Doutrina Católica

_______________________________________________________________

PALAVRAS DE D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID , CARDEAL ARCEBISPO DA ARQUIDIOCESE DO RIO DE JANEIRO

VOLTAR

_________________________________________

O Despertar e o amadurecimento da Vocação “Hoje todos os membros da Igreja, sem exceção, têm a graça e a responsabilidade do cuidado pelas vocações” (P.D.V. 41)

Ao meditar o texto acima, de nosso querido Papa João Paulo II, somos envolvidos pelo senso da responsabilidade, do zelo e devotamento pelas vocações todas na Igreja de Cristo. Perguntamo-nos se as observações da Exortação Apostólica “Dar-vos-ei Pastores”, referidos como “leitmotiv”, nos deixam tranqüilos e satisfeitos com a nossa atuação pastoral neste campo, na Igreja de Cristo.).

Ao acentuarmos a importância da Pastoral Vocacional na Pastoral de Conjunto, não o fazemos apenas em harmonia com o Concílio Vaticano II, com as Conferências Episcopais regionais e continentais, com a CNBB e com as sempre pertinentes exortações, especialmente, dos últimos Papas, mas nos obriga a isso nosso dever de pastor, mestre e amigo do povo de Deus. Nós o fazemos, ainda, com muita alegria e entusiasmo, visto que o resultado ultrapassa, de muito, os nossos pobres esforços, porque “é o Senhor mesmo que faz crescer a messe” (1Cor 3,6).

Mas esse entusiasmo é partilhado pelos próprios leigos e leigas, pelos sacerdotes, pelos diáconos, pelas nossas comunidades. Já em Santo Domingo se constatava: ”Cresceu o interesse pela Pastoral Vocacional que apresenta aos jovens, com clareza, a possibilidade de um chamado do Senhor” (S.D. 79).

A Exortação Apostólica “Dar-vos-ei Pastores” assinalava como prova de amadurecimento da responsabilidade dos leigos e leigas o seu devotamento à Pastoral Vocacional específica: “Quanto mais aprofundarem o sentido de sua vocação e missão na Igreja (como leigos), tanto melhor poderão reconhecer o valor e o caráter insubstituível da vocação e da missão presbiteral” (P.D.V. 41).

Com alegria podemos constatar, hoje, razões positivas e evangélicas que entreabrem espaço para o seguimento exclusivo e único de Cristo em prol de sua Igreja.

Deve acentuar-se esse interesse pela Pastoral Vocacional, ao lado do aumento conseqüente das vocações específicas. Como muitos jovens vêm sendo tocados pelo desejo da promoção humana, notadamente, dos mais marginalizados, vêem eles na vocação sacerdotal, diaconal e consagrada um dos melhores caminhos. Aliás, a história da maioria dos Fundadores e das Fundadoras, de tantos sacerdotes e religiosos e religiosas exemplares é prova irrefutável disso: Evangelização e Promoção humana andam de mãos dadas. Outro aspecto positivo e favorável à vocação específica é o crescimento do espírito missionário, até na infância. Esse espírito missionário vem se intensificando com a realização das chamadas “missões populares”. Num mundo de isolacionismo, de individualismo crasso, de espírito interesseiro, de pessoas angustiadas e amarradas ao que é terreno, encanta o sacerdote e religioso como personalidades doadas ao diálogo, à disponibilidade, à paz, ao acolhimento, ao amor desinteressado e oblativo por todos. Desta forma, o sacerdote, o consagrado e a consagrada aparecem como testemunhas do Transcendente, que procuram transformar o inconsciente religioso em prática religiosa, em vida de amor e união com Deus. Além disso, ultimamente, não poucos Movimentos Jovens têm servido para esclarecer a vocação específica, despertando o desejo de abraçá-la. Louvemos a Deus por isso.

Do lado oposto, sabemos, de sobejo, que há não poucas dificuldades que obstaculam o trabalho da Pastoral Vocacional. Não podemos deixar de apontar algumas.

Há situações familiares em que falta a união, a experiência do verdadeiro amor, de tal forma que se torna difícil despertar para o altruísmo, para o sentido de “igreja doméstica”, de entrega generosa e definitiva ao amor em favor dos irmãos e irmãs. Há uma inegável influência do ambiente em que estamos envolvidos: extremamente secularizado, consumista e erotizado, sem abertura ou convite para uma vida mais conforme ao Evangelho, à austeridade ou sacrifício.

O horizonte mundano hodierno tende a fechar-se sobre si mesmo, sobre o transitório e... descartável. Tem-se medo e angústia diante de decisões definitivas ou radicais. A pressa com que acontecem as mudanças culturais, econômicas e sociais influenciam fortemente essa aceitação do efêmero e provisório como normal.

Por outro lado, nota-se, com tristeza, o desinteresse e indiferença de alguns sacerdotes e consagrados, de movimentos eclesiais e de paróquias inteiras pela Pastoral Vocacional. Como os leigos irão entusiasmar-se por essa causa tão importante, diante da atitude omissa daqueles que mais a deveriam promover (cf. E.A. 40)?

Outro fator negativo e prejudicial é a falta de entrosamento, de convergência das pastorais independentes, especialmente: pastoral familiar, pastoral da juventude, pastoral universitária, pastoral catequética, pastoral estudantil e pastoral vocacional. Na catequese da Crisma e com os adultos esse tema deverá ser abordado com carinho.

Talvez outro fator negativo possa ser o tipo de vida do sacerdote e do consagrado, da consagrada na atualidade: sobrecarga, pouco ou nenhum lazer, pouco espaço para estudo e mais aperfeiçoamento, pouco cultivo de relacionamentos sadios, pouca união e harmonia entre o próprio clero e entre os consagrados ou religiosos (as).

A conferência de Puebla aponta, como um dado negativo para a Pastoral Vocacional, “os desvios doutrinais” (Puebla 851). Isso se refere, creio, à falta de clareza quanto à vocação de todo cristão batizado no seu devotamento à Igreja. Não raro, se frisa a oposição e o antagonismo entre essas dimensões de vida cristã. Procura-se opor: hierarquia à ministerialidade da Igreja, serviço do poder eclesial constituído à profecia, “comunhão e participação” ao próprio Sacramento da Ordem e à consagração religiosa, sacerdócio comum e sacerdócio ministerial.

Primeiramente, voltamos a sublinhar que se trata de vocações e missões complementares, subsidiárias, integrantes. Uma não se opõe à outra, mas a supõe e nela se apóia, conjugadamente, para a construção do Reino de Cristo, a Igreja. Contudo, se trata de vocações bem distintas, embora não separadas.

Que o “Senhor da messe” nos envie boas e santas vocações no limiar deste novo Ano Letivo e nos ajude a prepará-las para o desafio pastoral que as aguarda.

Voz do Pastor 02/03/2004

_______________________________________________________________
Hosted by www.Geocities.ws

1