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Escoliose: Uma Abordagem Sensata 

Mark S. Rosenthal, M.D.

Existem diversos tipos de escoliose. Felizmente, a maioria é rara. O tipo habitual é a "escoliose idiopática", assim chamada porque se desconhece sua causa. Afeta cerca de 4% da população, mas é mais comum entre as mulheres. A escoliose idiopática normalmente se inicia entre os 10 e 12 anos de idade. Conforme a criança vai crescendo, há uma chance de que a curvatura possa progredir (piorar). A maioria das curvaturas não irá piorar durante a adolescência e pioras após o crescimento estar completo são incomuns. 

Outros tipos de escoliose incluem a congênita (causada por uma malformação óssea que está presente ao nascimento); neuromuscular (devido a uma doença neuromuscular como uma paralisia cerebral, distrofia muscular, etc.); adquirida (após uma fratura, radioterapia para o câncer, etc.); e juvenil. A escoliose juvenil é similar à escoliose do adolescente, mas tem uma chance maior de progredir. 

Antes de considerar os tratamentos para a escoliose, é importante conhecer a história natural da doença (o que acontece se for deixada sem tratamento). Curvaturas que medem 10 graus ou menos são consideradas "normais" e não interferem com a força, mobilidade articular, resistência ou qualquer outra função do corpo. Elas não são escolioses verdadeiras, praticamente nunca progridem, e não aumentam a probabilidade de desenvolver dores nas costas, artrite, hérnia de disco ou qualquer problema musculo-esquelético. O tratamento das curvaturas escolióticas de 10 graus ou menos são desse modo desnecessárias. Algumas vezes essas colunas com curvaturas mínimas podem até mesmo se endireitarem sozinhas. 

Curvaturas que medem entre 10 e 20 graus merecem observação. Estas se comportam de uma maneira muito parecida com aquelas abaixo dos 10 graus (e assim não causariam problema algum mais tarde na vida), exceto que podem progredir durante o crescimento. Por esse motivo, se um paciente parou de crescer e tem uma curvatura com menos de 20 graus, nenhum tratamento ou seguimento posterior são necessários. Uma criança com uma curvatura entre 10 e 20 graus deve ser examinada periodicamente e iniciar o tratamento se a curvatura exceder os 20 graus (ou, dependendo de outros fatores, como a localização, 25 graus). Curvaturas que são descobertas quando excedem os 20 graus deveriam ser tratadas imediatamente, se ainda há um potencial para crescimento. 

Opções de Tratamento

As opções de tratamento incluem coletes e cirurgia. Os coletes funcionam bem para curvaturas de até 45 graus. Quanto menor a curvatura, mais eficaz será o colete. Acima de 45 graus, um colete será ineficaz , e a cirurgia é o tratamento de escolha. A detecção precoce e o tratamento com um colete pode desse modo prevenir pioras que exigiriam cirurgia. 

Devido ao fato dos coletes funcionarem muito bem se o tratamento for iniciado precocemente, a detecção precoce das curvaturas deveria ser um objetivo maior. Os médicos, especialmente ortopedistas, têm instituído nos EUA agressivas campanhas educacionais para elevar as chances de que crianças com curvaturas significativas sejam localizadas precocemente. A Scoliosis Research Society e a American Academy of Orthopaedic Surgeons têm promovido essas campanhas. Os pediatras agora rotineiramente rastreiam crianças de uma forma regular. Programas de rastreamento escolar são quase universais por todo os Estados Unidos. Como esses programas se tornaram mais prevalentes, as taxas de cirurgias caíram dramaticamente. A cirurgia está reservada para aquelas crianças cujas curvaturas foram descobertas quando estavam grandes demais para um colete, ou aproximadamente10% das crianças que não obtiveram sucesso do tratamento com o colete.

A profissão médica gostaria de poder oferecer um tratamento que fosse mais fácil e mais agradável que um colete. Muito esforço e pesquisa têm sido feito para desenvolver coletes mais confortáveis e mais eficazes, de modo que o tratamento seja mais tolerável e a cirurgia possa ser evitada. Com o passar dos anos muitos tratamentos alternativos têm sido propostos. Os quais incluem manipulação da coluna vertebral, massagens, exercícios e estimulação elétrica. Infelizmente, quando submetidas a testes científicos rigorosos, estas abordagens mostraram-se inúteis ou muito menos eficazes que os coletes. A cirurgia é o único método de tratamento que pode significativamente diminuir a magnitude de uma curva escoliótica. O objetivo do colete é interromper a progressão da curvatura. Lembre-se de que um paciente com uma curvatura mantida em um grau pequeno é indistinguível de um paciente que não apresenta nenhuma curvatura. Para a maioria dos pacientes não há vantagem alguma em reduzir a magnitude da curvatura. 

Curvaturas de 60 graus ou mais, as quais são raras, apresentam problemas especiais. Mesmo após a criança parar de crescer, há uma forte probabilidade da curva continuar a progredir. Isto leva uma deformidade significativa do tórax e interfere com as funções cardíaca e pulmonar. Os músculos são deslocados e podem causar dor. Com o tempo, as forças desiguais sobre a coluna vertebral levam à artrite. Nenhum outro tratamento, com a exceção da cirurgia, jamais demonstrou funcionar para estes pacientes. 

A Linha Final

A principal linha do manejo da escoliose é a detecção precoce. Se a curvatura progredir a ponto de ser necessário tratar, um colete é prescrito. Em 90% destes casos, um colete funcionará muito bem. Programas de rastreamento da escoliose têm reduzido drasticamente o número de crianças que necessitam de cirurgias. 

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Dr. Rosenthal, conselheiro do Quackwatch, é professor assistente de ortopedia na faculdade de medicina da University of Maryland em Baltimore, Maryland, EUA.

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