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Algumas Notas sobre Programas "Anti-Envelhecimento"

Robert N. Butler, M.D.

Alguns indivíduos e organizações gostariam de nos fazer acreditar que o envelhecimento não é inevitável e que a "imortalidade está dentro de nosso alcance". Estes mesmos indivíduos acreditam que existem bio-marcadores bem validados de envelhecimento que podem ser usados para desenvolver programas individualizados de "anti-envelhecimento". Essa abordagem é cara e inclui intervenções precariamente validadas tais como melhorar o status de antioxidantes e reposição de hormônio de crescimento (GH), testosterona, deidroepiandroesterona (DHEA) e melatonina. 

Embora os níveis de hormônio de crescimento declinem com a idade, não foi comprovado que tentar manter os níveis que existem em pessoas jovens seja benéfico. É concebível que mudanças hormonais relacionadas com a idade possam servir como marcadores úteis do envelhecimento fisiológico. Entretanto, isso não foi demonstrado experimentalmente tanto em humanos como em animais. Embora ensaios com reposição do hormônio tenham alcançado alguns resultados positivos (ao menos a curto prazo), é claro que efeitos colaterais negativos também podem ocorrer na forma de aumentar o risco de câncer, doença cardiovascular e mudanças comportamentais. 

Ainda pode ser que se demonstre que níveis baixos do hormônio de crescimento sejam um indicador de saúde. Achados de pesquisa indicam que camundongos que produzem hormônio de crescimento em excesso vivem somente um tempo curto, sugerindo que a deficiência do GH em si não causa aceleração do envelhecimento, mas que o oposto possa ser verdadeiro. 

Tem sido demonstrado que a terapia de reposição de estrogênio em mulheres tem benefícios definidos, especialmente em prevenir fraturas pela osteoporose, embora alguns estudos recentes sugiram que o estrogênio não deveria ser usado em mulheres que sabidamente têm doença cardíaca. Porém a relação risco/benefício para a reposição de testosterona e tratamento de GH não foi estabelecida em pessoas mais velhas, e ensaios com DHEA fracassaram em mostrar benefícios clínicos significativos no envelhecimento normal. 

Ensaios clínicos para investigar os riscos e benefícios dessas e de outras intervenções potenciais ou ainda estão em andamento, ou ainda não proporcionaram respostas definitivas. Desse modo deve se ter cuidado até que ensaios clínicos adequados tenham sido finalizados e analisados. 

É importante estudar substâncias que possam ter efeitos favoráveis sobre a promoção da saúde (como a possibilidade de que algum hormônio anabólico possa proteger, mesmo que apenas por um curto prazo, contra as fragilidades da velhice). Entretanto, não é apropriado comercializar tais substâncias com alegações infundadas. Além disso, não há nenhuma supervisão do FDA para assegurar se os produtos hormonais comercializados como "suplementos alimentares" são seguros ou eficazes ou mesmo se contêm os ingredientes listados em seus rótulos. 

O conceito de "medicina anti-envelhecimento" contrasta com a moderna gerontologia que distingue entre envelhecer como um fenômeno natural e doenças, e o papel do envelhecimento per se como um risco para doenças. Medicina anti-envelhecimento não é reconhecida como uma especialidade pelo mainstream da medicina ou seguros-saúde. Seus praticantes deveriam ser distinguidos dos clínicos do mainstream os quais são preocupados com a promoção da saúde e prevenção de doenças. Avanços de estilos de vida mais favoráveis com atenção a dieta, exercícios, interrupção do tabaco e identificação precoce de fatores de risco, medidas do status funcional e marcadores de doenças é um objetivo desejável e passível de ser alcançado. Por exemplo, é importante diminuir níveis de colesterol através de exercícios ou do uso de agentes farmacológicos como estatinas, e detectar hipertensão e diabetes precocemente de modo a efetuar controle apropriado e prevenir as conseqüências freqüentemente fatais de ambas. Porém médicos que alegam te a capacidade de medir "bio-marcadores de envelhecimento" e afetá-los de maneira favorável  não estão fundamentados cientificamente. 

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Dr. Butler é um proeminente gerontologista que fundou e dirige o International Longevity Center­USA, um centro de pesquisa aplicada, cuja missão é ajudar indivíduos e sociedades a se voltarem para longevidade e envelhecimento da população de modo positivo e produtivo. Seu artigo, Biomarkers of Aging: From Primitive Organisms to Man, destaca a necessidade de mais pesquisas sobre os mecanismos e marcadores do envelhecimento. 

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Este artigo foi publicado em 30 de novembro de 2001.
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