Doutrina Católica

Doutrina Católica

Mensagem do Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales

Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

10/12/2004

Uma Carta aos Bispos

Com a data de 31 de maio último, foi enviada para os Bispos da Igreja Católica uma carta do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger, sobre a colaboração do homem e da mulher na Igreja e no mundo. Teve esse documento a devida aprovação do Santo Padre, que determinou fosse publicado. Em nossa época, na qual surgem idéias peregrinas, um mais profundo conhecimento da Doutrina Católica a respeito da promoção da mulher é de grande utilidade e mesmo necessidade.

O problema se apresenta sob vários aspectos. Um deles é a tendência de tratá-lo à luz da contestação, estimulando a rivalidade entre os sexos, o que atinge negativamente a estrutura familiar. A segunda tendência é eliminar as diferenças entre os sexos. Diz o documento: “Uma tal antropologia, entendia favorecer perspectivas igualitárias para a mulher, libertando-a de todo determinismo biológico e acabou de fato por inspirar ideologias que promovem, por exemplo o questionamento da família, de sua índole natural composta de pai e mãe, a equiparação da homossexualidade à heterossexualidade” (nº 2). O ensino de Jesus Cristo, através de sua Igreja, reconhece a diferença entre homem e mulher e instaura o diálogo em busca sincera da verdade.

O documento propõe alguns dados da antropologia bíblica. Recorda João Paulo II na Carta Apostólica “Mulieris dignitatem”: “O homem é uma pessoa e em igual medida, o homem e a mulher os dois foram criados à imagem e semelhança de Deus pessoal” (nº 8). A Igreja insiste na complementariedade física e psicológica. Essa harmonia entre homem e mulher foi quebrada pelo pecado e as estruturas sociais e culturais influenciadas pelo mesmo. Insiste o texto em afirmar que “dimensão antropológica da sexualidade é inseparável da teológica” (idem). O Apóstolo Paulo, em sua Carta aos Gálatas (3, 27 e 28) menciona a distinção homem e mulher: “não há judeu nem grego; não há servo, nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo”. Assim, distintos homem e mulher, mas “inseridos no ministério pascal de Cristo e deixam de conhecer a sua diferença como fonte de discórdia. Essas considerações abrem novas perspectivas uma compreensão mais profunda da dignidade da mulher e do seu papel na sociedade humana e na Igreja” (nº12).

A iluminação do Evangelho sobre a atualidade dos valores femininos na vida da sociedade nos faz compreender o papel insubstituível dos mesmos em todos aspectos de vida familiar e social, que envolva relações humanas. João Paulo II em sua “Carta às mulheres”, de 29 de junho de 1994, chama a essa potencialidade de “gênio de mulher”. Em conseqüência: “isso implica também que as mulheres estejam presentes no mundo do trabalho e da integração social e que tenham acesso a lugares de responsabilidades, que lhe dêem a possibilidade de inspirar as políticas das nações e promovendo soluções inovadoras para os problemas econômicos e sociais” (nº13).

Assim, “embora a maternidade seja um elemento chave da identidade feminina, isso não autoriza absolutamente a considerar a mulher apenas sob o perfil da procriação biológica” (nº13). As atividades decorrentes da família e do trabalho devem ser harmonizadas. As mulheres que o desejem “poderão dedicar a totalidade do seu tempo ao trabalho doméstico”. Em “Laborem exercens”, Encíclica publicada a 14 de setembro de 1981, o Santo Padre ensina que “reverterá em honra para a sociedade tornar possível à mãe, sem colocar obstáculos à sua liberdade, sem discriminações psicológicas ou que ela fique numa situação de desdouro em relação às outras mulheres: cuidar dos seus filhos e dedicar-se à educação deles, segundo as diferentes necessidades da sua idade”.

Esses valores femininos são, antes de tudo valores humanos, pois o homem e a mulher foram criados à imagem de Deus, una e indivisível. A “feminilidade” não é apenas um atributo do sexo feminino, mas “a capacidade fundamentalmente humana de viver para o outro e graças ao outro” (nº14). Uma formação da mulher, “que pretende propor-se como luta do sexo não passa de uma ilusão e perigo (...). Estas observações querem, ao invés de corrigir agravar a perspectiva que considera os homens inimigos a vencer” (nº14). As políticas sociais, se de um lado devem combater toda a discriminação sexual injusta, por outro, devem saber escutar as aspirações e assinalar as necessidades de cada um.

A seguir, a Carta trata da “Atualidade dos valores femininos na vida da Igreja”. Nessa matéria, “a figura de Maria constitui para Igreja a referência fundamental”. Poderia dizer-se, como uma metáfora, que Maria oferece à Igreja o espelho em que esta é convidada a descobrir a sua identidade, bem como as disposições do coração, as atitudes e os gestos que Deus dela espera (nº15). Sempre em Maria, a Igreja aprende a conhecer a intimidade de Cristo. Maria, que trouxe nas suas mãos a pequena criança de Belém, ensina a descobrir a infinita humildade de Deus. Sempre de Maria, os discípulos de Cristo recebem o sentido e o gosto do louvor perante a obra das mãos de Deus: “O Todo-poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1,49). Aprendem que estão no mundo para conservar a memória dessas “maravilhas” e vigiar, enquanto aguardam o dia do Senhor.

Ao terminar esta síntese da recente Carta aos Bispos de todo o mundo, para conhecimento da Igreja e diretrizes ao Povo de Deus, fiquei a pensar no ambiente erotizado em que vivemos. São dois mundos diversos e idiomas diferentes, mas estes obstáculos não nos impedem de levar à humanidade a Mensagem integral que do alto da Cruz foi escrita.

O documento conclui recordando que a Igreja conhece a força do pecado que opera nos indivíduos e na sociedade. Ela, porém, por sua Fé em Cristo, crucificado e ressuscitado, conhece ainda mais a força do perdão e do dom de si. Com confiança, aponta aos homens e às mulheres de hoje a paz e a maravilha do jardim do Éden e da ressurreição de Jesus que nos redimiu. Ela iluminou nosso mundo e sua história, com a revelação de que “Deus é amor” (1 Jo 4,8-16).

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Mensagem do Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales

Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

03/12/2004

Respeito pela vida

A Bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá quando foi agraciada com o prêmio Nobel para a Paz, teve a coragem de afirmar solenemente, diante das autoridades presentes, o seguinte: “Se uma mãe pode suprimir o fruto de seu seio, o que resta? O aborto é o princípio que põe em risco a paz do mundo”. O Papa João Paulo II, na Sala Clementina, a 22 de março de 2003, falando aos membros dos Movimentos pela Vida, recorda essa declaração de Madre Teresa e acrescenta: “É verdade! Não haverá uma Paz autêntica sem o respeito pela vida, sobretudo se é inocente como a dos nascituros”. Na mesma oportunidade, ele renova o convite “a vós, mulheres, cumpre defender a aliança entre a mulher e a vida e a fazer-vos promotoras de um “novo feminismo”, sem cair na tentação de seguir métodos “masculinizados” (“Evangelium Vitae”, 99).

Esta encíclica merece, particularmente em nossos dias, uma atenta leitura não só dos católicos, mas de todos os homens de boa vontade. O Sucessor de Pedro nesse documento diz (nº 39): “Apenas Ele (Deus) pode afirmar: “Eu só, somente eu sou Deus, quem dá a vida e dá a morte” (cf. 32,39)”. E a encíclica acrescenta: “Da sacralidade da vida humana flui a sua inviolabilidade, inscrita desde as origens no coração do homem, na sua consciência” (nº 40).

O aborto, quando provocado ainda que no início da gestação, é crime. O feto, como um ser vivo, existe no seio materno já a partir da sua concepção. Os antigos, por falta de conhecimento científico, fizeram afirmativas que hoje não são mais cabíveis, dado o progresso da própria ciência.

Diante do imenso esforço dos que são a favor do aborto, deve ser recordado que o Brasil assinou o Pacto de Costa Rica, no qual, reconhece a vida ter início com a concepção. Esse documento afirma: “Toda pessoa tem direito a que se respeite sua vida. Este direito está protegido pela lei e, em geral, a partir do momento da concepção”. Aliás, este assunto e outros correlatos, foram objeto de recente artigo intitulado “Aborto, uma questão constitucional”. Seu autor é o conhecido jurista Ives Gandra da Silva Martins, de renome nacional. Merece ser lido. É de clareza meridiana a resposta que dá aos abortistas.

Comenta o problema Mons. Michel Schooyans em seu livro “O Evangelho perante a Desordem Mundial”, que tem prefácio do Cardeal Joseph Ratzinger onde adverte: ”O aborto é o maior atentado contra a vida humana, notadamente porque a vítima é de todo inocente”.

O contexto cultural contemporâneo exige mais do que nunca o anúncio corajoso das verdades que salvam o homem. Trago uma síntese da orientação dada pelo Santo Padre à Congregação para a Doutrina da Fé, a 6 de fevereiro último, ao receber os participantes da Sessão Plenária desse Dicastério romano. Conforme a pregação do Evangelho, e o ensino do Romano Pontífice, é na fidelidade ao Magistério eclesiástico que estão os fundamentos da Igreja. Em seus escritos, São Paulo, por mais de uma vez, alerta seus discípulos para as correntes de pensamento alheias à autenticidade da doutrina. O Papa João Paulo II, em nossos dias, ao receber os integrantes da última Sessão Plenária da Congregação para a Doutrina da Fé, assim se exprime: “O contexto cultural contemporâneo, qualificado tanto por um relativismo difundido como pela tentação de um pragmatismo fácil, exige mais do que nunca o anúncio corajoso das verdades que salvam o homem e proporcionam um renovado impulso evangelizador”.

O Episcopado norteamericano instalou um grupo de trabalho, dirigido pelo Cardeal de Washington e composto por bispos e políticos católicos para examinar a coerência com a Fé católica no que se refere à participação na comunhão eucarística por parte de políticos e outros que defendem o aborto e posições assemelhadas. O Cardeal Theodore Macarrich em recente declaração afirmou: “Estamos unidos em nossa defesa da vida e da dignidade da pessoa humana” e tomará na devida consideração a Encíclica “Evangelium Vitae”, sobre “O valor e a invoabilidade da vida humana”. Nesta mesma oportunidade, o Cardeal declarou: “Afirmamos que a comunidade católica e suas instituições católicas não deveriam render honras a quem atua desafiando nossos princípios fundamentais”.

Segundo as estatísticas da ONU, divulgadas pelos meios de comunicação social, sobem a milhões e milhões os abortamentos, cada ano. E no Brasil, infelizmente, o número de mortos e extraídos do seio materno é elevado.

Há uma relação entre a paz e a morte dos nascituros. Merece da nossa parte uma profunda reflexão. A coerência elementar exige que aquele que procura a paz defenda também a vida. Nenhuma atividade pacificadora pode ser eficaz se deixa de lado a proteção da vida em cada uma de suas fases, desde a concepção até seu fim natural.

Nesta matéria fala-se de autonomia das realidades terrenas. O Concílio Vaticano II, em “Gaudium et Spes” (nº 36), esclarece: “Se pelas palavras autonomia das realidades temporais se entende que as coisas criadas não dependem de Deus e o homem as pode usar sem referência ao Criador, todo aquele que admite Deus percebe o quanto sejam falsas tais máximas. Na verdade, sem o Criador a criatura esvai-se”.

O homem deve ser guiado por sua consciência e se entenda consciência bem formada à luz dos ensinamentos de Deus. Essa atitude onera todos os cristãos e homens de boa vontade e está acima de qualquer compromisso temporal. O Altíssimo é a última instância a orientar nosso procedimento.

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Mensagem do Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales

Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

12/11/2004

Natalidade

Anos atrás, encontrando-me em Roma, deparei-me pela manhã com uma notícia nos jornais, até certo ponto, insólita. Pelos cálculos dos demógrafos, naquele dia a taxa de natalidade, na Itália, atingia o nível zero. Por diversas vezes, tenho abordado nos meios de comunicação social, o perigo de uma rápida e drástica redução da natalidade no Brasil. Abstraindo de uma perspectiva religiosa e moral, poria em risco o futuro da Previdência Social. O envelhecimento populacional levaria a uma inversão da pirâmide, uma base menor suportaria peso imenso como o custo da aposentadoria e outros serviços a um crescente número de beneficiados. Diminuiria o número de contribuintes, quando esses deveriam aumentar para atender aos compromissos, de modo particular, com os aposentados. Essa crise foi alimentada pelo decréscimo de nascimentos forçados, de modo particular, mediante o aborto e esterilização de mulheres, inclusive nos primeiros anos de período fértil. Recordo a argumentação usada na grande campanha antinatalista entre nós, os dados difundidos e as falsas conclusões propaladas. Repetiam o que era divulgado alhures. O fantasma da explosão demográfica, nos anos 50 e 60, apresentava o aumento populacional como grave ameaça à economia e até à sobrevivência da espécie humana. Afirmavam ser um perigo iminente. Havia previsões aterradoras no fim dos anos 60. Houve quem declarasse perdida a batalha para alimentar a Humanidade, e milhões de pessoas morreriam a seguir. Na obra intitulada “The Population Explosion”, Paul Erich e sua esposa Anne, mais recentemente, ainda insistiam nos mesmos prognósticos sombrios. Essas e outras afirmações terrificantes serviriam de base – falsa – a uma série de conclusões errôneas. Elas podem ser resumidas na tese elaborada em 1969 por Garret Hardin (“O desumano de um bom coração”), que propugnava uma planificação familiar obrigatória, mesmo nos Estados Unidos. Defendia a tese espantosa, segundo a qual enviar comida aos famintos era algo prejudicial e “as bombas atômicas seriam mais caridosas”. Essas idéias tiveram influência em nosso meio. Paira, entretanto, um silêncio sobre as conseqüências desta política, ou seja, o envelhecimento populacional e seus resultados negativos. Em um país, como o Brasil, com imensas áreas despovoadas, as conseqüências assumem maior dramaticidade. Muitos atribuem as causas da nossa miséria ao número de filhos. Quantas vezes surgem ataques injustos à Igreja, acusando-a de responsável pelos meninos de rua, pela miséria em tantas faixas etárias da População. No entanto, a doutrina católica não ensina uma paternidade irresponsável. Fiel aos princípios morais do respeito à vida e aos objetivos do casamento, ela se opõe ao uso de processos artificiais para reduzir a natalidade. Aceita, contudo, os métodos naturais, também eficazes e sem efeitos colaterais. Vejamos o que ocorre em nações ricas com baixa taxa de natalidade. Em alguns países do primeiro mundo, há incentivos financeiros oferecidos aos casais para induzi-los a aumentar a prole. Na década de oitenta, a França lançou uma campanha pró-natalidade, resumida nos cartazes com a fotografia de uma criança e os dizeres: “Na vida nem tudo é sexo. A França necessita de crianças”. Penso em nossa Pátria, onde milhões de jovens mães estão irremediavelmente esterilizadas. Esse fato se associa às campanhas eleitorais, que custeariam as laqueaduras a troco de votos. No dia 15 de julho de 1997, prestigioso jornal italiano publicou na primeira página, uma matéria assinada pelo Chefe do Governo, sob o título “Carta a uma nação sem filhos, quando a família perde a confiança”. Faz considerações sobre a Itália que interessam ao Brasil. A manifestação do Presidente do Governo italiano é uma advertência proveniente de uma nação que viu drasticamente reduzida a sua taxa de natalidade. O estadista, com a responsabilidade do cargo que ocupava, afirmou: “Estou profundamente impressionado com os dados demográficos que parecem descrever uma esterilidade social, o medo de ter filhos”. Ele convocou uma reunião entre a Ministra da Solidariedade Social e alguns peritos para examinar uma alternativa a esta tendência. Ele disse que uma nação sem filhos debilita o sentido da participação e da coesão e tende a reduzir tudo à realidade presente. O nascimento de crianças implica, fundamentalmente, na confiança de cada cidadão no país a que pertence, e a esperança de um grande futuro não é uma ilusão mas um plano organizado e sempre mais preciso. Sem esta perspectiva, abre-se espaço para as drogas, a criminalidade, que tantos males acarretam às famílias. E continua: “Vir a ser pai e mãe, deve permanecer o grande desejo em razão do qual vale a pena viver”. Essas considerações colocam, diante dos nossos olhos, os frutos da redução da natalidade e as preocupações com suas conseqüências. Não proponho incentivar pura e simplesmente a natalidade no Brasil. Mudar, sim, o quadro social para redistribuir com justiça as riquezas. Suprimir a prole, deixando intocável o egoísmo dos abastados, é caminhar para a ruína. Ela virá rapidamente com o envelhecimento populacional. Eis uma orientação suicida nessa matéria. Para a Igreja, a paternidade responsável conserva aberta a fonte da vida. Ela defende a sacralidade e a inviolabilidade da existência humana. Diz o Papa: “O Evangelho da vida é para o bem da cidade dos homens” (“Evangelium vitae”, nº 101).

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Mensagem do Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales

Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

5/11/2004

Finados

Às vésperas da abertura do Ano Eucarístico, mais precisamente a 7 de outubro, o Papa João Paulo II assinou sua Carta Apostólica “Mane Nobiscum, Domine”, dirigida ao episcopado, ao clero e aos fiéis, dando diretrizes para o êxito desse evento e expondo sua extraordinária importância em nossos dias. Tem por título o episódio dos discípulos de Emaús, apelando a Jesus: “Permanece conosco” (Lc 24,28-31). Diz o Papa na Introdução: “O ícone dos discípulos de Emaús bem serve para orientar o Ano que verá a Igreja particularmente empenhada em viver o mistério da Santa Eucaristia” (Carta Apostólica, nº 2). Essa iniciativa começou com o Congresso Eucarístico Internacional em Guadalajara, México, e será concluída com a Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos que se realizará em Roma, de 2 a 29 de outubro de 2005 e terá por tema “A Eucaristia, fonte e cume da vida e da missão da Igreja”. O Romano Pontífice confessa que, há tempos, sonhava com essa promoção de fé, por ser “o natural desenvolvimento da direção pastoral que desejei imprimir à Igreja” (Idem, nº 4). Confessa que conta “com a pessoal solicitude dos Pastores das Igrejas Particulares” (nº 5) para que, sem alterar eventuais planos locais “se acentuem neles a dimensão eucarística” (Idem).

A celebração do Ano Eucarístico decorre do Concílio Vaticano II (“Gaudium et Spes”, 45), que ensina Cristo ser não apenas centro da história de sua obra, mas também da Humanidade. E, citando o Papa Paulo VI, também “da história humana e ponto focal dos desejos da civilização, (...) o centro do gênero humano, a alegria de cada coração, a plenitude de suas aspirações” (nº 6). Em anterior Carta Apostólica, “Dies Domini”, “convidei todos a redescobrirem a celebração eucarística como coração do domingo” (nº 7). No decorrer do Ano do Rosário, promulgado a 16 de outubro de 2002, João Paulo II divulgou a Carta Encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, na qual quis ilustrar esse mistério, em sua relação inseparável e vital com a Igreja” (nº 10)(...). Especialmente neste Ano Eucarístico, a fé nos pede que estejamos diante da Eucaristia com a consciência de estarmos diante do próprio Cristo (...). A Eucaristia é mistério de presença por meio do qual se realiza, de modo absoluto, a promessa de Jesus de permanecer conosco até o fim do mundo” (nº 16). O documento aborda aspectos concretos diante desse grande mistério, a presença de Cristo sob as espécies sacramentais. Assim, “o canto e a música litúrgica devem se caracterizar pela manifestação da sacralidade. Propõe às comunidades paroquiais o estudo aprofundado dos “Princípios e normas para uso do Missal Romano (...) e seguir, com fidelidade, o desenrolar do Ano Litúrgico” (nº 17). A celebração da Missa, o culto eucarístico fora da mesma, devem expressar a viva consciência da presença real de Cristo. Essa fé deve ser manifestada pelo tom da voz, os gestos, movimentos, todo o conjunto do comportamento. Merecem destaque os momentos de silêncio, seja na celebração, seja na adoração eucarística. O Papa resume “em uma palavra, que todo o modo de tratar a Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis, seja marcado por um extremo respeito” (nº 18) e cita a recente Instrução da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos “Redemptoris Sacramentum”, datada de 25 de outubro de 2004, sobre alguns aspectos que se devem observar e evitar em relação à Santíssima Eucaristia.

Neste Ano Eucarístico, a adoração do Santíssimo Sacramento “merece empenho especial de cada comunidade paroquial e religiosa. Permaneçamos longamente prostrados diante de Jesus, presente na Eucaristia, reparando com nossa fé e nosso amor os descuidos, os esquecimentos e até os ultrajes que nosso Salvador sofre, em tantas partes do mundo” (nº 18). Os católicos devem saber que o Sucessor de Pedro pede particular fervor na Solenidade do “Corpus Christi”, com a tradicional procissão (Idem). O documento sublinha a Eucaristia como fonte de unidade eclesial e também sua manifestação máxima. Em cada missa somos chamados a viver o exemplo dado pelos primeiros cristãos e relatado nos Atos dos Apóstolos (4,32): “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma”. O domingo, com a participação na missa comunitária, deve ser devidamente valorizado. Diz o Santo Padre: “Redescobrir e viver plenamente o domingo, como dia do Senhor e da Igreja. Ficaria feliz se se meditasse de novo o quanto escrevi na Carta Apostólica “Dies Domini” (nº 23). Com a nossa cultura secularizada, tão difundida, crescem as atitudes hostis e amargas críticas à Igreja, como a instituiu Cristo, hierárquica. A Eucaristia é o antídoto a essas atitudes de pessoas que se afirmam católicas, mas que destroem a unidade ou dificultam a vida comunitária”. João Paulo II se refere às falhas humanas no decorrer dos séculos e pelas quais pediu o perdão de Deus no Ano Santo: “As deficiências não devem ser debitadas às “raízes cristãs”, mas à incoerência dos cristãos nos confrontos com suas raízes” (nº 21). E acrescenta: “Quem aprende a dizer “obrigado” ao modo de Cristo Crucificado, poderá ser um mártir, mas não será jamais um algoz” (nº 26). Este Ano é uma oportunidade para manifestar por nossos atos, a vitalidade da Eucaristia. No mundo dilacerado pelo espectro do terrorismo e a tragédia da guerra, os cristãos são chamados à Eucaristia, “uma grande escola de paz, onde se formam homens e mulheres que nos vários níveis de responsabilidade na vida social, cultural, política se fazem construtores de diálogo e comunhão (...). Penso no drama da fome que atormenta centenas de milhões de seres humanos, penso nas doenças que flagelam os países em via de desenvolvimento, na solidão dos anciãos, nas necessidades dos desempregados, nas travessias dos imigrados” (Carta Apostólica “Mane nobiscum, Domine”, nº 27). Cada cristão assuma sua responsabilidade, pondo em prática essas diretrizes do Santo Padre.

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