Doutrina Católica

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O dogma da Imaculada transformou a Igreja

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Roma (Itália), 9/12/2004 - 10:44

A proclamação do dogma da Imaculada Conceição é um feito providencial que revigorou, a meados do século XIX, «uma Igreja cansada, ao recordar a existência do pecado original e a redenção de Cristo». Nesta entrevista concedida a ZENIT, Vincenzo Sansonetti, que trabalhou treze anos, de 1976 a 1989, no jornal «Avvenire», da Conferência Episcopal Italiana, relata os passos mais chamativos de seu livro recém-publicado na Itália «A Imaculada conceição. Do dogma de Pio IX a Medjugore» («L´immacolata concezione. Dal dogma di Pio IX a Medjugorje», Editora, Piemme). Desde 1989 responsável pelas páginas culturais e enviado especial do semanário «Oggi», Sansonetti colabora em revistas como «Mass Media», «Studi cattolici» e «Timone». - Quando e por que, de repente, a Santa Sé dá um giro em sua postura ante este mistério de fé, objeto de devoção desde os primeiríssimos anos da Igreja? - Vincenzo Sansonetti: Mais que um giro, pode-se falar de uma progressiva maturação através dos séculos que levou os Papas a «acompanhar», com discrição mas atenção, a devoção popular e a festa litúrgica, já presentes na Igreja desde há séculos. Os Papas foram como árbitros nas contendas, com freqüência ásperas, entre «maculistas» e «imaculistas», guiados por dominicanos e franciscanos. De todos modos, querendo assinalar um ponto crucial, há que buscá-lo no exílio forçado do Papa Pio IX, obrigado a fugir a Gaeta, fortaleza situada no Reino das Duas Sicílias, para subtrair-se à feroz perseguição anticatólica e antipontifícia da República Romana, liderada pelo maçom Giuseppe Mazzini. O livro abre com uma cena quase cinematográfica, em uma fria manhã de janeiro de 1849, o Papa Mastai Ferretti se assoma ao balcão do palácio que lhe deu hospitalidade e vê o mar tempestuoso. Preocupado, a seu lado o cardeal Lambruschini lhe diz: «Sua Santidade só curará o mundo dos males que o oprimem... proclamando o dogma da Imaculada. Só esta definição doutrinal restabelecerá o sentido das verdades cristãs». Poucos dias depois, Pio IX publica, desde Gaeta, a encíclica «Ubi Primum», na qual pede a todos os bispos do mundo que se definam sobre o dogma da Imaculada. O resultado será quase um plebiscito e, em 8 de dezembro de 1854, o Papa faz a solene declaração de que «a beatíssima Virgem Maria, desde o primeiro instante de sua concepção, por especial graça e privilégio de Deus e em vista dos méritos de Jesus Cristo, foi preservada imune de toda mancha de pecado original». - A promulgação deste dogma se dá em uma época filha do Século das Luzes, que na Itália fará dizer a Giuseppe Mazzini: «Surge uma nova época que não admite o cristianismo» e que está, como você afirma, marcada por uma certa decadência da vida da Igreja. Crê que este acontecimento histórico e eclesial tenha alguma afinidade com o que sucedeu, por exemplo, com a aparição da Virgem de Guadalupe, e que, portanto, tenha que interpretá-la como a resposta da Graça a uma situação humana sem saída? - Vincenzo Sansonetti: A aparição de Guadalupe, no México, completa, no século XVI, a evangelização da América Latina. A proclamação do dogma da Imaculada Conceição devolve vigor, a meados do século XIX, a uma igreja cansada, recordando a existência do pecado original e a Redenção de Cristo. São feitos providenciais, que correspondem a um misterioso desígnio divino. E é surpreendente que quatro anos depois da proclamação do dogma, em 11 de fevereiro de 1858, Nossa Senhora apareça em Lourdes chamando-se a si mesma a Imaculada Conceição, confirmando o dogma. Podia tê-lo feito antes (houve dezenas, se não centenas, de aparições marianas que precederam a de Lourdes), mas a Virgem respeita o caminho humano, os passos da Igreja. E se definiu «A Imaculada» só «depois» da Bula de Pio IX, de 8 de dezembro de 1854. - Não pode contar algo sobre os acontecimentos sobrenaturais que os cronistas do tempo escreveram com respeito à promulgação da Bula «Ineffabilis Deus»? - Vincenzo Sansonetti: Na manhã de 8 de dezembro de 1854, na basílica de São Pedro no Vaticano, no momento da leitura da Bula «Ineffabilis Deus», sobre Pio IX caiu um raio de luz. Fenômeno surpreendente, porque em nenhuma estação, e muito menos em vésperas de inverno, desde nenhuma janela da Basílica Vaticana, podia chegar um raio de luz à abside onde se encontrava o Papa. Foi visto como uma espécie de aprovação celeste, o auspício de um gozoso porvir em meio da atormentada vida da igreja do momento. Alguns meses depois, em 12 de abril de 1855, o mesmo Pio IX visitava o Colégio de «Propaganda Fide», em Roma. De repente o pavimento se abriu. Neste instante, o Papa gritou: «Virgem Imaculada, ajuda-nos!». Todos ficaram ilesos por milagre. Durante um século, naquele Colégio, seguiu o costume ente os alunos de repetir a jaculatória «Virgem Imaculada, ajuda-nos!». - Na «Ineffabilis Deus», Pio IX, ao declarar a doutrina da Imaculada Conceição, afirma que está destinada «à exaltação da fé católica e ao incremento da religião cristã...». Quais foram os benefícios obtidos com a definição? - Vincenzo Sansonetti: Foi outro Papa quem descreveu os benefícios para a vida da Igreja: São Pio X, na encíclica «Ad diem illum laetissimum», publicada em 1904, aos cinqüenta anos da proclamação do dogma. Além dos «dons ocultos de graças» concedidos por Deus à Igreja por intercessão de Maria, o Papa recorda: a convocatória do Concílio Vaticano I, em 1870, com a definição dogmática da infalibilidade pontifícia; o «novo e nunca visto fervor de piedade com o que os fiéis de toda classe e nação afluem, há muito tempo, a venerar o vigário de Cristo»; a «longevidade do pontificado de Pio IX e de Leão XIII, sapientíssimos governantes da Igreja», «as aparições da Imaculada em Lourdes e o florescimento de milagres e de piedade». Voltaram a florescer as missões, a caridade, a cultura, retornou a presença e a visibilidade dos católicos na vida social. Um exemplo surpreendente: no dia da Assunção de 1895, após procissões eucarísticas que haviam sido proibidas. - Durante a visita de João Paulo II este ano a Lourdes, no dia da Assunção, o porta-voz papal, Joaquín Navarro-Valls, afirmou: «O Papa veio para pedir uma cura não só de uma enfermidade física, mas da enfermidade mais grave que atinge o mundo moderno: o esquecimento do pecado original». - Vincenzo Sansonetti: Na realidade, João Paulo II, com sua recordação do pecado original, não fez outra coisa que repetir algo já claro no final do século XIX, o século de Pio IX e do dogma da Imaculada, onde os ambientes eram certamente não-clericais. Já o poeta Baudelaire, que não era por certo um adulador, no final do século XIX, afirmava: «A maior heresia de nosso tempo é a negação do pecado original». Esta heresia segue em pé, todavia, e atua. Pensemos na cruzada contra o ex-ministro italiano Rocco Butiglione, católico, obrigado a renunciar a sua candidatura a comissário europeu para a Justiça e as Liberdades por ter usado a palavra «pecado» durante uma audiência. Nega-se o pecado e o pecado original porque se quer afirmar uma idéia de homem totalmente livre de uma dependência sobrenatural, de um Criador, um homem que não reconhece seus limites e se põe no lugar de Deus. Mas o homem, livre desta ligação, sem uma referência religiosa, converte-se em tirano de si mesmo, presa de utopias e totalitarismos. De um homem sem Deus nascem o nazismo, o comunismo e o terrorismo atual, que usa a palavra «deus» para seus fins sanguinários. A Imaculada, com seu sorriso doce e benevolente, tal como foi representada pelos artistas, esmagou a cabeça da serpente e nos conduz pelas mãos ao Paraíso, para a condição imaculada que é seu privilégio, ainda que prometido a todos nós.

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Côn. Vidigal - Imaculada Conceição de Maria

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Mariana (MG), 12/11/2004 - 07:34

A Imaculada Conceição de Maria é uma das verdades mais caras aos fiéis de todos os tempos. Quando no dia 8 de dezembro de 1854, Pio IX a definiu como dogma de fé, ratificou uma crença milenar, bem fundamentada na Sagrada Escritura. Celebramos este ano o 150o ano deste fato glorioso. O trecho nuclear da Bula Ineffabilis Deus é este: "Nós declaramos, decretamos e definimos que a doutrina segundo a qual, por uma graça e um privilégio especial de Deus Todo-Poderoso e em virtude dos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, a bem-aventurada Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do pecado original no primeiro instante de sua conceição, foi revelada por Deus e deve, por conseguinte, ser crida firmemente e constantemente por todos os fiéis". Estas palavras pontifícias encerram diversos pontos teológicos de suma importância para o discípulo de Cristo. O privilégio da Mãe do Redentor foi ter ela nascida sem o pecado original, ou seja, ela veio ao mundo com a graça santificante, isto é, já participando da vida divina. Não esteve nunca privada do estado de amizade com Deus. A cena ocorrida no paraíso terrestre, narrada pela Bíblia sob sugestivas imagens, deixa claro que o homem, submetido por Deus a uma prova, rebelou-se contra o seu Criador. Perdeu deste modo os dons preternaturais com os quais fora gratuitamente cumulado pela divindade. Não mais poderia ver a Deus. Dentro do ser racional instalou-se uma desordem intrínseca. Iniciou-se a pugna própria dos seres humanos que passaram dramaticamente a ver o bem que deve ser feito e, no entanto, dando adesão, tantas vezes, ao mal. Triste lamento de São Paulo: "Efetivamente nós sabemos que a lei é espiritual, mas eu sou carnal, vendido ao pecado. Porque não entendo o que faço; não pratico o bem que quero, mas o mal que aborreço, esse é que faço" (Rm 7,14-15). As clarinadas da esperança da vinda do Salvador ressoam então nas faustosas páginas do Gênesis. Tal o papel do Messias prometido, reparar pecados, satisfazer a justiça divina e possibilitar aos homens recuperar a graça perdida. Nos planos imperscrutáveis do Ser Supremo ficara estabelecido que esta redenção se daria de forma teândrica: "O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós" (3 Jo 1,14. Daí a importância capital que uma mulher teria neste processo salvífico. O Apostolado das Gentes explica: "Como pela desobediência de um só, muitos foram constituídos pecadores, assim pela obediência de um só muitos se constituem justos". Adita São João: "Como reinou o pecado para a morte, assim reinará por Jesus Cristo a graça para a vida eterna"(1 Jo 4,10) . Comenta o bispo São Paciano: "Dirá alguém: Mas havia motivo para o pecado de Adão passar aos seus descendentes, pois foram gerados por ele? E nós será que fomos gerados por Cristo para podermos ser salvos por Ele? Nada de pensamentos carnais. Já diremos de que modo somos gerados, tendo Cristo por pai. Nos últimos tempos, assumiu Cristo, de Maria a alma com a carne; a ela veio salvar, não a abandonou nos infernos, uniu-a a seu Espírito, fazendo-a sua". São Paulo tece ainda estas considerações sobre este aspecto: "Quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob a Lei, a fim de resgatar os que estão sob a Lei, para que nos tornássemos filhos adotivos" (Gl 4,4-5) . São Lucas narra o fato histórico mais importante de todos os tempos, ou seja, a anunciação de Maria e a encarnação do Verbo: "E, entrando o anjo onde ela estava, disse-lhe: Deus te salve, cheia de graça, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres [... ] achaste graça diante de Deus; eis que conceberás no teu ventre, e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi" (Lc 1, 28-32). .Por ser a Mãe de Deus era devia nascer Imaculada e na plenitude de graças anunciada pelo Arcanjo Gabriel estava incluído este privilégio grandioso Maria é Mãe de Jesus. Eis por que razão teve Duns Scoto ao lançar este dito que vem percorrendo os séculos: Potuit ergo fecit - Cristo pôde fazê-la Imaculada, logo a fez Imaculada! Viver sob a égide da Virgem Imaculada é ter garantia total de vitória sobre as forças do mal!

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho

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