Doutrina Catolica

DOUTRINA CATOLICA

Dom Amaury Castanho

Perda da opinião pública

Jundiaí/SP, 14/7/2003 - 09:53

Contradição entre fé e vida da maioria católica, juventude sem rumos e uma acelerada desagregação da família foram os sérios problemas atuais e as preocupações quanto ao futuro da Igreja no Brasil, que mereceram algumas reflexões em artigos que vim escrevendo. Hoje insistimos na importância da formação da opinião pública que, lamentavelmente, veio sendo perdida pela Igreja católica, do ano de 1950 para cá.

Qualquer texto sobre comunicação social destaca a importância da opinião pública, a sua força de pressão sobre os governantes e a população em geral. É a opinião pública a expressão coletiva dos valores e desvalores de um povo, resultante da influência dos posicionamentos de seus líderes civis, religiosos e, particularmente, da orientação dada pelos modernos veículos de comunicação.

A opinião pública, se não determina, pelo menos condiciona, fortemente, a conduta da maioria dos cidadãos, levando a uma legislação que pode ou não estar em consonância com os valores humanos que fluem da natureza e dignidade da pessoa, dos Evangelhos e da fé dominante em um povo. Sendo a mídia moderna o "quarto poder", é fácil entender a sua força na formação da opinião pública e em toda a vida nacional.

A nossa história comprova que a Igreja, da descoberta em 1500, até o ano de 1950, foi a grande formadora da opinião pública brasileira. Mesmo durante a primeira República, da proclamação à Constituição Federal de 1934, quando a nova Lei Maior deu início à segunda fase republicana, a Palavra dos Pastores da Igreja, dos nossos Cardeais, Arcebispos e Bispos e do nosso laicato, os valores que proclamavam iluminavam a vida do povo, das famílias e da legislação brasileira.

Nesse sentido, tiveram notável influência nas décadas de 1930 e 1940, apesar do positivismo oficial, as figuras de Dom Duarte Leopoldo e Silva, Dom José Gaspar de Afonseca e Silva e do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota , notáveis Arcebispos de São Paulo, dos Cardeais Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra e Jayme de Barros Câmara, do Rio de Janeiro, ainda capital da República. Foi incalculável, também, a influência na formação da opinião pública de grandes sacerdotes como o jesuíta Leonel Franca, o paulista Monsenhor Emílio José Salim, o político e deputado federal Monsenhor Arruda Câmara. A eles devem ser acrescentados, entre os católicos do laicato, Athaliba Nogueira, Adroaldo Mesquita, Alceu Amoroso Lima e Gustavo Corção.

É de justiça, também, recordar a influência que tiveram na formação da opinião pública brasileira as conceituadas rádios e editoras católicas, como a "Nove de Julho" e "Aparecida", a "Vozes", de Petrópolis e a "FTD", de São Paulo. A esses meios de comunicação a serviço dos valores da família, da vida e da justiça social, devem ser acrescentados os oito competitivos diários católicos, em capitais estratégicas como Fortaleza (O Nordeste), Belo Horizonte (O Diário) e Porto Alegre (O Dia). Acrescentem-se revistas como "A Ordem", instituições como o "Centro Dom Vital" e as primeiras conceituadas Universidades Católicas do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre e Campinas.

Mereceria artigo à parte , a organização da Liga Eleitoral Católica , a LEC, que elegeu numerosos e respeitados constituintes. Eles conseguiram incluir na Constituição de 1934 todos os postulados católicos - invocação do nome de Deus em seu "caput" , casamento e matrimônio indissolúveis, ensino religioso confessional facultativo e assistência religiosa às Forças Armadas - dando ao nosso povo uma Lei Maior modelar. As Constituições de 1937 , outorgada e imposta por Getúlio Vargas, de 1946 , o país já redemocratizado e até mesmo a do ano de 1968, do regime militar , respeitaram esses postulados. O resultado foi que a realidade brasileira e o nosso povo mereciam, realmente, o título de cristãos e católicos.

Mas, a partir de 1950, a situação começou a mudar rapidamente. Falidos e fechados os diários católicos, multiplicando-se as rádios, programas radiofônicos e emissoras evangélicas, muito menos ouvidos os Pastores da Igreja, dividido o laicato católico, pouco a pouco a opinião pública brasileira relegou sagrados valores, assimilando os desvalores da ideologia marxista e liberal permissiva. As várias redes de televisão - Tupi, Record, e particularmente, Globo - entraram pelos lares, ridicularizando o casamento, desagregando moralmente a família e a juventude, agredindo os seus mais sagrados valores. Na segunda metade do século passado a Igreja perdeu, de vez, o importante papel de formadora da opinião pública!

O resultado desse novo fato? Nossa legislação passou a despenalizar o aborto, o divórcio tornou-se um direito constitucional, a juventude entrou por descaminhos da violência, das drogas e do "vale-tudo", a família viu acelerada a sua dissolução, as injustiças sociais e as novas lideranças políticas fizeram do Brasil uma nação e um país descristianizado. Em uma palavra, deixamos de formar a opinião pública, perdendo-a, por conseqüência, encontrando-nos diante de um presente e futuro extremamente preocupantes.

Dom Amaury Castanho

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