Quackwatch em português

Terapia de Reposição Hormonal

Stephen Barrett, M.D.
Timothy N. Gorski, M.D., F.A.C.O.G. 

A menopausa é o completo desaparecimento dos ciclos mensais da mulher por 6 a 12 meses e é causada pelo declínio da produção dos hormônios estrogênio e progesterona pelos ovários. Quando os ovários são removidos, isso é chamado de "menopausa cirúrgica". A terapia de reposição hormonal (TRH) fornece a mulher pós-menopausa os hormônios ausentes embora não nas quantidades uma vez produzidas pelos ovários.

Cerca de 10 milhões de mulheres usam a TRH, fazendo dessas drogas uma das mais prescritas nos Estados Unidos. Entretanto, novos dados clamam por uma grande reavaliação desta situação. Em maio de 2002, o Women's Health Initiative (WHI) interrompeu parte de um grande estudo projetado para avaliar os benefícios e os riscos da TRH com uma combinação de estrogênio e progesterona. O grupo de estudo que foi interrompido incluía mais de 16.000 mulheres com idades entre 50 e 79 anos cujos úteros estavam intactos quando o estudo começou. Os pesquisadores examinaram o equilíbrio entre riscos e benefícios para doenças coronarianas, câncer de mama, derrame, embolia pulmonar, câncer de endométrio, câncer colorretal, fratura de quadril e morte devido a outras causas.

Após uma média de 5,2 anos de acompanhamento, os dados mostraram aumento no risco de câncer de mama, doença cardíaca e derrame, porém diminuição do risco de câncer de cólon e reto, câncer de útero, fratura de quadril e mortes por outras causas. Os únicos achados estatisticamente significativos, entretanto, foram redução do risco de fratura e câncer de cólon e reto. Não houve nenhum efeito visto no risco geral de câncer, morte por câncer, ou morte por qualquer outra causa. Outro grupo do estudo em que as mulheres tomaram somente estrogênio está em andamento com nenhuma preocupação surgida quando a possibilidade de aumento de riscos de doenças graves. Os pesquisadores concluíram que a THR com combinação de estrogênio e progesterona (a) não deve ser usada de modo generalizado em mulheres pós-menopausa e (b) não deve ser iniciada ou mantida para propósito de prevenir doença coronariana em mulheres aparentemente saudáveis. Eles também concluíram que os riscos devem ser considerados quando escolher entre as drogas disponíveis para prevenir osteoporose [1]. Um editorial que acompanhava o estudo [2] concluiu:

O que as mulheres devem fazer? Para começar, devem perceber que a exemplo da maioria das pesquisas científicas, há problemas com os dados da WHI que possibilita-os de serem interpretados de várias maneiras. A idade média em que mulheres neste estudo começaram a usar TRH, por exemplo, foi de 63,3 anos, muito além da idade na qual as mulheres comumente iniciam a reposição hormonal. Além disso, devido o estudo ter durado somente 5,2 anos, quase todos os casos extra de cânceres de mama teriam que pré-existir ao início do tratamento baseado no que se sabe a respeito da biologia do câncer de mama. Também foi demonstrado que mulheres diagnosticadas com câncer de mama enquanto usavam a TRH tiveram um melhor prognóstico comparando com as que não usaram a TRH na época do diagnóstico. Outro problema sério com o estudo é que as taxas nas quais as mulheres escolheram seja para iniciar ou interromper o uso de estrogênio por sua própria vontade foi alto e excedeu as projeções de metodologia do estudo. Muitas outras questões também surgiram em scores de cartas aos editores e artigos adicionais na literatura médica. Embora isso possa parecer confuso para consumidores, é assim que a ciência médica real funciona. 

Outro exemplo das limitações da pesquisa médica é mostrada em um subseqüente relatório da WHI, o Women's Health Initiative Memory Study (WHIMS). Embora relatórios prévios tenham mostrado melhora na função mental entre mulheres usuárias da TRH e sugerido um menor risco de doença de Alzheimer entre usuárias de TRH, os dados da WHIMS não mostraram. De fato, o WHIMS encontrou um risco significativamente maior de doença de Alzheimer entre mulheres usuárias de TRH [6]. Mas, a exemplo dos dados prévios da WHI, a idade média de mulheres estudadas foi de 65, consideravelmente além da idade média da menopausa. É ainda possível -- e alguns pensam similarmente -- que a TRH possa prevenir a doença de Alzheimer se iniciada mais cedo. 

A Linha Final 

A coisa mais importante para mulheres que podem ser candidatas a TRH é manter em mente que o objetivo da boa assistência médica é proporcionar uma vida tão longa e saudável quanto possível e não apenas evitar uma doença em particular. Além disso, estrogênio e progesterona são hormônios normais do organismo que são conhecidos como importantes para o funcionamento de muitos tecidos do organismo em mulheres mas que também afetam o risco de doenças. Por exemplo, a TRH reduz o risco de câncer de cólon e reto, uma forma mais mortal de câncer do que o câncer de mama, embora o câncer de mama seja mais comum. Enquanto isso, é sabido há muitos que o risco de câncer de mama é aumentado pelo início precoce dos períodos menstruais, uma idade avançada de menopausa, não engravidar ou uma gravidez tardia e ausência de amamentação. Mulheres com um risco aumentado de câncer de mama podem até mesmo reduzir seu risco ao se submeterem a remoção de seus ovários [7]. O mesmo é igualmente verdadeiro para as outras mulheres, mas parece improvável que muitas fosse escolher a castração simplesmente para reduzir o risco de câncer de mama. Por fim, deve ser lembrado que a vida é cheia de riscos e o desafio é administrar o risco uma vez que raramente pode ser eliminado.  

Embora o relatório dos resultados do grupo de TRH do estudo WHI levante preocupações legítimas, não mostrou excesso de mortes entre usuárias do tratamento combinado de TRH e não se aplica a todas situações clínicas. Entretanto, a doença cardiovascular permanece a principal causa de morte em mulheres, bem como em homens, e os fatores de risco mais importantes para doença cardiovascular têm pouco a haver com o estado hormonal. Portanto, no que se refere a TRH, as mulheres deveriam reavaliar suas circunstâncias individuais com um médico conhecedor do assunto para determinar se a TRH é importante e necessária como parte de uma estratégia geral para otimizar a saúde e reduzir o risco de problemas de saúde e morte prematura.

Referências

  1. Writing Group for the Women's Health Initiative Investigators. Risks and benefits of estrogen plus progestin in healthy postmenopausal women: Principal results from the Women's Health Initiative Randomized Controlled Trial. JAMA 288:321-333, 2002.
  2. Fletcher SW, Colditz GA. Failure of estrogen plus progestin therapy for prevention. JAMA 288:366-368, 2002.
  3. Schairer C and others. Menopausal estrogen and estrogen-progestin replacement therapy and breast cancer risk.
    JAMA 283:485-491, 2000.
  4. Ross RK and others. Effect of hormone replacement therapy on breast cancer: estrogen versus estrogen plus progestin. Journal of the National Cancer Institute 92:328-332, 2000.
  5. Chen CL and others. Hormone replacement therapy in relation to breast cancer. JAMA 287:734-741, 2002.
  6. Rapp SR and others. Effect of estrogen plus progestin on global cognitive function in postmenopausal women: The Women's Health Initiative Memory Study: A randomized controlled trial. JAMA 289:2663-2672, 2003.
  7. Rebbeck TR and others. Prophylactic oophorectomy in carriers of BRCA1 or BRCA2 mutations. New England Journal of Medicine 346:1616-1622, 2002.

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Artigo atualizado no site original em 3 de junho de 2003.
Atualizado em português em 6 de dezembro de 2003.

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