Doutrina Católica

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CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

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Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro

07 de setembro de 2004

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A Palavra de Deus entre nós

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Ao iniciarmos o mês que a Igreja no Brasil dedica a um especial aprofundamento do contato com a Sagrada Escritura, gostaria de incentivar os fiéis católicos da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro para um empenho renovado pela busca de experiência real e transformante com a Palavra de Deus.

Um primeiro aspecto a ser posto em evidência é o fato de ser o próprio Deus quem toma a iniciativa de dirigir a sua Palavra aos seus amados (Cf. Gn 15,1). O Senhor fala, dirige sua palavra, sempre “de salvação”, a Abraão. Dá-se, assim, um novo rumo à vida daquele homem; Deus é fiel cumpridor de suas promessas. É um diálogo: de Deus para os homens.

O salmista afirma que Deus “dá o pão aos seus amados até enquanto dormem”. Trata-se, é certo, da providência do Pai, que é revelada por meio de sua Palavra. No livro do Gênesis encontramos o misterioso relato do sonho de Jacó (Gn 28,10-15). O texto afirma que, em sonho, o Senhor lhe fala de forma objetiva - o que aparentemente soaria como algo paradoxal dada a circunstância – que ele seria pai de uma posteridade tão “numerosa como os grãos de poeira na terra”. A expressão significa a bênção e a providência que provêm do próprio Deus. A fala de Javé é concluída com uma outra promessa que sugere seu afeto, seu cuidado, e a presença constante com seus escolhidos: “Estarei contigo, para te guardar onde quer que fores” (v.15).

De forma também surpreendente e insólita, a Sagrada Escritura narra o encontro de Moisés com a Divindade, experiência teologal que evoca o transcendente. Alegra-nos a Palavra de Deus quando afirma: “Sim, eu conheço seus sofrimentos” (Ex 3,7). O relato encerra-se com a estupenda revelação do nome inefável de Deus: “O Senhor é aquele que é” (Cf.Gn 3,14). Durante todo o percurso do Livro do Êxodo, Moisés procura estar atento à intensa inspiração da Palavra que Javé constantemente lhe dirige.

A Palavra nos norteia, aponta o caminho certo, a opção sábia e sensata a ser perseguida, tomada, assumida. “Tua palavra é lâmpada para os meus pés, e luz para o meu caminho” (Sl 119,105), canta o salmista. É surpreendente a pergunta e a resposta que encontramos no mesmo salmo: “Como um jovem conservará puro o seu caminho? Observando a tua palavra” (119,9), é a resposta categórica e realista.

Nos Livros chamados Proféticos encontramos uma expressão bastante sugestiva: “Foi-lhe dirigida a palavra de Javé”. Os autores sagrados enfatizam, desta forma, que a missão confiada aos profetas é um ato deliberado da parte de Deus. No entanto, a resposta ao apelo de Deus, caberá a cada indivíduo em particular. Jeremias e Isaías são exemplos clássicos de atitudes reticentes e relutantes de que Deus realmente está lhes falando e confiando uma missão. O amor de Deus, entretanto, os impulsiona, como afirma o apóstolo amado: “O perfeito amor lança fora todo temor, porque o temor implica em castigo, e o que teme não chegou à perfeição do amor” (I Jo 4,18). Que alegria quando um filho, uma filha de Deus faz essa real e efetiva experiência salvífica, diria até, terapêutica através da Sagrada Escritura! Toda a Sagrada Escritura concorre para a Revelação final, que se dá na Pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus. Ele é a própria Palavra que se fez homem e habitou entre nós. A Lei e os Profetas se resumem em Cristo. Os Padres da Igreja assim compreendiam o episódio misterioso da Transfiguração, narrado pelos sinóticos, em que Moisés e Elias aparecem conversando com Jesus.

Afirma a Constituição Dogmática Dei Verbum sobre a Revelação Divina: “Com efeito, as palavras de Deus, expressas em línguas humanas, tornaram-se intimamente semelhantes à linguagem humana, como já o Verbo do Eterno Pai, tomando a fraqueza da carne humana, se tornou semelhante aos homens” (DV 13). O Catecismo da Igreja Católica, de forma magistral, afirma que Cristo é a Palavra única da Sagrada Escritura. A Tradição, em Hugo de São Vitor, explicita: “Toda a Escritura divina é um único livro, e este livro único é Cristo, já que toda a Escritura divina fala de Cristo, e toda Escritura divina se cumpre em Cristo”. Desta forma, nutre-se a Igreja do Pão da Vida “tomado da Mesa da Palavra de Deus e do Corpo de Cristo”.

Grande alegria São João nos transmite no início de seu Evangelho: “No princípio era o Verbo e o Verbo era Deus (...) E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Como não ter a alma atingida em seu âmago, ao nos depararmos com a beleza desses versos que mostram o eterno plano de amor de Deus. O Magistério da Igreja interpreta, guarda e preserva o ensinamento da Palavra de Deus. Os sucessores dos Apóstolos recebem o carisma da verdade da parte do Senhor, que os capacita para o cumprimento de sua missão (Cf. Mt 16,17).

Que alegria nos proporciona o Bom Deus, ao nos alimentarmos com sua Palavra, sobretudo, na Celebração Eucarística, quando esta se reveste de um poder todo especial e único. O apóstolo Tiago nos exorta: “Recebei com docilidade a Palavra que foi plantada em vossos corações e é capaz de salvar as vossas vidas” (Tg 1,21).

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VOZ DO PASTOR

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CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro

10 de agosto de 2004

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Fidelidade ao Senhor

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Nenhuma situação na vida, nem as dificuldades, ou mesmo as tentações são tão fortes, que possam superar a graça de Deus e o seu amor por nós e em nós. Assim, a cada passo de fé, o cristão vai crescendo na presença do Senhor e se fortalecendo em suas convicções sobre as realidades da vida com Cristo. Se, por acaso, tropeçar, cair ou se ferir, Deus estende a mão para levantá-lo. “Deus é fiel: não permitirá que sejamos tentados além das nossas forças...” (cf. 1Cor 10,13).

Na vida espiritual, a fidelidade nasce como um fruto do Espírito, entendida, desse modo, como “uma perfeição que o Espírito Santo modela em nós como parte daquelas primícias da glória eterna” (Cat. Ig.Católica, n.1832). A cada ato de fidelidade, amplia-se, diante dos seus olhos, o entendimento que deve ter da misericórdia, do perdão e, enfim, da salvação em Jesus Cristo.

A Cruz do Senhor é o maior testemunho de fidelidade que o homem recebe para todas as circunstâncias da sua vida. Aliás, em todos os momentos, Jesus demonstrou uma fidelidade absoluta aos desígnios do Pai. Em Cristo, enxergamos a “trajetória” da fidelidade humana, o caminho que devemos percorrer para sermos fiéis: da confiança na humilhação, passando pela firmeza em meio às tentações, até a alegria da vida transformada. A fidelidade nasce da conversão de nossos desejos e de nossas vontades. Nutridos pela confiança, pela fé e pela alegria, nós, os filhos de Deus, experimentamos uma fidelidade redentora, que nos assegura a salvação prometida pelo Senhor, pois Ele mesmo a faz crescer pela sua graça.

Não obstante, a Igreja é fortalecida pelo testemunho sempre vivo dos mártires e dos santos. Exemplos de solicitude e de doação, os santos não colocaram limites na sua entrega absoluta a Deus. Enquanto Pedro estava preso, a comunidade cristã permanecia em oração; por ocasião das perseguições aos cristãos dos primeiros séculos da era cristã, Santo Inácio de Antioquia, o Diácono São Lourenço, São Sebastião, patrono de nossa Arquidiocese e Santa Inês se tornaram, entre tantos outros, modelos de fidelidade. Mesmo ameaçados de morte, mantiveram integra a sua postura diante da verdade e do Evangelho, dando a própria vida em testemunho de lealdade a Cristo e à sua Igreja).

Não são poucos e nem mesmo menores os desafios que hoje a Igreja enfrenta, enquanto busca os “caminhos da fidelidade total” ao Divino Mestre e Senhor da História. A vida conjugal tem sido, constantemente, ameaçada por inúmeros problemas. Em pouco tempo de matrimônio, vários casais já estão se separando. Outros mais abrem mão dos filhos, que poderiam ter, em nome de um bem-estar exagerado. De fato, o homem e a mulher são muito tentados a serem infiéis. A infidelidade no matrimônio é um mal que cresce cada vez mais. A Igreja insiste em ensinar, que é por meio da mútua fidelidade que os pais assumirão a responsabilidade primordial de educar os filhos. Para estes a ternura, o perdão, o respeito e o serviço desinteressado servem como regra de crescimento e amadurecimento diante de Deus. Desta forma, os filhos são educados na fidelidade a serem também fiéis (cf. Cat. Ig. Católica, n. 2223).

Por um lado, encontramos a proposta cristã de permanecermos fiéis àquilo que Jesus Cristo nos ensinou. Por outro, nos deparamos com o fascínio das novelas e as fantasias das produções cinematográficas que insistem na infidelidade. Pretendem dizer, que não é possível alguém permanecer fiel. Por isso, “a fidelidade dos batizados é a condição primordial para o anúncio do Evangelho e para a missão da Igreja no mundo. Para manifestar diante dos homens a sua força de verdade e de irradiação, a mensagem da salvação deve ver autenticada pelo testemunho da vida dos cristãos” (Cat. Ig. Católica, n. 2044). Revestida com a glória celestial, pelos méritos do seu Filho Ressuscitado, Nossa Senhora nos apresenta o resultado final da fidelidade. “A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos” (Cat. Ig. Católica, n. 966). Na sua humildade e na sua simplicidade, a Virgem Silenciosa soube ser fiel e Deus recompensou essa fidelidade. Ela foi fiel, quando escutou as palavras de Jesus e as conservava em seu coração; foi fiel, quando, de pé, viu o seu Filho morto na cruz; foi fiel, quando, no cenáculo, se reunia com os Apóstolos; foi fiel até o dia da sua glorificação.

O “Magnificat” de Nossa Senhora canta as bênçãos para os que desejam caminhar com fidelidade: sentimentos de ação de graças, humildade, santidade, misericórdia, justiça... Nossa fidelidade consiste no amor a Deus e aos irmãos, segundo os ensinamentos de Jesus. Somos fiéis, quando nos empenhamos a caminhar em comunhão com Cristo e com a Igreja, superando os interesses próprios e os conceitos pessoais, acolhendo, com firmeza, o que nos é transmitido pela Palavra de Deus. Dificilmente, seremos infiéis se cultivarmos, em nosso coração, a confiança no Senhor, a busca da Verdade e a resposta, livre e pronta, à graça divina.

Permanecendo fiéis à Igreja e à vocação para a qual fomos chamados, não queremos frustrar os desígnios de Deus em nossa vida ou decepcionar as pessoas que amamos. “As misericórdias do Senhor não terminaram, sua compaixão não se esgotou; ela se renova todas as manhãs e grande é a sua fidelidade! Por isso, eu repito: a minha escolha é o Senhor! Eis, porque nele espero” (Lm 3,23-24).

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VOZ DO PASTOR

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CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro

27 de julho de 2004

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Dialogando com o conterrâneo Dom Jaime de Barros Câmara

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No início deste mês de julho (dia 3) recordávamos – a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro – o teu 110º aniversário de nascimento).

Cento e dez anos evolaram para o passado, desde o dia inolvidável – 3 de julho de 1894 -, em que tua família, bem genuína, se alegrava com o teu esperado nascimento. Setenta e sete anos viveste conosco; pelos séculos ficarás: com teus conterrâneos, com Florianópolis, Azambuja, Mossoró, Belém do Pará, com a, ainda e sempre, maravilhosa Cidade do Corcovado. O que nos separa é a fluidez do tempo, o que nos une é a transcendência dos ideais: os valores de vida eterna. Quem te conheceu, sente saudades...Quem não teve essa mercê, se extasia no exemplo, nos benefícios, nas obras que nos deixaste. São incontáveis.

Ao celebrar cento e dez anos dos teus natais, sentimos certo orgulho pela magnitude do que ficou e pelo insondável que o Senhor te reservou.

“Morto, ainda falas”, ainda influencias com lições inacabadas a esteira dos problemas que a Igreja e a Pátria enfrentam...Amavas a Igreja lá onde lhe podias ser filho afeiçoado, apóstolo indispensável, obreiro que se pereniza no Eterno. Tua vida, toda ela, lhe pertenceu e lhe pertence, ainda hoje. Sabias em quem punhas a confiança ao “aninhar” um pugilo de jovens (eram apenas 16), contagiados pelo teu ardor humano e divino de quem se define “Seminarista”, aspirante ao serviço da caridade mais plena, “às coisas do Pai”).

Mestre, educador, orientador, amigo e companheiro de quem cantava na tonalidade do mesmo diapasão, de quem ritmava o passo pelo compasso das mesmas aspirações. Piedade não era “reza” para ti. Era, sim, a reverência total, o amor filial, o devotamento ao Infinito que preenche todo vazio sob o sentimento de saber-se filho, irmão e fascinado por Deus: Pai, Filho e União de Amor. Como Pastor solícito de rebanhos tão diferentes, quiseste transmitir FOGO; fogo que consome e purifica o imperfeito, acrisola e aprimora o que de mais preço possuir se possa. O fogo de teu zelo, como para Moisés, criava, em derredor, um “solo sagrado”: era preciso pisar o solo com respeito, pés descalços e delicados: tudo ali era plenificado pelo mistério. Fogo, ardor, zelo, dedicação, serviço, disponibilidade fizeram de tua vida os patamares da santidade: difícil de atingir, mas não impossível).

Sentias um atrativo especial pelo Coração rasgado, sem razão humana, explicável somente pelos arcanos de quem ama sem razão...acima e além dela).

DOM JAIME DE BARROS CÂMARA, a tua São José da Terra Firme, o marulhar das ondas daquele lindo mar, quase beijando os degraus da velha igreja, onde tantas vezes buscaste luz, sentido, alento, alegria a paz... Essas ondas, hoje, murmuram o teu nome, pedindo, implorando, impetrando, em balbucios de suplica: esperança, mais denodo e alegria, gestos de vida e cordialidade, acenos de ultrapassagem e fraternidade. DOM JAIME, tu sempre foste entusiasta e otimista das causas mais sublimes e difíceis. Olha para nós, contempla-nos, de onde estás e incute:

- Em cada peito, um novo ardor! - Em cada vida, um novo alento! - Em cada concidadão, uma nova, grandiosa, esperança! - Em cada cristão e amigo, a certeza de que Deus não falha..., se soubermos seguir os passos ensangüentados do Peregrino do Calvário, inspirador – único e bastante – de toda a tua vida.

DOM JAIME,perdoa a sinceridade audaz de quem te quisera ter falado de modo diferente, quase sussurrando, um pouco angustiado, mas, confiante e certo da tua presença, da tua amizade, da CORDIALIDADE do teu sorriso compassivo e acolhedor! Eras perene visitante das “favelas”, dos morros. A Arquidiocese de São Sebastião, agradecida, guarda os teus despojos como relíquias de quem muito a amou. Queremos seguir teus passos, rezando e cantando: “Ninguém te ama como eu!”

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VOZ DO PASTOR

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CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro

29 de junho de 2004

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O Papa do mundo moderno

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Quando pela tardinha do dia 16 de outubro de 1978, quinhentas mil pessoas acorreram à Praça de São Pedro, para ver e aplaudir o novo Papa, ficaram impressionadas diante da figura jovem, vigorosa, esbelta e cativante de João Paulo II, que falava, pela vez primeira, “à Cidade e ao Mundo” em um italiano simples, fluente e correto, como se fora um italiano nato. O que mais encantava não era a sua fala, mas o seu jeito de ser, de sorrir, de gesticular e de se comunicar. Mas, naquela hora, ninguém poderia supor a envergadura, o alcance universal daquela pessoa que acabaria por influenciar, direta ou indiretamente, o próprio curso da História no final do século e milênio passado. Sua primeira preocupação, como Pastor visível da Igreja de Cristo, era o próprio homem: “A Igreja é perita em humanidade e sua caminhada passa, em primeiro lugar, pelo homem” (sua primeira carta ao mundo leva o sugestivo nome “A redenção do Homem”). O primeiro acento da Evangelização é, portanto, a dignidade do homem, o valor incomparável de sua vida, os direitos humanos fundamentais, não raro, pisoteados e desrespeitados.

Karol Wojtyla nota, desde os primórdios de seu pontificado, que as maiores carências do mundo moderno eram, principalmente: o vazio de Deus, o desprezo dos mais altos valores, a ausência de paz, o abismo entre ricos e pobres, o abuso do poder, a falta de justiça, união e amor. Decide, por isso, fazer-se peregrino incansável, missionário, porta-voz e concretizador desses valores em todos os Continentes: em mais de 100 países, até agora, visitados por ele, duas vezes na própria sede da ONU, nos encontros ecumênicos e no diálogo interreligioso. Todos o aceitam como esse Enviado do Altíssimo, aplaudem freneticamente, sobretudo, os jovens. A eles, às crianças, aos responsáveis pelos governos, aos evangelizadores, aos comunicadores é que se dirige a sua palavra inflamada e cheia de convicções. Jamais João Paulo II teve receio de dizer a verdade, a verdade toda, clara e objetiva, que brota do Evangelho de Cristo e adquire frescor de atualidade em seus lábios proféticos: com novos métodos, novos conteúdos e linguagem nova. Esse abraçar da verdade, assim declara o Papa, exige a audácia de “não ter medo de abrir as portas ao Cristo... que bate sem cessar”.

“Cruzando o Limiar da Esperança”, uma espécie de “Pergunte e Responderemos”, constitui-se em um dos livros mais importantes desses últimos anos, tentando responder aos mais variados e candentes questionamentos do homem moderno, tais como: o valor da vida, a importância da fé, o convívio com o Judaísmo e com as outras crenças, a dignidade ímpar da mulher, o Transcendente, a morte e sobrevivência, as divisões e hostilidades como “manchas” do peregrinar humano rumo à Eternidade.

Quanto à Igreja Católica, o Santo Padre se preocupa com a instrução fundamental de cada pessoa, presenteando-nos, em 11 de outubro de 1992, com o precioso e bem elaborado “Catecismo da Igreja Católica”, que visa apresentar, com maior clareza e conexão, o depósito da doutrina cristã na maravilhosa unidade do mistério de Deus-Pai, na centralidade de Cristo e na unção do Espírito Santo. No dia 25 de janeiro de 1983, veio à luz o novo “Código do Direito Canônico”, uma visão prática da vida cristã-católica, que tem por objetivo primeiro e último “a salvação das almas como lei suprema e soberana”. Inundado pela divina presença de Cristo, o Sumo Pontífice indicou a trajetória a ser percorrida, a fim de que nos preparássemos, dignamente, para o Jubileu de dois mil anos da Encarnação do Verbo. De tal modo, depois de um mergulhar profundo no mistério da Trindade Santa, mais uma vez o mundo se preparava para escutar a voz potente de Cristo: “Duc in altum” – “Avancem para águas mais profundas”. Com essas palavras, a Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, do dia 6 de janeiro de 2001, tornou-se um imperativo para animação da ação pastoral e evangelizadora no mundo, sobretudo, priorizando a vida de santidade, a oração e o testemunho de comunhão entre os filhos da Igreja.

Repensando esses quase vinte e seis anos de Pontificado de nosso querido “João de Deus”, não sabemos, se nos cabe, acima de tudo, agradecer a clareza firme de seus ensinamentos, a importância dos contatos pessoais e mundiais, a missionariedade da paz e da concórdia entre os povos ou a delicadeza humana de seu coração fraterno, que abraça, com o mesmo amor, a criança das favelas, o indígena assustado, os potentados das nações, a inesquecível Beata Teresa de Calcutá ou a Fafá de Belém... Ficamos impressionados por saber que, também no meio poético, ele tenha se destacado, sobretudo com a publicação do seu Tríplitico romano-Meditações.

Atualmente, o Papa João Paulo II tem se dedicado à reflexão constante sobre a centralidade da vida cristã na Eucaristia, ocupando-se com a dignidade do sacrifício perene e da santíssima presença de Cristo, que se renova a todos os instantes nos altares espalhados por esse mundo.

Agradeçamos tudo isso ao Bom Deus, na certeza de que o mundo está melhor porque temos João Paulo II conosco e à nossa frente!

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Jesus Cristo, presente entre nós

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A festa litúrgica do "Corpo e Sangue de Cristo", que acabamos de celebrar na quinta-feira 10/6, expressa a gratidão do povo cristão pelo dom sublime da Eucaristia.

Recordamos o desígnio de salvação que nasce da misericórdia divina e se realiza pela encarnação do Filho de Deus, nascido da Virgem Maria, que nos revela a Boa Nova. Ele, entrando num mundo marcado pelo desrespeito à pessoa humana, vítima do ódio, da violência e da injustiça, oferece a todos o perdão dos pecados e ensina o mandamento do amor, restituindo à humanidade a esperança de vida eterna e feliz.

Jesus Cristo é o centro da história. Entregou-se na cruz por nós, sofreu a morte, ressuscitou , está na glória do Pai e intercede por nós. No entanto um fato maravilhoso marca a nossa fé: Ele, Jesus Cristo, continua presente entre nós conforme a sua promessa (Mt. 28,20).

Ele faz-se presente de muitos modos. Permanece na lembrança dos seus discípulos e na palavra escrita, proclamada e vivida desde as primeiras comunidades até hoje. O Evangelho torna o Cristo presente quando, pela oração, contemplamos o Mestre que cura os doentes, acolhe as crianças, perdoa os pecadores, ressuscita os mortos e anuncia o Reino de Justiça, Amor e Paz.

Cristo nos ensina ainda a encontrá-lo em cada irmão e em cada irmã, pois quis se identificar com todos nós pela sua encarnação. É preciso descobrir a presença de Cristo no faminto, no enfermo e no preso. "Tive fome e me destes de comer" (Mt. 25,40). Temos, assim, de reconhecê-lo no rosto de cada irmão e de amá-lo, a começar pelos pobres, pelos excluídos e pelos perseguidos. Ele se revela na coragem dos mártires, no zelo dos missionários, na vida santa dos discípulos, na graça dos sacramentos e no dom do Espírito.

Mas há uma presença que só a fé nos faz perceber. Lembremo-nos da Última Ceia. Jesus tomou nas mãos o pão e o cálice com vinho e disse: "Isto é o meu corpo, entregue por vós. Este é o cálice de meu sangue, da nova e eterna aliança, que será derramado por vós". A palavra de Cristo, que fez caminhar os paralíticos e devolver a visão aos cegos e a vida aos mortos, é a mesma palavra forte que expressa seu amor por nós pelo dom de seu corpo e de seu sangue na Eucaristia.

Assim, o pão e o vinho consagrados, o corpo e o sangue entregues por nós, são o sinal e a presença de sua morte e de seu amor infinito, sacrifício da nova lei e alimento para a vida eterna. Essa presença de Jesus Cristo no sacramento da Eucaristia é a fonte da unidade da Igreja e do dinamismo de sua missão. Receber Cristo na Eucaristia, entrar em comunhão com Ele, é deixar que Ele nos vivifique e nos atraia para o serviço aos irmãos e para o compromisso do amor gratuito e oblativo.

A presença sacramental de Cristo torna-se, assim, a força que nos ajuda a vencer o medo, a perdoar as ofensas e a praticar a solidariedade e a partilha, unindo todos na construção da sociedade justa e fraterna.

Jesus presente entre nós já nesta vida é o grande conforto e alegria dos discípulos. A Ele, Mestre do amor e da verdade, toda glória e louvor.

"Shema Yisrael, Adonai Eloheinu, Adonai Echad" Deuteronômio 6:4

Soli Deo Gloria.

FOLHA DE SÃO PAULO

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