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DOUTRINA CATOLICA

VOZ DO PASTOR

CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro

27 de julho de 2004

Dialogando com o conterrâneo Dom Jaime de Barros Câmara

No início deste mês de julho (dia 3) recordávamos – a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro – o teu 110º aniversário de nascimento.

Cento e dez anos evolaram para o passado, desde o dia inolvidável – 3 de julho de 1894 -, em que tua família, bem genuína, se alegrava com o teu esperado nascimento. Setenta e sete anos viveste conosco; pelos séculos ficarás: com teus conterrâneos, com Florianópolis, Azambuja, Mossoró, Belém do Pará, com a, ainda e sempre, maravilhosa Cidade do Corcovado.

O que nos separa é a fluidez do tempo, o que nos une é a transcendência dos ideais: os valores de vida eterna. Quem te conheceu, sente saudades...Quem não teve essa mercê, se extasia no exemplo, nos benefícios, nas obras que nos deixaste. São incontáveis.

Ao celebrar cento e dez anos dos teus natais, sentimos certo orgulho pela magnitude do que ficou e pelo insondável que o Senhor te reservou. “Morto, ainda falas”, ainda influencias com lições inacabadas a esteira dos problemas que a Igreja e a Pátria enfrentam...Amavas a Igreja lá onde lhe podias ser filho afeiçoado, apóstolo indispensável, obreiro que se pereniza no Eterno.

Tua vida, toda ela, lhe pertenceu e lhe pertence, ainda hoje. Sabias em quem punhas a confiança ao “aninhar” um pugilo de jovens (eram apenas 16), contagiados pelo teu ardor humano e divino de quem se define “Seminarista”, aspirante ao serviço da caridade mais plena, “às coisas do Pai”.

Mestre, educador, orientador, amigo e companheiro de quem cantava na tonalidade do mesmo diapasão, de quem ritmava o passo pelo compasso das mesmas aspirações. Piedade não era “reza” para ti. Era, sim, a reverência total, o amor filial, o devotamento ao Infinito que preenche todo vazio sob o sentimento de saber-se filho, irmão e fascinado por Deus: Pai, Filho e União de Amor. Como Pastor solícito de rebanhos tão diferentes, quiseste transmitir FOGO; fogo que consome e purifica o imperfeito, acrisola e aprimora o que de mais preço possuir se possa.

O fogo de teu zelo, como para Moisés, criava, em derredor, um “solo sagrado”: era preciso pisar o solo com respeito, pés descalços e delicados: tudo ali era plenificado pelo mistério. Fogo, ardor, zelo, dedicação, serviço, disponibilidade fizeram de tua vida os patamares da santidade: difícil de atingir, mas não impossível.

Sentias um atrativo especial pelo Coração rasgado, sem razão humana, explicável somente pelos arcanos de quem ama sem razão...acima e além dela.

DOM JAIME DE BARROS CÂMARA, a tua São José da Terra Firme, o marulhar das ondas daquele lindo mar, quase beijando os degraus da velha igreja, onde tantas vezes buscaste luz, sentido, alento, alegria a paz... Essas ondas, hoje, murmuram o teu nome, pedindo, implorando, impetrando, em balbucios de suplica: esperança, mais denodo e alegria, gestos de vida e cordialidade, acenos de ultrapassagem e fraternidade.

DOM JAIME, tu sempre foste entusiasta e otimista das causas mais sublimes e difíceis. Olha para nós, contempla-nos, de onde estás e incute:

- Em cada peito, um novo ardor!

- Em cada vida, um novo alento!

- Em cada concidadão, uma nova, grandiosa, esperança!

- Em cada cristão e amigo, a certeza de que Deus não falha..., se soubermos seguir os passos ensangüentados do Peregrino do Calvário, inspirador – único e bastante – de toda a tua vida.

DOM JAIME,perdoa a sinceridade audaz de quem te quisera ter falado de modo diferente, quase sussurrando, um pouco angustiado, mas, confiante e certo da tua presença, da tua amizade, da CORDIALIDADE do teu sorriso compassivo e acolhedor! Eras perene visitante das “favelas”, dos morros.

A Arquidiocese de São Sebastião, agradecida, guarda os teus despojos como relíquias de quem muito a amou.

Queremos seguir teus passos, rezando e cantando: “Ninguém te ama como eu!”

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VOZ DO PASTOR

CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro

03 de agosto de 2004

Minha vocação na Igreja é o amor!

Bendito seja o Senhor que, em seu eterno amor por nós, distribuiu os seus preciosos dons entre os seus filhos e filhas, para que, assim, o servíssemos e o adorássemos.

Deus é onipotente e a sua ciência tudo abarca. Em seu plano de amor, Ele vê a nossa alegria e a nossa felicidade. Mas a nossa alegria só será verdadeira, se brotar do Coração de Deus e nos fizer retornar para o Senhor.

Fala-se, com muita insistência, em realização na vida profissional, financeira e afetiva, esquecendo-se que, em si mesmas, essas coisas nada trazem às pessoas, a não ser um desejo mais intenso de se realizar em algo que, verdadeiramente, possa preencher o coração do homem, algo que ultrapasse tempo, lugar, coisas e, até, pessoas.

Enquanto esteve aprisionado “por causa de Cristo, por amor à Igreja” (Ef 3,1) e “pela causa do Senhor” (Ef 4,1), São Paulo compreendeu que a verdadeira realização não consiste nas coisas secundárias dessa vida e que, mesmo com a falta de tudo, o plano divino, realizado em nossas vidas, leva-nos àquela felicidade que ninguém pode arrancar de nossos corações. Por isso, diz: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo. Nele ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1, 3-4).

A vocação de cada cristão nasce da mais profunda intimidade do Pai, se concretiza, necessariamente, na vida da Igreja e se projeta, com as demais realidades do dia-a-dia, para as realidades últimas e para a experiência definitiva, no âmbito da graça de Deus.

O Princípio e o fim de qualquer vocação é o amor. Deste modo, o amor a Deus e aos irmãos, conforme nos foi ensinado por Cristo, torna-se o princípio e o fim de toda realização concreta. O “segredo” para ser feliz e para se realizar consiste em amar a quem primeiro nos amou, sem exigir de nós nada em troca. Deste modo, o amor de Deus, em nós, se transforma em dom, doação, entrega e sacrifício. E “o amor de Deus foi derramado, em nossos corações, pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Não temos forças para reter esse amor de Deus. Não podemos querer ser mais amados do que já somos, nem podemos pensar que amaremos mais a alguém do que Deus o ama. Mas, o amor de Deus, em nós, nos faz amar com dignidade e integridade.

Santa Teresinha do Menino Jesus, a jovem de Lisieux, nos recorda a maravilhosa ação do amor de Deus em nós: “Minha vocação na Igreja é o amor”.

Definitivamente, não se realiza quem não ama com o amor de Deus. Não descobre sua vocação quem não descobriu o amor. Não será feliz quem pensa só em si e deixa de lado as preciosas atitudes de generosidade, gratidão e amor a Deus e ao próximo.

Pelo contrário, enxerga, com clareza, onde está a sua vocação (no ministério sacerdotal, no matrimônio, na vida consagrada...) quem ama o Senhor e tudo o que ele nos dá. O amor de Deus, em nós, vai “desvendando” os caminhos que devemos percorrer para que os desígnios divinos se cumpram. O amor de Deus, em nós, firma os claudicantes e nos faz superar as dificuldades que, normalmente, encontramos no período mais intenso de discernimento vocacional. O amor de Deus, em nós, capacita-nos a sermos fiéis e justos.

As pessoas deveriam perguntar a si mesmas: “Para onde sou impulsionado pelo amor de Deus? Para onde vejo o amor de Deus me levar? Onde poderei me tornar “dom” nas mãos de Deus? São perguntas fáceis de fazer, mas muito complexas de serem respondidas. Porém, seguramente, a sua vocação vai por esse caminho, nessa direção.

Não será feliz, portanto, quem quiser direcionar o amor que recebeu para onde ele não pode ir. Deste modo, uma decisão errada na vocação pode trazer muita infelicidade. O adultério é sempre uma infelicidade. Não é feliz quem se aventura em amores superficiais e medíocres. Nunca será feliz quem se debruça em falsas paixões e pseudo-entregas. A exigência da verdadeira felicidade é o amor verdadeiro, o amor purificado pelo Amor Pessoal de Deus.

Ora, a qualidade do nosso amor é a qualidade da nossa doação e a qualidade da nossa realização.

São João, Apóstolo amado, experimentou a qualidade desse amor, não só pelas atitudes e palavras que testemunhou do Mestre ou pelo calor do contacto diário com Cristo, mas também pela proximidade daquele momento insuperável na História da Humanidade, quando o Amor se derramou, completamente, na Cruz. Em sua primeira Epístola, diz: “Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai” (1Jo 2,15). E também: “Amemo-nos uns aos outros, pois o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus” (1Jo 4,7).

Sem exceção, todos somos chamados a ser santos; no amor, a santidade se realizará. Cada qual tem uma vocação específica, através da qual glorifica a Deus e santifica a Igreja; no amor, a glória de Deus e a comunhão com a Igreja indicam-nos o caminho da felicidade e da realização. A doação de cada pessoa àquilo que faz constrói um mundo melhor, mais justo e mais solidário; o mundo encontrará a paz que tanto deseja se os homens descobrirem a força desse amor que nos impele, que nos purifica e nos leva à busca do bem.

“O amor: eis a minha vocação!” O amor é paciente e bom, a vocação não permite inveja, nem ostentação. O amor não se incha de orgulho, a vocação não admite interesses próprios. O amor não se irrita, a vocação não aceita rancor... A amor jamais acabará! Só um vocacionado “realizado” pode ir até onde vai o amor: ao termo final de nossa fidelidade ao AMOR eterno.

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VOZ DO PASTOR

CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro

29 de junho de 2004

O Papa do mundo moderno

Quando pela tardinha do dia 16 de outubro de 1978, quinhentas mil pessoas acorreram à Praça de São Pedro, para ver e aplaudir o novo Papa, ficaram impressionadas diante da figura jovem, vigorosa, esbelta e cativante de João Paulo II, que falava, pela vez primeira, “à Cidade e ao Mundo” em um italiano simples, fluente e correto, como se fora um italiano nato. O que mais encantava não era a sua fala, mas o seu jeito de ser, de sorrir, de gesticular e de se comunicar. Mas, naquela hora, ninguém poderia supor a envergadura, o alcance universal daquela pessoa que acabaria por influenciar, direta ou indiretamente, o próprio curso da História no final do século e milênio passado.

Sua primeira preocupação, como Pastor visível da Igreja de Cristo, era o próprio homem: “A Igreja é perita em humanidade e sua caminhada passa, em primeiro lugar, pelo homem” (sua primeira carta ao mundo leva o sugestivo nome “A redenção do Homem”). O primeiro acento da Evangelização é, portanto, a dignidade do homem, o valor incomparável de sua vida, os direitos humanos fundamentais, não raro, pisoteados e desrespeitados.

Karol Wojtyla nota, desde os primórdios de seu pontificado, que as maiores carências do mundo moderno eram, principalmente: o vazio de Deus, o desprezo dos mais altos valores, a ausência de paz, o abismo entre ricos e pobres, o abuso do poder, a falta de justiça, união e amor. Decide, por isso, fazer-se peregrino incansável, missionário, porta-voz e concretizador desses valores em todos os Continentes: em mais de 100 países, até agora, visitados por ele, duas vezes na própria sede da ONU, nos encontros ecumênicos e no diálogo interreligioso.

Todos o aceitam como esse Enviado do Altíssimo, aplaudem freneticamente, sobretudo, os jovens. A eles, às crianças, aos responsáveis pelos governos, aos evangelizadores, aos comunicadores é que se dirige a sua palavra inflamada e cheia de convicções. Jamais João Paulo II teve receio de dizer a verdade, a verdade toda, clara e objetiva, que brota do Evangelho de Cristo e adquire frescor de atualidade em seus lábios proféticos: com novos métodos, novos conteúdos e linguagem nova.

Esse abraçar da verdade, assim declara o Papa, exige a audácia de “não ter medo de abrir as portas ao Cristo... que bate sem cessar”.

“Cruzando o Limiar da Esperança”, uma espécie de “Pergunte e Responderemos”, constitui-se em um dos livros mais importantes desses últimos anos, tentando responder aos mais variados e candentes questionamentos do homem moderno, tais como: o valor da vida, a importância da fé, o convívio com o Judaísmo e com as outras crenças, a dignidade ímpar da mulher, o Transcendente, a morte e sobrevivência, as divisões e hostilidades como “manchas” do peregrinar humano rumo à Eternidade...

Quanto à Igreja Católica, o Santo Padre se preocupa com a instrução fundamental de cada pessoa, presenteando-nos, em 11 de outubro de 1992, com o precioso e bem elaborado “Catecismo da Igreja Católica”, que visa apresentar, com maior clareza e conexão, o depósito da doutrina cristã na maravilhosa unidade do mistério de Deus-Pai, na centralidade de Cristo e na unção do Espírito Santo. No dia 25 de janeiro de 1983, veio à luz o novo “Código do Direito Canônico”, uma visão prática da vida cristã-católica, que tem por objetivo primeiro e último “a salvação das almas como lei suprema e soberana”.

Inundado pela divina presença de Cristo, o Sumo Pontífice indicou a trajetória a ser percorrida, a fim de que nos preparássemos, dignamente, para o Jubileu de dois mil anos da Encarnação do Verbo. De tal modo, depois de um mergulhar profundo no mistério da Trindade Santa, mais uma vez o mundo se preparava para escutar a voz potente de Cristo: “Duc in altum” – “Avancem para águas mais profundas”. Com essas palavras, a Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, do dia 6 de janeiro de 2001, tornou-se um imperativo para animação da ação pastoral e evangelizadora no mundo, sobretudo, priorizando a vida de santidade, a oração e o testemunho de comunhão entre os filhos da Igreja.

Repensando esses quase vinte e seis anos de Pontificado de nosso querido “João de Deus”, não sabemos, se nos cabe, acima de tudo, agradecer a clareza firme de seus ensinamentos, a importância dos contatos pessoais e mundiais, a missionariedade da paz e da concórdia entre os povos ou a delicadeza humana de seu coração fraterno, que abraça, com o mesmo amor, a criança das favelas, o indígena assustado, os potentados das nações, a inesquecível Beata Teresa de Calcutá ou a Fafá de Belém... Ficamos impressionados por saber que, também no meio poético, ele tenha se destacado, sobretudo com a publicação do seu Tríplitico romano-Meditações.

Atualmente, o Papa João Paulo II tem se dedicado à reflexão constante sobre a centralidade da vida cristã na Eucaristia, ocupando-se com a dignidade do sacrifício perene e da santíssima presença de Cristo, que se renova a todos os instantes nos altares espalhados por esse mundo.

Agradeçamos tudo isso ao Bom Deus, na certeza de que o mundo está melhor porque temos João Paulo II conosco e à nossa frente!

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