Doutrina Catolica

Doutrina Catolica

___________________________________________________________

VOZ DO PASTOR

CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro

9 de novembro de 2004

A NOSSA ASSEMBLÉIA GERAL

___________________________________________________________

No fim desse mês, dias 27 e 28, celebraremos a nossa Assembléia Geral que nasce da premente necessidade pastoral e tem como objetivo primordial unificar todo o empenho pastoral em um Plano de Conjunto que sintetize e congregue nossas melhores opções em favor do bem comum do Povo de Deus sob a luz da corresponsabilidade. Tudo isso há de acontecer pela fidelidade de todos(as) e de cada qual ao espírito do Evangelho que funda e permeia a única verdadeira Igreja, a de Cristo. Nosso 10º Plano de Pastoral de Conjunto nasce – como projeto – dentro do contexto carioca em que, dia após dia, experimentamos a bondade ilimitada do Cristo Redentor que sobrepuja quaisquer obstáculos e desafios e nos inculca, sempre de novo, o grito de Jesus no alto da Cruz: “Ninguém te ama como eu”! É esse amor inegualável que se difunde, como que se esparrama em cada uma das esperanças e DECISÕES em nossa próxima Assembléia Geral. Sem essa experiência da Bondade infinita de Deus, mediada pela redenção única de Cristo, nada de válido se pode realizar na Igreja, que desafia quaisquer tempos, óbices e entraves. Nada resiste à bondade, porquanto dimana diretamente da potência criadora de Deus (cf. Gn 1,31) e se evidencia no Coração Transpassado do Cristo: “Tirareis com alegria destas fontes de salvação” (Is 12,3).

Essa alegria salvífica perpassa todo o nosso trabalho conjunto e corresponsável.

O realismo operacional nos levou previamente, a uma Revisão Ampla sobre nossas pastorais, movimentos Espirituais e Grupos eclesiais para “refontizá-los” no espírito comunitário, para excluir quaisquer defeitos, tais como: auto-suficiência, isolacionismo, estagnação, individualismo, supremacia.... Sabemos, que dons e carismas são presentes do Espírito Santo para toda a Comunidade Eclesial. A Igreja “avança ao ritmo da renovação”, como nos dizia o grande teólogo Ives Congar. Isto nos fará encarar – como atuação do Espírito de Cristo em nós – as inovações ou mudanças que se fazem necessárias para um maior dinamismo e eficácia de toda a nossa ação pastoral, prevalentemente evangelizadora.

Jamais muda o conteúdo da verdade revelada, podendo, contudo, e devendo mudar a sua roupagem ou tonalidade de acordo com os tempos e lugares, os destinatários ou recipiendários. A Verdade é perenemente jovem, ultrapassando qualquer época, porquanto se identifica com Aquele que disse: “Eu sou A VERDADE” (Jo 14,6). O esforço da mudança exige de cada discípulo e seguidor de Cristo este empenho na inculturação da fé para que a Igreja possa responder a todos os questionamentos que as circunstâncias de tempo e lugar nos colocam. Isso postula de nós uma disponibilidade de abertura, de desinstalação e de rejeição da acomodação. Só assim há possibilidade de mudança.

Sabemos “que para Deus nada é impossível”, mesmo nas áreas mais difíceis e conflitantes, quais sejam: a pastoral carcerária, a política, a comunicação e a própria caridade social. Deus age através de nós.

Apesar dos desafios múltiplos, procurou-se detectar o rosto bondoso de Deus em todas as nossas perspectivas pastorais e acreditamos tê-lo encontrado nas pessoas, nas comunidades, na Igreja de Cristo: una, Santa, católica e apostólica. Foi por este motivo que as maioria das forças vivas da ação evangelizadora na Arquidiocese do Rio de Janeiro realizou, com todo empenho, a Revisão Ampla de suas atividades. Trabalhou-se com afinco para responder a tantas questões, examinando detalhadamente os objetivos e os métodos da ação evangelizadora no Rio de Janeiro. Fizeram-se assembléias nas paróquias, nas foranias e nos vicariatos. Também alguns movimentos eclesiais e outros setores da Igreja, no Rio de Janeiro, reuniram-se para ativamente participar da Revisão Ampla.

Através do 10º PPC, nossa Arquidiocese torna-se-á capaz de responder, ainda mais, aos desafios, exigências e anseios do atual momento histórico da evangelização. De modo especial, são louváveis as iniciativas da Arquidiocese no crescimento da consciência ministerial da Igreja, nas dimensões política, social e espiritual.

As escolhas e determinações da presente Assembléia foram estudadas, discutidas e vão ser acolhidas colegiadamente, como esperamos... Pesa sobre elas o nosso senso comunitário de discípulos de Cristo, que nos norteia e assiste através de seu Espírito de Amor e VERDADE.

Louvando e bendizendo ao Senhor pelo trabalho, realizado ao longo destes dois anos, colocamo-nos inteiramente nas mãos do Bom Deus, para que, através de sua Graça, coloquemos em prática as decisões, opções e compromissos, assumidos no mais profundo espírito de Igreja. Que esse mesmo Espírito nos anime e fortaleça a por em prática tudo o que for decidido, de comum acordo, na próxima Assembléia Geral. Uma assembléia de tal porte só é possível e frutuosa com a colaboração onímoda de muitas pessoas dedicadas e dispostas a dar tudo de si para o avanço e expansão do Reino de Cristo. Cabe-lhes um grande reconhecimento de nossa parte e os votos de que a alegria do bem realizado lhes inunde os corações.

___________________________________________________________

VOZ DO PASTOR

CARDEAL D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID

Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro

2 de novembro de 2004

Repensando fatores de uma política sadia

___________________________________________________________

No Domingo próximo passado terminamos, em nosso País, o segundo turno das eleições para Prefeitos Municipais. Hoje, realizam-se as eleições para Presidente dos Estados Unidos da América do Norte. Isto nos leva a reavaliar certos princípios da Doutrina Social da Igreja que deveriam nortear sempre as atitudes e decisões dos que regem e governam os destinos dos povos e nações. Peço vênias para restringir-me somente a um dos documentos mais importantes do nosso querido Papa João Paulo II. Trata-se de um escrito pertinente sobre a “Solicitude Social” da Igreja Católica (“Sollicitudo Rei Socialis”) por ocasião do 20º aniversário de outra Carta Encíclica de Paulo VI sobre o “Progresso dos Povos”. João Paulo II assinala, como fatores importantes de política social: o justo desenvolvimento dos povos, autonomia e liberdade, a injusta questão da “dívida externa”, a instrumentalização dos conflitos como fator político, a crise habitacional, a disparidade na distribuição das riquezas (destinadas igualmente a todos), a adoção de quaisquer imperialismos totalitários.

Permito-me citar o comentário do nosso amigo e colaborador R. Padre Fernando Bastos Ávila, SJ, Sociólogo, membro ilustre da Academia Brasileira de Letras, quando comenta a “frustração total de nossa gente” frente às propostas técnicas de dois sistemas: o Capitalismo liberal e do coletivismo marxista. Cito o Professor Padre Ávila, em “Pequena Enciclopédia de Doutrina Social da Igreja”, Ed. Loyola, pág 418:

“A situação hoje é de frustração ante as propostas meramente técnicas e de expectativas, de ânsia por um pouco mais de respeito à dignidade dos homens e dos povos. Neste contexto, o apelo em favor do desenvolvimento autêntico dos homens como indissociável do desenvolvimento solidário dos povos começa a ter uma imensa ressonância. A Sollicitudo Rei Socialis chegou na hora certa. A proposta reformista da Encíclica se funda em uma “orientação moral”, porque as únicas alternativas para o reformismo são as alternativas eticamente inaceitáveis do capitalismo liberal e do coletivismo marxista. Em nenhum ponto da Encíclica o Papa emprega o termo de socialismo. As razões de repúdio ético dos dois sistemas se fundam no fato de que a única proposta de ambos se reduz ao ter mais, ou seja, à satisfação indefinida de um consumismo insaciável: quanto mais se tem, mais se deseja ter. Ora, a única justificativa ética do ter mais consiste na possibilidade de oferecer condições de ser mais e a experiência revela, tanto para os homens quanto para os povos, que não existe uma correlação direta entre ter mais e ser mais: muitos que têm muito perdem em dignidade humana. O Santo Padre se refere a “uma nova maneira de enfrentar os problemas da miséria e do desenvolvimento, que faz da libertação a categoria fundamental e o primeiro princípio de ação”. Observa que esta maneira de enfrentar o problema difundiu-se após a publicação da “Populorum Progressio”, em particular na América Latina. Entretanto, continua o Papa, “os desvios e os perigos de desvios, ligados a esta forma de reflexão e de elaboração teológica, foram oportunamente indicados pelo magistério eclesiástico”...

Dentro dos parâmetros destes documentos do Magistério , “a aspiração à libertação de toda forma de escravatura , relativa ao homem e à sociedade, é algo nobre e válido”. Estes parâmetros definem que a libertação não pode ser conquistada exclusivamente através do desenvolvimento econômico, mas deve abranger também “as dimensões culturais, transcendentes e religiosas do homem e da sociedade”.

Nesta abrangência, “o processo do desenvolvimento e da libertação concretiza-se na prática da solidariedade”. Libertação só pode ser integral, em todas as suas dimensões, e desenvolvimento só pode ser solidário, entre indivíduos, classes e nações.

Nesta perspectiva, “ante o panorama predominantemente negativo do momento atual, a Igreja sente-se no dever de afirmar com vigor a possibilidade de superar os entraves, que se interpõem, por excesso ou por defeito, ao desenvolvimento e a confiança numa verdadeira libertação”.

Hosted by www.Geocities.ws

1