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Doutrina Católica

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PERGUNTE E RESPONDEREMOS

Revista "Pergunte e Responderemos", nº. 429.

"Quem são todas as mulheres, servos, senhores, príncipes, reis, monarcas da Terra comparados com a Virgem Maria que, nascida de descendência real (descendente do rei Davi) é, além disso, Mãe de Deus, a mulher mais sublime da Terra? Ela é, na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de Cristo, a quem nunca poderemos exaltar bastante (nunca poderemos exaltar o suficiente), a mais nobre imperatriz e rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria e santidade." (Martinho Lutero, "Comentário do Magnificat", cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista "Jesus vive e é o Senhor").

"Por justiça teria sido necessário encomendar-lhe [para Maria] um carro de ouro e conduzi-la com quatro mil cavalos, tocando a trombeta diante da carruagem, anunciando: 'Aqui viaja a mulher bendita entre todas as mulheres, a soberana de todo o gênero humano'. Mas tudo isso foi silenciado; a pobre jovenzinha segue a pé, por um caminho tão longo e, apesar disso, é de fato a Mãe de Deus. Por isso não nos deveríamos admirar, se todos os montes tivessem pulado e dançado de alegria."

(idem, cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista "Pergunte e Responderemos" nº. 429).

"Ser Mãe de Deus é uma prerrogativa tão alta, coisa tão imensa, que supera todo e qualquer intelecto. Daí lhe advém toda a honra e a alegria e isso faz com que ela seja uma única pessoa em todo o mundo, superior a quantas existiam e que não tem igual na excelência de ter com o Pai Celeste um filhinho comum. Nestas palavras, portanto, está contida toda a honra de Maria. Ninguém poderia pregar em seu louvor coisas mais magníficas, mesmo que possuísse tantas línguas quantas são na terra as flores e folhas nos campos, nos céus as estrelas e no mar os grãos de areia." (idem, cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista "Jesus vive e é o Senhor") "Peçamos a Deus que nos faça compreender bem as palavras do Magnificat... Oxalá Cristo nos conceda esta graça por intercessão de sua Santa Mãe! Amém. (Martinho Lutero, "Comentário do Magnificat"). "O Filho de Deus fez-se homem, de modo a ser concebido do Espírito Santo sem o auxílio de varão e a nascer de Maria pura, santa e sempre virgem.

(Martinho Lutero, "Artigos da Doutrina Cristã") "Maria é digna de suprema honra na maior medida."

("Apologia da Confissão de Fé de Augsburg", art. IX).

"Um só Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nascido da Virgem Maria." (idem)

"Não podemos reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus." (João Calvino, Comm. Sur l’Harm. Evang.,20)

"Firmemente creio, segundo as palavras do Evangelho, que Maria, como virgem pura, nos gerou o Filho de Deus e que, tanto no parto quanto após o parto, permaneceu virgem pura e íntegra." (Zwinglio, em "Corpus Reformatorum")

"Creio que [Jesus] foi feito homem, unindo a natureza humana à divina em uma só pessoa; sendo concebido pela obra singular do Espírito Santo, nascido da abençoada Virgem Maria que, tanto antes como depois de dá-lo à luz, continuou virgem pura e imaculada."

(John Wesley, fundadador da Igreja Metodista, em carta dirigida a um católico em 18.07.1749)

"Ao ler estas palavras de Martinho Lutero [em "Comentário do Magnificat"], que até o fim de sua vida honrava a mãe de Jesus, que santificava as festas de Maria e diariamente cantava o Magnificat, se percebe quão longe nós geralmente nos distanciamos da correta atitude para com ela, como Martinho Lutero nos ensina, baseando-se na Sagrada Escritura. Quão profundamente todos nós, evangélicos, deixamo-nos envolver por uma mentalidade racionalista, apesar de que em nossos escritos confessionais se lêem sentenças como esta: 'Maria é digna de ser honrada e exaltada no mais alto grau'.

O racionalismo ignorou por completo o mistério da santidade. O que é santo, é bem diferente do resto; diante do que é santo, só nos podemos quedar em admiração, adorar e prostrar-nos no pó. O que é santo, não é possível compreendê-lo. Diante da exortação, de Martinho Lutero, de que Maria nunca pode ser suficientemente honrada na cristandade, como a mulher suprema, como a jóia mais preciosa depois de Cristo, e sou obrigada a me confessar adepta daqueles que durante muitos anos de sua vida não seguiram esta admoestação de exaltá-la e assim também não cumpriram a exortação da Sagrada Escritura segundo a qual as gerações considerariam Maria bem-aventurada (Lucas 1,48). Eu não entrei na fila destas gerações. É verdade que também li na Sagrada Escritura como Isabel, mulher agraciada por Deus, falando pelo Espírito Santo e denominando Maria 'a mãe do meu Senhor', lhe prestou a maior homenagem, ao lhe dizer como prima mais idosa: 'Donde me vem a honra de tu entrares em minha casa?!' Eu, de fato, poderia ter aprendido o procedimento correto com Isabel. Mas eu não prestei homenagem a Maria com pensamento algum, com nenhum sentimento do coração, com palavra alguma, nem com algum canto. E muito menos eu a louvava sem fim, deixando de seguir a orientação de Lutero, quando escreve que jamais chegaríamos a exaltá-la o suficiente.

Minha intenção, ao escrever este opúsculo sobre o caminho de Maria, segundo o que diz dela a Sagrada Escritura, foi conscientemente reparar esta omissão pela qual me tornei culpada para com o testemunho da Palavra de Deus. Nas últimas décadas o Senhor me concedeu a graça de aprender a amar e honrar cada vez mais a Maria, a mãe de Jesus. E isto, à medida que, pela Sagrada Escritura, me ia aprofundando no conhecimento de sua vida e dos seus cainhos. Minha sincera intenção, ao escrever este livro, é fazer o que posso para ajudar, a fim de que entre nós, os evangélicos, a mãe de nosso Senhor seja novamente amada e honrada, como lhe compete, segundo as palavras da Sagrada Escritura e conforme nos recomendou Martinho Lutero, nosso reformador.

Com gratidão gostaria de confessar aqui quanto o testemunho de sua obediência, de sua entrega total de disponibilidade para andar todos os seus penosos caminhos, me foram uma bênção. Pois ela viveu e andou o caminho da humilhação, numa atitude que - no dizer de Lutero, quando escreve a introdução ao Magnificat - nos pode servir de exemplo: 'A delicada mãe de Cristo sabe ensinar melhor do que ninguém - pelo exemplo de sua prática - como devemos conhecer, louvar e amar a Deus...'

Quanto amor nós, os evangélicos, dedicamos aos apóstolos Paulo e Pedro! Muitas vezes até encontramo-nos num relacionamento individual e espiritual com eles. Nós os honramos e lhe agradecemos por terem andado este caminho de discípulos de Cristo. Agradecemos ao apóstolo Paulo, porque sabemos que, sem ele, a mensagem de Jesus não teria chegado até nós, os gentios. Exaltamos, cheios de gratidão, os mártires de nossa Igreja, cujo sangue foi semente da qual a Igreja tira vida. E nos esquecemos muitas vezes de agradecer a Maria, a mãe de nosso Senhor. Não está ela inserida na 'nuvem de testemunhas' que nos circundam (cf. Hebreus 12,1) e cujo testemunho nos deve fortalecer para a luta que temos a sustentar?

Se honramos apóstolos e arcanjos e deles esperamos que sejam nossos guias no caminho, usando seus nomes para denominar comunidades e igrejas nossas, então, como é que poderíamos excluir Maria, que está ligada a Jesus como a primeira e mais íntima e que andou com Ele o caminho da cruz? A nossa Igreja Evangélica deixou de lhe prestar honra e louvor, receando com isto reduzir a honra devida a Jesus. Mas o que acontece é o seguinte: toda honra autêntica dirigida aos discípulos de Jesus e também à Sua mãe aumenta a honra do Senhor. Pois foi Ele, só Ele, que os elegeu, os cobriu com Sua graça e fez deles Seu vaso de eleição. Por sua fé, seu amor e sua dedicação para com Deus, é Deus colocado no centro das atenções e é glorificado.

É intenção nossa - como Irmandade de Maria - contribuir, em obediência à Sagrada Escritura, para que nosso Senhor Jesus não seja entristecido por um comportamento nosso destituído de reverência para com Sua mãe ou até de desprezo. Pois ela é Sua mãe que O deu à luz e O criou e educou e a cujo respeito falou o Espírito Santo, por intermédio de Isabel: 'Bem-aventurada a que creu!'

Jesus espera de nós que a honremos e amemos. É isto que nos é proposto pela Palavra de Deus e é, portanto, Sua vontade. E somente os que guardam Sua palavra, são os que amam a Jesus de verdade (João 14,23)."

(M. Basilea Schlink, escritora evangélica que escreveu, em 1960, o livro "Maria - o Caminho da Mãe do Senhor" e fundadora da Irmandade Evangélica de Maria, em Darmstadt, Alemanha; fonte "Em Lourdes, em Fátima e em outros santuários marianos, a crítica imparcial se encontra diante de fatos sobrenaturais, que tem relação direta com a Virgem Maria, seja mediante as aparições, seja por causa das graças milagrosas solicitadas pela sua intercessão. Estes fatos são tais que desafiam toda a explicação natural.

Sabemos ou deveríamos saber que as curas de Lourdes e Fátima são examina

Devoção Mariana e Culto das Imagens por: João Paulo II fonte: revista: "Pergunte e Responderemos"

Depois de ter justificado doutrinalmente o culto da Bem-Aventurada Virgem, o Concílio Vaticano II exorta todos os fiéis a tornarem-se os seus promotores: "Muito de caso pensado ensina o sagrado Concílio esta doutrina católica, e ao mesmo tempo recomenda a todos os filhos da Igreja que fomentem generosamente o culto da Santíssima Virgem, sobretudo o culto litúrgico, que tenham grande estima às práticas e exercícios de piedade para com ela, aprovados no decorrer dos séculos pelo Magistério". Com esta última afirmação os Padres conciliares, sem chegar a determinações particulares, queriam reafirmar a validade de algumas orações como o Rosário e o Angelus, caras à tradição do povo cristão e frequentemente encorajadas pelos Sumos Pontífices, como meios eficazes para alimentar a vida de fé e a devoção à Virgem. O texto conciliar prossegue pedindo aos crentes que "mantenham fielmente tudo aquilo que no passado foi decretado acerca do culto das imagens de Cristo, da Virgem e dos Santos". Repropõe assim as decisões do II Concílio de Nicéia, que se realizou no ano 787 e confirmou a legitimidade do culto das imagens sagradas, contra quantos queriam destrui-las, considerando-as inadequadas para representar a divindade (cf. Redemptoris Mater, 33). "Nós definimos" - declararam os Padres daquela assembléia conciliar - "com todo o rigor e cuidado que, à semelhança da representação da cruz preciosa e vivificante, assim as venerandas e sagradas imagens pintadas quer em mosaico quer em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, nas alfaias sagradas, nos paramentos sagrados, nas paredes e mesas, nas casas e ruas; sejam elas a imagem do Senhor Deus e Salvador nosso, Jesus Cristo, ou a da Imaculada Senhora nossa, a Santa Mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos justos" (DS, 600). Evocando essa definição, a Lumen Gentium quis reafirmar a legitimidade e a validade das imagens sagradas em relação a algumas tendências que têm em vista eliminá-las das igrejas e dos santuários, a fim de concentrar toda a atenção em Cristo. O II Concílio de Nicéia não se limita a afirmar a legitimidade das imagens, mas procura ilustrar a sua utilidade para a piedade cristã: "Com efeito, quanto mais frequentemente estas imagens forem contempladas, tanto mais os que as virem serão levados à recordação e ao desejo dos modelos originários e a tributar-lhes, beijando-as, respeito e veneração" (DS 601).

Trata-se de indicações que valem de modo particular para o culto da Virgem. As imagens, os ícones e as estátuas de Nossa Senhora, presentes nas casas, nos lugares públicos e em inúmeras igrejas e capelas, ajudam os fiéis a invocar a sua presença constante e o seu misericordioso patrocínio nas diferentes circunstâncias da vida. Ao tornarem concreta e quase visível a ternura materna da Virgem, elas convidam a dirigir-se a Ela, a suplicar-lhe com confiança e a imitá-la, acolhendo com generosidade a vontade divina. Nenhuma das imagens conhecidas reproduz o rosto autêntico de Maria, como já reconhecia Santo Agostinho ("De Trinitate 8,7); contudo, ajudam-nos a estabelecer relações mais vivas com Ela. Deve ser encorajado, portanto, o uso de expor as imagens de Maria nos lugares de culto e noutros edifícios, para sentir a sua ajuda nas dificuldades e o apelo a uma vida cada vez mais santa e fiel a Deus. Para promover o correto uso das sagradas efígies, o Concílio de Nicéia recorda que "a honra tributada à imagem, na realidade, pertence àquele que nela é representado; e quem venera a imagem, venera a realidade daquele que nela é reproduzido" (DS 601). Assim, adorando na imagem de Cristo a Pessoa do Verbo Encarnado, os fiéis realizam um genuíno ato de culto, que nada tem em comum com a idolatria. De maneira análoga, ao venerar as representações de Maria, o crente realiza um ato destinado em definitivo a honrar a pessoa da Mãe de Jesus.

O Vaticano II exorta, porém, os teólogos e os pregadores a evitarem tantos exageros como atitudes de demasiada estreiteza na consideração da dignidade singular da Mãe de Deus. E acrescenta: "Estudando, sob a orientação do Magistério, a Sagrada Escritura, os santos Padres e Doutores, e as liturgias da Igreja, expliquem como convém as funções e os privilégios da Santíssima Virgem, os quais dizem todos respeito a Cristo, origem de toda a verdade, santidade e piedade" (LG 67). A autêntica doutrina mariana é assegurada pela fidelidade à Escritura e à Tradição, assim como aos textos litúrgicos e ao Magistério. A sua característica imprescindível é a referência a Cristo: tudo, de fato, em Maria deriva de Cristo e para Ele está orientado. O Concílio oferece, por fim, aos crentes alguns critérios para viverem de maneira autêntica a sua relação filial com Maria: "E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril e passageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita a amar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes" (LG 67).

QUANDO COMEÇA UM SER HUMANO?

Em síntese: O prof. Jérôme Lejeune, geneticista francês, consultado pelo Senado norte-americano a respeito do ponto inicial da existência do indivíduo humano, elaborou um relatório cujo texto vai abaixo transcrito em tradução portuguesa. Declara que, desde o momento da fecundação do óvulo pelo espermatozóide, há toda a informação genética necessária e suficiente para formar um indivíduo novo. Basta deixar que se desenvolva nas condições exigidas pela natureza para que se percebam todos os sinais característicos do ser humano; em conseqüência, não se pode, cientificamente falando, duvidar de que logo após a concepção existe uma pessoa em formação.

Aos 6/10/96 a imprensa publicou uma notícia relativa ao início da vida humana que merece comentários, pois, em última instância, visa a legitimar o aborto. — Eis o texto como o JORNAL DO BRASIL o transmitiu: "Incertezas científicas sobre o início da vida Católicas pelo Direito de Decidir é o nome de um grupo que vem tentando colocar em debate a questão do aborto no Brasil. Sua coordenadora, a socióloga Maria José Rosado Nunes, integra a Comissão de Cidadania e Reprodução (da qual o presidente Fernando Henrique Cardoso é membro licenciado) e conhece a fundo a história do pensamento da Igreja em relação ao assunto. Ela lembra que só em 1869, com o Papa Pio IX, o aborto passou a ser considerado pecado em qualquer situação e em qualquer momento de sua realização. Textos de pensadores católicos admitem, por outro lado, a incerteza científica sobre o início da vida, com argumentos no campo da biologia e da genética realçando a complexidade da questão. Um óvulo fecundado (zigoto) tem vida, por exemplo, mas não se constitui numa vida humana, tanto que 75% dos zigotos são expelidos naturalmente do organismo". A este propósito pode-se observar que a notícia referente ao Papa Pio IX não é exata. Desde o seu primeiro Catecismo (a Didaqué), datado do fim do século I, a Igreja condenou o aborto sem restrições; mesmo a incerteza quanto ao início da vida humana não foi argumento para legitimar o aborto em alguma situação.

Ver PR 413/1996, p. 451-458. No tocante ao início da vida humana, o famoso geneticista Dr. Jérôme Lejeune, parece ter dito a última palavra, hoje geralmente aceita pelos médicos: desde a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, existe um novo ser humano, com o seu princípio vital próprio e todas as informações que caracterizam uma autêntica pessoa humana. É o que se pode ler no depoimento do Dr. Lejeune que abaixo vai transcrito. 1. O PANO DE FUNDO Logo no início do primeiro mandato do presidente Ronald Reagan, instaurou-se nos Estados Unidos da América ardente polêmica a respeito do aborto: estava comprovado que naquele país uma criança sobre três era eliminada antes de nascer. O Senado norte-americano, impressionado pela problemática, pôs-se a considerá-la com seriedade. E, a fim de tomar posição, procurou informações dos cientistas a respeito do momento em que o concepto pode ser considerado autêntico indivíduo humano, pois tal questão é decisiva para se definirem os direitos da criança.

Em vista de uma resposta, foi consultado, entre outros, o prof. Jérôme Lejeune, francês; os títulos e méritos deste mestre e sua posição se acham expostos no texto que transcrevemos a seguir e que corresponde ao relatório apresentado à Comissão Senatorial encarregada do inquérito, aos 23 de abril de 1981. O próprio autor deu a seu trabalho o título de TESTEMUNHO. 2. O TESTEMUNHO DO DR. JÉRÔME LEJEUNE "Meu nome é Jérôme Lejeune. Doutor em Medicina e Doutor em Ciências, sou responsável pela Clínica e pelo Laboratório de Genética do Hospital de Pediatria destinado aos pacientes feridos por debilidade mental. Após ter pesquisado em tempo integral durante dez anos, tornei-me professor de Genética Fundamental na Universidade René Descartes. Há cerca de 23 anos descrevi a primeira doença cromossômica em nossa espécie, devida ao cromossomo 21 extra-numerário, típico do mongolismo. Em conseqüência, tive a honra de receber o Prêmio Kennedy das mãos do falecido presidente e a William Allen Memorial Medal da Sociedade Americana de Genética Humana. Sou membro da American Academy of Arts and Sciences. Com meus colegas do Instituto de Genética de Paris, nos dedicamos à descrição das etapas fundamentais da hereditariedade humana. Pelo estudo comparativo de numerosas espécies de mamíferos, inclusive os símios antropóides, estudamos as variações cromossômicas registradas no decorrer da evolução. Na espécie humana, analisamos mais precisamente os efeitos desfavoráveis de certas aberrações cromossômicas. Nestes anos demonstramos pela primeira vez que uma doença cromossômica pode ser combatida por um tratamento adequado... Mostramos que um tratamento químico pode curar a lesão cromossômica em culturas de tecidos. Mais: uma dosagem apropriada de produtos químicos (monocarbonatos e suas moléculas vetoras) melhora simultaneamente o comportamento e as atividades mentais das crianças afetadas. Assim a pesquisa meticulosa realizada sobre certos mecanismos da vida pode levar a uma proteção direta de vidas humanas em perigo. Quando começa um ser humano? Desejo trazer a esta questão a resposta mais exata que a ciência pode atualmente fornecer. A biologia moderna ensina que os ancestrais são unidos aos seus descendentes por um liame material contínuo, pois é da fertilização da célula feminina (o óvulo) pela célula masculina (o espermatozóide) que emerge um novo indivíduo da espécie humana. A vida tem uma longa história, mas cada indivíduo tem o seu início muito preciso, o momento de sua concepção. O liame material é o filamento molecular do ADN. Em cada célula reprodutora, essa fita, de um metro de comprimento aproximadamente, é cortada em segmentos (23, na nossa espécie). Cada segmento é cuidadosamente enrolado e empacotado (como uma fita magnética em minicassete), tanto que no microscópio aparece como um bastonete: um cromossomo. Desde que os 23 cromossomos do pai se juntam aos 23 cromossomos da mãe, está coletada toda a informação genética necessária e suficiente para exprimir todas as características inatas do novo indivíduo. Isto se dá à semelhança de uma minicassete introduzida num gravador; sabe-se que produz uma sinfonia. Assim também o novo ser começa a se exprimir logo que foi concebido. As ciências da natureza e as ciências jurídicas falam a mesma linguagem. A respeito de um indivíduo que goza de boa saúde, o biólogo diz que tem boa constituição; a respeito de uma sociedade que se desenvolve harmoniosamente para o bem de todos os seus membros, o legislador afirma que ela tem uma Constituição equilibrada. Um legislador não consegue entender uma lei particular antes que todos os seus termos tenham sido clara e plenamente definidos. Mas, quando toda essa informação lhe é oferecida e a lei foi votada, ele pode ajudar a definir os termos da Constituição. Como trabalha a natureza? Trabalha de modo análogo. Os cromossomos são as tábuas da lei da vida; quando eles são reunidos no novo indivíduo (a votação da lei é figura da fecundação do óvulo pelo esperma), eles descrevem inteiramente a Constituição dessa nova pessoa. É surpreendente a miniaturização da escrita.

É difícil crer, embora esteja acima de qualquer dúvida, que toda a informação genética, necessária e suficiente para construir nosso corpo e até nosso cérebro (o mais poderoso engenho para resolver problemas, capaz até de analisar as leis do universo), possa ser resumida a tal ponto que seu substrato material possa subsistir na ponta de uma agulha! Mais impressionante ainda é a complexa soma de informação genética por ocasião do amadurecimento das células reprodutoras, a tal ponto que cada concepto recebe uma combinação inteiramente original, que nunca se produziu antes e que não se reproduzirá tal qual no futuro. Cada concepto é único e, portanto, insubstituível. Os gêmeos idênticos e os hermafroditos verdadeiros são exceções à regra: cada ser humano é uma combinação genética. E notemos que as exceções devem ocorrer no momento da concepção. Acidentes posteriores não levam a um desenvolvimento harmonioso. Todos esses fatos são conhecidos há muito tempo; todos os cientistas já outrora estariam de acordo em dizer que, se existissem bebês de provetas, eles evidenciariam a autonomia do concepto; a proveta não possuiria nenhum título de propriedade sobre eles. Ora os bebês de proveta já existem. Experiências recentes Quantas células são necessárias para a construção de um indivíduo? — A resposta nos é dada por experiências recentes. Se conceptos precoces de camundongos são tratados com enzimas, as suas células se desagregam. Se, porém, misturarmos tais suspensões celulares provenientes de embriões diferentes, veremos que as células voltam a se reunir. O número máximo de células que operam para a elaboração de um indivíduo, é três. O ovo fecundado normalmente divide-se em duas células: uma delas se divide imediatamente de novo. Assim se forma o número ímpar e surpreendente de três células, encapsuladas em seu invólucro protetor. Segundo os nossos mais adiantados conhecimentos, a individuação (ou a formação de três células fundamentais) é a primeira etapa após a concepção, à qual se segue dentro de poucos minutos. Tudo isto explica por que os doutores Edwards e Steptoe puderam ser testemunhas de fecundação, em proveta, de um óvulo da Sra. Brown por um espermatozóide do Sr. Brown. O minúsculo concepto que eles implantaram alguns dias mais tarde no útero da Sra. Brown, não podia ser nem um tumor, nem um animal. Era, na verdade, a extremamente jovem Luísa Brown, que tem hoje a idade de três anos. A viabilidade do concepto é extraordinária. Por experiência, sabemos que um concepto de camundongo pode ser congelado ao frio intenso (até de 29 graus) e, depois de reaquecimento delicado, ser implantado com êxito. Para que haja o ulterior crescimento, requer-se necessariamente a acolhida numa mucosa uterina que forneça a alimentação apropriada à placenta embrionária. No interior da sua cápsula vital, que é a bolsa amniótica, o novo indivíduo é tão viável quanto um astronauta dentro do seu escafandro sobre a Lua: o abastecimento de fluidos vitais deve ser fornecido pelo organismo da mãe. Esta alimentação é indispensável à sobrevivência, mas ela não "faz" a criança; da mesma forma nem a nave espacial mais aperfeiçoada pode produzir um astronauta. Esta comparação ainda é mais significativa quando o feto se mexe. Graças a uma aparelhagem ultra-sônica muito requintada, o professor Ian Donald, da Inglaterra, conseguiu produzir no ano passado um filme que mostra a mais jovem "estrela" do mundo, ou seja, um bebê de onze semanas a dançar no útero materno. O bebê, pode-se dizer, brinca no trampolim! Dobra os joelhos, apoia-se sobre a parede, levanta-se e recai.

Visto que o seu corpo tem a densidade do fluído amniótico, ele não sente a gravidade e dança muito lentamente, com uma graça e uma elegância totalmente impossíveis em algum outro lugar da terra. Somente os astronautas, em suas condições de não gravidade, conseguem tal suavidade de movimentos. A propósito notamos que, quando se tratava da primeira caminhada no espaço, os técnicos tiveram que escolher o lugar onde desembocariam os tubos portadores dos fluídos vitais. Escolheram então finalmente a fivela do cinturão do escafandro, reinventando assim o cordão umbilical. Quando tive a honra de dissertar perante o Senado, tomei a liberdade de evocar o conto de fada do homem menorzinho do que o dedo mindinho. Com dois meses de idade, o ser humano tem menos de um polegar de comprimento, desde o ápice da cabeça até a ponta do traseiro. Ele estaria muito à vontade numa casca de nozes, mas tudo já se encontra nele: as mãos, os pés, a cabeça, os órgãos, o cérebro, tudo está no seu lugar certo. O coração já bate há um mês. Olhando de mais perto, veríamos as dobras das suas palmas de mão e uma quiromante leria as mãos dessa minúscula pessoa. Com uma boa lente de aumento, descobriríamos as marcas digitais. Tudo estaria aí para se fazer a carteira de identidade civil deste indivíduo. Com a extrema sofisticação da nossa tecnologia, podemos vislumbrar a vida privada desta criaturinha. Aparelhos especiais gravam a música mais primitiva: um martelar surdo, profundo, regular, de 60/70 batidas por minuto (o coração da mãe) e uma cadência rápida, aguda, de 150/170 batidas por minuto (o coração do feto) se sobrepõem, imitando os compassos de orquestra e realizando os ritmos básicos de toda música primitiva, sem dúvida, porque é a primeira que o ouvido humano consegue ouvir. Assim observamos o que o feto sente, ouvimos o que ele ouve, provamos o que ele saboreia e vimo-lo realmente dançar, cheio de graça e de juventude. A ciência transformou o conto de fada do Pequeno Polegar numa história verídica, história que cada um de nós viveu no seio de sua mãe. E, para que melhor percebais a exatidão das nossas observações, acrescentamos: Se, logo depois da concepção, vários dias antes da implantação, uma única célula fosse retirada desse indivíduo semelhante a uma amora minúscula, poderíamos cultivar essa célula e examinar os seus cromossomos. Se um estudante, observando-a ao microscópio, não fosse capaz de reconhecer o número, a forma e o aspecto das fitas de seus cromossomos, se ele não soubesse dizer com certeza se essa célula provém de um símio ou de um ser humano, seria reprovado no exame. Aceitar o fato de que, após a fecundação, um novo indivíduo começou a existir, já não é questão de gosto ou de opinião. A natureza humana do ser humano, desde a concepção até a velhice, não é uma hipótese metafísica, mas sim uma evidência experimental". Até aqui o prof. Jérôme Lejeune. As suas considerações não deixam dúvida sobre o fato de que, quando se extrai do seio materno um feto, é um verdadeiro ser humano que vem assim extraído e... quiçá condenado à morte!

(PERGUNTE E RESPONDEREMOS, fevereiro de 1997, n. 417, pág. 83)

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QUAL SUA OPINIÃO SOBRE O ECUMENISMO?

Texto muito interessante escrito por Dom Estevão Bittencourt

O Ecumenismo é o movimento que visa a restabelecer a plena comunhão entre a Igreja Católica e as demais denominações cristãs que no decorrer dos séculos se foram separando do grande tronco católico: orientais (nestorianos, dissidentes em 431; monofisitas em 451; ortodoxos em 1054), protestantes separados em 1517, Velhos Católicos em 1870. O Ecumenismo é algo inspirado pelo Espírito Santo em nosso século, quando se verifica que as separações não têm mais as razões de ser que as suscitaram na época da respectiva cisão. Em nossos dias há quase total identidade de Credo entre católicos e cristãos orientais. Com o protestantismo o diálogo é mais difícil, dado o esfacelamento do bloco protestante, onde as denominações mais recentes já perderam muito ou quase tudo do patrimônio doutrinário genuinamente cristão, reduzindo o Cristianismo a uma escola de bons costumes inspirados pela Bíblia sem referência explícita aos sacramentos. Além das diferenças doutrinárias (ora mais, ora menos apagadas), nota-se que uma das dificuldades para o bom entendimento entre cristãos provém de questões de ordem histórica (as Cruzadas, por exemplo, no Oriente...), cultural, nacionalista...; quanto menos cultura há em alguma porção da população, tanto mais apego parece haver a costumes locais, de importância secundária, mas altamente apreciados pela gente simples.

No nível teológico-doutrinário, as conversações entre católicos e cristãos não católicos estão adiantadas e são bem sucedidas; a Igreja Católica tem-se esforçado ao máximo para fomentar a aproximação e derrubar preconceitos. O fato, porém de que a Comunhão Anglicana resolveu conferir a ordenação sacerdotal e episcopal a mulheres esfriou um tanto o relacionamento entre anglicanos, de um lado, e católicos e orientais, de outro lado; o Oriente é profundamente conservador e fiel às suas tradições.

No plano popular, o Ecumenismo tem sido muito menos feliz, a ponto de não ser recomendado entre fiéis despreparados, pois os novos movimentos religiosos oriundos do protestantismo querem aproveitar-se dos encontros com os católicos para exercer proselitismo.

Como quer que seja, o Ecumenismo merece ser fomentado entre pessoas dispostas, conhecedoras, com segurança, das verdades da fé, capazes de evitar tanto a polêmica quanto o falso irenismo (ou concessões doutrinárias destinadas a insinuar que não existem diferenças de Credo). A Igreja Católica propõe suas normas a respeito tanto no decreto Unitatis Redintegratio do Concílio do Vaticano II quanto em documentos provenientes da Santa Sé e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Fonte: Revista Pergunte e Responderemos

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Outros Mundos Habitados ?

D. Estêvão Bettencourt

Em síntese: A fé não rejeita a possibilidade de haver outros mundos habitados por seres inteligentes. Até Galileu (século XVII), esta hipótese não era admitida, pois se julgava que a Terra fosse o centro do universo, planeta privilegiado por se também o único portador da vida. Após Galileu os horizontes se abriram, de tal modo que há teólogos que apontam a conveniência de existirem seres inteligentes fora da Terra; na verdade, tantos corpos celestes parecem postular a presença de seres que, contemplando-os de perto, dêem glória ao Criador. Se na realidade existem ou não tais criaturas inteligentes, cabe à ciência dizê-lo. Até hoje os mais sábios dos estudiosos se mostram reticentes sobre o assunto. A Teologia tem a afirmar que, se de fato existem, são criaturas do mesmo Deus que fez o mundo terrestre e o homem; a Ele prestam culto e aos seus ditames obedecem.

A partir do século passado, e principalmente em nossos dias (por causa dos discos voadores), pergunta-se com insistência crescente: "Haverá outros mundos habitados por seres inteligentes? Seria esta teoria compatível com os dados da fé cristã?"1 Nestas páginas interessar-nos-emos principalmente pelos aspectos religiosos e teológicos da temática.

1. A DISCUSSÃO ATÉ O SÉCULO XX

Há quem afirme que as indagações começaram antes de Cristo. Já no século VI a.C. o filósofo grego Xenófanes teria afirmado que a Lua pode ter habitantes. Muitos anos mais tarde Anaxágoras, Leucipo, Demócrito, Parmênides e os pitagóricos terão assegurado haver em outros planetas seres inteligentes. No século IV a.C. Platão e, depois, Epicuro terão defendido semelhante tese, mas Aristóteles e os estóicos se lhe terão oposto. Saltando séculos, podemos dizer que o primeiro pensador que, com mais exato conhecimento de causa, tenha movido a questão da pluralidade dos mundos habitados, foi o Cardeal Nicolau de Cusa (+ 1464). Respondia-lhe imprecisa, mas arrojadamente, na obra De docta ignorantia (1440), afirmando não haver uma estrela da qual estejamos autorizados a excluir a existência de seres humanos, por muito diferentes que sejam de nós (De docta ignorantia, I. II, op. 12).

Todavia, enquanto as diversas correntes do pensamento humano eram norteadas por uma visão geocêntrica do mundo (sistema ptolemaico), os teólogos dificilmente podiam conceber que o homem, obra-prima da criação, pudesse existir fora do centro do universo e fora do ambiente em que o Filho de Deus se encarnara. Com Copérnico (+ 1543) e Galileu (+ 1642), a mentalidade ocidental evoluiu, e evoluiu não somente no setor da ciência, mas também quanto ao modo de considerar certas questões teológicas.2 Desembaraçando-se do geocentrismo, para admitir que a Terra é um planeta devedor do Sol, os teólogos viram abrir-se-lhes novos horizontes: não tardou a lhes surgir de novo à mente, e em termos mais sérios, a questão da pluralidade dos mundos habitados, suscitando logo debate de vivacidade extraordinária. O próprio Galileu observara na Lua, e em outros corpos celestes, condições análogas às da terra. Pouco faltaria para que dissesse serem também habitados.3 Esta possível conseqüência apavorou os teólogos contemporâneos de Galileu, que nela viam uma ameaça ao dogma cristão. "Como poderiam os homens de outros planetas ser descendentes de Adão, ter saído da arca de Noé, etc.?", eram questões que lhes pareciam surgir das novas idéias (embora sem cabimento).

Eis, por exemplo, como o Pe. Le Cazre expunha a Gassendi (+ 1655), sacerdote, físico e filósofo adepto do sistema de Copérnico, seus receios a propósito da nova teoria, que ensinava não ser a terra senão um planeta "como os outros": neste caso, dizia, não se perceberia por que só ela teria o monopólio de ser habitada; outros planetas, também as estrelas ficas, poderiam ter seus povos; e, assim sendo, como sustentar a doutrina de Gn 1,14, que ensina terem sido as estrelas criadas a fim de iluminar a terra e determinar as estações para proveito dos homens? A hesitação é compreensível; mentalidade e teses multisseculares não podiam ceder repentinamente, de mais a mais que os exegetas, por falta dos devidos instrumentos de estudo, ainda entendiam certas passagens da Sagrada Escritura (principalmente dos livros do Gênesis e de Josué) em sentido inadequado. Aos poucos os temores se forma dissipando. Os espíritos, ganhando mais familiaridade com o heliocentrismo, consideravam mais objetivamente a hipótese de muitos mundo habitados. Em 1868, Fontenelle defendia a tese no livro "Pluralité des mondes", que ficou famoso.

Na época subseqüente, não recearam julgar favoravelmente a questão perante o público dois grandes conferencistas de Notre-Dame de Paris: os padres Félix S.J. (+ 1891) e Monsabré O. P. (+ 1907). O primeiro afirmava que a existência de outros mundos habitados constituía um bom argumento de Apologética, pois permitia responder à objeção derivada do "pequeno número de eleitos":6 com efeito, mesmo que muitos homens se percam no inferno, o seu número é talvez infinitesimal em comparação com a multidão de criaturas racionais, que povoam as estrelas e permanecerão fiéis a Deus. Monsabré não hesitava em dizer que a Encarnação realizada em nossa terra não foi talvez senão o gesto do Bom Pastor que veio buscar uma ovelha perdida neste mundo, enquanto noventa e nove outras lhe ficam fiéis, habitando os outros astros.

2. NO SÉCULO XX

Nenhum teólogo dos tempos recentes se esforçou por fundamentar a hipótese como o Pe. Joseph Pohle S.J. (+ 1922). Propugnou-a profusamente em sua obra Die Sternenwelt und ihre Bewohner, Colônia, 1884, a qual, fazendo grande sucesso, suscitando também acalorados debates, conheceu a sua sétima edição em 1922. O autor julgava que não só as ciências experimentais, mas também os princípios de uma sã filosofia e da Teologia testemunham em favor da existência de seres inteligentes nos astros habitáveis. E quais os argumentos em que se baseava?

1º e principal - Deus tudo criou para a Sua glória. Ora, glória nenhuma é dada a Deus sem a existência de seres inteligentes capazes de conhecer as obras do Criador e tributar-Lhe o conseqüente louvor. O homem na terra, porém, não basta a isto. Com efeito, existe avultado número de estrelas, planetas e astros, que escapam totalmente à ciência humana.8 Quem então prestará, em nome dessas criaturas, homenagem ao Criador? Também os anjos não estão habilitados a isto, pois as criaturas materiais não constituem senão o objeto secundário da inteligência angélica; os puros espíritos versam no mundo espiritual, não no corpóreo. Donde conclui Pohle:

"Parece absolutamente conforme ao fim último do Universo que os corpos celestes habitáveis sejam povoados de criaturas que referem à glória do Criador a beleza corporal dos seus respectivos mundos, exatamente como o homem o faz na Terra". Este primeiro argumento era explorado também pelo Pe. Secchi, que, em 1877, escrevia: "A nós parece absurdo considerar essa vastas regiões como desertos povoados; devem ser habitadas por seres inteligentes e racionais, capazes de conhecer, homenagear e amar o seu Criador". 2º - Segundo S. Tomás (cf. S. Teol, I 50, 3c; Contra Gentes, 2, 92), a ordem do Universos exige que os seres mais nobres ultrapassem numérica ou quantitativamente os menos nobres, uma vez que estes foram feitos em vista daqueles. É preciso, pois, admitamos o maior número possível das criaturas mais nobres. Em conseqüência, considerar-se-á ao menos como provável a existência de seres racionais nas esferas celestes habitáveis, visto serem mais dignos e perfeitos do que as criaturas meramente corpóreas.

3º - A Sabedoria e a Onipotência de Deus se manifestam de modo estupendo no número e na variedade de seres existentes no nosso mundo. Estes, porém, estão longe de esgotar os atributos do Criador; muitos outros tipos de criaturas se poderiam ainda conceber como reflexos da Perfeição Divina. Sendo assim, parece muito harmonioso que a Sabedoria de Deus se tenha manifestado em formas ainda mais variadas nas esferas celestes capazes de organização e vida.

4º - A depravação mesma da espécie humana que conhecemos, convida-nos a admitir que existe um mundo de homens melhores. Se o homem desta terra fosse a única síntese de matéria e espírito, deveríamos confessa que o gênero humano cumpre muito mal a sua tarefa de servir e glorificar a Deus. Quantas infidelidades não se cometem! Que doloroso espetáculo não é o da história dos homens! Ora, nenhum pai, podendo escolher entre bons e maus filhos, se cercaria apenas de maus filhos.

Tais são os argumentos de Pohle. Representam realmente tudo que em Teologia se possa dizer em favor da pluralidade dos mundos habitados.

Que valor se lhe há de atribuir?

3. QUE DIZER?

A 1o de novembro de 1952, o Pe. D. Grasso S.J. publicava um artigo na revista "Civiltà Cattolica",12 em que, após analisar esses raciocínios, concluía que não se lhes pode negar um certo peso ("attendibilità"); todavia, não deve ser exagerado o seu alcance: o primeiro argumento, tomado a rigor, levaria a admitir a existência de seres racionais também nas profundezas dos oceanos inacessíveis à exploração humana... Grasso julga que a argumentação de Pohle se ressente de um antropomorfismo vago e inconsciente.

A pluralidade dos mundos habitados, por conseguinte, fica sendo uma hipótese, à qual cada um pode dar o valor que lhe julgue convir. Os debates entre os teólogos serviram ao menos a evidenciar que, por parte da fé católica, nada há que se oponha à recente conjetura: nem a Escritura nem a Tradição abordam o problema; quanto ao Magistério da Igreja, a Sagrada Congregação do Índice, em meados do século passado, encarregou o Pe. Moigno, famoso teólogo e astrônomo do seu tempo, de inculcar que os dogmas da Encarnação e da Redenção "não constituem obstáculo à hipótese de outros mundos habitados"; desde então, a Igreja não se pronunciou mais oficialmente sobre o assunto e deixa liberdade de pesquisa aos estudiosos. A última palavra no debate cabe, pois, aos cientistas (caso a possam dar), mais do que aos teólogos. A título de curiosidade, notamos: um autor americano, Francis Connell, no periódico Catholic Standard, de 8 de agosto de 1952, procurava desenvolver um pouco mais a hipótese, conjeturando as possíveis formas de relações dos homens "extra-telurianos" com o Criador. Connell supõe que não seriam descendentes de Adão e que, por conseguinte, Deus concebeu um plano de salvação para essa criaturas diverso do que traçou para nós. Eis o que então se pode imaginar:

1) os homens "extra-terrestres" terão sido, como Adão e Eva, prendados originariamente de dons naturais, preternaturais e sobrenaturais. Sujeitos a uma provação inicial (análoga à dos anjos e à da nossa espécie) tê-la-iam superado fielmente a Deus, conservando, em conseqüência, as prerrogativas originais (coisa que os terrestres perderam). Sendo assim, vivem num bem-estar, espiritual e material, a nós desconhecido; não experimentam nem o sofrimento nem a morte, nem os nossos problemas políticos e sociais; além disto, devem achar-se em nível científico muito superior ao nosso. Quanto à religião, tais homens teriam em comum conosco dogmas muito sublimes: Unidade e Trindade de Deus, existência dos anjos, a graça, etc., mas de modo nenhum viveriam da Redenção e dos sacramentos, que nos salvam; 2) os homens "extra-tertulianos", submetidos à provação, pecaram... Neste caso, pode-se pensar ou que Deus os tenha deixado para sempre entregues à sua triste sorte ou que os haja resgatado por outra via que a nós ou que os queira remir pelos méritos de Cristo; nesta última hipótese, dar-lhes-ia a conhecer a Redenção realizada na terra e deles exigiria a fé como meio indispensável para a salvação. Dado o pecado inicial, a vida dos homens "extra-tertulianos" se desenvolveria em meio às mesmas dificuldades morais e espirituais que experimentamos. Os seus conhecimentos científicos poderiam ser superiores ou inferiores aos nossos, conforme as condições somáticas e climatéricas favorecessem ou entravassem o desenvolvimento natural da inteligência. - É interessante notar que Connell não pondera a conjetura de uma Encarnação de Deus em outro planeta, embora a união de Deus e homem numa só pessoa, por muito maravilhosa que seja, possa ser repetida pela Onipotência divina; 3) pode-se admitir também que Deus nunca tenha elevado os homens "extra-tertulianos" à ordem sobrenatural. O seu último fim, portanto, consistiria em conhecer e amar a Deus proporcionalmente ao exercício de suas faculdades espirituais; depois da morte gozariam de felicidade natural.

Inútil é prosseguirmos tal encastelamento de hipóteses, que servem para estimular a fantasia mais do que para alimentar a fé.

Eis, por exemplo, uma notícia do JORNAL DO BRASIL, 14/8/96, p. 14: "IMAGENS DIVULGADAS PELA NASA FAZEM CRER NA POSSIBILIDADE DE VIDA - Pasadena, EUA - Novas informações enviadas pela sonda Galileu indicam que pode haver água no Europa, uma das luas de Júpiter. A descoberta aumenta a possibilidade de que existam condições para formas primitivas de vida, dizem os cientistas da Nasa, a agência espacial americana. Eles acreditam que água em estado líquido possa ter existido, ou mesmo que ainda exista, sob a superfície". Tão grande foi a novidade introduzida por Copérnico na mentalidade ocidental que, ainda no século passado, o Pe. Angelo Secchi S.J. (+ 1878), famoso astrônomo de Roma, julgava que aquele estudioso recolhera um eco da ciência que Deus comunicou a Adão quando o criou... Cf. Lezioni elementari di Fisica terrestre. Torino e Roma 1879, 187. Scheiner fazia notar que as teorias de Galileu levariam ao "absurdo" de admitir habitantes em Júpiter, Vênus e na Lua. Cf. carta a Frederico Cesi, de 25 de janeiro de 1613, em Le opere di Galileo Galilei XI 467. (...) Félix assim falava aos adversários da fé: "Quanto ao dogma católico, não somente ele não vê dificuldade nessa grande hipótese, mas não temo dizer que nela encontra um recurso para responder a vós e uma arma para defender-se dos ataques." (La Genèse et les sciences modernes. Paris 1863). Eis as palavras de Monsabré: "Por que os astros não seriam povoados de seres menos nobres do que os anjos, mais nobres, porém, do que nós? Entre a vida intuitiva dos puros espíritos e a nossa vida, composta, racional, sensitiva e vegetativa, há lugar para outros tipos de vida. Tivemos, é verdade, a Encarnação... Não será talvez porque o Divino Pastor, querendo levar todo o seu rebanho ao pasto da eterna felicidade, deixou nos espaços as noventa e nove ovelhas para vir buscar aqui na terra a centésima, que se perdera?" (Expositon du dogme catholique, conf. CII). De acordo com os resultado da ciência moderna, dir-se-ia: existem 400 milhões de galáxias, ou nebulosas espirais, constituída cada qual de centenas de milhões de sóis, dos quais não poucos têm em torno de si planetas a gravitar. Ob. Cit. 4a ed. 1904, 457. 10 Le Soleil.

Paris 1877, vol. II 480. O qualificativo de parecer absurdo voltava ainda recentemente sob a pena de Bavink, Risultati e problemi delle scienze naturali. Firenze 1947, 272: "Se todo esse universo deve ter um sentido, parece-me de todo absurdo procurar esse sentido unicamente na nossa historiazinha terrestre". Os dados tradicionais da ciência levam a afirmar que os seres vivos constituem no universo uma parcela numericamente insignificante, quando comparados aos seres inanimados. A vida é extremamente rara no conjunto do cosmo; e a região que ela ocupa constitui uma ínfima porção do conjunto. Com efeito, a massa dos homens poderia estar contida aproximadamente 60 trilhões de vezes na massa da terra; esta, por seu turno, caberia mais 300.000 vezes na massa do Sol! E entre os diversos planetas intercedem distâncias de dezenas, centenas e ou milhares de anos de luz (dados colhidos em P. Laberenne, L'origine des mondes.Paris, 149). Sob vários aspectos, porém, a Terra aparece como algo de único no universo. Por exemplo, os corpos sólidos de que ela se compõe, são raros no cosmo: 99% de matéria do universo constam dos dois elementos mais leves - o hidrogênio e o hélio; todos os outros corpos reunidos não perfazem senão 1% da massa total do Universo. - Mais ainda: a temperatura do Universo varia de 35.000.000°F. (no interior das estrelas) ao 0° absoluto (-459, 69°F) nas extremidades do espaço, donde se conclui que a matéria do Universo deve constar quase totalmente de gases luminosos num equilíbrio instável e altamente ionizado; nessa massa gasosa firam aqui e ali alguns poucos átomos de poeira fria e de rochas. Somente numa zona temperada muito estreita, como é a órbita da terra, é que a massa gasosa pode assumir a forma líquida, tal como se acha na água, nos animais, nos planetas. Tão singular como é, a terra está longe de ser o centro do Universo; é apenas um pequeno satélite de uma estrela de segunda grandeza colocada na periferia da Via-Láctea. Por sua vez, esta nossa Via-Láctea se acha na periferia de um conjunto de outras constelações do espaço. La Teologia e la pluralità del mondi abitati, em "La Civiltà Cattolica", 1/X/1952.

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Fonte: "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 414/1996, p. 26-32 PERGUNTE E RESPONDEREMOS - Redação: D. Estêvão Bettencourt. Edições "Lumen Christi" Caixa Postal 2666. CEP20001-970 Rio de Janeiro RJ

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