Quackwatch em português

Charlatanismo, Fraude e Métodos "Alternativos":
Definições Importantes

Stephen Barrett, M.D.
William T. Jarvis, Ph.D.

Tradutor: Francisco S. Wechsler, Ph.D.

Métodos que não se baseiam no saber científico vigente têm sido chamados por muitos nomes. Seus críticos, na maioria das vezes, usam um dos seguintes: "sem comprovação", "não convencional", "heterodoxo", "anticientífico", "não científico", "questionável", "duvidoso", "seita", "modismo", "fraudulento", "charlatão" e "charlatanismo". Seus proponentes preferem os termos: "não tradicional", "complementar", "holístico", "alternativo" e "integrado". Embora estes termos sejam usados freqüentemente um no lugar do outro, possuem diferenças significantes.

Charlatão originou-se na Renascença, quando o azougue ou mercúrio era um remédio popular contra a sífilis. Mascates, conhecidos como "ciarlatani", vendiam ungüentos à base de mercúrio. Afirmavam que seus preparados curavam qualquer doença. O termo deu origem a "charlatães", que se tornaram símbolo de prática médica nociva. Os dicionários geralmente definem "charlatão" como "pessoa que finge possuir habilidade médica especial". Esta definição implica intento de logro, o que não abrange os divulgadores de métodos não comprovados que acreditam no que fazem. Em 1984, o falecido congressista Claude Pepper e sua equipe definiram "charlatão" como "qualquer um que divulgue, com o propósito de lucro, procedimentos médicos ou remédios sabidamente falsos, ou que não sejam comprovados". Esta definição elimina a questão da intencionalidade.

Charlatanismo consiste na propaganda de serviço ou produto não comprovado. A palavra-chave é "propaganda", não "intento". (Charlatães charlam!)

Fraude é definida nos dicionários como "deturpação intencional da verdade com o propósito de ganho". A FDA definiu fraude como "divulgação dum remédio não comprovado com o propósito de lucro". Embora a definição da FDA elimine a questão da intencionalidade, alguns opõem-se a seu emprego, porque o emprego usual do termo "fraude" implica intenção de logro.

Anticientífico significa "contrário à evidência científica".

Não científico significa "sem base em enfoque científico".

Não convencional e heterodoxo são termos usados para denunciar o método em consideração. Ambos podem implicar falsamente que a ciência médica está presa a doutrinas estabelecidas e é rígida demais.

Seita é um sistema de saúde baseado num dogma anunciado por seu divulgador.

Modismo é um termo genérico usado para descrever disparates nutricionais. Os adeptos destes modismos caracterizam-se por sua crença exagerada na influência da dieta e nutrição sobre a saúde e doença.

Não comprovado tem menos conotações negativas que a maioria dos outros termos. Implica corretamente que, segundo as leis da ciência, cabe aos proponentes o ônus de provar que seus métodos funcionam. Métodos não comprovados que aparentam ser lógicos e compatíveis com o saber vigente não trazem conotação de charlatanismo.  Contudo, métodos que aparentam ser ilógicos e em conflito com o saber vigente devem ser vistos com grande suspeição e classificados com mais rigor.

Questionável e duvidoso geralmente significam "não comprovado, porém incompatível com fatos estabelecidos". A palavra "duvidoso" é usada pelos críticos que desejam tornar claro seu baixo conceito do método em questão.

Não tradicional sugere incorretamente que um método anticientífico é inovador, sugerindo ao mesmo tempo que a comunidade científica é tradicional (ou seja, acomodada, rígida e conservadora). Na verdade, a ciência é antagonista da medicina tradicional, pois destrói mitos antigos e estabelece novas perspectivas de cura. O termo "tradicional" está correto em relação à medicina popular. Os médicos populares é que são os tradicionalistas, não os médicos científicos. Uma parcela considerável de charlatanismo se origina do comércio da medicina popular tradicional e dogmas antigos.

Complementar e integrativo aplicam-se a sistemas propalados como sendo síntese de métodos padronizados e métodos alternativos, aproveitando o que ambos têm de melhor. Todavia, não há dados publicados que indiquem até que ponto os clínicos que usam estes rótulos empregam de fato métodos comprovados, ou até que ponto sobrecarregam os pacientes com métodos inúteis. Tipicamente, estes clínicos aplicam uma estratégia do tipo "se der cara, eu ganho; se der coroa, você perde", em que reivindicam o mérito por qualquer melhora experimentada pelo paciente, culpando os tratamentos padrões por quaisquer efeitos negativos. Isto poderá solapar a confiança do paciente no tratamento padrão, reduzindo sua cooperação ou fazendo-o abandoná-lo por completo.

Holístico implica que um enfoque é especial e mais completo, por tratar do "paciente como um todo", não apenas da doença. Contudo, bons médicos sempre dão atenção às preocupações sociais e emocionais do paciente, bem como a seus problemas físicos.

Alternativo tem dois significados possíveis. Empregado corretamente, refere-se a métodos que possuem o mesmo valor para um dado propósito. (Por exemplo, dois antibióticos capazes de matar um certo microorganismo.) Quando aplicado em relação a métodos sem comprovação, entretanto, este termo pode tornar-se enganoso, pois métodos inseguros ou ineficazes não constituem alternativas razoáveis a um tratamento comprovado. Para frisar o fato, colocamos a palavra "alternativo" entre aspas por todo este livro, sempre que aplicada a métodos sem base no saber científico vigente.

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Este artigo foi publicado em 3 de janeiro de 2001.
Tradução completada em 25 de julho de 2002.

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