A terapia crânio-sacral é um entre muitos termos usados para descrever uma variedade de métodos baseados em alegações fantásticas de que:
A maioria dos praticantes é formada por osteopatas, massoterapeutas, quiropráticos, dentistas ou fisioterapeutas. Os outros termos usados para descrever o que fazem incluem osteopatia cranial, terapia cranial, terapia bio cranial e duas variantes quiropráticas chamadas craniopatia e técnica sacro occipital (SOT, na sigla em inglês).
A terapia crânio-sacral foi criada pelo osteopata William G. Sutherland, que publicou seu primeiro artigo sobre o assunto no início da década de 1930. Atualmente o principal divulgador é osteopata John Upledger, DO, que administra o Upledger Institute de Palm Beach Gardens, Flórida. Várias publicações do Instituto têm alegado:
- A Terapia Crânio-Sacral é uma técnica suave e não invasiva de manipulação. Raramente o terapeuta aplica uma pressão que exceda cinco gramas ou o peso equivalente a um níquel. O exame é feito testando-se o movimento em várias partes do sistema. Freqüentemente, quando o teste de movimento está completo, a restrição foi removida e o sistema é capaz de se corrigir [1].
O ritmo do sistema crânio-sacral pode ser captado de uma maneira bastante similar aos ritmos dos sistemas respiratório e cardiovascular. Porém diferente destes sistemas do corpo, tanto a avaliação como a correção do sistema crânio-sacral pode ser alcançada através da palpação. A Terapia Crânio-Sacral é usada para uma miríade de problemas de saúde, incluindo dores de cabeça, dor cervical e dor nas costas, disfunção de ATM, fadiga crônica, dificuldades de coordenação motora, problemas oculares, depressão endógena, hiperatividade, desordem de déficit de atenção, desordens do sistema nervoso central e muitos outros problemas [2].
Atualmente os profissionais contam com a Terapia Crânio-Sacral para melhorar o funcionamento do sistema nervoso central, eliminar os efeitos negativos do estresse, fortalecer a resistência à doenças, e melhor a saúde de um modo geral [3].
Usando um toque suave geralmente inferior a 5 gramas, ou aproximadamente o peso de um níquel, profissionais liberam restrições no sistema crânio-sacral para melhorar o funcionamento do sistema nervoso central. Por complementar os processos naturais de cura do corpo, a TCS está cada vez mais sendo usada como uma medida preventiva de saúde por sua capacidade de manter a resistência a doenças, e é eficiente para uma ampla gama de problemas médicos associados com dores e disfunção, incluindo: enxaquecas; dores cervicais e nas costas crônicas; disfunções de coordenação motora; cólica; autismo; desordens do sistema nervoso central; problemas ortopédicos; traumatismos cranianos e lesões da medula espinhal; escoliose; desordens infantis; desordens de aprendizado; fadiga crônica; dificuldades emocionais; estresse e problemas relacionados a tensões; fibromialgia e outras desordens de tecido conjuntivo; síndrome da articulação temporomandibular (ATM); desordens neurovasculares ou imunológicas; desordem do estresse pós traumático; disfunção pós-operatória [4].
O Upledger Institute também defende e ensina a "manipulação visceral," um sistema bizarro de tratamento cujos praticantes alegam detectar "movimentos rítmicos" dos intestinos e outros órgãos internos e manipulá-los para "melhorar o funcionamento de órgãos individuais, os sistemas aos quais os órgãos pertencem, e a integridade estrutural do corpo inteiro." [5]
Algumas das crenças de Upledger estão entre as mais estranhas que já encontrei. No capítulo 2 de seu livro, CranioSacral Therapy: Touchstone of Natural Healing, ele descreve, como descobriu e comunica-se com o que ele chama de o "Médico Interior" do paciente:
Por conectar-se profundamente com um paciente enquanto fazia a terapia crânio-sacral, foi possível na maioria dos casos entrar em contato com o Médico Interior do paciente. Também tornou-se claro que o Médico Interior pode tomar qualquer forma que o paciente pudesse imaginar -- uma imagem, uma voz ou uma sensação. Normalmente uma vez que a imagem do Médico Interior aparecia, estava pronta para dialogar comigo e responder perguntas sobre as causas subjacentes dos problemas de saúde do paciente e o que pode ser feito para solucioná-los. Também ficou claro que quando a conversa com o Médico Interior era autêntica, o sistema crânio-sacral entrava em um padrão de sustentação [6].
O capítulo prossegue descrevendo o atendimento de Upledger a um bebê francês de 4 meses que estava "mole como uma boneca de trapo." Embora o bebê nunca tenha sido exposto ao idioma inglês, Upledger decidiu ver se o "Médico Interior" do bebê se comunicaria com ele através do sistema crânio-sacral:
Pedi alto em inglês que o ritmo crânio-sacral parasse se a resposta a uma pergunta fosse "sim" e não parasse se a resposta fosse "não." O ritmo parou por cerca de dez segundos. Considerei isso como uma indicação de que eu estava sendo compreendido. Perguntei então se era possível durante esta sessão que o ritmo apenas parasse em resposta as minhas perguntas e não por outras razões, como posição do corpo, etc., O ritmo parou novamente. Isso me deu mais confiança. Prossegui [6].
Usando "respostas do tipo sim e não", Upledger disse, descobriu que o problema era "uma toxina que foi inalada pela mãe. . . por um período de aproximadamente duas horas e meia enquanto limpava um antigo motor de automóvel" durante o quarto mês de gravidez. Depois "perguntando a respeito de vários detalhes" sobre o que deveria fazer, foi dito a Upledger que "bombeasse os ossos parietais que formam uma grande parte do telhado do crânio, e que passasse bastante da minha energia através do cérebro a partir da parte de trás do crânio até a frente." Conforme fazia isso, Upledger freqüentemente verificava com "Médico Interior" do bebê. Após cerca de uma hora, Upledger disse, o bebê começou a se mover normalmente [6].
Em julho de 2003, uma quiroprático da Pensilvânia foi condenada por fraude no seguro em conexão com a morte de uma mulher epiléptica de 30 anos que ela tratou com terapia cranial. A documentação do tribunal indicou que a paciente morreu por convulsões severas após seguir o conselho da quiroprática para que interrompesse o uso de sua medicação anticonvulsivante. A fraude envolvia o envio de pedidos falsos de seguro descrevendo o "equilíbrio meningeal" de Upledger como manipulação espinhal [7].
O osteopata britânico Robert Boyd, quem desenvolveu uma variante chamada por ele de Terapia Bio Cranial, a qual -- de acordo com o site da International Bio Cranial -- é "extremamente útil" para "síndrome da fadiga crônica (CFS); varicoses e úlceras varicosas; zumbidos; prolapso de bexiga; desordens da próstata; síndrome de Menieré; distúrbios cardiovasculares incluindo hipertensão, angina; desordens da pele (psoriasis, eczema, acne, etc); desordens femininas (disminorréia, SPM (TPM), menorragia, etc); artrite e desordens reumáticas; fibromialgia e esporões calcâneos; desordens gástricas(Hérnia de hiato, ulcerações, colite); asma e um série de desordens brônquicas incluindo bronquiectasia e enfisema." [8]
A técnica sacro-occiptal (SOT) combina teorias sobre a pressão do fluido espinhal com teorias quiropráticas sobre "pressão nervosa" como uma causa de doenças. Os quiropráticos que defendem a SOT alegam detectar "bloqueios" ao sentir o crânio e a coluna vertebral e medir os comprimentos das pernas [9].
Eu não acredito que a terapia crânio-sacral tenha qualquer valor terapêutico. Sua teoria subjacente é falsa porque os ossos do crânio se unem por volta do fim da adolescência e nenhuma pesquisa jamais demonstrou que manipulação manual possa mover os ossos individuais do crânio [10]. Tampouco acredito que "os ritmos do sistema crânio-sacral podem ser sentidos tão claramente quanto os ritmos dos sistemas respiratório e cardiovascular", como é alegado por outro livreto do Upledger Institute [11]. O cérebro de fato pulsa, mas isto está exclusivamente relacionado ao sistema cardiovascular [12], e nenhuma relação entre pulsação do cérebro e saúde geral foi demonstrada.
Há alguns anos, três fisioterapeutas que examinaram os mesmos 12 pacientes diagnosticaram "taxas crânio-sacrais" significativamente diferentes, que é o resultado esperado ao se medir um fenômeno inexistente [13]. Outro estudo comparou a "taxa crânio-sacral" medida na cabeça e pés de 28 adultos por dois examinadores e descobriu que os resultados foram altamente inconsistentes [14].
Em 1999, após fazer uma revisão abrangente dos estudos publicados, o British Columbia Office of Health Technology Assessment (BCOHTA) concluiu que a teoria é inválida e que os praticantes não podem medir de maneira confiável o que alegam estar modificando. O relatório de 68 páginas conclui que "há evidência insuficiente para recomendar a terapia crânio-sacral aos pacientes, profissionais, ou convênios médicos". [15]
Em 2002, dois professores de ciência básica da Faculdade de Medicina Osteopática da University of New England concluíram:
Nossos próprios resultados publicados previamente sugerem que o mecanismo proposto para osteopatia cranial é inválido e que a confiabilidade do exame interior (e, portanto, do diagnóstico) é de aproximadamente zero. Desde que nenhum resultado de estudos adequadamente randomizados, cegos e placebo-controlados foi publicado, concluímos que a osteopatia cranial deveria ser retirada dos currículos de faculdades de medicina osteopática e dos exames de licenciamento de osteopatas [10].
Eu certamente concordo! Aliás, acredito que a maioria dos praticantes de terapia crânio-sacral tem um julgamento tão pobre que deveriam perder suas licenças.