Doutrina católica

Maria, Rainha dos mártires

- 02/06/2004 -

Pelo padre Jean Galot

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 1º de junho de 2004 (ZENIT.org).- Publicamos a intervenção do padre Jean Galot, consultor da Congregação vaticana para o Clero, professor emérito de Teologia da Universidade Pontifícia Gregoriana, pronunciada na videoconferência mundial sobre «O martírio e os novos mártires», organizada por este dicastério (www.clerus.org) em 28 de maio passado.

Maria, Rainha dos mártires Prof. Jean Galot, Roma

Invocando Maria como Rainha dos mártires, desejamos reconhecer seu lugar eminente na obra da salvação, enquanto esta obra suscita as oferendas heróicas do martírio.

O valor do martírio foi sublinhado em particular por Jesus ao dirigir-se a Pedro: «Em verdade, em verdade te digo: quando eras jovem, tu mesmo te cingias e ias aonde querias; mas quando fores velho, estenderás tuas mãos e outro te cingirá e te levará aonde tu não queiras». E o evangelista agrega: «Com isto indicava a classe de morte com que ia glorificar a Deus» (Jo 21, 18-19).

O anúncio feito a Pedro nos faz compreender a importância do martírio como dom supremo que associa o apóstolo de seu Mestre. Jesus havia dito a seu discípulo: «Apascenta minhas ovelhas». Para cumprir adequadamente sua missão como pastor, Pedro estava chamado a compartilhar o sacrifício de sua própria vida: «O bom pastor dá sua vida pelas ovelhas» (Jo 10, 11).

A predição do martírio foi especialmente mais dura para Pedro porque, no primeiro anúncio da Paixão, havia reagido com violência; havia-se rebelado e havia pedido que o acontecimento doloroso fosse apagado do programa, mas Jesus lhe havia reprovado: «Teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens» (Mc 8, 32). Logo, entendeu que a prova era necessária para o cumprimento da missão. O anúncio do martírio futuro confirma esta verdade.

Podemos observar que as circunstâncias do anúncio suscitaram uma reflexão na mente de Pedro, com a comparação entre sua sorte e a do discípulo predileto: quando Pedro havia perguntado por João: «Senhor, e este?» (Jo 21,21), havia recebido uma resposta que mostrava um destino muito distinto do martírio: «Se quero que fique até que eu venha, que te importa?».

Por vontade de Cristo, o apóstolo João não morreria de morte violenta, mas esperaria a chegada daquele que o havia chamado e que, no momento que ele escolhesse, poria fim a sua vida na terra.

O destino disposto para João nos demonstra que não todos os apóstolos acabaram suas vidas com o martírio. Ajuda-nos a compreender melhor que não era necessário que Maria desse o testemunho supremo do martírio para estar plenamente unida a seu Filho no cumprimento de sua missão redentora.

Por certo, Maria ofereceu a Jesus a participação mais elevada na obra da salvação e que deu muito fruto para a humanidade. Mas essa participação não implicava compartilhar a crucifixão. Era algo adequado a seu papel de mãe. A dor de Maria foi a de seu coração maternal. Neste sentido, viveu o martírio não em seu corpo, mas em seu coração.

Deste ponto de vista, Maria é rainha dos mártires, porque nela o martírio encontrou uma expressão nova, o compromisso em uma dor que toca o fundo da alma em união com a dor de Cristo crucificado. Essa dor é oferecida perfeitamente, com uma generosidade sem reservas.

Em Maria, a participação no sacrifício redentor está marcada por um clima de serenidade e mansidão, como convém a um coração de mãe. Às vezes, as circunstâncias do martírio poderiam despertar tentações de vingança ou de hostilidade. No sofrimento da cruz, o coração da mãe de Jesus permaneceu moldado de compaixão e perdão. A participação na oferenda do Salvador foi para Maria uma participação na bondade do coração cheio de paz e humilde de Cristo.

No Calvário, Maria ofereceu um testemunho superior de caridade, que corresponde ao significado fundamental do martírio. Seu coração maternal transbordava de amor a Cristo e toda a humanidade.

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