O Código de Direito Canônico
A Patrística
Teologia Moral
Os Santíssimos Sacramentos
Estudos bíblicos

DOUTRINA CATÓLICA

DOUTRINA CATÓLICA

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A IGREJA E A ESCRAVIDÃO

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PERGUNTA DO LEITOR SOBRE A ESCRAVIDÃO

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A escravidão não é um estado normal desejado por Deus para os homens . A escravidão , definitivamente , não é agradável aos olhos de Deus.

Como , então , os judeus possuíam escravos , e o Brasil teve escravos , sendo que a Igreja não impediu essa prática ?

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RESPOSTA CATÓLICA :

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Em primeiro lugar , a Igreja sempre se opôs à escravidão em geral e à escravidão nas américas, em particular , são inúmeros os relatos de religiosos como os do Padre Antônio Vieira , Bartolomeu de Las Casas , São Pedro Claver e muitos outros que se manifestaram contrários à escravidão e defenderam os direitos dos escravos.

Basta lembrar o trabalho dos jesuítas com as populações indígenas no sul do Brasil - as chamadas missões jesuíticas - impedindo a escravização desses grupos e fornecendo princípios essenciais sobre ciência , matemática , escrita , ética , religião e assim por diante.

Não é verdade , tampouco , que a Igreja tenha negado a existência de humanidade aos negros africanos , como se afirma com relativa frequência ; muito ao contrário , a Igreja exigia , inclusive , o batismo dos escravos africanos ou o retorno destes às suas regiões de origem e limitava o prazo de tempo para a vigência do trabalho escravo na colônia.

A Igreja Católica canonizou tantos e tantos homens de raça negra , e não poderia fazê-lo se eles não tivessem alma.

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Reflexões sobre a liberdade e os direitos da pessoa humana

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O conceito moderno relacionado às liberdades civis e políticas, foi construído historicamente.

Se retrocedermos na história , chegaremos a tempos em que o conjunto de direitos políticos e civis dos povos europeus era bem mais restrito.

Existem , portanto , graus de liberdade , nos respectivos contextos histórico-sociais , bem como o avanço das liberdades na história dos povos , e , especificamente , na história do mundo ocidental.

Como exemplo citamos : a Declaração Universal dos Direitos do Homem , o fim da servidão no século XIX , o voto censitário , o voto universal , os direitos sociais e assim por diante .

Podemos considerar como direitos fundamentais da pessoa humana , segundo a doutrina católica : o direito à vida , o direito à fé religiosa , o direito à propriedade privada , o direito à constituição de uma família , o direito à liberdade de consciência e expressão ; o direito a viver com dignidade , segundo a moral natural , segundo às leis de Deus e as leis da Igreja ; e o direito a um trabalho que garanta a sobrevivência do indivíduo e de sua família.

O escravo ficava privado do direito de ir e vir , do direito de propriedade , da liberdade para dispor sobre a sua vida , de casar livremente , de usufruir livremente dos bens fruto do seu trabalho , entre outras privações.

No âmbito da vida religiosa , o escravo também ficava impedido de entender , de forma mais ampla , o significado dos sacramentos , o ideal de santidade , a moral cristã e o conteúdo da doutrina revelada .

Da mesma forma como o homem em termos individuais , pode aperfeiçoar-se , a sociedade humana também progride sob a graça de Deus , ao longo da história , criando novas realidades , novas instituições e uma nova legislação relacionada a essa complexificação progressiva dos saberes e das atividades humanas.

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Escravidão negra nas américas

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A Igreja sempre defendeu os negros e combateu a escravidão.

O Papa Adriano I ensinou "que os escravos podiam contrair livremente matrimônio, mesmo contra a vontade de seus senhores "; Alexandre III, em 1167 intimou terminantemente ao rei mouro de Valência que não fizesse escravo nenhum cristão ".

Pontífices que se pronunciaram contra a dureza de tratamento imposta aos escravos : Pio II, em 7/10/1462 escreveu ao bispo de Rovigo, quando este ia viajar para a Guiné; Paulo III, que, aos 29/5/1537 , se dirigiu ao Cardeal-arcebispo de Toledo; Urbano VIII , em 22/4/1639, escreveu ao Coletor da Câmara Apostólica em Portugal; Bento XIV, Tue, aos 20/12/1741, enviou uma Bula aos bispos do Brasil e de outras terras da América; Pio VII (1800-1823) pediu o fim do comércio escravo.

Os Papas Paulo III em 1537 ordenou ao arcebispo de Toledo que protegesse os índios da América e ameaçou de excomunhão, cuja absolvição ficaria reservada ao Papa .

Em Carta do Papa Pio VII enviada ao Imperador Napoleão Bonaparte da França, em protesto contra os maus tratos infligidos a homens vendidos como animais; ao que acrescentava: "Proibimos a todo eclesiástico ou leigo ousar apoiar como legítimo, sob qualquer pretexto, este comércio de negros ou pregar ou ensinar em público ou em particular, de qualquer forma, algo contrário a esta Carta Apostólica" (citado por L. Conti, A Igreja Católica e o Tráfico Negreiro, em O Tráfico dos Escravos Negros nos séculos XV-XIX. Lisboa 1979, p. 337).

O Pontífice se dirigiu a D. João VI rei de Portugal da seguinte forma :

" Dirigimos este ofício paterno à Vossa Majestade, cuja boa vontade nos é plenamente conhecida, e de coração a exortamos e solicitamos no Senhor, para que, conforme o conselho de sua prudência, não poupe esforços para que... o vergonhoso comércio de negros seja extirpado para o bem da religião e do gênero humano "

O Papa Pio VII também muito se empenhou para que a instituição da escravatura fosse condenada e abolida no Congresso Internacional de Viena (1814-15)

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Protestantes e a Escravidão

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Cabe lembrar que a Inglaterra sob a religião anglicana , protestante , e a Holanda , também , protestante , mantiveram colônias nas américas e na África , e adotaram o regime escravista. Muitas vezes recorrendo a supostas justificações racistas para a escravidão no próprio texto sagrado.

São nos países protestantes onde ocorrem as formas mais intensas de racismo , lembra o historiador Arnold Toynbee. Os países católicos , submetidos à autoridade central da Igreja , exibem uniformidade doutrinária em termos religiosos e consequentemente repudiam o racismo homogeneamente.

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Histórico da escravidão no Brasil

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A Coroa portuguesa criou uma lei que determinava que todos os africanos deveriam ser batizados na religião católica . Se o batismo não fosse realizado em pelo menos cinco anos, as peças deveriam ser vendidas e o valor revertido para a Coroa.

Havia também um prazo para a vigência da escravidão em um período não superior a dez anos. Essa legislação atendia principalmente às relações entre o governo português e a Igreja Católica.

A África era considerada a terra da maldição, por vários teólogos cristãos.

O Padre Antônio Vieira em seus Sermões (XI e XXVII), afirma que a África é o inferno de onde Deus se digna retirar os condenados para , pelo purgatório da escravidão nas Américas, finalmente alcançarem o paraíso (Vieira , Antônio, 1981).

A alma do negro africano regenerada pelo batismo não estava mais cativa , ela se libertava do poder do diabo que governa as religiões em África , o escravo no Brasil devia preservar essa liberdade da alma , para não cair sob o domínio dos poderes malignos do seu continente de origem.

O que se deu na verdade , segundo o entendimento da época , foi o predomínio da idéia de que era preferível a esses grupos humanos viveram como escravos numa cultura cristã , a viverem na barbárie do estado tribal , praticando o animismo , a idolatria e o politeísmo , com a observância de práticas de sacrifícios humanos , com guerras tribais sangrentas e , principalmente , com a escravidão vigorando entre os próprios nativos da África e também pelas mãos dos comerciantes muçulmanos !

O Padre Antônio Vieira advogara a liberdade dos gentios ; não devia manchar-se no comércio humano.

É uma ilusão pensar que os povos da África gozavam de um estado de liberdade e de bem-estar em suas regiões de origem ou que eram governados de forma justa e que viviam sob princípios humanitários e éticos naturais , reverenciando um conjunto de crenças que portassem valores éticos próximos aos do cristianismo.

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Os judeus foram libertos , por Deus , da escravidão no Egito. A escravidão não é o destino do Povo de Deus , mas sim , a liberdade.

Cristo libertou a todos do pecado ; e , portanto , em Cristo , não há mais distinção entre judeus , romanos e gregos como dizia o apóstolo Paulo , (Gl 3,28 , Atos 17:4) ; todos passaram a formar o Seu Corpo Místico.

O estado de pecado e a servidão que dele decorre , em todos os sentidos , é sempre indesejável.

Na Igreja primitiva existiam muitos escravos que conviviam em perfeita harmonia com pessoas de outras classes sociais . Revelando que aos olhos de Deus não existem as precárias clivagens construídas pelos homens nos seus respectivos contextos históricos.

A sociedade de Jesus Cristo é o ideal de vida societária do cristianismo. É a 'Cidade de Deus' de Santo Agostinho em oposição à ' Cidade dos Homens '; o  reino da liberdade, o governo das leis morais, o reino da virtude, da justiça e da paz , para todos os homens. O reinado de Jesus é o das almas. A escravidão não deixa nenhuma dignidade na alma.

Se Jesus não combateu a escravidão explicitamente , a repudiou , em sentido genérico , vigorosamente !

O cristianismo foi e é uma grande instituição , que prestou ao progresso um auxílio inestimável . Ele formou a nossa Civilização ; foi um elemento humanizador e civilizador fundamental na história do Ocidente .

Introduzindo o espírito cristão na Lei Antiga , separando o que é imutável e substancial do que é meramente regulamentar em termos civis ou cerimoniais .

A graça , portanto , liberta da maldição implicada no descumprimento da Lei . A graça liberta da escravidão do pecado , fonte de todas as escravidões.O espírito de caridade liberta do cativeiro.

A libertação espiritual tem necessariamente repercussões na vida social do cristão.

O ideal da missão messiânica foi levantar o homem , purificando sua alma , pela graça divina.

O Messias nasceu numa manjedoura: os apóstolos vieram da classe social mais humilde. Jesus foi o Rei operário .

Cristo vivia cercado do povo , pregava uma doutrina portadora de uma mensagem de esperança aos infelizes ; e exercia seu ministério no campo dos sofredores -- não podia , não estimou , não respeitou e não absolveu a escravidão. Muito ao contrário , estabeleceu uma nova relação entre os homens , e destes para com Deus . Relação baseada na dignidade fundamental de todas as criaturas remidas em Cristo. Jesus veio para remir e abolir toda escravidão e toda maldição !

Podemos constatar as consequências da escolha humana pelo pecado , nas passagens do Antigo Testamento. Deus é terno , compassivo , benigno , tardando por encolerizar-se. A escravidão é incompatível com a dignidade da criatura humana diante de Deus, que é justiça , amor e misericórdia infinita .

O sacrifício vicário do Cristo tornou as almas dos batizados agradáveis a Deus , aptas à vida sobrenatural.

Todos os homens , em todos os tempos , podem receber os efeitos da graça justificadora ; se desejarem , sinceramente , acolhê-la.A liberdade do homem para a escolha da fé , é parte constitutiva do seu ser.

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Javé e Cristo

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Deus no Antigo Testamento , é mais severo com o pecador ; Cristo é mais paciente com o pecador , sem transigir com o pecado .

Deus , no cristianismo , teve a Sua ira definitivamente aplacada pelo sacrificio supremo e definitivo de Cristo na cruz.

O Novo Testamento é o guia necessário , para a leitura iluminada do Antigo Testamento.

Quando assim proscrevemos a autoridade legislativa de Moisés , observamos que o Êxodo distingue o escravo hebreu do estrangeiro. A este aplicavam-se os princípios do direito das gentes .

O escravo hebreu era merecedor de graça (alforria) depois de seis anos de serviço, salvo vontade em contrário.

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Escravidão na Antiguidade

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Na Antiguidade um povo derrotado em combate poderia ficar bastante vulnerável aos ataques de bandos de malfeitores ou de povos inimigos que cometiam , frequentemente , atrocidades indescritíveis.Assim era preferível admitir a escravidão dos estrangeiros vencidos à morte punitiva ; sempre num contexto especial , com regras básicas de dignidade a serem respeitadas , e com prazo determinado para ter vigência.

Em determinadas situações , a escravidão poderia ser , efetivamente , um mal menor , diante de um mal infinitamente maior como a morte ou a aplicação de terríveis punições aos povos vencidos ; desde que , evidentemente , o escravo fosse tratado com dignidade e tivesse seus direitos elementares respeitados.

A servidão na Antiguidade era generalizada , naquele tempo e na Idade Média , os laços de fidelidade pessoal eram vitais para a manutenção da ordem social ; as intituições não possuiam ainda um grau suficiente de complexidade que permitisse a existência do conceito de indivíduo tal como nós o conhecemos nos tempos modernos.

Na Antiguidade em decorrência da falta de uma economia monetária mais desenvolvida , o trabalho assalariado era uma excepcionalidade .

As possibillidades para o desenvolvimento do trabalho individual e para o surgimento da figura do trabalhador avulso eram muito limitadas .

É preciso destacar que os servos entre os hebreus , colaboravam com seus patrões na obra de Deus. Não era uma servidão destituída de balizamentos jurídicos. Os patrões eram servos de Deus , e , como tal , obrigados a tratar a todos em conformidade com as leis de Deus e com a moral natural. Unidos , no vínculo de fidelidade , senhores e servos , poderiam construir uma sociedade melhor para ambos e para os seus descendentes.

O grande patriarca Abraão , por exemplo , teve um filho com sua serva Agar . Ismael foi concebido por Agar , serva egípcia de Sara , que a entregou a Abrãao , para que ela concebesse.

Deus não abandonou Ismael no deserto (Gn 21.14,15) , lemos no Antigo Testamento : "Ele atenderá à oração do desamparado , e não desprezará a sua oração" (Sl 102:17) ; e fez da semente de Ismael uma grande nação .A revelação feita a Agar pelo Anjo era a de que o filho que estava para nascer teria uma descendência incontável.

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A Igreja Católica não aceita a existência da chamada maldição de Cam , como uma verdade teológica que fundamentaria a submissão de uma raça a outra . Toda forma de discriminação racial é indigna do ser humano ; prática contrária à doutrina católica. A mensagem da salvação de Cristo e a graça santificante que perdoa o pecado e nos abre as portas do céu para a vida eterna junto a Deus , é oferecida a todos os homens de todas as raças .

Toda a humanidade é objeto do amor divino e consequentemente da oferta da salvação , afirma a Igreja Católica de forma dogmática . A superioridade racial é um conceito herético , de origem gnóstica. A Igreja só diferencia os homens entre pecadores e justos . Todo pecado é passível de ser perdoado por Deus , se houver arrependimento e confissão das respectivas faltas .

A espécie humana , ou parte dela , não possui aspectos negativos ou prejudiciais ao bem da coletividade , em termos morais e intelectuais , herdados por razões culturais ou biológicas , impossíveis de serem superados . Todo indivíduo humano , adulto e saudável em termos psíquicos , pode modificar sua conduta e aperfeiçoar-se sempre - tanto em termos morais quanto em termos intelectuais . Criticar governos nacionais e hábitos de determinadas culturas é um direito legítimo quando razões objetivas existirem para tal ; não obstante , atribuir características malignas insuperáveis a toda uma coletividade humana , é atentar contra a dignidade do gênero huamano . A humanidade foi criada por Deus , à Sua imagem e semelhança , como objeto do amor divino , e só adota atitudes pecaminosas quando deseja por livre manifestação da sua vontade assim proceder .

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Escravidão e martírio

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Todos aqueles que morrem na defesa de um princípio inscrito na lei moral natural podem ser considerados mártires , e serem , assim , justificados.

Quem morre como mártir , pode encontrar a justificação , pela misericórdia infinita de Deus.

Os escravos estão entre os bem - aventurados , merecedores das graças, da absolvição , na mesa da comunhão do Deus que é Vida !

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Fonte de Pesquisa : O Tráfico Negro no Brasil e a Igreja - Dom Estevão Bettencourt OSB

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Autor: Prof. Everton Jobim

O Pentateuco e a escravidão

(PR)A Escravidão no Brasil

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