Quackwatch em português

Exame de um Aparelho Vegatest

Robert Mosenkis, PE, CCE

Tradutor: Francisco S. Wechsler, Ph.D.

Este relatório resume os resultados de nosso exame de um instrumento Vegatest I, com o número de série 701274 e a data 08/87, manuscrita num campo em branco (intitulado Datum) em sua placa de fábrica. Em setembro de 1997, abrimos esta unidade e seu sensor, examinamos a ambos, e realizamos alguns testes operacionais.

O Vegatest I trabalha ligado à tomada. Ele vem acondicionado num gabinete de plástico verde com um painel metálico na parte frontal superior. Todos os letreiros estão em alemão. Próximo à frente da superfície superior encontra-se um bloco pesado de metal semelhante ao alumínio (descrito na literatura da Apex Energetics como favo), que contém vários orifícios ou poços; estes não varam o fundo do bloco. Podem-se colocar neles ampolas de vidro; tivemos à disposição uma destas, rotulada de Clostridium tertium .

Acima do favo encontra-se um painel com oito interruptores de botão interligados; apertando-se qualquer um deles libera-se qualquer outro que tenha sido calcado. O primeiro botão à esquerda intitula-se Widerst, e os demais são numerados de 1 a 7. No painel frontal há seis conectores bananas com nomes de duas letras, que, segundo fomos informados, correspondem às diversas regiões do corpo (p.ex., o couro cabeludo) às quais se podem conectar os eletrodos. Examinando o interior da unidade, verificamos que os sete interruptores estão ligados a estes conectores. Há também neste painel frontal um conector multipino, mediante o qual os cabos dos dois sensores conectam-se ao instrumento.

Neste, há um botão giratório de controle, à direita do favo, que aciona um potenciômetro com interruptor. Acima dele há dois LEDs numa caixa denominada Akku: um verde, intitulado Ladung, e um vermelho, intitulado entladen . Uma parte quase vertical do painel frontal superior contém um medidor, com escala de 0 a 100; um interruptor, com as posições Ein e Aus; e um LED vermelho, marcado 0 ... 2,5 N (o que talvez simbolize newtons, uma unidade de força). Nenhum dos dois LEDs vermelhos se acendeu em algum momento de nossa investigação.

No decorrer de nossa experimentação inicial, verificamos que o medidor normalmente lê zero, e não se produz nenhum som audível. Segurando o sensor grande e cilíndrico (a que chamaremos de sensor de referência) e apertando a ponta do sensor de menor diâmetro (a que chamaremos de sensor ativo) contra partes da outra mão, provocamos uma deflexão do medidor e um som audível, saído de trás da unidade. Quanto mais fortemente pressionávamos o sensor ativo contra a pele, mais agudo e alto se tornava o som, e mais se defletia o medidor. Isto só ocorria quando se apertava o primeiro à esquerda dos oito botões, e o interruptor estava na posição Ein. Havia também um pequeno botão no sensor ativo. Apertá-lo fazia com que o medidor se movesse até o fim da escala ou além, independentemente de algum contato entre paciente e sensor. Para obter um ponto de partida consistente nos testes seguintes, sempre ajustamos o botão giratório para obter uma leitura de 100 com o botão do sensor calcado. Isto foi conseguido girando-se o botão até o fim em sentido anti-horário, ou até a posição de “clique”, que fica além deste ponto; qualquer rotação horária deste botão, quando abaixado o botão do sensor ativo, provocava uma deflexão do medidor além da escala.

Abrindo o Vegatest I, verificamos que continha uma placa de circuito impresso, que incluía, além de outros componentes de alta qualidade: quatro microcircuitos ("CMPS"); quatro potenciômetros de compensação, lacrados para preservar seus ajustes; uma fonte de alimentação; e uma bateria recarregável de 9 V. O dispositivo era muito bem construído. Nenhum dos cabos ou fios era blindado, um sinal de ausência de freqüências altas no circuito. A placa de circuito impresso aparentemente possuía capacidade de ligação a componentes adicionais; talvez estes sejam usados noutros modelos. Isto não é incomum. A traseira do favo consistia, como esperado, de metal sólido apenas. Fios não blindados ligam-se a dois pontos deste bloco. Um dos pontos de conexão possui dois fios: um leva à placa de circuito, e o outro, a um conector verde do tipo banana no painel lateral do instrumento.

O sensor ativo tem o tamanho duma caneta-tinteiro grossa. Possui um cilindro de metal e uma ponta de plástico cinza com um pequeno eletrodo esférico que se projeta pela frente. Desatarraxamos a ponta, e o eletrodo esférico saiu com ela (estava encaixado sob pressão na parte interna do eletrodo). A seguir, abrimos o sensor ativo; ele continha duas placas estreitas de circuito impresso, separadas por um microinterruptor numa extremidade e um pequeno bloco de cobre na outra. Tal como no próprio instrumento, estas placas tinham capacidade para componentes ou fios adicionais, não usados neste modelo. O eletrodo esférico encaixa-se sob pressão numa parte interna de cobre, que possui aproximadamente o tamanho e forma duma carga de caneta esferográfica. Uma mola de compressão na traseira desta parte parece manter o sensor retraído. Esta mola intrigou-nos, pois não haveria como o sensor projetar-se em uso normal; talvez a mola tivesse algum papel em estabelecer contato elétrico com a parte de cobre.

Não dispúnhamos de manual de uso do Vegatest I, mas apenas de alguma literatura promocional da Apex Energetics. Com o estojo aberto, realizamos várias medidas. Primeiramente, com a unidade fora da tomada, medimos a voltagem entre os pólos da bateria recarregável; a leitura desta bateria de 9 V foi 1,5 V, sugerindo que ela já não segurava carga. A seguir ligamos a unidade na tomada (ela não possui interruptor de liga/desliga), e a voltagem da bateria subiu até 16,5 V. Não conseguimos descobrir o propósito da bateria. Inserimos os dois sensores - ativo e passivo - e conectamo-los a um voltímetro. Sem contato com nenhum paciente, medimos 1,6 V de corrente contínua e cerca de 30 mV a 60 Hz (esta última voltagem, por ser muito menor que a de corrente contínua, devia-se, com toda probabilidade, a interferência acidental, de modo que desprezamos a voltagem alternada). Apertar o botão do sensor ativo, provocando uma leitura de 100 no medidor, fez com que a voltagem dos sensores caísse a zero; um curto-circuito entre os sensores produziu o mesmo resultado.

Conectamos uma década resistiva entre os sensores, e verificamos que 150 kohms provocavam uma leitura de 50 (metade da escala total) no medidor, e uma queda na voltagem contínua entre os sensores a 0.8 V (ou seja, à metade). Portanto, a impedância de fonte do instrumento, tal como verificada nos sensores, está em torno de 150 kohms. Valores de resistência mais altos fizeram cair a leitura do medidor (bem como o timbre e volume da saída de áudio), enquanto valores mais baixos resultaram em leituras e sons mais altos. A leitura do instrumento e a saída de áudio estavam diretamente relacionadas à magnitude da resistência entre os sensores. Não foi surpresa verificar que o deslocamento da ampola de vidro entre os vários orifícios do favo não influenciou as leituras.

Em seguida, ligamos o sensor ativo a um dinamômetro, de modo que pudéssemos apertá-lo contra uma das mãos usando uma força conhecida, enquanto segurávamos o sensor passivo na noutra mão (a firmeza do aperto desta, acima de um pequeno valor mínimo, não teve nenhum efeito). Verificamos que pressionar a ponta do sensor contra diversas partes da mão produziu efeitos diferentes. Alguns pontos exigiram uma força de 1 kgf ou mais para obter leituras significativas, enquanto outros pontos (principalmente o espaço interdigital, que tende a ser mais úmido) produziram a mesma leitura em resposta a forças entre 0,2 e 0,3 kgf. Pressionar o sensor com força constante produziu uma leitura que derivou um pouco para baixo num período de 10 a 15 segundos. Pressionar o sensor contra uma aliança de ouro (que tinha uma área de contato maior com o dedo) resultou em leitura mais alta e estável, por volta de 45. Molhar as mãos com pequena quantidade de soro fisiológico, deixando-as secar parcialmente, resultou em leituras mais altas para uma dada pressão.

Mover a ampola de vidro entre os vários orifícios do favo não teve efeito nas leituras obtidas com o sensor pressionado contra partes da mão (a pessoa que manipulava o frasco não era a mesma que segurava o sensor ativo). Este resultado concorda com o esperado, já que o favo era feito de um bloco sólido de metal, e principalmente porque a ampola era de vidro, um material não-condutor de eletricidade.

Conectamos de novo a década resistiva ao sensor, verificando que 500 kohms provocavam uma leitura de 22 e uma voltagem contínua de 1,26 V. Removemos o resistor e pressionamos o sensor ativo contra a mão dum sujeito, com força suficiente para conseguir uma leitura de 22. A voltagem contínua foi 1,26 V, a mesma obtida com o resistor.

Embora estejamos um tanto confusos quanto ao funcionamento do complicado circuito, e como uma “engenharia reversa” deste estava fora de nosso objetivo, as investigações acima descritas sugerem que o Vegatest I é meramente um instrumento medidor de resistência (talvez muito preciso). Não investigamos a função do painel com conectores bananas, que supostamente se destinam à conexão com outros eletrodos.

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O Sr. Mosenkis preside a CITECH , uma entre cerca de doze companhias credenciadas a avaliar novas propostas de equipamento médico enviadas à FDA. Serviu por muitos anos como editor de Health Devices (Equipamentos Médicos) , uma revista semelhante à Consumer Reports (Informações ao Consumidor), porém voltada para grandes compradores de equipamentos médicos.

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Este artigo foi publicado em 11 de setembro de 2001.
Tradução completada em 19 de julho de 2002.

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