A Justiça sem a Graça e a Graça sem a Justiça ?

Questão :

A justiça divina sem a graça divina e a graça divina sem a justiça divina , são conceitos condenados no Concílio de Trento ?

Resposta :

Não existe a concessão da graça divina sem a justiça , e tampouco existe a justiça divina sem a graça , essas afirmações são dogmáticas e constam dos cânones do Concílio de Trento.

A graça é a ação divina que justifica a alma humana , purificando-a do pecado original ; tornando-a viva para Deus , agradável e agradecida , apta a realizar as obras de valor sobrenatural que nos fazem crescer na graça , na justiça e na caridade , através da via sacramental e extra-sacramental.

A graça independe dos méritos e da fé dos homens ; ela é totalmente gratuita . Deve ser recebida pela livre manifestação da vontade do homem , que adere pela fé ao convite divino . O homem é livre para acolher a graça e também é susceptível de perdê-la pela prática dos pecado mortal.

A graça é oferecida a todos os homens e todos podem recebê-la ; sem a graça , não é possível a salvação.

A doutrina que afirma a possibilidade da salvação sem a graça é o pelagianismo . Para esse segmento herético o pecado de Adão não afetou todos os homens , exceto aqueles que por imitação pecaram como Adão . Se o homem não pecar , sua natureza humana mantem-se incorrupta e encontrará a salvação pela prática da vida ética sob a lei de Deus . Se , por outro lado , o homem tiver pecados pode , progressivamente , perdê-los , simplesmente , não praticando mais atos pecaminosos. Se a graça for necessária para a salvação , uma variação do pelagianismo afirma que basta ter o desejo de recebê-la ; não são necessários os sacramentos . Todas essas afirmações são heréticas , condenadas expressamente pela Igreja em diversos concílios

Para o calvinismo , antes da justificação de Cristo , os homens possuíam uma 'graça comum' não redentora , que os impedia de praticar todo o mal possível , consequência da sua natureza corrompida pelo pecado de Adão. Deus não puniria os pecadores com todo o seu ódio , permitindo que estes , através da lei divina e da lei civil , tivessem conhecimento do bem e do mal ( a consciência do bem e do mal ) e orientassem suas condutas por esses balizamentos ; -- ainda enquanto não regenerados pela 'graça justificadora' do sacrifício de Cristo.

A doutrina católica afirma que a fé e o livre-arbítrio do homem não-redimido não se perdeu totalmente , apenas a graça e a possibilidade da redenção espiritual. A lei seria necessária para impedir a ida definitiva para o cumprimento da pena no inferno ; mas sem a graça de Cristo , validando retroativamente as boas obras dos homens justos , e purificando o pecado original , não seria possivel a reconciliação com Deus e a entrada no céu.

A graça de Cristo é sempre transmitida com a sua justiça . O pecado original é totalmente eliminado pela graça batismal ; nada restando de ódio , apenas a concupiscência que , em si , não constitui pecado.

Para os calvinista , Deus elege quem será salvo e quem perecerá eternamente , e o homem não pode fazer nada para mudar esse decreto eterno.

Para o catolicismo , Deus elege quem será salvo , mas respeita o livre arbítrio -- quem não foi eleito para a salvação certa , também pode ser salvo se perseverar. Deus pode mudar a vida do mais réprobo dos pecadores , se este desejar receber a graça justificadora do batismo. Se já tiver recebido o batismo , deve fazer a contrição de seus pecados , confessar suas culpas a um sacerdote , fazer as obras prescritas de reconciliação e satisfação a Deus , sempre na dependência dos méritos e da satisfação eterna prestada a Deus , pelo Cristo.

A graça de Cristo , segundo os calvinistas , não purifica o pecado original. O homem continua com a culpa do pecado original incapaz de receber méritos por sua obra , apenas a condenação anexa é removida. Essas afirmações são heréticas e condenadas pelo Concílio de Trento.