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DOUTRINA CATÓLICA

Papa
Papa João Paulo II

A Sagrada Liturgia

Celebramos o 40º aniversário da Constituição “Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia”. O primeiro projeto foi apresentado na sessão inicial do Concílio Vaticano II, em outubro de 1962. O Concílio tinha apenas começado. O assunto foi debatido da 3ª à 10ª Congregação Geral. Durante a segunda sessão, 1963, foi emendado e votado pelos Padres Conciliares: 2.158 votos favoráveis e apenas 19 em contrário. A 4 de dezembro de 1963, em Sessão Solene, presidida pelo Papa Paulo VI, com apenas quatro sufrágios negativos, foi solenemente promulgado como primeiro documento desse Concílio. Por esses dados se conclui que sua tramitação foi tranqüila. O trabalho para pôr em prática as determinações da “Sacrosanctum Concilium” nem sempre foi fácil. A Igreja é universal, respeita as variedades locais em aspectos secundários e preserva sempre a unidade fundamental nos aspectos principais. Naturalmente, isto exigiu um longo e intenso esforço. A importância da matéria está resumida em uma frase do Documento: “A Liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde promana toda a sua virtude” (“Sacrosanctum Concilium”, nº 10). O Santo Padre João Paulo II, que então participou dessas atividades como Arcebispo de Cracóvia, comemorou 40 anos da Constituição “Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia” com uma Carta Apostólica, “Spiritus et Sponsa”. Procurarei respigar alguns tópicos que nos ajudem a participar dessa celebração e, com novo ânimo, aperfeiçoar a aplicação das diretrizes dadas pelo Vaticano II a tão relevante assunto. Diz o Papa em seu documento: “Recordar o quadragésimo aniversário daquele acontecimento constitui uma feliz ocasião para redescobrir as temáticas de base da renovação litúrgica desejada pelos Padres do Concílio, verificar, de certa forma, a sua recepção e lançar o olhar para o futuro” (idem nº 1). Entre as realidades incluídas na celebração litúrgica merece especial destaque a música sacra. O texto conciliar exalta sua importância: “A glória de Deus e a santificação dos fiéis (...) a tradição musical da Igreja inteira constitui um tesouro de inestimável valor” (“Sacrosanctum Concilium”, nº 112). O Papa a declara “instrumento privilegiado para facilitar a participação ativa dos fiéis na ação sagrada” (“Spiritus et Sponsa”, nº 4). Ela deve conservar a índole própria da liturgia, como a sensibilidade do nosso tempo e as tradições das diferentes regiões da terra. O documento conciliar dedica a devida atenção à arte sacra, “de tal forma que o culto possa resplandecer inclusivamente pelo decoro e a beleza da arte litúrgica” (Idem, nº 5). Ao tratar da renovação e aprofundamento sugere “uma espécie de exame de consciência a propósito da recepção do Concílio Vaticano II” (“Tertio Millennio Advenientes”, 36). Devemos responder: “Até que ponto a Liturgia entrou na vida concreta dos fiéis e cadencia o ritmo de cada uma das comunidades? Ela é compreendida como um caminho de santidade, força interior do dinamismo apostólico e da missionariedade eclesial?” (ibidem 6). A resposta sincera a estas perguntas contém sombras a serem corrigidas. Esse exame de consciência, cabe “em primeiro lugar àquele que com o ofício episcopal, tem o “cargo de apresentar o culto da religião cristã à Majestade divina e de o regular segundo os preceitos do Senhor a lei da Igreja” (“Lumem Gentium”, 26). Ao mesmo tempo, empenha toda a comunidade eclesial, sendo isso necessário à devida formação dos ministros e de todos os fiéis. Não podemos esquecer que “na escuta da Palavra de Deus se edifica e cresce a Igreja” (“Ordo lectionum missae”, 7). Um dos pontos altos nesta celebração dos 40 anos da “Sacrosanctum Concilium” é a redescoberta do valor do domingo, sua riqueza espiritual e pastoral como a tradição no-lo transmitiu. Recordo a Carta Apostólica de João Paulo II, “Dies Domini”, de 31 de maio de 1998. De certa forma, o domingo é a síntese da vida cristã e condição para a viver bem. Urge retornar à fidelidade na assistência à missa dominical. Na parte final a Carta trata das perspectivas. São os desafios que a Liturgia é chamada a enfrentar. Constata o Santo Padre que, infelizmente, em nossos dias, os sinais da vivência do Evangelho se vão atenuando. Chegou o tempo de uma nova evangelização. A sociedade em que vivemos é amplamente secularizada. Os Mandamentos da Lei de Deus são desprezados e as conseqüências aí estão, com a violência e o desprezo à vida humana. No entanto, muitos sentem a necessidade dos valores espirituais. O Papa percebe que, no íntimo dos homens não é possível anular a sede de Deus. Somente no contacto pessoal com Cristo se encontra uma solução. A Liturgia nos oferece uma resposta profunda e eficaz. “Em conseqüência, os Pastores façam com que o sentido do mistério penetre nas consciências, voltando a descobrir a arte mistagógica, iniciação nos grandes mistérios, tão querido pelos Padres da Igreja” (nº 12). Uma grande exortação desse documento é cultivar no interior de nossas comunidades a experiência do silêncio. Diz o Papa em sua Carta Apostólica: “Numa sociedade que vive cada vez mais frenética, muitas vezes atordoada pelos ruídos e perdida no efêmero, é vital redescobrir o valor do silêncio” (nº 13). Estes 40 anos de aplicação da Constituição “Sacrosanctum Concilium” mostram ser possível a renovação litúrgica e a observância das normas que assegurem à Liturgia uma identidade e decoro com criatividade e legítimas adaptações. E os abusos existentes? Diz o Santo Padre: “Sem respeitar a normativa litúrgica, chega-se às vezes a abusos até mesmo graves, que ofuscam a verdade do mistério e criam desconcertos e tensões no meio do Povo de Deus. Estes abusos nada têm a ver com o autêntico espírito do Concílio e devem ser emendados pelos Pastores com uma atitude de determinação prudente” (“Spiritus et Sponsa”, 15).

Cardeal D Eugênio Sales , Arcebispo emérito do Rio de Janeiro

12/3/2004

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