Quackwatch em português

Pólen de Abelha, Geléia Real
e Própolis

Stephen Barrett, M.D.

"Pólen de abelha" é na verdade pólen de flores que é coletado de abelhas assim que elas entram na colméia ou é colhido por outros meios. Os grãos de pólen se fixam às patas e em outras partes do corpo das abelhas conforme elas se servem do néctar (o precursor do mel) de dentro das flores. Os produtos com pólen são comercializados através de lojas de alimentos naturais, distribuidores de multinível, drogarias, anúncios para pedidos pelo correio e pela internet [A,B,C, D].

Alegações Enganosas

Os promotores chamam o pólen de abelha de "o alimento perfeito" e enfatizam que ele contêm todos os aminoácidos essenciais e muitas vitaminas e minerais [1]. Entretanto, nenhum destes nutrientes oferece qualquer mágica, e todos são obtidos facilmente e menos dispendiosamente a partir dos alimentos convencionais. A CC Pollen Company de Phoenix, Arizona, também tem alegado:

Estima-se que o pólen da abelha comum contêm mais de 5.000 enzimas e coenzimas, muitas vezes acima que qualquer outro alimento. . . . Enzimas no corpo não são apenas necessárias para cicatrização e digestão perpétuas mas para a própria vida. Sem enzimas, a vida é impossível. Além disso, as enzimas protegem contra o envelhecimento prematuro. Tem sido declarado com segurança que somente o pólen da abelha comum contém todas as enzimas conhecidas na proporção perfeita e equlíbrio perfeito [1].

A declaração acima é errônea. O pólen não contém todas as enzimas conhecidas, e mesmo se tivesse, isto não contribuíria com a saúde humana. As enzimas em plantas e em outras espécies de animas ajudam a regular as funções metabólicas de suas respectivas espécies. Quando ingeridas, elas não agem como enzimas dentro do corpo humano, porque são digeridas ao invés de absorvidas intactas para o interior do corpo. 

Também tem sido alegado que o pólen de abelha melhora o desempenho atlético e sexual; diminui o processo de envelhecimento; promove tanto perda como ganho de peso; previne infecção, alergia e câncer; e alivia mais de 60 outros problemas de saúde. 

Nenhum estudo científico apóia qualquer alegação de que o pólen de abelha seja eficaz contra qualquer doença humana. Os poucos estudos que foram feitos para testar seus efeitos sobre o desempenho atlético não mostraram nenhum benefício [2-4]. Em meados dos anos 70, por exemplo, os testes conduzidos em nadadores e corredores de cross-country não encontraram nenhuma diferença no desempenho entre aqueles que tomaram pólen de abelha e aqueles que tomaram um placebo [3]. Um estudo de seis semanas com 20 nadadores publicado em 1982 não encontrou nenhuma diferença de desempenho [4].

A geléia real, a qual é secretada pelas glândulas salivares das abelhas operárias, serve como alimento para todas as larvas jovens e como o único alimento para as larvas que se desenvolverão em abelhas rainha. A exemplo do pólen de abelha, tem sido falsamente alegado que a geléia real é especialmente nutritiva, proporciona energia revigorante, e tem propriedades terapêuticas. 

Pólen de abelha e geléia real deveriam ser considerados como potencialmente perigosos porque eles causam reações alérgicas. Pessoas alérgicas a polens específicos têm desenvolvido asma, urticária e choque anafilático após ingerir pólen ou geléia real [5-12]. Reações neurológicas e gastrointestinais também têm sido relatadas [13,14]. Alguns casos de asma e anafilaxia tem sido fatais. O potencial para reações graves é disseminado porque pelo menos 5% dos americanos são alérgicos ao pólen da ambrósia americana [ragweed], e o pólen de abelha contêm pólen da ambrósia ou de plantas que cruzam com a ambrósia, como dente-de-leão, girassol ou crisântemo [15,16]. Tem se especulado que a presença destes alérgenos pode fazer com que os usuários regulares se tornem dessensibilizados (como aconteceria com injeções de alergia). Entretanto, as chances disto acontecer são extremamente pequenas. Injeções transferem o pólen em quantidades significativas e controláveis, ao passo que o pólen de abelha ingerido pela boca transfere quantidades imprevisíveis que são digeridas [17].

As abelhas são expostas a vários contaminantes bacteriológicos e químicos que podem ser incorporados aos produtos para consumo humano [18]. Ainda que tanto o pólen de abelha como a geléia real contenham substâncias com propriedades antibióticas, ambos podem sustentar o crescimento de organismos causadores de doenças e nenhum dos dois têm uso prático como antibiótico [19]. Os contaminantes também podem ser introduzidos durante o processamento [18]. Em 1995, Montana Naturals International, de Arlee, Montana, teve que recolher vários milhares de garrafas de uma mistura de pólen de abelha/geléia real/própolis por causa da contaminação com chumbo. 

O própolis, também chamado de "cola da abelha", é uma substância resinosa que as abelhas usam para construir e manter suas colméias. Em testes laboratoriais, o própolis tem exibido uma variedade de interessantes propriedades antimicrobianas e antitumorais [20]. Entretanto, tem pouco uso prático e pode causar dermatite de contato e outras reações alérgicas [21].

Ações da Justiça Federal Americana

Ainda que a violação de um acordo com o FTC possa trazer grandes penalidades, Royden Brown continuou a promover o pólen de abelha ilegalmente. Em maio de 1994, S&S Public Relations Inc., de Chicago, publicou uma carta declarando: "É a estação das alergias, mas muitos sofredores não estão sofrendo mais. Eles estão usando o Aller-Bee-Gone, tabletes de pólen de abelha aos quais se atribui o alívio dos sintomas de alergia, asma e outras doenças respiratórias." O release que acompanhava adicionou que o objetivo da vida de Brown era "eliminar doenças degenerativas pelo mundo inteiro através do uso do pólen de abelha. Entretanto, algumas semanas mais tarde, o promotor mais pitoresco do pólen de abelha morreu devido a lesões sofridas em uma queda. 

Para Informação Adicional

Referências

1. Is honeybee pollen the world's only perfect food? (Booklet) Phoenix, AZ: CC Pollen Company, 1984.
2. Steben RE, Boudroux P. The effects of pollen and pollen extracts on selected blood factors and performance of athletes. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness 18:271-278, 1978.
3. Larkin T. Bee pollen as a health food. FDA Consumer 18(3):21 22, 1984.
4. Maughan RJ, Evans SP. Effects of pollen extract upon adolescent swimmers. British Journal of Sports Medicine 16:142-145, 1982.
5. Thien FC and others. Asthma and anaphylaxis induced by royal jelly. Clinical and Experimental Allergy 26:216-222, 1996.
6. Shaw D and others. Traditional remedies and food supplements. A 5-year toxicological study (1991-1995). Drug Safety 17:342-356, 1997.
7. Prichard M, Turner KJ. Acute hypersensitivity to ingested processed pollen. Australian and New Zealand Journal of Medicine 15:346-347, 1985.
8. Yonei Y and others. Case report: Haemorrhagic colitis associated with royal jelly intake. Journal of Gastroenterology and Hepatology 12:495-499, 1997.
9. Geyman JP. Anaphylactic reaction after ingestion of bee pollen. Journal of the American Board of Family Practice 7:250-252, 1994.
10. Mansfield LE, Goldstein GB. Anaphylactic reaction after ingestion of local bee pollen. Annals of Allergy 47:154-156, 1981.
11. Lombardi C and others. Allergic reactions to honey and royal jelly and their relationship with sensitization to compositae. Allergologia et Immunopathologia 26:288-290, 1998.
12. Leung R and others. Royal jelly consumption and hypersensitivity in the community. Clinical and Experimental Allergy 27:333-336, 1997.
13. Lin FL and others. Hypereosinophilia, neurologic, and gastrointestinal symptoms after bee pollen ingestion. Journal of Allergy and Clinical Immunology 83:793-796, 1989.
14. Puente S and others. Eosinophilic gastroenteritis caused by bee pollen sensitization. Medicina Clinica 108:698-700, 1997.
15. Mirkin G. Can bee pollen benefit health? JAMA 262:1854, 1989.
16. Helbling A and others. Allergy to honey: Relation to pollen and honey bee allergy. Allergy 47:41-49, 1992.
17. Wandycz K. Allergies: Runny nose? Itchy throat? Bee pollen helps some allergy victims, but for most people it's a waste of money. Forbes, April 25, 1995, p 414.
18. Fleche C and others. Contamination of bee products and risk for human health: Situation in France. Revue Scientifique et Technique 16:609-19, 1997.
19. Sanford MT. Pollen marketing. Fact Sheet ENY-118. Institute of Food and Agricultural Sciences, University of Florida. Feb 1995.
20. Burdock GA. Review of the biological properties and toxicity of bee propolis. Food and Chemical Toxicology 36:347-363, 1998.
21. Hausen BM and others. Propolis allergy (I): Origin, properties, usage and literature review. Contact Dermatitis 17:163-170, 1987.
22. Ben Kinchlow and Madeline Balletta have a secret they want to share with you. They both have major responsibilities and hectic schedules. They both travel extensively. They have a secret . . . a God-given food that has already helped hundreds of thousands of Christians. Advertisement in Human Events, Aug 20, 1999, p 15.
23. Bee-Alive Web site, Accessed Aug 22, 1999.

Quackwatch em português

Este artigo foi revisto no site original em 17 de setembro de 1999.

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