PAUL TILLICH
(Roteiro de estudo)

Jorge Pinheiro

 

1. BREVE RESUMO HISTÓRICO

Paul Tillich nasceu na Prússia, na aldeia de Starzeddel, província de Brandeburgo, em1986, filho de pastor luterano. Morreu em 1965 nos Estados Unidos.

1910 -- Graduou-se doutor em Filosofia, em Breslau.

1912 - Licenciou-se em Teologia (Halle) e tornou-se capelão militar. Burguês liberal e idealista, nessa época, chegou à conclusão que as classes pobres eram exploradas pela aristocracia fundiária, pelo Exército, pela Igreja e pelo Estado.

1915 - A grande transformação
"A transformação ocorreu durante a batalha de Champagne, em 1915. Houve uma ataque noturno. Durante toda a noite, não fiz outra coisa senão andar entre feridos e moribundos. Muitos deles eram meus amigos íntimos. Durante toda aquela longa e terrível noite, caminhei entre filas de gente que morria. Naquela noite, grande parte da minha filosofia clássica ruiu em pedaços; a convicção de que o homem fosse capaz de apossar-se da essência do seu ser, a doutrina da identidade entre essência e existência... Lembro-me que sentava entre as árvores das florestas francesas e lia Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche, como faziam muitos outros soldados alemães, em contínuo estado de exaltação. Tratava-se da liberação definitiva da heteronomia. O niilismo europeu desfraldava o dito profético de Nietzsche, 'Deus está morto'. Pois bem, o conceito tradicional de Deus estava mesmo morto". Revista Time, 6/5/59, p. 47.

Para Tillich era preciso abandonar aquele Deus concebido pela teologia do século 19 e fazer o cristianismo responder aos problemas e às exigências contemporâneas.

1920 - Escreve Cristianismo e Socialismo.

Funda, então, na Alemanha, após a Primeira Grande Guerra, um movimento chamado Socialismo Religioso, que tinha por base a afirmação de que "sem fundamento religioso nenhuma sociedade pode salvar-se da destruição". Apesar de seus esforços a classe operária alemã não adere ao movimento, como Tillich pretendia. O movimento fracassa.

1925 - Começa a escrever sua Teologia Sistemática, cujo primeiro volume só será publicado em 1952.

1933 - Escreve A Decisão Socialista, que é apreendida pela polícia nazista, levando-o a migrar para os Estados Unidos, nesse mesmo ano. Nos EUA, leciona primeiro no Union Theological Seminary, depois, já aposentado na Universidade de Harvard e no final de sua vida no Divinity School de Chicago, onde morre em 1965.

Paul Tillich sofreu influência da teologia dialética de Barth (mais tarde se tornarão adversários declarados) e do existencialismo de Heidegger. Mas, na verdade, sua reflexão terá dois direcionamentos: busca redefinir o conceito de religião (Filosofia da Religião, 1925) e mostrar a interdependência entre religião e cultura (Teologia da Cultura, 1959). Sua Teologia Sistemática está umbilicalmente ligada a essa preocupação.

"Caso perguntasse a uma pessoa que tivesse ficado impressionada com os mosaicos de Ravena ou com as pinturas da cúpula da Capela Sistina ou com os retratos do último Rembrandt, se sua experiência teria sido religiosa ou cultural, ela acharia difícil responder a tal pergunta. Poderia ser correto dizer que essa experiência é cultural na forma e religiosa na substância. É cultural porque não está vinculada a um ato ritual específico, mas é religiosa porque toca o problema do Absoluto e os limites da existência humana" [Sulla linea di confine, p.77].

2. TEOLOGIA

É considerado o maior pensador sistemático desse século. Sua teologia pode ser situada como um meio caminho entre a teologia liberal e a neo-ortodoxia.

* Barth (fideísmo) versus Harnack (razão).
* Tillich - princípio da correlação.

Seu princípio hermenêutico é o princípio da correlação

Princípio da Correlação
* Os elementos relacionados só podem existir juntos. É impossível que um aniquile a existência do outro. Com o princípio da correlação a reflexão teológica desenvolve-se entre dois pólos: a verdade da mensagem cristã e a interpretação dessa verdade, que deve levar em conta a situação em que se encontra o destinatário da mensagem. E situação não diz respeito ao estado psicológico ou sociológico do destinatário, mas "as formas científicas e artísticas, econômicas, políticas e éticas, nas quais [os indivíduos e grupos] exprimem as suas interpretações da existência".

Exemplos
* O eu não pode existir sem o mundo, nem o mundo sem o eu.
* A fé não pode existir sem a dúvida, nem a dúvida sem a fé.

Outros pensadores, como Platão, Aristóteles e Tomás de Aquino utilizaram o princípio da correlação, mas Tillich o transformou em princípio hermenêutico por excelência.

Para Tillich o fazer teologia deve partir de uma correlação epistemológica, que ele divide em três momentos
* razão/Revelação
* razão/fé
* filosofia/teologia

Sua Teologia Sistemática divide-se em cinco grandes blocos
* Razão e Revelação. "A razão não resiste à revelação. Ela pergunta pela revelação. Pois revelação significa a reintegração da razão" [Teologia Sistemática, Sinodal, 1984, p. 85].
* O Ser e Deus. "É a finitude do ser que conduz à questão de Deus" [Idem, p. 143).
* A Existência e o Cristo. "... o termo 'Novo Ser', quando aplicado a Jesus como o Cristo, indica o poder que nele vence a alienação existencial ou, expresso em forma negativa, o poder de resistir às forças da alienação. Experimentar o Novo Ser em Jesus como o Cristo significa experimentar o poder que nele venceu a alienação existencial em si mesmo e em todos aqueles que têm parte com ele". [Systematic Theology II, p. 125].
* A Vida e o Espírito.
* A História e o Reino de Deus.

3. CRÍTICA

1. O princípio da correlação compromete a transcendência de Deus, a divindade de Cristo, a gratuidade da graça, a sobrenaturalidade da fé e o princípio escatológico da história. Submete o superior ao inferior.
2. Leva a transmitização do cristianismo em termos ontológicos. A filosofia domina a teologia: pecado, encarnação, redenção deixam de ser verdades do cristianismo para tornarem-se problemas ontológicos.
3. Conduz ao panteísmo. O ser é a raiz última de todas as coisas. Identifica Deus com o ser.

BIBLIOGRAFIA mínima recomendada
Battista Mondin, Os Grandes Teólogos do Século Vinte, vol. 2, SP, Paulinas, 1987
Paul Tillich, Teologia Sistemática, Sl, Sinodal, 1984
Rosino Gibellini, A Teologia do Século XX, São Paulo, Loyola, 1998
Stanley Gundry, Teologia Contemporânea, SP, Mundo Cristão, 1987
William Hordern, Teologia Protestante ao Alcance de Todos, RJ, JUERP, 1986


Jorge Pinheiro, pastor batista, é professor do Depto. de Teologia Sistemática da Faculdade Teológica Batista de São Paulo e do Departamento de Antigo Testamento da Faculdade Teológica Batista Paulistana. É também professor convidado da Missão Antioquia (SP) e do Centro de Ensino Teológico -CETEOL (SC).

Fonte: webiblico.2x.com.br/bibliaworld/igreja/estudos

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