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DOUTRINA CATÓLICA

Papa no Coliseo

Papa João Paulo II na Via Crucis

As Tentações

Somente Jesus é norma absoluta para seus discípulos. “Não existe discípulos superior ao mestre:” Quem toma por modelo Jesus Cristo não é um cego que guia outro cego. Termina por Cair no abismo.

No século que passou não foram poucos os cristãos que preferiam à mensagem do Evangelho as ideologias destruidoras da pessoa humana. Preferiam as trevas à luz. Deveriam ter uma posição critica diante das ideologias, no entanto, se deixarem envolver cegamente por elas. Chegaram até a ler o Evangelho à luz de visões parciais e deformadoras do homem, da sociedade e do mundo. No deserto, durante quarenta dias, Jesus se deixa tentar pelo demônio. Prelúdio de sua paixão, quando será vítima não só de judeus hostis, mas do próprio príncipe das trevas.

A primeira tentação: “Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão”. Um desafio ao poder miraculoso de Jesus. Um desafio Àquele que no batismo por João é proclamado o Filho de Deus. Jesus replica ao Tentador com as palavras do Deuteronômio: “Não só de pão vive o homem”.

A Tentação sempre presente na vida da Igreja e dos cristãos, ao quererem fundar a fé no fato extraordinário e não na obediência à palavra de Deus em seu Filho Jesus Cristo. Mas, crer não é ver através do maravilhoso. É, sim, aceitar, sem ver, a revelação divina.

A segunda tentação: “Eu te darei todo este poder com a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e eu a dou a quem quiser”. Trata-se de um poder de natureza política, o qual para Lucas provém do príncipe deste mundo. Jesus responde, no entanto, baseado também no livro do Deuteronômio: “Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a Ele prestarás culto”.

A tentação do poder chega ao extremo de a ele tudo sacrificar-se: a dignidade da pessoa, o bem comum de um povo, os direitos dos outros. É tão cega quanto a paixão sensual. Ao repelir esta tentação, Jesus nos convida a usar o poder como serviço e não como domínio ou um lugar de privilégios e vantagens.

A terceira tentação se deu, ao ser transportado para o cimo do Templo. “Se és o Filho de Deus, atira-te para baixo”. É ainda um apelo ao milagre, o qual seria utilizado para um fim terreno e pessoal: salvar fisicamente a vida de Jesus. Mas, este responde ao demônio com as palavras do Deuteronômio: “Não tentarás ao Senhor teu Deus”.

A tentação de provar a divindade de Jesus, a autenticidade divina de sua mensagem, desafiando o poder de Deus. É sempre a recusa da fé, que não é evidenciada, mas aceitação da palavra de Deus.

Jesus recusa as tentações do demônio, porque procuram desvia-lo de sua missão: salvar o homem pecador, não por meios ricos e poderosos, mas por meios pobres e o caminho da cruz. As três tentações são as três paixões humanas: ter, poder e valer. Paixões que levam à avareza, à tirania e à vanglória. Ao passo que o homem novo do Evangelho, ao qual nos convida o tempo da quaresma, é desprendimento, serviço e humildade.

Dom José Freire Falcão

Cardeal – Arcebispo de Brasília

Primeiro Domingo da Quaresma - 04.03.2001

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A Transfiguração

O ministério de Jesus de pregação do Reino de Deus se aproxima do fim. Próximo o desfecho da cruz. Para fortalecer os discípulos mais íntimos na hora suprema da provação Jesus manifesta sua glória. Definitiva com sua ressurreição. Segundo a tradição, o fato se deu no alto de um monte para onde Jesus se dirigiu para rezar. “Enquanto orava, o aspecto de seu rosto se alterou, suas vestes tornaram-se de fulgurante brancura”. Outrora, no monte Sinai, Javé mostrou sua glória a Moisés.

E eis que dois grandes personagens da Antiga Aliança aparecem em torno d’Ele: Moisés e Elias, representante dos grandes profetas do Povo de Deus. Moisés falou com Deus. E foi o mediador entre Javé e o seu povo. A Ele é confiado os mandamentos e por ele realizada a Aliança entre Javé e Israel. Jesus é o novo Moisés. “Profeta poderoso em palavras e ações.” Como Moisés, traz para seu novo povo uma nova lei. Eleito e enviado por Deus. No monte da transfiguração, Moisés dá testemunho de Jesus. Elias, misteriosamente desaparecido, segundo a tradição de Israel, deveria voltar. É ele figura de Jesus, profeta maior do que ele e com grande poder de taumaturgo. A missão de Elias está também ligada a um monte, o monte Carmelo.

Ambos falavam da partida de Jesus, de seu êxodo, “que iria se consumar em Jerusalém”. O mistério pascal de Jesus, sua paixão, morte, ressurreição e ascenção ao céu. Uma nova passagem do sofrimento à glória.

Ao despertarem do sono, Pedro, Tiago e João “viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele”. A impressão foi tão profunda que Pedro sugere que a visão da glória do Mestre perdure e sejam construídas três tendas para Jesus, Moises e Elias. Pedro e outros dois discípulos não tinham ainda consciência do que iria acontecer e o porque da antecipação da gloria de seu Senhor. Não sabiam o que diziam.

E eis que uma nuvem os envolve e se enchem de temor. O temor da presença de Deus. A presença do mistério. E da nuvem a voz do Pai: “Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o sempre”. O Pai atesta a messianidade de Jesus e sua filiação divina.

Nossa missão de discípulos de Jesus é atestar diante do mundo o mistério da pessoa de Jesus: sua filiação divina. E a razão de sua missão: a salvação do homem. E, por isso, o dever de ouvi-lo. Pedro, Tiago e João silenciam sobre o grandioso acontecimento. Não era ainda a hora do testemunho. Era a hora, sim, de revigorar sua fé para o momento das trevas, o qual se aproxima.

Dom José Freire Falcão

Cardeal – Arcebispo de Brasília

Segundo Domingo da Quaresma - 11.03.2001

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