O BOICOTE DO F.O.P. 
CONTRA O APOIO A MUMIA ABU-JAMAL


Pela primeira vez na história da América, um grupo armado foi autorizado para investigar, prender e se necessário disparar contra os cidadãos, uma organização criada para prejudicar "pessoas, produtos e empresas" que de uma forma ou de outra estariam ligados a uma causa política a que eles se opõem. Este procedimento poderia ser considerado um exercício de liberdade de expressão? Pessoas com armas e com autoridade para usá-las, ou um novo passo à frente na supressão de qualquer vestígio de dissidência na América?

Em sua recente Confêrencia Nacional no Alabama, a Ordem Fraternal das Polícias (FOP), a maior organização de policiais dos Estados Unidos, votou por unanimidade "promover um boicote contra as pessoas, produtos e empresas que se comprometerem apoiar o assassino convicto de policiais Mumia Abu-Jamal".

A F.O.P. formalmente anunciou boicotar:

  1. "Aos produtores de melado Ben y Jerry que deram apoio ao fundo de defesa para o assassino.
  2. Ao ator Paul Newman, um sincero defensor do assassino.
  3. A atriz Susan Sarandon, outra defensora do assassino.
  4. Aos diretores de cinema Spike Lee, Oliver Stone e John Landis, defensores do assassino.
  5. Aos escritores Norman Mailer e Joyce Carol Oates, defensores do assassino.
  6. A top model Naomi Campbell, defensora do assassino."

Este comunicado foi enviado por meio de email a comissários e quartéis de bombeiros ao redor do pais.

Mumia Abu-Jamal é um jornalista afro-americano, membro fundador do Partido dos Panteras Negras na Filadélfia, um repórter respeitado de uma emissora de radio pública, e um incansável crítico da brutalidade policial. Em 1982 foi condenado e sentenciado a morte pelo assassinato de um policial da Filadélfia em um julgamento em que milhões de pessoas reconheceram a burla de uma justiça abertamente racista.

A Ordem Fraternal da Polícia pegou a relação das pessoas que constavam em uma carta aberta publicada no New York Times em agosto 1995, firmada por 100 pessoas que reclamavam um novo julgamento, um julgamento justo para Mumia. Entre outros signatários, presumivelmente agora também sob a ameaça da Ordem Fraternal de policias, estavam escritores como William Styron, Paul Auster, E. L. Doctorow e Dean Ornish. Representantes de empresas ligadas à produção de software de computadores como Peter Norton e Mitch Kapor, atores como Alec Baldwin e Danny Glover, empresários como Allan Patricof, críticos de cinema como Roger Ebert, músicos como Bobby McFerrin e dezenas de outros.

Os últimos brancos a sofrerem a ameaça da Ordem Fraternal de Policias foram os músicos Sting e Rage Against the Machine, que vem expressando em diferentes ocasiões sua oposição à execução de Mumia Abu-Jamal. Sting y Rage, preparam manifestações em todo Estado da Filadélfia entre14 de novembro e 6 de dezembro, respectivamente.

Rage tem um show marcado no First Union Center, um estádio perto da Filadélfia. Segundo artigo no Philadelphia Inquirer (3 de novembro) "Richard Costello, presidente do regimento 5 do FOP da Filadélfia ameaçou boicotear o estádio First Union Center se o Rage Against the Machine realizasse o concerto ali. "Vamos boicotar todos aqueles que utilizam o First Union Center, desde as equipes desportivas Flyers e Sixers até o banco que o financiou e construiu".

Membros do FOP no condado de Delaware, onde o concerto de Rage teria lugar, disseram que estavam dispostos a mobilizar centenas de agentes fora de serviço e simpatizantes para protestar contra o concerto. "Vamos fazer tudo para que o transito pareça um pesadelo de tal modo que ninguém possa chegar lá".

O empresário de Sting afirmou que prosseguirá em suas manifestações contra a pena de morte e que seguirá adiante com seus concertos. Rage Against the Machine deixou claro que eles não se deixarão intimidar em seu apoio.

Mumia recentemente conseguiu de um Juiz Federal da Filadélfia que lhe ouvisse em seu pedido de habeas-corpus, suspendesse sua execução e decidisse dentro dos próximos meses se concederá ou não um novo julgamento. O fato é que estas policias reclamam a imediata morte de Mumia e estendem por toda a nação sua ameaça contra tod@s aquel@s que estão lutando por um novo julgamento (chamando-lhes de "amig@s de assassinos de policias") sem nem sequer terem examinado com seriedade as principais provas. É este o papel a que se presta as forças policiais do país? Ou seria mais adequado se recordássemos as imagens de censura e as graves ameaças que com horror devemos associar com a Alemanha no decênio de 1930 e 40 ou a África do Sul sob o apartheid?

Uma declaração firmada por um número crescente de artistas disse:
"Nos, artistas, condenamos os ataques da policia contra músicos por causa de suas crenças políticas. O boicote contra os artistas e os negócios organizados pela Ordem Fraternal de Policias não é um boicote político ordinário. Os policias são funcionários do governo que se encontram em uma posição privilegiada de poder sobre as pessoas, e seu boicote é uma forma direta de censura e intimidação policial contra a arte. Esta campanha política nacional de policias para executar a Mumia Abu-Jamal é inaudita e muito perigosa."

(De um escrito de Louis Proyect, traduzido e adaptado pelo Cruz Negra Anarquista)


Em Janeiro do presente ano (1999) Rage Against the Machine organizou um concerto em favor de Mumia em New Jersey, que a policia estatal de New Jersey e o reacionario locutor Howard Stern intentaram proibir por todos os meios. Apesar das ameaças da policía, governadores e demais políticos, mais de 20.000 pessoas compareceram ao evento. No começo de novembro, Rage apareceu em um programa de televisão de David Letterman e na MTV, oportunidade em que milhões de ouvintes puderam escutar o grito de justiça por Mumia Abu-Jamal.

A lista do boicote policial, aumenta cada vez mais. A lista de cem pessoas, que apareceu em uma carta aberta em apoio a Mumia publicada no New York Times, em poucos dias subiu para mais de 300, aparecendo entre outors (os já mencionados anteriormente) Gloria Steinem, Michael Stipe de R.E.M., Alice Walker, o ex-congressista Ronald V. Dellums, o congressista Charles Rangel, o historiador Henry Louis Gates, o empresario Ben Cohen, ...

Três departamentos da FOP da Filadelfia decidiram que protestariam contra o concerto celebrado por Sting em 14 de Noviembre passado, no teatro Tower em Upper Darby. Protesto ao qual convidaram todos os policias de toda a região. Ante as ameaças do presidente da FOP da Filadelfia, Richard Costello, de que boicotiaria o concerto do Rage Against the Machine no dia 6 de Diciembre em Delaware, provocando congestinonamentos no trânsito; o Daily News preguntou ao presidente do FOP de Delaware, Joseph Fitzgerald, sobre quem manteria a órdem pública durante o protesto policial; ao que Fitzgerald respondeu: "Ora, nós mesmos nos vigiaremos".

Tom Morello, músico do Rage Against the Machine, explicou com muita propriedade para a revista George, que "não se trata de um matador de policias, mas de polícias que matam". Esta é uma realidade que podemos reconhecer nos olhos de de cada uma das vítimas da policía, que aparecen nas fotos do livro "Vidas roubadas". Há muito tempo a policía da Filadelfia vem molestando aos clubes e auditorios que apresentam concertos pró Mumia. Em Nova York em 1995, a policia protestou em volta do teatro onde Giancarlo Esposito interpretou Mumia Abu-Jamal, e criou sérios problemas com a versão de que haviam recebido uma ameaça de bomba no teatro. Desde janeiro de 1999, a censura policial vem se acentuando. Carl Williams, o chefe da Policía Estatal de New Jersey publicou uma carta aberta contra o concerto de Rage para arrecadar fundos para Mumia, mais tarde teve o atrevimento de defender o descarado racismo da polícia em parar sistematicamnte os motoristas pelo simples fatos de serem negros ou latinos. Há poucos meses, a polícia se negou patrulhar durante a filmágem de um filme da atriz Whoopi Goldberg porque ela assinou uma declaração de apoio a Mumia.

Com seu boicote nacional, a FOP pretende impor essa intimidação por todo o país. Ao final de um artigo sobre os concertos de Sting e Rage, o Philadelphia Inquirer informou que a polícia de Topeka, Kansas, impediu a realização de um concerto de Harry Belafonte em 27 de setembro porque em 1998 tambem havia assinado uma declaração contra a execução.

Sustentados por um amontoado de leis e pela constitução burguesa, que supostamente ampara o direito das pessoas de exercerem suas crenças políticas, a policia, braço armado do capitalismo que monopoliza o poder e suas estruturas, viola impunemente os direitos políticos do povo. Censura policial da arte? Castigo policial para os que se opõem à pena de morte? Ataques policiais contra concertos? A volta das "listas negras"? A presumível terra da presumível "liberdade de expressão"?

Alguém tem que se opor a tudo isso!

(De um texto do "Revolutionary Worker" adaptado pela CNA de Barcelona)

Informação difundida pela Cruz Negra Anarquista - ABC de Barcelona (Espanha)


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railtong@g.com

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