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Algas: Alegações Falsas e Supervalorizações 

Algas ciano-esverdeadas (um dos onze grupos de algas) são plantas microscópicas que crescem principalmente em tanques e lagos salobros por todo o mundo. Das mais de 1500 espécies conhecidas, algumas são úteis como alimento, enquanto outras tem sido noticiadas como causadoras de gastroenterites e hepatite. A espirulina entrou em evidência em 1981 quando The National Enquirer a promoveu como uma "pílula dietética segura," "100% natural" que contêm fenilalanina (um aminoácido), que "age diretamente sobre o centro do apetite". O artigo também dizia que ela tinha "um inacreditável teor de 65% de proteína, tornando-a o alimento com o maior teor de proteína do mundo."

Estas alegações não passam de conversa fiada. O FDA concluiu que não há nenhuma evidência que a espirulina (ou a fenilalanina) seja eficaz como um supressor do apetite. O FDA também comentou que a alegação de "65% de proteína" é sem sentido porque, de acordo com seu rótulo, os produtos de espirulina oferecem somente quantidades insignificantes de proteínas. 

MISCORP e Light Force

Em 1982, a Microalgae International Sales Corp. (MISCORP) e seu fundador, Christopher Hills, concordaram em pagar 225 mil dólares para por fim as acusações de que eles tinham feito alegações falsas sobre a espirulina, A companhia tinha alegado que seus produtos de espirulina eram eficazes para o controle de peso e tinham valor terapêutico contra a diabetes, anemia, doenças hepáticas e úlceras. 

Light Force, também fundada por Hills, comercializava produtos de espirulina com alegações que eles podiam suprimir o apetite, estimular a imunidade e aumentar a energia. Os materiais publicitários da companhia alegavam que a espirulina é um "superalimento" e "funciona como um agente de limpeza e de desintoxicação do corpo." Em uma edição de 1987 da revista da Light Force, The Enlightener, o vice-presidente e advogado da corporação Steve Kochen falou sobre as "diretrizes legais" da companhia. As quais incluem: 

Apesar de tudo isto, The Enlightener traz reportagens sobre usuários que perderam peso ou recuperaram-se de artrite, câncer, esclerose múltipla e ferimentos graves enquanto usavam os produtos da Light Force. Nenhuma destas reportagens estava acompanhada por documentação significativa. Em 1996, a Light Force uniu-se com a Royal BodyCare, uma companhia de multinível com uma linha de produtos muito maior. 

K.C. Laboratories e Cell Tech

Em 1982, K.C. Laboratories de Klamath Falls, Óregon, e seu presidente, Victor H. Kollman, começaram a vender os produtos Blue Green Manna (derivados de outro tipo de alga) com alegações que eles eram eficazes contra uma grande variedade de problemas de saúde. Em 1983, o FDA iniciou uma ação legal para interromper o esquema, mas o comércio destes produtos não parou. Finalmente, em 1986, atendendo um pedido da agência, um juiz da Corte Distrital dos EUA emitiu um mandado permanente ordenando que todas as partes envolvidas interrompessem a fabricação, distribuição e venda das algas ciano-esverdeadas colhidas do lago Klamath, Óregon. Explicando sua decisão, o juiz disse:

Em uma pesquisa de 9 de janeiro de 1986, o governo apresentou evidência adicional do uso disseminado dos produtos Manna de algas ciano-esverdeadas, e das alegações terapêuticas que foram feitas para estes produtos. Victor Kollman negou que tivesse feito alegações terapêuticas. . . .Contudo ele continuou a alegar que seus produtos tinham um efeito benéfico sobre o corpo humano . . . .como um alimento, e não como uma droga. O governo mostrou que tomado na dose recomendada de 1,5 gramas, seu valor como nutriente é insignificante. Além disso, o custo dos produtos do réu, que excedem os 300 dólares por libra de peso [equivalente a 453,59 g], é muito alto quando comparado com outras fontes dos mesmos nutrientes o que deixa claro que não havia a intenção de que estes produtos fossem utilizados como alimento. 

Em 1985, o juiz determinou que os produtos eram drogas novas rotuladas erroneamente e não comprovadas, e emitiu uma injunção preliminar contra a sua venda. Seu mandado de 1986 citou a evidência que mais de 2500 pessoas vinham distribuído os produtos Manna com alegações terapêuticas que desafiavam a injunção. Ele também relatou que desde que a injunção foi publicada, centenas de distribuidores tinham escrito ou telefonado com alegações que os produtos Manna haviam curado eles ou os membros de suas famílias de problemas como doença de Alzheimer, problemas cardíacos, distúrbios de pele, alergias, problemas de próstata, falta de desejo sexual, problemas emocionais e alcoolismo. 

No julgamento de 1986, os réus argumentaram que devido a outros produtos de algas serem vendidos como alimentos ou suplementos alimentares, eles também deveriam ser permitidos a venderem as algas ciano-esverdeadas como alimentos -- mudando o empacotamento, nome comercial e sistema de distribuição se necessário. Mas o juiz estabeleceu que "a demanda não poderia mais ser controlada, mesmo se os réus desejassem controlá-la." Declarando que o Kollman tem tentado confundir não apenas o tribunal mas também os compradores dos produtos, o juiz concluiu que uma injunção permanente era necessária para impedir que os réus "se beneficiassem de suas violações passadas ao atender a demanda que eles criaram para seus produtos." Em outras palavras, mesmo se alegações questionáveis forem interrompidas, as pessoas que acreditavam nas alegações feitas anteriormente ainda comprariam os produtos. 

Apesar que as ordens do juiz parecem ter posto um fim na venda dos produtos Manna, uma linha semlhante chamada Super Blue Green Algae ainda é comercializada pela Cell Tech Inc., uma companhia liderada pelo irmão de Kollman, Daryl. De acordo com uma fita promocional da companhia, "Desintoxicando seus sistemas e equilibrando seus níveis nutricionais, a Super Blue Green proporciona ao seu corpo e ao espírito ingredientes que resultam em experiências de aumento de energia, lucidez mental, controle dietético e sentimentos de bem-estar geral. Isto pode capacitar as pessoas a lidarem com as muitas formas de estresse deste mundo moderno."

A literatura da Cell Tech declara que os produtos não proporcionam "curas" para doenças e não pretendem ser um substituto para a assistência médica. Apesar desta forma de isenção, muitos distribuidores têm feito alegações terapêuticas dúbias em propagandas, em feiras de saúde e nas conversas particulares de venda para prováveis clientes. 

Possível Toxicidade

Em 5 de maio de 1999, o Health Protection Branch canadense alertou: 

Produtos contendo algas ciano-esverdeadas podem conter toxinas prejudiciais ao fígado e, apesar dos recentes relatos infundados que elas podem ser usadas como tratamento para Desordem do Déficit de Atenção (DDA), estes produtos não deveriam ser dados para as crianças. Algumas espécies de algas ciano-esverdeadas naturalmente produzem toxinas conhecidas como microcistinas. Como conseqüência disto, estas toxinas podem potencialmente estar presentes contaminando os produtos produzidos com algas ciano-esverdeadas. Com peso corporal menor, as crianças têm um risco maior de desenvolver lesões hepáticas graves caso os produtos com algas ciano-esverdeadas estejam contaminadas com microcistinas. 

De modo a determinar a extensão deste problema potencial, a Health Canada, através do Office of Natural Health Products, Therapeutic Products Program e do Food Directorate do Health Protection Branch, está realizando uma pesquisa com os produtos que contêm algas ciano-esverdeadas para determinar quantas estão no mercado, de que formas são vendidas e os níveis de microcistinas que elas contêm. Esta pesquisa é prevista para durar por vários meses e oferecerá informações adicionais necessárias para se fazer uma avaliação completa dos riscos das algas ciano-esverdeadas. 

Existem muitos produtos contendo algas ciano-esverdeadas vendidos no Canadá, tanto por lojas de varejo como por vendedores diretos. Alguns destes produtos são vendidos em tabletes, cápsulas ou em forma de pó como suplementos alimentares, freqüentemente como fonte natural de sais-minerais. As algas ciano-esverdeadas usadas nestes produtos podem vir de fontes naturais (lagos) ou podem ser cultivadas (tanques controlados). Uma amostragem independente recente, feita por um pesquisador da Universidade de Alberta encontrou diversos produtos contendo algas ciano-esverdeados de fontes naturais com níveis de microcistina que excediam aqueles considerados seguros para o consumo diário tanto pela Health Canada como pela Organização Mundial da Saúde. Dados preliminares da primeira rodada de testes para documentar do Departamento confirmou níveis elevados de microcistina em alguns produtos de fontes naturais. 

Este trabalho preliminar indica que o potencial para contaminação pode ser maior para os produtos feitos de algas ciano-esverdeadas de lagos naturais. São necessárias mais análises para determinar a extensão completa do problema e quais processos de produção poderiam potencialmente reduzir ou eliminar a presença de microcistinas. 

A microcistina acumula-se no fígado e pode causar lesão hepática. Sintomas adversos pelo uso a longo prazo destes produtos (semanas a meses) podem não serem óbvios, mas poderiam variar desde um sensação de indisposição geral ou desconforto gastrointestinal, até icterícia. As crianças parecem ser mais sensíveis a estes efeitos tóxicos, as quais são mais prováveis apresentá-los como sintomas gastrointestinais (náuseas, vômitos, diarréias, etc.).

Devido ao risco potencial à saúde, os consumidores que escolhem usar os produtos contendo algas ciano-esverdeadas, especialmente aquelas de lagos naturais, deveriam fazer somente por curtos períodos de tempo, como requerido, e descontinuar seu uso em crianças. Aqueles com preocupações deveriam contatar seu profissional de assistência à saúde para aconselhamento. 

A Health Canada continuará a pesquisar e a analisar os produtos fabricados com algas ciano-esverdeadas e, baseado nos resultados de sua análise, pode mais adiante tomar medidas para proteger a saúde dos canadenses. A Health Canada também investigará aqueles produtos que fazem alegações medicinais. O Departamento não recebeu qualquer evidência que sustente o uso de algas ciano-esverdeadas como um tratamento eficaz para DDA em crianças e não concedeu autorização para o comércio de qualquer produtos de alga ciano-esverdeada para qualquer propósito terapêutico. 

A Linha Final

Os produtos de espirulina não contêm nenhum nutriente que não esteja prontamente disponível nos alimentos -- em um preço muito menor. Elas não têm nenhum valor comprovado para tratar qualquer problema médico e algumas podem conter toxinas potentes. 

Para Informações Adicionais

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Este artigo foi adaptado do livro The Vitamin Pushers: How the "Health Food" Industry Is Selling Americans a Bill of Goods, escrito por Stephen Barrett, M.D. e Victor Herbert, M.D., publicado em 1994.

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