Estudos bíblicos
Doutrina Cat�lica

EVANGELHOS DE MARCOS , MATEUS e JO�O

Reda��o do Evangelho de Marcos (por volta do ano 50)

O Evangelho de Marcos provavelmente foi escrito por volta do ano 50. De acordo com uma hip�tese bastante autorizada, embora ainda objeto de discuss�o, os antigos papiros encontrados nas grutas de Qumran j� traziam um trecho do Evangelho de Marcos. Composto em Roma, o Evangelho de Marcos destina-se aos crist�os provenientes do paganismo e tem um estilo simples e vigoroso. Com seus 661 vers�culos, � o Evangelho menos extenso. O objetivo principal de Marcos � provar, como revela o vers�culo inicial do Evangelho (Mc 1,1), que Jesus � filho de Deus, a manifesta��o do servo de JHWH de que falara Isa�as. O Evangelho de Marcos come�a, segundo o esquema a que se alude em At 1,22, com a prega��o de Jo�o Batista e termina com a apari��o do anjo que anuncia a ressurrei��o de Cristo �s mulheres reunidas no sepulcro. Os �ltimos vers�culos atuais (16,9-20) s�o um acr�scimo que a Igreja, de acordo com uma defini��o do Conc�lio de Trento, considera de inspira��o divina, mesmo que n�o tenham sido necessariamente escritos por Marcos. Tais vers�culos, que com certeza j� existiam por volta da metade do s�c. II, parecem provir dos ambientes apost�licos. Tudo o que afirmam encontra-se tamb�m em Mateus e Lucas, o que lhes d� credibilidade hist�rica. O Evangelho de Marcos limita-se a resumir os discursos e as par�bolas de Jesus (que, ao contr�rio, s�o relatados por Lucas e Mateus com profus�o de detalhes), mas det�m-se especialmente na descri��o dos milagres e, dentre estes, das curas dos endemoninhados, uma vez que vislumbra neles o sinal tang�vel da superioridade de Jesus em rela��o �s for�as misteriosas do mal, al�m da garantia de que o reino de Deus, j� iniciado, est� pr�ximo de alcan�ar a plenitude. Reserva aten��o especial � figura de Pedro, do qual ressalta o car�ter impulsivo, al�m das perguntas ing�nuas e fraquezas, ao passo que omite epis�dios que poderiam enaltecer o ap�stolo. Apenas alguns vers�culos do Evangelho de Marcos n�o encontram correspondentes nos outros Evangelhos sin�ticos: por ex. os vv. 51-52 do c. 14, que trazem a informa��o curiosa de um rapaz que presencia a pris�o de Jesus e, agarrado pela t�nica por um soldado, foge nu. Alguns viram neste epis�dio um dado autobiogr�fico, ou seja, pensaram em uma identifica��o de Marcos com o jovem. Por outro lado, v�rios ind�cios confirmariam a tradi��o patr�stica comum que v� em Marcos n�o a testemunha da vida p�blica de Jesus, mas um disc�pulo de Pedro, que compila a prega��o deste.

S. MARCOS EVANGELISTA

Marcos, filho de Maria de Jerusal�m e primo de Barnab�, j� convertido ao cristianismo quando Paulo e Barnab� chegaram a Jerusal�m (ca. 44) trazendo os aux�lios da Igreja de Antioquia (At 11,30), acompanhou-os na viagem de volta a Antioquia (12,25) e na primeira viagem apost�lica � ilha de Chipre (13,4-5). Mas quando, de Chipre, passou-se a evangelizar a �sia Menor, Marcos, em decorr�ncia de alguns conflitos, separou-se de Paulo e Barnab� em Perge (Panf�lia) e voltou para Jerusal�m (13,13). Por volta do ano 50, voltou a Chipre acompanhado apenas de Barnab� (15,39). Depois foi para Roma como colaborador de Paulo, prisioneiro naquela cidade (Cl 4,10; Fm 24). � poss�vel que tenha deixado Roma antes da persegui��o de Nero (64), pois, no ano 67, Paulo, prisioneiro pela segunda vez, escrevia a Tim�teo pedindo-lhe que levasse consigo, de �feso para Roma, o seu "colaborador" Marcos, j� que este lhe era muito �til em seu minist�rio (2Tm 4,11). Em Roma, tamb�m entrou em contato com Pedro, segundo uma antiga tradi��o confirmada pelo testemunho de Pedro, que, dirigindo-se aos fi�is do Ponto, da Gal�cia, Capad�cia, �sia e Bit�nia, sa�da-as em nome de Marcos, a quem afetuosamente chama de filho (1Pd 5,13). Esse detalhe levou alguns exegetas a pensar que Marcos tivesse sido batizado pelo pr�prio Pedro, na ocasi�o em que este se hospedara na casa de Maria de Jerusal�m. A antiga tradi��o patr�stica j� afirmava que Marcos escreveu em Roma o Evangelho que traz o seu nome e que compila e reproduz a catequese de Pedro. Menos antiga e provavelmente lend�ria �, ao contr�rio, a atribui��o a Marcos de uma atividade mission�ria no Egito, onde teria fundado a Igreja de Alexandria. Duvidosa � tamb�m a tradi��o segundo a qual Marcos teria sofrido o mart�rio. O nome de Marcos est� ligado � cidade de Veneza, para onde, em 828, mercadores venezianos provenientes de Alexandria transportaram o que diziam ser as suas rel�quias.

S. Mateus escreve o seu Evangelho (provavelmente entre os anos 60 e 85).

O Evangelho de Mateus apresenta importantes paralelismos com o de Lucas, fato que levou os estudiosos a buscar uma explica��o. Uma das teorias modernas, embora n�o de todo satisfat�ria, atribui duas fontes para o primeiro e para o terceiro Evangelhos: a primeira, para as partes narrativas e os relatos, � a de Marcos; a segunda, utilizada sobretudo para os di�logos e os discursos, � uma fonte desconhecida, apenas postulada, definida com a letra "Q" (inicial do termo alem�o "Quelle", que significa justamente "fonte"). Os relatos de Mateus e de Lucas conservam efetivamente determinadas express�es arcaicas, com claras caracter�sticas sem�ticas e palestinas. Este fato leva a concluir que deve haver uma vers�o diferente, mais antiga, do Evangelho de Marcos, que Mateus e Lucas provavelmente conheceram e � qual recorreram com freq��ncia. O estudo das partes comuns e coincidentes dos tr�s sin�ticos e a an�lise atenta das partes discordantes evidenciou a complexidade dos v�nculos que ligam os tr�s relatos paralelos e permitiu que se explicasse por que algumas vezes as reda��es de Mateus e Lucas parecem estar de acordo, contrariando as de Marcos. No que se refere especificamente a Mateus, o estudo das fontes revelou a exist�ncia de um substrato antigo do seu Evangelho, bastante caracter�stico. Finalmente, para Mateus e para Marcos, � poss�vel admitir pelo menos tr�s reda��es sucessivas: um documento b�sico, antigo, uma primeira reda��o intermedi�ria e uma final e definitiva. Torna-se evidente que, de uma reda��o a outra, verificaram-se modifica��es not�veis e interessantes, n�o na subst�ncia, mas nos novos enfoques, que devem ser relacionados � mudan�a das condi��es hist�rico-sociais e ao amadurecimento do pensamento na reflex�o do pr�prio autor evang�lico. O relato de Mateus exp�e as etapas fundamentais da vida de Jesus, divididas em cinco se��es principais, cada uma centrada em um discurso ou em uma s�rie de discursos de Jesus, precedidos por uma sele��o de acontecimentos que servem de prepara��o. Estas cinco partes est�o contidas entre uma introdu��o, que descreve o nascimento e a inf�ncia de Jesus, e uma conclus�o, que narra os acontecimentos relativos � paix�o, morte e ressurrei��o. � justamente essa reda��o t�o ordenada e semelhante � de Lucas, pelo menos na subst�ncia e nas inten��es, que leva a pensar em uma composi��o mais antiga do Evangelho de Mateus e em uma depend�ncia do resumo de Marcos. A id�ia b�sica que guia as cinco partes principais � a do "reino dos c�us". Jesus � apresentado continuamente como o Filho de Deus, que, com sua pessoa e sua obra, levou a termo o Antigo Testamento. O destaque que Mateus d� ao tema das escrituras torna-se uma caracter�stica significativa de seu Evangelho e transforma o relato no documento da nova economia que realiza os des�gnios de Deus em Cristo. O ensinamento de Cristo que encontramos em Mateus � a apresenta��o da nova lei que completa e supera a antiga. Para Mateus, � importante esclarecer, no interior do mundo judaico e perante os pag�os, que Jesus n�o pode ser o libertador pol�tico t�o esperado, mas que, ao contr�rio, o reino que ele anuncia pertence a uma esfera ontol�gica diferente. E sua preocupa��o, portanto, s� pode ser a de descrever esse reino, apresent�-lo para propor-nos os meios de chegar a ele. Pouco sabemos do autor e da �poca de composi��o deste Evangelho: o relato � an�nimo, mas � atribu�do unanimemente ao ap�stolo Mateus; deve ter sido escrito por volta dos anos 60 e 85 d.C.. A Igreja nascente logo acolheu com simpatia este Evangelho, n�o apenas por ser muito organizado e estar escrito numa l�ngua mais correta, embora menos fantasiosa e de vocabul�rio mais pobre do que a de Marcos, mas tamb�m porque sua abordagem correspondia plenamente �s exig�ncias da Igreja primitiva.

S. MATEUS EVANGELISTA

Mateus (santo), provavelmente origin�rio de Cafarnaum, abandonou a atividade de publicano, ou seja, de cobrador de impostos, para seguir Jesus de Nazar� na Galil�ia. Em seu Evangelho, ele pr�prio se qualifica como Mateus, o publicano, ao passo que Marcos e Lucas o chamam de Levi, filho de Alfeu. Os dois nomes geralmente s�o atribu�dos a um �nico personagem, mas n�o faltam estudiosos que os atribuem a duas pessoas diferentes. Nos Evangelhos, que tratam amplamente de seu chamado por parte de Jesus, e nos Atos dos Ap�stolos, Mateus figura na lista dos doze ap�stolos. Pouco se conhece de sua vida ap�s a ressurrei��o de Jesus. De acordo com a tradi��o conservada em Eus�bio de Cesar�ia, Mateus primeiramente teria pregado aos hebreus da Palestina, para os quais escreveu o seu Evangelho em aramaico, depois teria visitado outros povos (provavelmente na Eti�pia ou na P�rsia). Al�m do Evangelho can�nico de Mateus, existe tamb�m um Evangelho ap�crifo de Mateus, denominado Historia de nativitate Mariae et infantia Salvatoris (Hist�ria da natividade de Maria e da inf�ncia do Salvador), composto entre os s�culos V e VI. O Martirol�gio romano considera-o m�rtir na Eti�pia, ao passo que o de S. Jer�nimo situa o seu mart�rio na P�rsia.

Reda��o do Evangelho de S. Jo�o (entre os anos 80 e 100).

A paternidade joanina do quarto Evangelho, al�m de sustentar-se em testemunhos internos, fundamenta-se em m�ltiplos e concordantes testemunhos dos padres, a partir do final do s�c. II. O quarto Evangelho � o �ltimo dos Evangelhos can�nicos, redigido por volta do final do s�c. I (entre os anos 80 e 100). Quanto ao conte�do, pode-se dividi-lo em duas partes: a primeira cont�m a narra��o da vida p�blica de Cristo (1-12), a segunda traz o relato da �ltima ceia, da paix�o e da ressurrei��o (13-21). Muitas s�o as diferen�as entre o quarto Evangelho e os sin�ticos, especialmente no que diz respeito ao meio geogr�fico (nos sin�ticos, a vida p�blica de Jesus ocorre na Galil�ia, com uma �nica viagem a Jerusal�m; no quarto Evangelho, acontece em Jerusal�m e na Jud�ia) e ao quadro cronol�gico (nos sin�ticos, o minist�rio p�blico de Jesus parece durar apenas um ano; no quarto Evangelho, mais de dois anos). Em geral, Jo�o, que n�o reproduz nem sequer uma par�bola no estilo dos sin�ticos, narra epis�dios n�o encontrados alhures. De resto, ele mesmo declara que realiza uma sele��o do material de que tem conhecimento (Jo 20,30-31). Sua catequese difere daquela dos sin�ticos e revela maior reflex�o e aprofundamento do significado dos acontecimentos e do ensinamento de Cristo. Al�m disso, ela � mais incisiva ao proclamar a divindade de Jesus Cristo. No conjunto, o que Jo�o narra integra-se bem com o que � relatado pelos sin�ticos, embora seu objetivo espec�fico n�o tenha sido o de complet�-los. Atualmente, abandonaram-se as teses que, para explicar as lacunas, repeti��es ou passagens bruscas presentes no texto, consideravam o quarto Evangelho uma deriva��o de fontes diferentes ou uma fus�o de documentos anteriores. Efetivamente, o texto apresenta uma profunda unidade de concep��o, vocabul�rio e estilo. A descoberta de papiros muito antigos com trechos do quarto Evangelho (um da primeira metade do s�c. II) e dos manuscritos do deserto de Jud� (anteriores ao ano 68, de linguagem muitas vezes bastante semelhante � do quarto Evangelho, embora com temas diferentes) levaram a abandonar a opini�o que considerava o quarto Evangelho uma medita��o teol�gica do final s�c. II, e n�o a obra de uma testemunha ocular. Admite-se, contudo, que a reda��o final foi produzida provavelmente por disc�pulos.

S. JO�O EVANGELISTA

Jo�o Evangelista (santo; Betsaida ? - �feso, ca. 105), autor, de acordo com a tradi��o mais antiga, do quarto Evangelho, de tr�s ep�stolas (1, 2 e 3 Jo�o) e do Apocalipse, deve ser identificado com o disc�pulo preferido de Jesus (Jo 13,23; 19,26; 20,2; 21,7). De acordo com os Evangelhos, era filho de Zebedeu e irm�o de Tiago; natural de Betsaida, �s margens do lago de Genesar�, exercia a profiss�o de pescador com outros membros de sua fam�lia e com alguns empregados (Mc 1,19-20; 15,41; Mt 27,56). Primeiramente disc�pulo de Jo�o Batista (Jo 1,35-40), em seguida, juntamente com o irm�o, Tiago, passou a seguir Jesus e com eles assistiu �s bodas de Can� (Jo 2,1-11). Tendo retomado por algum tempo o of�cio de pescador, foi novamente chamado por Jesus e passou a acompanh�-lo definitivamente (Mt 4,21-22; Mc 1,19-20; Lc 5,1-11). De personalidade forte (Mc 3,17; Lc 9,54) e n�o isento de ambi��es (Mc 10,35-37), era mais jovem entre os disc�pulos e solteiro. Nos Evangelhos sin�ticos, com o irm�o e com Pedro, testemunha a ressurrei��o da filha de Jairo (Mt 5,37; Lc 8,51), a transfigura��o (Mt 17,1; Mc 9,2; Lc 9,28) e a agonia no Gets�mani (Mt 26,37; Mc 14,33). Antes de morrer, Jesus confiou-lhe o encargo de manter consigo Maria, sua m�e (Jo 19,27-26). Os Atos dos Ap�stolos mostram-no como uma das pessoas mais importantes da Igreja nascente, citado logo depois de Pedro (3,1-11; 4,13-19; 8,14). Ap�s as persegui��es sofridas em Jerusal�m, transferiu-se com Pedro para a Samaria, onde desenvolveu uma intensa evangeliza��o (8,14-15). De acordo com autores do s�c. II, posteriormente (provavelmente ap�s o ano 67) residiu em �feso e, a partir dessa cidade, dirigiu muitas Igrejas da prov�ncia da �sia. O Apocalipse (1,9) informa-nos que, na �poca de Domiciano, foi exilado na ilha de Patmos, onde teve as vis�es de car�ter escatol�gico. Depois de voltar a �feso, no governo do imperador Nerva, ali morreu j� em idade bastante avan�ada

Jo�o escreve o Apocalipse na ilha de Patmos (final do s�culo I). O "Apocalipse" ou "Apocalipses" � um livro b�blico, o �ltimo do Novo Testamento; o nome deriva das primeiras palavras do texto, que significam "Revela��o de Jesus Cristo". O autor do Apocalipse � um certo Jo�o, mencionado na introdu��o: "ele a comunicou por meio de seu anjo a seu servo Jo�o" (1,1). Na primeira tradi��o eclesi�stica, havia consenso em se identificar este Jo�o com o autor do quarto Evangelho; mas as profundas diferen�as de l�ngua, de estilo e de conte�do entre as duas obras levaram Dion�sio de Alexandria (s�c. III) a sugerir que elas teriam sido escritas por dois autores diferentes. Alguns cr�ticos modernos, sobretudo protestantes, concordam com a obje��o de Dion�sio; outros, na maioria cat�licos, rejeitam-na e explicam as ineg�veis diferen�as formais como conseq��ncia da diversidade dos temas e, talvez, tamb�m da interven��o de auxiliares diferentes. Seja como for, todos concordam em incluir o Apocalipse na chamada "literatura joanina". A obra, como diz o texto (1,9), foi escrita em Patmos, pequena ilha do grupo das Esp�rades do Sul (mar Egeu). De acordo com a tradi��o mais autorizada, a �poca de composi��o coincide com os �ltimos anos do reinado de Domiciano (81-96). O Apocalipse � escrito em forma de mensagem "�s sete Igrejas da �sia" (1,4), isto �, considerando o significado da forma ret�rica utilizada, � totalidade das Igrejas. O prop�sito da mensagem � encorajar a comunidade crist� que passa por uma terr�vel prova��o: ap�s o magn�fico desenvolvimento na �poca de sua funda��o, agora a Igreja parece seriamente amea�ada na unidade de sua f� (movimentos her�ticos), na pureza dos costumes (relaxamento da vida religiosa, diminui��o da caridade) e devido � imin�ncia das persegui��es. Jo�o pretende sustentar a coragem dos crist�os "at� a morte" (2,14) e por isso garante-lhes a presen�a divina de Cristo, que vencer� o Drag�o. Al�m de uma introdu��o (1,1-8) e um ep�logo (22,6-21), a obra compreende duas partes: a primeira, de car�ter pastoral (2-3), cont�m as cartas �s 7 Igrejas (�feso, Esmirna, P�rgamo, Tiatira, Sardes, Filad�lfia, Laodic�ia) ditadas ao autor por um "filho do homem" que lhe aparece, glorioso, entre 7 candelabros de ouro; a segunda tem car�ter prof�tico-escatol�gico (4-22). Essa segunda parte representa a ess�ncia da obra e compreende duas vis�es paralelas: a primeira vis�o (4,18; 11,1) diz respeito aos destinos do mundo; a segunda (11,9; 21,5) concerne ao futuro da Igreja. A primeira vis�o come�a com a apresenta��o do trono de Deus (4,1-11) e do Cordeiro vitorioso (5,1-14) e concentra-se em dois motivos: a abertura dos 7 selos (6,1; 8,1), s�mbolo da prepara��o no c�u dos flagelos que recair�o sobre o mundo (dos primeiros 4 selos sair�o os famosos 4 cavalos), e o som das 7 trombetas (8,2; 11,18) que significam a execu��o daqueles flagelos na terra. A segunda vis�o come�a com um duplo acontecimento: no c�u, a luta do drag�o (Satan�s) contra a mulher (que representa o povo eleito) (12,1-18); na terra, as duas bestas (que simbolizam o Imp�rio Romano e os falsos profetas) (13,1-18). A esta dupla cena contrap�e-se a apari��o do Cordeiro no monte Si�o seguido da multid�o de fi�is (14,1-5). O ju�zo escatol�gico � expresso por meio de v�rias representa��es: os 7 flagelos e as 7 ta�as (15-16), acompanhados da "condena��o da grande Prostituta" (Roma, nova Babil�nia) (17-18), depois a vit�ria sobre as bestas (19,11-21) e sobre o Drag�o com que se inaugura o reinado "de mil anos" de Cristo (20,1-10) e por fim a vit�ria definitiva sobre o mal (20,11-25). O Apocalipse encerra-se solenemente com a vis�o da Jerusal�m celeste (21,1; 22,5). O Apocalipse est� repleto de um elevado conte�do religioso; o autor demonstra ter consci�ncia do grande valor espiritual de sua mensagem, de modo que pode ser comparado �s figuras dos maiores profetas do Antigo Testamento. O estilo liter�rio apresenta caracter�sticas especiais, algumas exclusivas do Apocalipse e outras comuns � literatura joanina: o sistem�tico agrupamento por sete (7 cartas, 7 candelabros, 7 selos, 7 trombetas, 7 flagelos, 7 ta�as); uma forma descritiva, comum ao quarto Evangelho, que negligencia o nexo cronol�gico para seguir um sistema de constantes recapitula��es, enfocando os fatos com novas formas e esclarecimentos; amplo uso da ant�tese, em constante conformidade ao tema escatol�gico que comporta condena��o dos maus e recompensa para os bons. Quanto � l�ngua grega do texto, sua forma descuidada, assint�tica e at� com deslizes gramaticais, cheia de barbarismos e solecismos, est� em evidente contradi��o com a forma correta do quarto Evangelho, a ponto de justificar as d�vidas acerca da identidade dos dois autores. Dada a natureza dos barbarismos, quase todos de origem sem�tica, e a forma de periodiza��o, tamb�m ela caracteristicamente sem�tica, muitos cr�ticos sup�em que Jo�o formulava o pr�prio pensamento primeiro em hebraico, para a seguir traduzi-lo em grego. Todo o sentido teol�gico do Apocalipse fundamenta-se em tr�s pilares: Deus, Cristo, a Igreja. Deus � "o Alfa e o �mega, o Princ�pio e o Fim" (1,8), � "Aquele que vive nos s�culos dos s�culos" (10,5), � o Pantocr�tor, ou seja, o Senhor do Universo (1,8). Jesus Cristo � o tema central do Apocalipse, que � verdadeiramente a sua "revela��o"; ele � o Filho do homem, � o Cordeiro imolado que redimiu os homens "de todas as tribos, l�nguas e povos" (5,9), ao mesmo tempo � o vitorioso sobre os inimigos debelados (19,11-16). Cristo � o "Logos de Deus" (19,13), que est� junto de Deus, como no pr�logo do quarto Evangelho; ele � enfim o Kyrios (Senhor) (17,14), tradu��o do termo "Adonai" que, nos textos veterotestament�rios, substitui o nome inef�vel de JHWH. Mas o Cristo do Apocalipse, apesar de seus atributos divinos, � o mesmo Cristo do Evangelho: viveu na Palestina, foi crucificado em Jerusal�m (11,8), morreu e ressuscitou (1,18). A Igreja � o "novo Israel"; � o "povo da elei��o" resgatado pelo sangue do Cordeiro (5,9); � o reino de Deus cujo advento � celebrado pelas aclama��es celestes (11,15; 12,10); e enfim � a "esposa do Cordeiro" (19,7) e a "nova Jerusal�m" resplandescente da "gl�ria de Deus" (21,10).

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