Doutrina Católica

Doutrina Catolica

NATAL DO SENHOR

O dia 25 de dezembro não é a data histórica do nascimento de Jesus em Belém, na Judéia, no ano 748 da fundação de Roma. O "Dies Natalis" ou "Natalis Domini" foi marcado no dia 25 de dezembro pela Igreja romana, com o papa Libério, desde o século IV, a fim de suplantar a festa pagã do deus Sol, "Dies natalis invicti solis", celebrada no solstício de inverno. Para afastar os fiéis da prática dessas festas idolátricas, a Igreja quis ressaltar que a verdadeira luz que ilumina todo homem é Cristo e a celebração de seu nascimento na carne humana é a solenidade própria para afirmar a autêntica fé no mistério da Encarnação do "Verbo", contra as grandes heresias cristológicas dos séculos IV e V, solenemente afirmada nos quatro concílios ecumênicos de Nicéia, Éfeso, Calcedônia e Constantinopla. Com São Leão Magno, o papa do concílio de Calcedônia, deu-se a essa solenidade o fundamento teológico, definindo-a como "sacramentum nativitatis Christi" para indicar seu valor salvífico; portanto, ela não é somente uma memória histórica, mas renova hoje o ponto de partida de tudo o que se realizou na pessoa humana de Cristo para a nossa salvação, contra toda interpretação errônea, gnóstica, ariana, docetista, maniquéia ou monofisista. Os textos da liturgia atual estão ainda cheios das expressões dogmáticas que definem essa fé. Além disso, o Natal insere-se na Páscoa, porque o Filho de Deus assume um corpo para se oferecer ao Pai com um sacrifício pessoal e existencial: "Senhor, não quiseste sacrifícios nem oblações, mas me preparaste um corpo. ... Então eu disse: eis-me aqui, venho - no volume do Livro está escrito de mim - para fazer, ó Deus, a tua vontade" (Hb 10,5-7). Hoje a Igreja canta: "Dies sanctificatus illuxit nobis", ou seja, "um dia repleto do poder santificante de Deus brilha sobre nós". São Leão Magno afirma também que o Natal da cabeça é também o Natal do corpo, ou seja, de todo homem, e o Verbo sintetiza também em si todo o cosmo para reintegrar o universo no projeto salvífico querido pelo Pai. A espiritualidade do Natal, enfim, é a espiritualidade da adoção como filhos de Deus que, para todo crente, realiza-se no ato de viver Cristo, despojando-se do velho Adão que há em cada um de nós. Essa festa foi logo aceita na África; por volta de 380, no Ocidente, em Constantinopla e em Antioquia; por volta de 431, em Alexandria e em Jerusalém. Liturgicamente, é caracterizada por três missas: - "ad noctem" ou "ad galli cantum", que remonta, parece, ao papa Sisto III, por ocasião da reconstrução da basílica liberiana no Esquilino (Santa Maria Maior), depois do concílio de Éfeso, em 431; - "in aurora", originariamente em honra de Santa Anastácia, que tinha um culto celebrado com solenidade em Roma no século VI e, na liturgia atual, conserva ainda uma oração de comemoração; - "in die", na qual se lê, como evangelho próprio, o de João. A cor dos paramentos sagrados é o branco, símbolo da alegria. Essa festa tem ricas tradições populares e domésticas: - o cepo, os fogos e a fogueira, sobrevivências do fogo que se acendia no passado na passagem do solstício de inverno; - o presépio que teve sua origem no presépio "vivo" representado por volta de 1200 por Francisco de Assis em Greccio, que se espalhou por quase toda a Europa e, a seguir, também penetrou na arte dos povos "convertidos"; - a árvore de Natal, sobrevivência de ritos agrários, que é geralmente um pinheiro ornado e iluminado no qual se dependuram os presentes das crianças dados por Papai Noel, o velho de barbas brancas, chamado nos países germânicos e anglo-saxões de Santa Claus (corruptela de Sanctus Nicholaus, que se celebrava, já na Idade Média, no dia 6 de dezembro com festas infantis); - os cantos, litúrgicos ou não, que são cantados pelas estradas, pelas ruas, de casa em casa, sobretudo por jovens; o soar das gaitas-de-fole, originárias do Abruzzo, difundido agora quase por toda parte, que enche de "magia" a noite de Natal; - enfim, a troca de cumprimentos de boas festas e de presentes entre familiares e amigos, como que selando na alegria mútua o sentido de fraternidade que essa festa sugere.

TEMPO DE NATAL-EPIFANIA

Ignoramos em que dia Jesus nasceu. Os cristãos do século III escolheram, para comemorar esse evento, uma data particularmente significativa: o dia 25 de dezembro, a noite mais longa do ano. O motivo dessa escolha é simples: no tempo de nova luz na natureza, novo ano solar, festeja-se a festa da Luz nova que jamais se apagará: "Jesus, verdadeiro sol de justiça", repetindo as palavras do profeta Malaquias 3,20. Desde então, a Igreja começou a celebrar as duas grandes festas que indicam as etapas da vinda de Deus entre os homens: a Natividade e a Epifania. No dia da Natividade ou Natal, festejamos a presença humilde de Deus no meio dos homens; no dia da Epifania, a manifestação dessa presença aos gentios e ao mundo. A Epifania é para o Natal o que Pentecostes é para a Páscoa, ou seja, o seu desenvolvimento e a sua proclamação no mundo, e prolonga-se na festa do Batismo do Senhor, como manifestação ao povo eleito. A oitava de Natal, 1º de janeiro, glorifica o nome de Jesus, que significa "o Senhor salva", e resume o sentido da encarnação acontecida em Maria, Mãe de Deus. Assim, através dessas quatro festas, o tempo de Natal nos faz passar do mistério da encarnação ao início do ministério de Jesus. Também a reforma litúrgica do concílio Vaticano II confirma a estrutura desse tempo, que vai das primeiras Vésperas do Natal até o domingo que se segue à Epifania. Enriqueceram-se os textos litúrgicos das celebrações e inseriu-se a missa vespertina da vigília; solenizou-se a maternidade divina de Maria, bem como o batismo de Jesus. A festa da Sagrada Família foi deslocada para o domingo que segue o Natal. As celebrações do tempo natalino não param nos fatos históricos, mas remontam a seu verdadeiro fundamento, que é o mistério da encarnação; por isso, a Igreja entoa o canticum novum de Davi, pois Jesus, assumindo a natureza humana, tornou-se nosso caminho, verdade e vida, para nos obter a vida eterna com Ele, no Pai: "Ora, a vida eterna consiste em que te conheçam a ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste" (Jo 17,3), e ainda: "Mas a todos que o receberam, deu-lhes o poder de virem a ser filhos de Deus"(Jo 1,12).

Nascimento de Jesus Cristo (ca. 7-5 a.C.)

Aos 2000 anos do nascimento de Jesus Cristo, a Igreja prepara-se para entrar no terceiro milênio.

Na carta apostólica "Tertio millennio adveniente", o papa João Paulo II relembra o relato da natividade: Em seu Evangelho, Lucas transmitiu-nos "uma descrição concisa das circunstâncias em que se deu o nascimento de Jesus": "Naqueles dias, um edital de César Augusto ordenou que se fizesse o recenseamento de toda a terra. (...) E todos iam se registrar, cada um na sua cidade. Também José, que era da família e da linhagem de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, para a cidade de Davi, que é chamada Belém, na Judéia, para se registrar com Maria, sua esposa, que estava grávida. Ora, quando estavam lá, chegou o tempo em que ela devia dar à luz. Ela teve seu filho primogênito, enrolou-o em faixas e o colocou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem" (2,1.3-7). Cumpria-se assim o que o anjo Gabriel havia predito na Anunciação. Ele se dirigira à Virgem de Nazaré com as seguintes palavras: "Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo!" (1,28). Percebendo que Maria ficara perturbada com essas palavras, o Mensageiro apressara-se em acrescentar: "Não tenhas medo, Maria! Achaste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo (...). O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te envolverá em sua sombra. Por isso aquele que vai nascer será santo e será chamado Filho de Deus" (1,30-32.35). A resposta de Maria à mensagem do anjo foi inequívoca: "Eis aqui a serva do Senhor. Seja-me feito segundo a tua palavra" (1,38). Nunca na história do homem tanta coisa dependeu, como então, do consentimento da criatura humana (...). No Prólogo de seu Evangelho, João resume em uma só frase toda a profundidade do mistério da Encarnação. Ele escreve: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Nós vimos sua glória, glória que recebe de seu Pai como Filho Único, cheio de graça e verdade" (1,14). Para João, na concepção e no nascimento de Jesus realiza-se a Encarnação do Verbo eterno, consubstancial ao Pai. O Evangelista refere-se ao Verbo que no princípio estava junto de Deus, por meio do qual foi feito tudo o que existe; o Verbo no qual estava a vida, vida que era a luz dos homens (cf. 1,1-5). Do Filho unigênito, Deus de Deus, o apóstolo Paulo escreve que foi "gerado antes de todas as criaturas" (Cl 1,15). Deus cria o mundo por meio do Verbo. O Verbo é a eterna Sabedoria, o Pensamento e a Imagem substancial de Deus, "irradiação de sua glória e expressão exata de seu ser" (Hb 1,3). Gerado eternamente e eternamente amado pelo Pai, como Deus de Deus e Luz da Luz, Ele é o princípio e o arquétipo de todas as coisas criadas por Deus no tempo. (Tertio millennio adveniente 2).

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