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O Detector de Câncer LEC-03

Christopher U. Lehmann, M.D.

Tradutor: Francisco S. Wechsler, Ph.D.

O Detector de Câncer LEC-03 é divulgado como capaz de medir a velocidade de multiplicação de células cancerosas. Está sendo promovido pelo Laboratório Leszlauer de Pesquisa Eletrônica , uma companhia com sede em Budapeste, Hungria. Foi desenvolvido por Zoltán Leszlauer, que alega que este aparelho:

Análise das alegações

Certas propriedades elétricas das células tumorais diferem das dos tecidos normais circundantes. As células tumorais exibem maior permitividade (capacidade de resistir à formação dum campo elétrico) e maior condutividade elétrica. Cogita-se que estes fatos ocorram porque: a) as células cancerosas tendem a possuir maior conteúdo de sódio e água que as células normais; e b) suas membranas possuem propriedades eletroquímicas diferentes.

Uma corrente elétrica que flui através dum tecido biológico encontra resistência (impedância) mensurável. Quanto mais alta a concentração de sódio, potássio e outros íons, menor a resistência. Os pesquisadores crêem que o rastreamento por ressonância magnética (ERM) poderia ser empregado para detectar tais diferenças. Em experimentos de laboratório, verificou-se que os valores de impedância diferem entre tumores e tecidos normais [1]. Um estudo, por exemplo, achou diferenças entre amostras de câncer de mama, colhidas cirurgicamente, e o tecido normal circundante [2]. Os autores concluíram que estes resultados poderão levar ao desenvolvimento duma técnica não invasiva para detecção precoce do câncer de mama. É óbvio, contudo, que amostras cirúrgicas diferem de tecidos semelhantes em pacientes vivos, pois a temperatura e transporte sangüíneo alteram a impedância. Antes de concluirmos que determinações de impedância são úteis na detecção de câncer de mama, estudos em voluntários humanos deveriam demonstrar sua confiabilidade.

Ademais, experimentos preliminares baseados em simulações (não em pacientes reais) verificaram que a tomografia de impedância elétrica (TIE) poderia ser útil na detecção de câncer de mama. Esta técnica – que envolve mensurações múltiplas, que “mapeiam” os valores medidos – busca diferenças na impedância cutânea que poderiam acusar um tumor no tecido mamário subjacente [3]. O Detector de Câncer LEC-03 é um aparelho acoplado à extremidade dum tubo flexível. Não usa tomografia, mas baseia-se em sensores, que - segundo Leszlauer – são “colocados na membrana mucosa ou na ferida aberta”. Ele afirma, entretanto, que é preciso remover “pus, produtos químicos, crostas e camada ceratóide” antes de realizar o teste.

Nenhum aparelho rastreador é útil, a menos que produza resultados precisos e consistentes. Quando perguntei a Leszlauer sobre referências de ensaios independentes e controlados de seu equipamento, ele respondeu que até agora não se publicou, nem se está realizando nenhum ensaio clínico (ou algum outro experimento). Todavia, ele afirmou que: “Temos realizado experiências com o equipamento nos últimos 10 anos, e agora temos certeza de que ele funciona bem" [4].

Moral da história

Testes de laboratório conseguem verificar diferenças, ao comparar carcinoma de mama e de cólon [5], carcinoma de células basais [6], câncer de próstata [7] e condições pré-malignas, como esôfago de Barrett [8], com tecido normal. A aplicação prática, todavia, parece improvável. A detecção em humanos exigiria ajustes de acordo com diferenças de temperatura, mudanças no transporte sangüíneo local e outros fatores. Ademais, há experimentos que mostram que pólipos nasais [9] e traumatismo de tecidos alteram o teor de sódio e impedância das células, o que poderia interferir significativamente na precisão do rastreamento por impedância. Mesmo que estes problemas fossem superados, ainda assim seria necessário um diagnóstico do tecido para determinar a terapia apropriada. E, visto que o Detector de Câncer LEC-03 requer compressão das áreas suspeitas de câncer, seu uso poderia aumentar a disseminação de células cancerosas.

Referências

  1. Blad B, Baldetorp B. Impedance spectra of tumour tissue in comparison with normal tissue: A possible clinical application for electrical impedance tomography. Physiological Measurement 17 Suppl 4A:A105-115, 1996.
  2. Chauveau N and others. Ex vivo discrimination between normal and pathological tissues in human breast surgical biopsies using bioimpedance spectroscopy. Annals of the New York Academy of Sciences 873:42-50, 1999.
  3. Radai MM, Abboud S, Rosenfeld M. Evaluation of impedance technique for detecting breast carcinoma using a 2-D numerical model of the torso. Annals of the New York Academy of Sciences 873:360-369, 1999.
  4. Leszlauer Z. E-mail message to Christopher U. Lehmann, M.D., November 1, 1999.
  5. Soler AP and others. Increased tight junctional permeability is associated with the development of colon cancer. Carcinogenesis 20:1425-1431, 1999.
  6. Emtestam L and others. Electrical impedance of nodular basal cell carcinoma: A pilot study. Dermatology 197:313-316, 1998.
  7. Lee BR and others. Bioimpedance: novel use of a minimally invasive technique for cancer localization in the intact prostate. Prostate 39:213-218, 1999.
  8. Gonzalez-Correa CA and others. Virtual biopsies in Barrett's esophagus using an impedance probe. Annals of the New York Academy of Sciences 873:313-321, 1999.
  9. Bernstein JM and others. Nasal polyposis: immunohistochemistry and bioelectrical findings (a hypothesis for the development of nasal polyps). Journal of Allergy and Clinical Immunology 99:165-175, 1997.

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O Dr. Lehman, é neonatologista e professor-assistente no Departmento de Pediatria do Centro Médico da Universidade Johns Hopkins.

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Este artigo foi publicado em 12 de dezembro de 1999.
Tradução completada em 19 de julho de 2002.

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