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CRISTIANISMO E PSICANÁLISE

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Professor Everton N. Jobim

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Uma poderosa corrente do pensamento contemporâneo - a psicanálise - constitui-se em um viés das ciências , rigorosamente , incompatível com a concepção cristã do homem. A psicanálise além de ser uma doutrina atéia é , também , contrária à perspectivas humanista , ainda que natural , do ser do homem , pois pretende desintegrar a própria consistência e a integridade do sujeito e do nosso ser moral e intelectual em determinações infra-humanas.

Existem , além disso , diversas associações e conexões intelectuais entre a psicanálise e o marxismo nas obras de autores como Herbert Marcuse e Jacques Lacan entre outros.

Fundamentalmente a psicanálise afirma que o homem não é inteiramente senhor de suas ações , sendo , em certa medida , movido pelas forças do seu inconsciente ; sendo esse inconsciente desejante -- libidinal.

Assim , a disciplina fundada pelo psiquiatra e neurologista Sigmund Feud apresenta uma sequência para o desenvolvimento sexual da personalidade humana inspirada nas fontes mitológicas da antiga Grécia -- universo mitológico no qual a natureza humana se expressou livremente e onde todos os nossos dramas psíquicos ficaram registrados profusamente , segundo Freud.

Nossos males psíquicos , mesmo nos tempos atuais , seriam uma mera repetição daquilo que lá foi exposto em termos alegóricos pelos autores helênicos.

Recorrendo à mitologia , Freud criou , assim , alguns conceitos pseudo- científicos como ' complexo de Electra ' para explicar o desenvolvimento da personalidade feminina e o ' complexo de Édipo ' para dar conta explicativamente do desenvolvimento sexual e da formação da personalidade no gênero masculino.

As idéias que Freud elaborou sobre o inconsciente humano são antitéticas em relação à idéia cristã da alma e também contrárias à espiritualidade natural do homem . O mesmo valendo para a interpretação produzida para o fenômeno dos sonhos , para as concepções sobre a origem da proibição do incesto e da emergência da cultura e das sociedades humanas ( cf. " Totem e Tabú " (1913 ) e " Moisés e o Monoteísmo " ( 1939))

Um de seus discípulos Carl G. Jung buscou aprofundar o conceito freudiano do inconsciente , objetivando alcançar a esfera espiritual desse mesmo inconsciente humano-comum . As idéias religiosas que o conceito de inconsciente em Jung logram alcançar são nitidamente gnósticas.

O fato de Deus possuir uma dimensão que escapa ao nosso conhecimento , sendo absolutamente transcedente , não significa que o nosso inconsciente possa ser um caminho seguro para chegarmos a um conhecimento pleno do que nos é vedado pela limitação da razão humana.

Em um artigo publicado no "Boletino del Clero Romano" de 1952 , bem como em outro publicado na revista "Il Peccato", de 1959, a Igreja afirmou ser a prática da psicanálise um pecado mortal. Ela , contudo , não proibiu expressamente a psicanálise como um todo ; em discurso do Papa Pio Xll , publicado na revista "Lumen Vitae", de 1960 (Pie XII parle de santé morale et de psychologie), condena , sim , a teoria "pansexualista de uma certa escola de psicanálise".

Freud em "Moisés e o Monoteísmo " exibe o climax de sua relação edipiana com a religião ; ficando clara a repressão de sua formação judaica , sendo que suas teses sobre um Moisés egípicio e sobre o seu assassinato , não se sustentam . A própria psicanálise por ele fundada veio a se transformar também em uma espécie de religião esvaziada de conteúdo metafísico .

Num determinado momento do desenvolvimento das correntes psicanalíticas , chegou-se mesmo a comparar a psicanálise e o inconsciente de Freud com o de Carl Jung ; o conteúdo da teoria freudiana foi assim considerado semítico e também superficial em face da psicanálise supostamente mais profunda de Carl Jung.

Os arquétipos presentes no inconsciente humano segundo Jung são idéias primordiais que existiriam no 'inconsciente coletivo' e espiritual dos homens , sendo trabalhados diferentemente em cada contexto cultural.

Jung considerava a psique como uma interação entre elementos conscientes e insconscientes , uma troca permanente de infromação . O insconsciente não seria apenas um depósito psicobiológico de tendências instintivas . Ele seria um princípio ativo , que , em sua esfera mais profunda , ligaria o indivíduo à toda a humanidade , à natureza e ao cosmos. O inconsciente não seria governado apenas pelo determinismo histórico , mas também por um desejo evolutivo exercendo uma função teleológica.

Para a doutrina católica , não interessa saber se existem idéias arquetípicas ou inclinações teleológicas no inconsciente , isso é função da ciência , da psiquiatria , da psicanálise e etc . Devemos conhecer , através da consciência em vigilia , em estado não alterado , com o uso da inteligência e da razão , e não em transe , essas verdades teológicas objetivas.

Somos seres racionais , criados para conhecer a ordem natural e a ordem transcende , e amar a Deus e ao próximo. A existência dos anjos , dos demônios e do inferno , são dogmas de fé da Igreja , verdades de crença obrigatória -- definitivas e imutáveis -- reveladas por Deus aos homens.

Interessa aos cristãos , sim , saber que os anjos e os demônios têm existência real - objetiva - externa às representações humanas . Se a ciência descobrir a existência de arquétipos no inconsciente humano e essses forem compatíveis com os dogmas católicos , nada a opor . Mas não podemos aceitar idéias gnósticas , politeístas , animistas , ou panteístas nesses tais arquétipos. Afirma , por exemplo , Jacques Lacan ( psicanalista excomungado pela Igreja ) :

"A verdadeira fórmula do ateísmo não é que Deus está morto - a verdadeira fórmula do ateísmo é que Deus é inconsciente"

Alguns segmentos da psicanálise defendem idéias absurdas que relacionam à Trindade divina com a origem sexual da vida humana. A idéia de geração do Filho pelo Pai na Trindade é analógica ; a Segunda Pessoa da Trindade é um desdobramento de Deus e não um ser criado . Não podendo , por conseguinte , ser feita uma comparação real , entre a divindade e o ato sexual. Além de ser , evidentemente , uma afronta à dignidade e à santidade do ser que é absolutamente transcendente em relação à realidade criada.

Quais são as posições doutrinárias de Freud sobre a religião ?

Elas podem ser expressas desse modo:

A religião é uma neurose obsessiva coletiva , enquanto que a neurose obsessiva é uma religião particular.

A religião "é um sistema de ilusões plenas de desejo , justamente com um repúdio da realidade... um estado de confusão alucinatória beatífica".

Freud também afirmou no mesmo texto ("O Futuro de uma Ilusão"), que a ilusão não é sinônimo de erro - e que não se pode abolir a religião - porque , do contrário , aquelas pessoas que nela encontram consolo não conseguiriam suportar a vida.

Se a religião fosse efetivamente uma neurose , a quase totalidade do gênero humano viveria com graus variados de patologia mental . Não haveria , portanto , normalidade , através da qual , se poderia fazer um contraste com os estados considerados 'não normais' ou patológicos. Esta concepção , em certa medida , é tributária de uma visão positivista das crenças religiosas e metafísicas , consideradas estágios mentais inferiores numa escala evolutiva hipotética. A razão e a ciência seriam as substitutas da religião destronada ; e assim ofereceriam aos homens a felicidade que a religião prometera e não cumprira .

Para Freud o cristianismo pode ser entendido à luz da teoria psicanalítica , inserido no esquema do complexo de Édipo. Em outras palavras , a história da humanidade começa com um crime , o ato de infidelidade de Adão para com Deus . A inocência é perdida , o estado de paz e santidade também. A dor , o sofrimento e a morte entram no mundo . Para desfazer esta afronta tremenda , para que a santidade voltasse à alma do homem , seria preciso que um inocente fosse sacrificado , o Deus Filho ; que morre e vence o aniquilamento . Um outro crime , portanto , deveria ocorrer , para desfazer os efeitos do primeiro.

A Igreja , em absoluto , opõe-se ao concurso das chamadas ciências naturais ou profanas , bem como ao uso legítimo da razão humana , para explicar aspectos naturais da vida humana -- normais ou patológicos. Sendo muito reticente em relação a milagres e visões em êxtase e muito criteriosa em reconhecer como autênticos esses fatos.

A psicanálise não é , propriamente , uma ciência , ela é uma filosofia , ou uma teoria psicológica especulativa ; os conceitos freudianos como Ego , Id , Super-Ego não encontram localização positiva.

Muitas idéias de Freud sobre a esquizofrenia mostraram-se equivocadas diante do avanço do conhecimento científico e da ampliação do arsenal medicamentoso.

Há esforços para compatibilizar o estudo do inconsciente com os princípios metafísicos e cristãos ; a referência mais importante é Victor Frankl. Para esse teórico , existe uma religiosidade inconsciente que se torna consciente por uma livre escolha do homem.

Prof. Everton Jobim

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