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Síndrome do Intestino Irritável

Stephen Barrett, M.D.

A síndrome do intestino irritável -- também chamada cólon irritável ou espástico -- é uma desordem intestinal funcional comum caracterizada por desconforto abdominal recorrente e função intestinal anormal. O desconforto freqüentemente se inicia após a alimentação e desaparece após a evacuação intestinal. Os sintomas podem incluir cólicas, distensão abdominal, constipação, diarréia e uma sensação de evacuação incompleta. 

A síndrome ocorre em cerca de um em cada cinco americanos, mais comumente em mulheres, e mais freqüentemente em períodos de estresse emocional. Normalmente começa no final da adolescência ou início da vida adulta e raramente se inicia após os 50 anos de idade. Em casos severos, pode resultar em perda de dias de trabalho e restrição de atividades sociais. Apesar de existir tratamento para o problema, muitas das pessoas que apresentam a síndrome estão embaraçadas, pessimistas ou temerosas demais para buscar assistência médica. Ainda pior, algumas das pessoas que consultam um médico recebem orientação insuficiente e concluem que nada mais pode ser feito por elas. 

Por Que os Sintomas Ocorrem?

Durante a digestão normal, os alimentos são fracionados no estômago e intestino delgado de modo que seus nutrientes possam ser absorvidos pelo organismo. Então porções digeridas parcialmente ou não digeridas -- a maioria na forma líquida -- entram no intestino grosso (cólon) onde a maior parte da água é reabsorvida. O movimento ao longo dos intestinos resulta do peristaltismo, uma contração em forma de onda dos músculos das paredes intestinais que impulsiona seus conteúdos para frente. Quando tudo está bem, o resultado final são as fezes, que são sólidas mas macias o suficiente para serem excretadas facilmente. 

Dieta, hábitos alimentares, estresse e vários fatores ambientais podem interromper a função normal dos intestinos. Se os intestinos contraem demais ou não contraem o suficiente, os alimentos parcialmente digeridos podem viajar muito rapidamente ou muito lentamente através do sistema digestivo. O movimento sendo rápido demais resultará em diarréia, porque não é reabsorvida água suficiente. O movimento sendo lento demais pode resultar em constipação, porque muita água é absorvida. Contrações excessivamente fortes (espasmos) podem resultar em cólicas. Entretanto, a diarréia da síndrome também pode ocorrer sem dor. 

Os sintomas da síndrome do intestino irritável ocorrem após a alimentação por causa do reflexo gastrocólico -- aumento do movimento do conteúdo intestinal em resposta a entrada do alimento no estômago. A intensidade desse reflexo pode ser influenciada pelo volume e temperatura do alimento e o número de calorias. Refeições fartas (particularmente com alto teor de gordura) e grandes quantidades de bebidas frias podem disparar os ataques da síndrome. 

Avaliação Médica

Uma história e um exame físico completos devem ser obtidos. A extensão da avaliação posterior depende da idade, estado geral de saúde e sintomas do paciente. Se os sintomas estão presentes por um longo período de tempo e tem um padrão típico, o médico pode ser basear principalmente na descrição do paciente para diagnosticar o problema. Se os sintomas originaram-se recentemente, pode ser necessário realizar alguns exames para assegurar que uma infecção, inflamação ou tumor não seja o responsável pelos sintomas. Os exames podem incluir exame de sangue, exames de fezes, radiologias e colonoscopia (exame do cólon com um instrumento tubular oco inserido através do reto).

Dicas de Manejo

O primeiro passo no manejo da síndrome do intestino irritável deveria ser a identificação do que dispara os sintomas. Os fatores a considerar incluem intolerância alimentar, hábitos alimentares, fatores dietéticos, estresse emocional, hábitos de exercícios, uso de laxantes e ingestão de vitamina C. Pode ser útil manter um diário que relaciona os sintomas com as atividades diárias. 

Muitas pessoas com a síndrome tem dificuldade para digerir a lactose (açúcar do leite). Isto resulta de uma diminuição da lactase, uma enzima normalmente produzida pelas células da parede do intestino delgado. A lactase quebra o açúcar do leite em substâncias mais simples que são absorvidas para a corrente sangüínea. Quando não há lactase suficiente, a lactose não digerida pode fermentar no intestino grosso e causar náuseas, cólicas, distensão abdominal, flatulência e diarréia que inicia-se cerca de 30 minutos a 2 horas após consumir alimentos contendo lactose. A severidade dos sintomas varia com a quantidade de lactose que o indivíduo pode tolerar. Para determinar se a intolerância a lactose é um fator na síndrome, o paciente pode experimentar para ver se os sintomas estão relacionados com a ingestão de leite. Testes laboratoriais também podem ser úteis. Se a intolerância a lactose é significativa, pastilhas ou tabletes de lactase podem ser adicionados ao leite comum, pode ser substituído por produtos de baixo teor de lactose ou pode-se evitar laticínios (nestes casos o paciente deveria tomar suplementos de cálcio).

Distensão abdominal ou excesso de gases também podem estar relacionado aos hábitos alimentares e dieta. O uso de bebidas gaseificadas pode levar gás aos intestinos e causar dor abdominal. Comer ou beber rapidamente, mascar chicletes, fumar, inspirar ar pela boca quando nervoso ou usar próteses dentárias móveis pode levar a algumas pessoas a engolir grandes quantidades de ar, alguma parte alcança o intestino grosso. Os gases também podem ser produzidos por certos alimentos como feijões, cebolas, brócolis e repolho. Comer mais lentamente ou minimizar os alimentos formadores de gases pode ser útil. 

Uma vez que a cafeína pode aumentar a motilidade intestinal, as pessoas com a síndrome deveriam evitar ou minimizar o uso de bebidas que contém cafeína como o café e colas cafeínadas. A Frutose ou o sorbitol (um substituto do açúcar) podem induzir diarréia em algumas pessoas. Desde que os suplementos de vitamina C de 1 grama/dia ou mais podem causar diarréia, os pacientes com fezes amolecidas cronicamente deveriam ser aconselhados a parar de tomá-los. 

Retardos desnecessários da defecação deveriam ser evitados. Quando se sente um estímulo, deixar as fezes no cólon pode contribuir para a constipação porque quanto mais tempo o conteúdo permanecer no intestino, mais fluídos podem ser absorvidos. O uso de certos laxantes pode perpetuar a constipação porque o intestino grosso pode se tornar dependente deles. Pessoas com a síndrome não deveriam tomar laxantes fortes. 

Aumentar o conteúdo de fibras na dieta ou tomar um amolecedor de fezes como metilcelulose ou Psyllium pode ajudar a regular a atividade intestinal e reduzir tanto a constipação como a diarréia. O aumento da fibra dietética deveria ser feito gradualmente para dar tempo ao corpo de se ajustar. Existem medicamentos que são vendidos através de prescrição médica que diminuem o velocidade do movimento do alimento através do intestino ou para aliviar espasmos intestinais. 

Em pacientes com dor abdominal o uso medicamentos, um banho quente ou uma bolsa de água quente aplicada ao abdômen podem aliviar um ataque agudo. Anti-espasmódicos também podem prevenir os ataques. Se um certo tipo de atividade sabidamente dispara um ataque, usar um remédio anti-espasmódico antecipadamente pode prevenir problemas. Se fontes modificáveis de estresse podem ser descobertas, resolvê-las pode ajudar. Exercícios regulares também podem ajudar a normalizar a função intestinal.

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Artigo revisado em 19 de julho de 2003.

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