Doutrina Católica

Voltar

_______________________

GEORGES BERNANOS

_______________________

Georges Bernanos possuía a voz, a franqueza e a inspiração do maledicente que nunca deixou de ser na sua vida de jornalista, polemista e romancista. Uma voz grave que fascinava seus interlocutores tanto quanto o corpo pesado e o rosto maciço, sombrio porém iluminado por um olhar incrivelmente claro que pousava sem compaixão sobre o mundo e os homens. Olhar de um visionário ou de um profeta das desgraças futuras?

Morto em 5 de julho de 1948, Bernanos pertence à linhagem de escritores católicos franceses do século XX que, de Léon Bloy (1846-1917) a Paul Claudel (1868-1955) e François Mauriac (1885-1970), sondaram a natureza humana em sua perversidade e decadência e tentaram abrir, apesar de tudo, os caminhos para sua salvação. Em seu universo fortemente marcado pela desesperança de um destino despedaçado, de uma inocência mutilada, onde o Mal encarna-se nos seres mais sórdidos, a maldição, onipresente, assume todo seu peso à maneira de uma implacável fatalidade que julga e pune.

Nascido em Paris em 1888 de uma tradicional família de artesãos, Bernanos mergulhou desde cedo num meio tradicionalista, monarquista, antiparlamentar e republicano. Ele compartilha dessa França conservadora que, com o caso Dreyfus, levantou-se no início do século passado contra uma outra França, laica e progressista, embora mais tarde, nos anos 30, tenha acabado denunciando a "monstruosidade repugnante" do racismo nazista. Estudante de direito e letras, ele adere ainda no momento de sua fundação, ao movimento pela realeza de Charles Maurras, e desfila entre os Camelots do rei, armado com uma bengala pesada e a cabeça guarnecida por um chapéu coco recheado de papel, provocando, no Quartier Latin, os partidários da "gueuse" (a vagabunda), essa república burguesa e materialista que expulsou Deus das escolas e da vida pública...

A polícia parte para cima dos manifestantes e acontece, no acaso de suas interpelações, de colocar as mãos no jovem Bernanos, nacionalista exaltado, envolvido para sempre com as bandeiras da rebelião.Mas, por essa insubmissão, é a sua família política que, sem mais tardar, irá pagar o preço. Com a vitória de 1918, para a qual participou nas trincheiras, ele retira-se da Ação Francesa. Não que a república, nesse meio tempo, tenha adquirido virtudes que ele não suspeitava, nem que sua profissão de inspetor de seguros, escolhida em desespero de causa para suprir as necessidades de seus seis filhos, obrigue-o a tomar distância da política, mas porque o grupo monarquista está em decadência, a seu ver, e o fôlego revolucionário que o animava começa a lhe faltar a ponto de fazer o sacrifício em favor da democracia parlamentar e concorrer às eleições.

Ele defende ainda a Ação Francesa em 1926, no momento de sua condenação pelo papa Pio XI, mas sua excomunhão das fileiras "realistas" inscreve-se na lógica das desavenças que irão se aprofundar entre ele e Maurras.

__________________

Em 1926 , o Papa Pio XI condenou a Action Française , liderada por Charles Maurras . A Ação Francesa , movimento extremamente nacionalista , era contrária à democracia parlamentar e favorável à monarquia hereditária , além de defender idéias contrárias à doutrina da Igreja . A condenação levou o Cardeal Billot - entusiasta do movimento - a renunciar ao Cardinalato e a retirar-se para um Noviciado da Companhia de Jesus.

Hosted by www.Geocities.ws

1