crucifixão e morte da sexta-feira, o sepulcro no Sábado Santo, e com a Vigília, a vitória no Domingo da Ressurreição.

Essa extraordinária riqueza espiritual nos convida a um adequado e frutuoso aproveitamento, que se prolonga já no século II da Era Cristã, por 50 dias. Era denominado, na antigüidade, - e hoje também - de “santo e feliz Pentecostes”. Antes do encerramento do tempo sagrado, ocorre a solenidade da Ascensão. A celebração do domingo de Pentecostes leva a todos os povos, revela às nações, a riqueza da salvação da humanidade.

A visão deste longo percurso na História, atrai nosso olhar para a Última Ceia, com a instituição da Eucaristia. Inicia-se o Tríduo Sagrado, concluído com a Vigília e a solene missa da Ressurreição. Cada domingo, até Pentecostes, é como um único domingo, o da Páscoa. Os oito primeiros dias - a “oitava” - são uma continuação do próprio Domingo de Páscoa. Como é belo esse extraordinário panorama de vida cristã em toda sua grandiosidade, fruto de renovação conciliar.

Graças à Redenção da Humanidade, resultado da obra salvífica de Cristo Ressuscitado, abre-se uma grande perspectiva a cada cristão que consegue perceber suas possibilidades de servir à causa do Evangelho.

Para isso, faz-se mister que essa riqueza espiritual seja descoberta, iluminada pela fé e devidamente aproveitada. A cada ano se repete essa oferta que Deus nos proporciona, para nosso crescimento religioso. Essa observação merece especial atenção, no momento que atravessamos. Sem dúvida, há uma decadência em muitos setores da sociedade. De modo particular, criou-se um clima de falsa liberdade, que estimula a propagação da falta de pudor nos costumes. O simples linguajar afronta uma tradição que servia de alicerce a uma convivência digna entre os homens. Chegou-se a um grau de decadência e decomposição, que não é raro ler ou ouvir alguém pedir desculpas quando toma posição contra excessos inconcebíveis, nessa matéria. O pudor cede lugar ao despudor, como fator de êxito na propaganda comercial. Tem-se a impressão de que há uma inversão de valores. Bem sei que surge uma geração que tenta recuperar uma sociedade que perdeu o rumo. Para que isto possa obter sucesso, é necessária a reação dos bons. Merece uma reflexão tomar conhecimento da longa relação dos projetos em tramitação no Parlamento que favorecem o aborto, a liberalização de drogas, do jogo, da prostituição, a exaltação dos desvios morais, os fatores que destroem a família. Longa é a lista e habilmente apresentada aos parlamentares. Salvo um pequeno grupo que luta na defesa da Verdade e do Bem, resta toda uma multidão que se acovarda e silencia.

A Páscoa é uma oportunidade para uma reflexão sobre nossa responsabilidade diante de Deus, a Quem daremos contas de nossas ações e, de modo particular, de nosso silêncio diante do mal, da nossa omissão.

O tempo pascal nos apresenta uma outra oportunidade, valorizar a alegria. De modo particular, em um ambiente profundamente marcado por atitudes que afrontam a Doutrina e a Pessoa de Jesus Cristo faz-se mister cultivar sentimentos que nascem do Salvador, que venceu o mal.

A Páscoa é vitória da luz do Círio que supera as trevas do pecado. Após o amargor do Calvário, da crucificação e morte infamante no madeiro da Cruz, tudo se transforma. E eis que chega o que há tantos milênios era esperado pela Humanidade: sua salvação, remida pela Ressurreição de Cristo. A extraordinária beleza dos textos litúrgicos, desde a Vigília do Sábado Santo e dias subseqüentes, são de grande riqueza, que devem ser devidamente aproveitados por uma atenta leitura e meditação.

E neste ano que, profundamente entristecidos, vemos o recurso à guerra, como solução de graves problemas realmente existentes. É necessário, atendendo ao apelo veemente do Papa, rezar, - e muito! - para que volte o bom-senso e somente assim possa se encontrar uma solução menos dolorosa. Não nos esqueçamos de que o Santo Padre não tomou partido, ou melhor, tomou o único partido que compete a todos os homens de bem: o partido da paz. São palavras do Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Joaquim Navarro-Vals, no “Vatican Information Service”: “A Santa Sé tem assistido com profunda dor os últimos acontecimentos do Iraque. Por uma parte lamenta que, o governo iraquiano não tenha acolhido as resoluções das Nações Unidas nem o apelo do Papa que pediram um desarmamento do país. Por outro lado, deplora que se tenha interrompido o caminho das negociações, segundo o Direito Internacional, para uma solução pacífica do drama iraquiano” (20/3/03).

O Concílio Vaticano II, na Constituição Dogmática “Dei Verbum”, sobre a Revelação Divina, nos oferece uma síntese da vitória de Cristo e nossa: “para libertar-nos das trevas do pecado e da morte e para ressuscitar-nos para a vida eterna.”

VOZ DO PASTOR

D. Eugênio de Araújo Sales

23/12/1999

Natal de Jesus Cristo

A celebração do Natal, este ano, adquire inusitado valor, pois nela tem início o Grande Jubileu do Ano Santo, dois milênios do Nascimento de Jesus.

As raízes do Jubileu - Ano da Graça do Senhor - estão no Antigo Testamento e foram assumidas pelo Cristianismo. Em 1300, o Papa Bonifácio VIII estabeleceu este costume - o Ano Santo. Como indica o título, trata-se de um evento estritamente religioso, um retorno ao Redentor pela conversão, a rica oferta de oportunidades para o restabelecimento do plano de Deus, alterado pelo pecado. Na Carta Apostólica "Tertio Millennio Adveniente", o Papa João Paulo II largamente expõe todos os aspectos da preparação do Jubileu do ano 2000 que, na tradição desse evento no Antigo e Novo Testamento, é "um tempo dedicado, de modo particular, a Deus" (nº 12). Como conseqüência, a busca da remissão dos pecados e das penas pelos pecados, ano de reconciliação entre desavindos, ano de múltiplas conversões e de penitência sacramental e extra-sacramental. A tradição dos Anos Jubilares está ligada à concessão de indulgências de modo mais amplo que nos outros períodos". (Idem nº 14). Para facilitar a maior participação dos fiéis, os favores espirituais são obtidos "in Urbe", isto é, em Roma e também "extra Urbe" (fora de Roma), particularmente, em cada Diocese.

O próprio termo "jubileu", alegria, convida a esse sentimento de júbilo. Ele teve início, em Roma, com a abertura da Porta Santa, na Missa do Natal, da meia-noite. Em todas as dioceses do mundo, hoje, na celebração Eucarística do dia do Natal, comemoramos o Nascimento do Salvador na gruta de Belém. Aí está o conteúdo fundamental de todo o Ano Santo, a ser encerrado a 6 de janeiro do ano de 2001.

Algumas características marcam a amplitude mundial, de extraordinária importância na vida da Igreja, que hoje ultrapassa um bilhão de fiéis. Na noite de Natal celebrei na Catedral, manifestando a união de todas as dioceses à Cabeça visível da Igreja. Na mesma oportunidade, cada paróquia proclamou também a sua comunhão ao Pastor local e, por seu intermédio, ao Vigário de Cristo. Antes da Santa Missa do dia da Natividade do Senhor, às dez horas, nesta Arquidiocese, na Catedral, uma procissão de curto deslocamento se dirigirá à Igreja-Mãe, com uma representação de cada paróquia do Rio de Janeiro, para a abertura oficial diocesana do Ano Santo.

Por determinação do Santo Padre em sua bula, no dia do Natal, além da solene celebração do Mistério do Nascimento de Jesus em Belém, cada diocese deu início a uma experiência particularmente profunda de graça e de misericórdia divinas, que se prolongará até o encerramento do Ano Jubilar, na Epifania de Nosso Senhor Jesus Cristo, a 6 de janeiro do ano 2001. A inauguração foi feita em todas as catedrais do mundo, presidida pelo Bispo diocesano. *** Assim, essa inauguração do Jubileu marcará a passagem de um século a outro e também o trânsito do segundo ao terceiro milênio.***

A cerimônia revelou bem sua índole e conteúdo celebrativo: o Nascimento de Jesus; o Cristo, a porta para alcançar a salvação, caminho único para chegar ao Pai; a bi-milenar peregrinação da Igreja em direção a "Jesus Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8).

Em Roma, na noite do Natal, foi feita a abertura da Porta Santa e a seguir, nas basílicas de São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo fora dos muros. Os peregrinos que, aos milhões, acorrerão à Cidade Eterna durante esse período, por elas passarão, ato simbólico de nosso retorno a Jesus e sua Igreja. *** Por ela ingressou por primeiro o Papa, na noite do Natal: "Ao cruzar o seu limiar, mostrarei à Igreja e ao mundo o Santo Evangelho, fonte de vida e de esperança para o terceiro milênio, que está para chegar" ("Bula da Proclamação do Grande Jubileu do Ano 2000).***

Uma outra característica para todos os que irão participar. em Roma ou em suas dioceses, do Grande Jubileu, é lucrar as indulgências anexas aos atos, parte constitutiva do evento. A Bula do Grande Jubileu a inclui como manifestação da "plenitude da misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos, com seu amor, expresso primariamente no perdão das culpas."

O "Catecismo da Igreja Católica", aprovado pelo Papa em 11 de outubro de 1992, é de grande valia no Jubileu, pois aperfeiçoa nossa formação religiosa, no que se refere às indulgências (nºs 1.471 a 1479). A leitura refresca a memória sobre a matéria. *** Pela Constituição Apostólica "Indulgentiarum Doutrinae" de Paulo VI: "A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados, quanto à culpa que o fiel bem disposto detém, em certas condições determinadas pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da Redenção, distribui e aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos santos." *** Ela é parcial ou plenária, conforme liberar, integralmente ou não, das penas devidas pelos pecados. E podem ser aplicadas aos vivos ou também aos defuntos. O Jubileu é de extraordinária riqueza pela concessão das indulgências.

A peregrinação é outro sinal marcante do Grande Jubileu. A Bíblia se refere com freqüência a esses atos penitenciais. Em toda a história da Igreja se fala desse sinal que nos recorda um gesto indicativo da condição humana, "caminhar em busca da Casa do Pai". A Terra Santa, especialmente Jerusalém, Roma e Compostela, eram os centros aonde se dirigiam os fiéis. Hoje são inúmeros e, no Brasil, Aparecida é um dos maiores do mundo. *** No Ano Santo, são várias as peregrinações já programadas nesta Arquidiocese, sob a coordenação do Secretariado de Pastoral. ***

O Menino entre Maria e José, o aniversário do nosso Salvador, nascido há 2.000 anos atrás, é o objetivo de toda essa imensa mobilização mundial que foi devidamente preparada, obedecendo ao "Tertio Millennio Adveniente" Lembro a grande concentração no Maracanã, a 12 de outubro último e o "Envio" de 25.000 missionários da Missão Popular, a 20 de novembro próximo passado.

As festas natalinas, este ano, se revestem de um caráter especial: ponto de partida para todo um ano de celebrações, no escopo de levar os filhos ao Pai e trazer à comunidade humana a paz e a concórdia.

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