Quackwatch em portugu�s

Como o Charlatanismo Vende

William T. Jarvis, Ph.D.
Stephen Barrett, M.D.

Os charlat�es modernos s�o vendedores fant�sticos. Jogam com o medo. Fornecem esperan�a. E depois que te fisgam, far�o voc� voltar por mais    . . . e mais . . . e mais. Raramente suas v�timas percebem quantas vezes ou qu�o habilmente s�o enganadas. A m�e que se sente bem ao dar ao seu filho um comprimido de vitamina j� pensou em perguntar para si mesma se ele realmente precisa disso? Assinantes das publica��es de "alimentos naturais" percebem que os artigos est�o inclinados a estimular os neg�cios para seus anunciantes? Normalmente n�o. 

A maioria das pessoas acha que o charlatanismo � f�cil de se identificar. Mas n�o �. As pessoas que o promovem vestem o manto da ci�ncia. Usam termos e cita��es (ou distor��es de cita��es) de refer�ncias cient�ficas. Em programas de entrevistas, podem ser apresentados como "cientistas � frente de seu tempo". A pr�pria palavra "charlat�o" auxilia em sua camuflagem por nos fazer pensar em um personagem bizarro vendendo ung�entos, garrafadas, t�nicos em cima de uma carro�a -- e, � claro, nenhuma pessoa inteligente compraria esses produtos nos dias de hoje, compraria?

Bem, talvez, garrafadas n�o estejam vendendo muito bem, ultimamente. Mas e a acupuntura? E os alimentos "org�nicos"? E a an�lise do cabelo? E o �ltimo livro de regime? E as megavitaminas? E as "f�rmulas para combater o estresse"? E os ch�s que baixam o colesterol? E os rem�dios homeop�ticos? E as "curas" da AIDS pela nutri��o? Ou as inje��es que lhe d�o "energia"? Os neg�cios est�o prosperando para os charlat�es da sa�de. Suas rendas anuais est�o na casa dos bilh�es! Redutores de manchas, "estimuladores imunol�gicos", purificadores d'�gua, "ajudas ergog�nicas", sistemas para "equilibrar a qu�mica corporal", dietas especiais para artrite. A lista de produtos � intermin�vel. 

O que vende n�o � a qualidade de seu produtos, mas a habilidade para influenciar seu p�blico. Para aqueles que sentem dor, eles prometem al�vio. Para os incur�veis, oferecem esperan�a. Para os preocupados com a nutri��o, eles dizem, "Assegure-se de ter o suficiente". Para um p�blico preocupado com a polui��o, eles dizem, "Compre produtos naturais". Para todos, prometem uma sa�de melhor e uma vida mais longa. Os charlat�es modernos tocam as pessoas emocionalmente. Este artigo mostra de que maneira eles fazem isto. 

Apelos � Vaidade

Uma atraente e jovem comiss�ria de bordo disse uma vez a um m�dico que ela estava tomando mais de 20 comprimidos de vitaminas por dia. "Costumava me sentir meio por baixo o tempo todo", afirmou, "mas agora me sinto bem mesmo!"

"Sim ", o m�dico respondeu, "mas n�o existe nenhuma evid�ncia cient�fica de que doses extras de vitaminas possam fazer isso. Por que voc� n�o toma os comprimidos um m�s e p�ra no outro, para ver se eles realmente ajudam voc� ou se foi apenas uma coincid�ncia? Afinal, 300 d�lares por ano � muito dinheiro para se jogar fora". 

"Veja, doutor", disse ela. "Tanto faz o que o senhor diz. EU SEI que os comprimidos est�o me ajudando".

Como foi que esta jovem inteligente se converteu em uma crente fiel? Em primeiro lugar, um apelo a sua curiosidade a convenceu a experimentar. Ent�o um apelo a sua vaidade a convenceu a menosprezar a evid�ncia cient�fica em favor da experi�ncia pessoal -- para pensar por ela mesma. A id�ia de suplementa��o alimentar � refor�ada pelo conceito distorcido da individualidade bioqu�mica -- de que todas as pessoas s�o �nicas o suficiente para menosprezar a Ingest�o Di�ria Recomendada (as IDRs). Os charlat�es n�o dizem que os cientistas deliberadamente estabelecem as IDRs altas o suficiente para superar as diferen�as individuais. Um apelo deste tipo, s� que mais perigoso, � a sugest�o de que apesar de um rem�dio para uma doen�a grave pare�a n�o funcionar para outras pessoas, ainda pode funcionar para voc�. (Voc� � extraordin�rio!) 

Um apelo mais sutil a sua vaidade aparece na mensagem dos an�ncios charlatanescos da TV: Fa�a voc� mesmo -- seja seu pr�prio m�dico. "Algu�m aqui j� teve 'sangue cansado?'", perguntava. (Mas, n�o se d� ao trabalho de descobrir o que est� errado com voc�. S� experimente meu t�nico.) "Preocupado com a irregularidade?" ele pergunta. (N�o d� aten��o aos m�dicos que dizem que voc� n�o precisa de uma atividade intestinal di�ria. Apenas use meu laxante.) "Quer matar os germes que est�o em contato com sua pele?" (Tudo bem que os antiss�pticos bucais n�o previnem resfriados.) "Problemas para dormir?" (N�o se d� ao trabalho de resolver o problema de base. S� experimente meu sedativo.)

Transformando Compradores em Vendedores 

A maioria das pessoas que cr�em ter sido auxiliadas por um m�todo n�o ortodoxo gostam de compartilhar suas hist�rias de sucesso com os amigos. As pessoas que d�o tais testemunhos s�o normalmente motivadas por um desejo sincero de ajudar seus semelhantes. Raramente elas percebem como � dif�cil avaliar um "medicamento" tendo como base suas experi�ncias pessoais. Assim como a comiss�ria, a pessoa comum que se sente melhor depois de tomar um produto n�o ser� capaz de excluir a coincid�ncia (remiss�o espont�nea) -- ou o efeito placebo (sente-se melhor porque acha que deu um passo positivo). Uma vez que tendemos a acreditar naquilo que os outros nos dizem por experi�ncia pessoal, os testemunhos podem ser armas poderosas de persuas�o. Apesar de n�o serem confi�veis, os testemunhos s�o a base do sucesso dos charlat�es. 

Empresas de multin�vel, que vendem produtos nutricionais sistematicamente transformam seus compradores em vendedores. "Quando voc� compartilha nossos produtos," diz o manual de vendas de uma dessas empresas, "voc� n�o est� apenas vendendo. Voc� est� transmitindo not�cias sobre produtos nos quais acredita para pessoas que s�o importantes para voc�. Fa�a uma lista das pessoas que conhece, voc� ir� se surpreender como ela pode ser longa. Esta lista � sua primeira fonte de compradores em potencial". Um l�der em vendas de outra companhia sugere: "Responda a todas obje��es com testemunhos. Eis o segredo para motivar as pessoas!"

N�o se surpreenda se algum dos seus amigos ou vizinhos tentarem lhe vender vitaminas. S� nos EUA existem mais de um milh�o de pessoas que se filiaram a distribuidores multin�vel. Como muitos viciados em drogas, eles se tornam fornecedores para sustentar seus h�bitos. Um chav�o t�pico de vendedor � mais ou menos assim: "Voc� n�o gostaria de ter uma apar�ncia melhor, sentir-se melhor e ter mais energia? Experimente minhas vitaminas por algumas semanas". As pessoas normalmente t�m altos e baixos e a demonstra��o de interesse ou a sugest�o de um amigo, ou o pensamento de estar dando um passo positivo, podem de fato fazer uma pessoa se sentir melhor. Muitas das pessoas que experimentam vitaminas pensar�o erroneamente que foram ajudadas -- e continuar�o a comprar as vitaminas, normalmente por altos pre�os.  

O Uso do Medo

A venda de vitaminas se tornou t�o lucrativa que algumas empresas outrora respeit�veis est�o promovendo vitaminas com alega��es enganosas. Por exemplo, por muitos anos,  Lederle Laboratories (fabricante da Stresstabs) e Hoffmann-La Roche anunciaram nas principais revistas que o estresse "rouba" vitaminas do corpo e cria um s�rio risco de defici�ncia vitam�nica. 

Outra maneira esperta para o charlatanismo atrair compradores � a doen�a inventada. Virtualmente todo mundo tem sintomas de algum tipo-- dores e indisposi��es, rea��es ao estresse ou varia��es hormonais, efeitos do envelhecimento, etc. Rotular esses altos e baixos da vida como sintomas de doen�as possibilita ao charlat�o oferecer um "tratamento". 

Alimentos seguros e prote��o do meio-ambiente s�o assuntos importantes na nossa sociedade. Mas ao inv�s de abord�-los logicamente, os charlat�es da alimenta��o exageram ou simplificam demais. Para promover alimentos "org�nicos", agrupam todos os aditivos em uma classe e atacam todos como "venenosos". Nunca mencionam que as subst�ncias t�xicas naturais s�o evitadas ou destru�das pela tecnologia alimentar moderna. Tampouco revelam que muitos aditivos s�o subst�ncias que existem na natureza.

O a��car tem sido objeto de um ataque particularmente maldoso, sendo (falsamente) responsabilizado por muitas das doen�as do mundo. Mas os charlat�es fazem mais que alertar sobre doen�as imagin�rias. Eles vendem "ant�dotos" para as verdadeiras. Precisa de alguma vitamina C para reduzir os malef�cios do fumo? Ou alguma vitamina E para combater os poluentes do ar? Procure seu supervendedor local. 

A forma mais grave de charlatanismo do vendedor-aterrorizador tem sido o ataque � coloca��o de fl�or n'�gua. Apesar da seguran�a da fluoreta��o estar estabelecida sem d�vida cient�fica, campanhas bem planejadas para amedrontar t�m influenciado milhares de comunidades a n�o corrigirem a concentra��o de fl�or de suas �guas para prevenir c�ries. Em conseq��ncia milh�es de crian�as inocentes est�o sofrendo. 

Esperan�a � Venda

Desde a antiguidade, as pessoas procuram por pelo menos quatro po��es m�gicas diferentes: a po��o do amor, a fonte da juventude, a cura para tudo e a super-p�pula atl�tica. O charlatanismo sempre esteve disposto a realizar estes desejos. Costumavam oferecer chifre de unic�rnio, elixires especiais, amuletos e infus�es m�gicas. Os produtos de hoje s�o as vitaminas, p�len de abelha, ginseng, Gerovital, pir�mides, "extratos glandulares", tabelas de biorritmo, aromaterapia e muito mais. Mesmo produtos respeit�veis s�o promovidos como se fossem po��es. Cremes dentais e col�nias melhoram sua vida amorosa. Lo��es capilares e produtos para pele nos far�o parecer "mais jovens do realmente somos". Atletas ol�mpicos nos dizem que cereais no caf� da manh� nos far�o campe�es. E jovens modelos nos afirmam que os fumantes s�o sexy e divertidos. 

A falsa esperan�a para doentes graves � a forma mais grave de charlatanismo porque pode afastar as v�timas para longe do tratamento eficaz. Contudo, mesmo quando a morte � inevit�vel, a falsa esperan�a pode fazer um grande estrago. Os especialistas que estudam o processo da morte afirmam que a rea��o inicial � o choque e a descren�a, mas a maioria dos pacientes terminais se ajustar�o muito bem desde que n�o se sintam abandonados. As pessoas que aceitam a realidade de seu destino n�o apenas morrem psicologicamente preparadas, mas tamb�m podem deixar seus neg�cios em dia. Por outro lado, aquelas que compram falsas esperan�as podem ficar presas a uma atitude de nega��o. Desperdi�am n�o apenas recursos financeiros mas o pouco do tempo que lhes resta. 

Truques Cl�nicos

A caracter�stica mais importante � qual podemos atribuir o sucesso dos charlat�es provavelmente � sua habilidade para aparentar confian�a. Mesmo quando admitem que um m�todo n�o � comprovado, podem tentar minimizar isto mencionando o quanto � caro e dif�cil para conseguir nos dias de hoje com que algo seja comprovado, de modo a satisfazer as exig�ncias do FDA. Se eles aparentarem auto-confian�a e entusiasmo, � prov�vel que seja contagioso e espalhe para os pacientes e seus entes queridos. 

Devido ao fato de as pessoas gostarem da id�ia de fazer escolhas, os charlat�es freq�entemente se referem aos seus m�todos como "alternativos". Corretamente empregado, pode se referir � aspirina e ao Tylenol (paracetamol) como alternativas para o tratamento de dores mais leves. Ambos provaram que s�o seguros e eficazes para o mesmo prop�sito. Lumpectomia pode ser uma alternativa a mastectomia radical para o c�ncer de mama. Ambos possuem registros verific�veis de seguran�a e efic�cia dos quais julgamentos podem ser extra�dos. Um m�todo que � inseguro, ineficaz ou n�o comprovado pode ser uma alternativa genu�na para aqueles que s�o comprovados? Obviamente que n�o.

Os charlat�es nem sempre se limitam a tratamentos ileg�timos. Algumas vezes tamb�m oferecem um tratamento leg�timo -- o charlatanismo � promovido como algo extra. Um exemplo � o tratamento "ortomolecular" das desordens mentais com altas doses de vitaminas em adi��o a formas ortodoxas de tratamento. Os pacientes que recebem o tratamento "extra" freq�entemente se convencem que precisam tomar vitaminas para o resto de suas vidas. Tais conseq��ncias s�o inconsistentes com os objetivos da boa assist�ncia m�dica que deve desencorajar tratamentos desnecess�rios. Outro truque esperto � incluir seus produtos ou procedimentos em uma lista com pr�ticas de outra forma comumente aceitas de modo a promov�-los por associa��o.  Podem dizer, por exemplo que seus m�todos funcionam melhor quando combinados com mudan�as no estilo de vida (que, muito freq�entemente, produzir� benef�cios tang�veis). 

A moeda de um lado s� � um truque parecido. Quando os pacientes com tratamentos combinados (ortodoxo e charlat�o) melhoram, o rem�dio do charlat�o (por ex. o laetrile) leva o cr�dito. Se os coisas v�o mal, o paciente � informado que chegou tarde demais e o tratamento convencional leva a culpa. Alguns charlat�es que misturam tratamentos comprovados e n�o comprovados chamam sua abordagem de terapia complementar ou integrativa. 

Os charlat�es tamb�m capitalizam sobre os poderes naturais de cura do corpo levando cr�dito sempre que poss�vel pela melhora nas condi��es do paciente. Uma empresa de multin�vel -- �vida em evitar problemas legais pela comercializa��o de seus preparados de ervas -- n�o faz absolutamente nenhuma alega��o. "Voc� usa o produto," sugere um porta-voz no v�deo de apresenta��o da empresa, "e me diga o que ele fez por voc�". Uma jogada oposta -- transfer�ncia da culpa -- � utilizada por muitos charlat�es do c�ncer. Se seu tratamento n�o funciona, � devido a radia��o e/ou quimioterapia terem "nocauteado o sistema imunol�gico". 

Outro truque de venda � a utiliza��o de evasivas. Os charlat�es freq�entemente usam esta t�cnica ao sugerir que um ou mais itens em uma lista � a raz�o para suspeitar que voc� pode ter uma defici�ncia de vitaminas, uma infec��o por fungos, ou por qualquer outra coisa para a qual eles estejam oferecendo uma cura. 

A ren�ncia � uma t�tica parecida. Ao inv�s de prometerem curar sua doen�a espec�fica, alguns charlat�es oferecer�o "limpar" ou "desintoxicar" seu corpo, equilibrar sua qu�mica, liberar a "energia dos nervos", deix�-lo em harmonia com a natureza, ou fazer outras coisas para "auxiliar o corpo a se curar". Este tipo de ren�ncia serve a dois prop�sitos. Uma vez que � imposs�vel medir os processos que charlat�o descreve, � dif�cil provar que ele est� errado. Al�m disso, se o charlat�o n�o � um m�dico, o uso de terminologia n�o m�dica pode ajudar a evitar processos pelo exerc�cio ilegal da medicina. 

Os livros que exp�em pr�ticas n�o cient�ficas tipicamente sugerem que o leitor consulte um m�dico antes de seguir seus conselhos. Este tipo de declara��o tem a inten��o de proteger o autor e o editor da responsabilidade legal por qualquer id�ia perigosa contida no livro. Contudo, tanto o autor como o editor sabem muito bem  que a maioria das pessoas n�o ir� perguntar a seus m�dicos. Se elas quisessem o conselho de seus m�dicos, provavelmente n�o estariam lendo o livro. 

Algumas vezes o charlat�o diz, "Voc� pode ter me procurado tarde demais, mas vou tentar fazer o melhor para ajud�-lo". Desse modo, se o tratamento falhar, voc� ter� somente a si mesmo para culpar. Os pacientes que enxergam a luz e abandonam o tratamento do charlat�o podem tamb�m ser responsabilizados por pararem cedo demais. 

A "garantia do dinheiro de volta" � um dos truques favoritos dos charlat�es que utilizam a venda por mala direta pelo correio. A maioria n�o tem nenhuma inten��o em devolver qualquer dinheiro -- mas mesmo aqueles que est�o dispostos, sabem que poucas pessoas se dar�o ao trabalho de devolver o produto. 

Outro forma poderosa de persuas�o -- resultado sem esfor�o -- � padr�o nos an�ncios que prometem perda de peso sem sacrif�cios. Tamb�m � a isca dos vendedores de telemarketing que prometem um "valioso pr�mio gr�tis" como b�nus na compra de um purificador de �gua, um suprimento de seis meses de vitaminas ou algum outro produto nutricional ou de sa�de. Entre aqueles que mordem a isca, ou n�o recebem nada ou recebem itens que valem muito menos que seu custo. Os compradores que utilizam cart�es de cr�dito tamb�m podem encontrar cobran�as n�o autorizadas em suas contas. 

Outra t�cnica potente � a associa��o cultural, na qual os promotores se unem a religiosos ou a outras cren�as culturais associando seus produtos ou servi�os a um artigo de f� ou cultural de seu p�blico alvo. 

Em uma luta pela satisfa��o do paciente, a arte vencer� a ci�ncia quase todas as vezes. Os charlat�es s�o mestres na arte de prover assist�ncia � sa�de. O segredo dessa arte � fazer o paciente acreditar que ele � importante como pessoa. Ao fazer isto, o charlat�o transborda amor abundantemente. Uma maneira de se fazer isto � ter recepcionistas tomando notas dos interesses e preocupa��es dos pacientes de maneira a record�-lo durante visitas futuras. Isto faz com cada paciente se sinta especial de uma maneira muito particular. Alguns charlat�es at� mesmo enviam cart�es de anivers�rio para cada um de seus pacientes. Apesar de t�ticas sedutoras poderem levantar psicologicamente os pacientes, podem tamb�m encorajar super-confian�a em uma terapia inapropriada. 

O psic�logo Anthony R. Pratkanis, Ph.D., identificou nove estrat�gias usadas para vender cren�as e pr�ticas pseudocient�ficas [Pratkanis AR. How to sell a pseudoscience, Skeptical Inquirer 19(4):19­25, 1995.]. Elas incluem a montagem de objetivos fantasmas (como sa�de melhor, paz mental ou melhorar a vida sexual), fazer declara��es que tendem a inspirar confian�a ("apoiado por mais de 100 estudos") e promover absurdos (associa��es orgulhosas e a menos disso sem sentido de pessoas que compartilham rituais, cren�as, jarg�es, objetivos, sentimentos, informa��es especializadas e "inimigos"). Grupos de venda de multin�vel, cultuadores da nutri��o e cruzadas para tratamentos "alternativos" encaixam-se muito bem nesta descri��o. 

Lidando com a Oposi��o

Os charlat�es est�o em uma luta constante com os prestadores leg�timos de assist�ncia m�dica, cientistas do mainstream, ag�ncias reguladoras do governo e grupos de defesa do consumidor. Apesar da for�a desta posi��o baseada na ci�ncia, os charlat�es d�o um jeito de prosperar. Para manter sua credibilidade, os charlat�es utilizam uma variedade de truques inteligentes de propaganda. Eis alguns dos favoritos: 

"Eles perseguiam Galileu!" A hist�ria da ci�ncia � marcada por momentos em que grande pioneiros e suas descobertas foram recebidos com resist�ncia. Harvey (a natureza da circula��o sang��nea), Lister (t�cnicas de antissepsia) e Pasteur (a teoria dos germes) s�o exemplos not�veis. O charlat�o de hoje garante descaradamente que � mais um exemplo de algu�m � frente de seu tempo. Um exame mais cuidadoso, entretanto, mostrar� como isto � improv�vel. Em primeiro lugar, os pioneiros de antigamente que foram perseguidos viveram em �pocas muito menos cient�ficas. Em alguns casos, as oposi��es a suas id�ias originavam-se de for�as religiosas. Em segundo lugar, � um princ�pio b�sico do m�todo cient�fico que o �nus da prova cabe aos proponentes de uma alega��o. As id�ias de Galileu, Harvey, Lister e Pateur derrotaram seus opositores porque a solidez de suas id�ias pode ser demonstrada. 

Um truque parecido, e que � um dos favoritos entre os charlat�es do c�ncer, � a acusa��o de "conspira��o". Como podemos ter certeza de que a Associa��o M�dica Americana (AMA), o FDA, a Sociedade Americana do C�ncer e outras entidades n�o est�o envolvidas em alguma trama monstruosa para esconder do p�blico a cura do c�ncer? Para come�ar, a hist�ria n�o revela nenhuma pr�tica parecida no passado. A elimina��o de doen�as graves n�o � uma amea�a para profiss�o m�dica -- os m�dicos prosperam por eliminar as doen�as, n�o por manter as pessoas doentes. Tamb�m deve ser claro que a moderna tecnologia m�dica n�o alterou o empenho dos cientistas para eliminar as doen�as. Quando a p�lio foi erradicada, os pulm�es de ferro se tornaram virtualmente obsoletos, mas ningu�m se op�s a este avan�o porque for�aria os hospitais a mudarem. Tampouco cientistas da �rea m�dica lamentar�o a eventual derrota do c�ncer. Al�m disso, como uma conspira��o que escondesse a cura para o c�ncer poderia ter sucesso? Muitos m�dicos morrem de c�ncer todo ano. Voc� acredita que a grande maioria dos m�dicos conspirariam para esconder a cura para uma doen�a que afeta a eles mesmos, a seus colegas e a seus entes queridos? Para ser eficaz, uma conspira��o teria de ser mundial. Se o laetrile, por exemplo, realmente funcionasse, muitos cientistas de outras na��es rapidamente perceberiam. 

Alega��es de "repress�o" s�o utilizadas para vender publica��es bem como tratamentos. Muitos autores e editores d�o a entender que oferecem informa��es sobre as quais seu m�dico, a AMA e/ou ag�ncias do governo "n�o querem que voc� saiba".

O charlatanismo organizado retrata sua oposi��o � ci�ncia m�dica como um conflito filos�fico ao inv�s de um conflito sobre m�todos comprovados versus n�o comprovados ou fraudulentos. Isto cria a ilus�o de uma "guerra santa" ao inv�s de um conflito que poderia ser resolvido pelo exame dos fatos. Outra t�tica divergente � acusar que os cr�ticos do charlatanismo s�o preconceituosos ou que foram subornados pela ind�strias farmac�uticas. 

Os charlat�es gostam de fazer a acusa��o de que "a ci�ncia n�o tem todas as respostas." � verdade, mas a ci�ncia n�o alega ter. Ao contr�rio, � um processo racional e respons�vel que pode responder muitas perguntas -- incluindo se procedimentos s�o seguros e eficazes para um determinado prop�sito. � o charlatanismo que constantemente alega ter as respostas para doen�as incur�veis. A id�ia de que as pessoas buscam os rem�dios dos charlat�es, quando se decepcionam pela inabilidade da ci�ncia de controlar uma doen�a � irracional. A ci�ncia pode n�o ter todas as respostas, mas o charlatanismo n�o tem resposta alguma! Ele toma o seu dinheiro e corta o seu cora��o. 

Muitos tratamentos propostos pela comunidade cient�fica mostraram mais tarde serem inseguros ou in�teis. Tais fracassos se tornam o alvo preferido das investidas contra a ci�ncia por parte dos rela��es-p�blicas do charlatanismo organizado. Na verdade, "fracassos" refletem um elemento chave da ci�ncia: sua disposi��o para testar seus m�todos e cren�as e abandonar aqueles que mostraram ser inv�lidos. Os verdadeiros cientistas da �rea m�dica n�o tem nenhum compromisso filos�fico a uma abordagem terap�utica em particular, apenas um compromisso em desenvolver e utilizar m�todos que sejam seguros e eficazes para um determinado prop�sito. Quando um rem�dio charlatanesco � reprovado em um teste cient�fico, seus proponentes simplesmente rejeitam o teste.

Cada um desses truques representam uma t�cnica b�sica chamada desorienta��o -- an�loga a que m�gicos fazem para dessviar a aten��o da plat�ia do que � importante de modo a engan�-la. Quando deparam com uma cr�tica que eles n�o podem enfrentar, os charlat�es simplesmente mudam de assunto.

Como N�o Ser Enganado

A melhor maneira para n�o ser enganado � ficar longe dos trapaceiros. Infelizmente, nas quest�es da sa�de, isto n�o � uma tarefa f�cil. O charlatanismo n�o � vendido com um r�tulo de advert�ncia. Al�m disso, a linha que divide aquilo que � charlatanismo daquilo que n�o � charlatanismo, n�o � n�tida. Um produto que � eficaz em uma situa��o pode ser parte de um esquema charlatanesco em outra. (O charlatanismo est� na promessa, n�o no produto.) Os profissionais que utilizam m�todos eficazes tamb�m podem utilizar os ineficazes. Por exemplo, podem misturar conselhos importantes para parar de fumar com conselhos infundados para tomar vitaminas. Mesmo charlat�es completos podem aliviar algumas doen�as psicossom�ticas com sua conduta tranq�ilizadora. 

Este artigo ilustra como os adeptos do charlatanismo est�o vendendo a si mesmos. � triste dizer que, na maioria das disputas entre os charlat�es e as pessoas comuns, os charlat�es provavelmente ainda est�o vencendo. 

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A maior parte desse artigo � uma modifica��o do livro The Health Robbers: A Close Look at Quackery in America, editado por Stephen Barrett, M.D. e  William T. Jarvis, Ph.D.

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Este artigo foi revisto no site original em 29 de agosto de 2000.

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