DOUTRINA CATÓLICA

REFORMAS GREGORIANAS

O Papa Gregório VII foi um pontifice que desempenhou um papel fundamental na história da Igreja Católica , promovendo reformas de grande repercussão na sua estrutura.

Gregório VII tinha como nome de batismo Hildebrando de Soana ; nasceu em 1024 .

Foi Secretário do papa Gregório VI; esteve com ele em seu exílio na Alemanha e após a sua morte (1047).

Chamado pelo papa Leão IX, recebeu importantes encargos e títulos: tornou-se abade do mosteiro de San Paolo fuori le Mura, com a missão de moralizar os costumes .

Reforma do Papa Gregório

Ao contrário da época carolingia, a confusão entre o poder civil e o religioso foi dominante naquele momento.

Os esforços da Igreja por deter a violência e moralizar , cristianizando , os costumes se refletiram , no terreno dos novos hábitos feudais, de forma que os leigos importantes, aproveitando a debilidade do Papado, foram dominando os círculos eclesiásticos.

Produziram-se vários movimentos desse tipo que basicamente se reduziam a dois:

Simonia: Tráfico de dignidades eclesiásticas - Os imperadores avocavam o direito de investir com o báculo e o anel. Depois da conquista da Inglaterra (1066), os reis normandos distribuiram entre seus adeptos as sedes episcopais inglesas. Nicolaísmo: matrimônio dos sacerdotes, generalizado na Alemanha, França e Itália.

Diversas tentativas de reforma da Igreja foram levadas a efeito , como os movimentos eremíticos italianos de São Nil de Grottaferrata, São Romualdo, São João Gualberto, etc., que acabaram desaguando na chamada reforma gregoriana, impulsada pelo Papa Gregório VII a partir do ano 1075.

O ‘Dictatus Papae’, uma recompilação dos principais pontos canônicos - elaborados por pontífices anteriores - foi tornado público .

Uma reunião de documentos antigos sobre os quais assentava o projeto de ‘primazia jurisdicional’ do Papa Gregório e que significava uma concentração de poderes e um grau de centralização jamais alcançados pela Santa Sé .

A ‘reforma gregoriana’ encontrava-se inserida em um movimento muito mais amplo que se estendeu desde 1050 até 1150.

Emergia uma nova cristiandade, moldada pelo trabalho da terra, pela construção de igrejas e de praças , pelo desenvolvimento urbano, e pela expansão do comércio e da economia monetária.

A Igreja defrontava-se com duas opções : - integrar-se no século , ou negá-lo. Estas opções já haviam sido expostas por Santo Agostínho com sua distinção entre a ‘cidade de Deus’ e a ‘cidade dos homens’ ; a Igreja optou por uma via intermediaria: separar-se do século dos leigos para dominar melhor -de uma esfera superior - o novo mundo que se estava formando.

Foram promulgados decretos com severas interdições à investidura dos bispos por parte de leigos , reservando-a unicamente ao pontífice.

Essas medidas eram perfeitamente coerentes com a ação reformadora interna à Igreja, que Gregório herdara de seus predecessores imediatos e que continuou apaixonadamente , mas também tiveram a conseqüência de levar o papado ao embate direto com o império no campo das investiduras episcopais, no qual as relações entre os dois poderes universais já eram difíceis havia tempo.

Gregório VII desejava a exclusão do poder civil da nomeação de bispos , abades e , até mesmo , na eleição do papa. Devido ao sistema feudal, os eclesiásticos eram obrigados a jurar ao rei ou aos nobres, ocasionando situações constrangedoras e incoerentes em face da Doutrina. Era também seu objetivo moralizar o sacerdócio , de modo que os padres fossem verdadeiros pastores e divulgadores de Cristo.

O rei da Alemanha, Henrique IV, recusando se submeter aos decretos conciliares, continuou a distribuir as investiduras ; advertido por Gregório, respondeu-lhe reunindo os bispos alemães na Dieta de Worms (janeiro de 1076) e declarando a queda do pontífice.

O papa excomungou o imperador, liberando seus súditos da fidelidade ao soberano.(fevereiro de 1076).

E preparou-se para ir à Alemanha, a fim de se encontrar com os senhores feudais insurrectos contra o imperador e proceder a um julgamento contra ele.

Henrique, abandonado e próximo de ser deposto pelos príncipes , tomou a decisão de pedir perdão em Canossa (janeiro de 1077), onde o papa, em viagem pela Alemanha, era hóspede da condessa Matilde.

O papa, mesmo consciente da vantagem política que seu adversário teria a partir daquele momento, revogou a excomunhão.

O perdão do papa permitiu que Henrique retomasse a iniciativa das ações : derrotou Rodolfo da Suábia, que uma parte da nobreza alemã pusera no trono da Alemanha, ao passo que o papa Gregório só se dispôs a reconhecer Rodolfo como novo imperador após três anos.

O papa preferia a neutralidade , atuando como árbitro no conflito; mas diante da impossibilidade de chegar a uma mediação pacífica , excomungou novamente Henrique (1080).

Henrique retomara o controle da Alemanha voltou a Roma, nomeou um antipapa (Clemente III) que o coroou imperador, e foi assediar Gregório em Castel Sant'Angelo (1084).

Refugiado em Salerno, sob a proteção de Robert Guiscard, o papa morre cerca de um ano mais tarde, depois de realizar um último sínodo, ratificar a excomunhão contra Henrique e dirigir um apaixonado apelo à cristandade .

É atribuida ao Papa a célebre frase de origem bíblica: Amei a justiça e odiei a iniqüidade e por isso morro no exílio (Dilexi iustitiam et odivi iniquitatem, propterea morior in exilio)

Gregório é uma das maiores figuras da história do papado; o seu confronto com Henrique IV é o aspecto mais comumente lembrado de toda sua obra ; não se deve , contudo , esquecer da rede de relações destinadas a exaltar a supremacia da sé apostólica romana, que ele soube tecer com todos os Estados europeus, obtendo o reconhecimento da soberania da Igreja por parte da Boêmia e da Polônia, do Reino da Hungria, e do Principado de Kiev.

Os acontecimentos históricos relacionados à reforma se sucederam , cronologicamente , desta forma:

Ruptura de Roma com Bizâncio

- Cisma de 1054 (pão ázimo, matrimônio de sacerdotes, polêmica em torno do ‘filioque’ -o Espírito Santo, procede do Pai e do Filho )

- Pré-reforma de Leão IX (1048-1054): Condenação da simonia e do nicolaísmo.

Decreto de 1059 (Nicolau II)

- Fica reservado aos cardeais a eleição do Papa.

- Detido o poder dos leigos sobre as igrejas.

- Proibido assistir a missas celebradas por clérigos casados

Concílio de Roma (Gregório VII, 1074)

- Destituição de sacerdotes ‘simoníacos’, casados ou noivos

- Dictatus Papae (1075)

- Sínodo de Roma (1075) ; se proíbem as investiduras laicas.

- Excomunhão do Imperador Henrique IV (1076), deposto e desligados seus súbditos do juramento de fidelidade.

- Penitência de Canosa (1077): Henrique IV se livra do castigo.

- Segunda excomunhão de Henrique IV (1080). Gregorio VII reconhece como Imperador Rodolfo de Suabia.

- Henrique IV invade Itália ; assédio de Roma (1084).O Papa vai para Salerno ; morre em 1085.

Solução de compromisso proposta por Ives de Chartres:

* A investidura espiritual não pertence aos príncipes, a quem está reservada , em troca , a investidura temporal.

- Aceita pelo rei Henrique I da Inglaterra .

- A França a aceitou , sob Luis VII (1137-1180)

- Henrique IV de Alemanha volta a invadir Itália e expulsa de Roma o Papa Urbano II ; este volta ao pontificado en 1095, após convocar a 1ª Cruzada.

Concordata de Worms (1122): O Sacro Império aceita a solução de compromisso

2o Concilio Ecumênico de Latrão (Calixto II, 1123), primeiro que a Igreja Romana celebrou , após sua separação do Oriente. (...)