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Bagaceira |
Número 3 - 26/7/99 |
Por Krusty |
Bom, estamos aqui de novo para
a minha segunda coluna. Espero que vocês tenham gostado da primeira.
É. Esses dias eu tive
que voltar ao Exército para completar o processo de alistamento.
Sim, acordei às 6:00 da manhã, num dia que estava completamente
frio e eu estava totalmente cansado. Pois bem, vamos cumprir o nosso dever.
Afinal, se eu não for ao Exército, fico proibido de usar
as instituições públicas.
Lembro do dia que eu fui me
alistar. Um trilhão de homens, daqueles que sempre se atrasam,
era a última semana de alistamento. Eram de diferentes classes
sociais. Ricos e pobres, altos e baixos, magros e gordos. Todos com frio
esperando um tiozinho baixinho gorducho de bigode dar umas ordens prá
gente.
É. O Exército
é democrático. A ham. Muito. Achei muito democrático
o jeito que o sujeito que recebia as fichinhas de alistamento nos tratava.
Olhava os campos de preenchimento, rabiscava-os e corrigia-os a SUA maneira.
Por exemplo, eu sempre soube que meus cabelos eram lisos. Pelo menos era
o que me diziam. O cara foi lá e escreveu "ondulados".
Perguntou qual era o meu curso na faculdade e com o que eu trabalhava.
Tudo de uma maneira muito democrática. E claro que ele era simpático
também.
Achei interessante também
que eles têm equipamentos ultra-modernos lá. Nunca vi tanta
tecnologia em um só equipamento. Por favor, não se choque
ao ler isso, eu sei que é uma coisa muito difícil de ser
compreendida, afinal não é em qualquer lugar que nós
encontramos algo do tipo, mas, sim, é verdade, não estou
inventando (afinal isso daqui não é coluna de ficção
científica). Eles usam umas coisas estranhas, que produzem um barulho
compassado. Dizem que foi criada para escrever. Ainda não foi muito
bem adaptada à cultura humana, os usuários praticamente
batiam nela. Seu nome, por favor, mais uma vez, não se assustem,
eu sei que é algo incomum no nosso dia-a-dia, e eu imagino que
isso seja só na linguagem humana, já que deve ser algum
artefato alien, é máquina de escrever.
Eu cresci no meio de coisas
ultrapassadas, como um 286, com monitor verde, 386, 486 e até um
tal de Pentium. Achava que conhecia o melhor da tecnologia moderna. Crença
infundada, fruto da mídia capitalista massificadora, liderada por
Microsoft e IBM. Se eu soubesse que existia algo tão moderno como
as máquinas que escreviam lá do Exército, não
teria perdido horas e horas digitando essas colunas em teclados macios,
com direito a corrigir o erro, recortar, copiar, colar, aumentar as letras
e mais um monte de coisas inúteis de nossos ultrapassados computadores.
E todo esse poderio intelectual
e tecnológico do Exército deveria ser levado pelo neo-liberalismo
de nosso simpático presidente. Privatizem o Exército! Privatizem
o Exército!! Privatizem o Exército!!! Nós, simples
mortais, deveríamos ter acesso a tudo o que o Exército tem
para oferecer. Claro que, se privatizarmos o exército, os preços
que, hipoteticamente, serão cobrados pelos serviços serão
módicos. E serão muito bons também, assim como a
nossa excelente Telefônica.
Essa idéia de privatização
do Exército parece conversa para boi dormir (por sinal, alguém
aí já viu alguém conversando com o boi, depois das
dez da noite. Imagino uma conversa que aos poucos vai virando um monólogo,
vai ralentando, ficando com um volume baixinho, até que o boi dorme).
Afinal o Exército é a segurança nacional. Mas o nosso
inteligentíssimo governo quer privatizar a inteligência nacional,
ou seja, as Universidades públicas.
Vai ser engraçado o
dia que nós seremos estudantes capitalizados, americanizados. Talvez
o curso mais concorrido deixe de ser Medicina na USP, e passe a ser "Técnicas
de dominação de mercado. Opressão dos menores concorrentes:
a livre concorrência" na Coca Cola University.
Bom, escrevi muito já.
Keep on Dreamin`
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