A Consciência
Sem Fronteiras (Ken Wilber)
Ronei Baldissera1
"A mente, tal qual a conhecemos, se resolve em uma série de estados de consciência cuja duração, intensidade, complexidade e demais atributos são variáveis, baseando-se todos, em última análise, na sensação (que é Maya). A sensação implica necessariamente limitação." (Helena P. Blavatsky)
Uma das atividades que iniciamos durante os encontros do Grupo de Estudos de Psicologia Transpessoal é a análise de textos ou livros dedicados a este tema. A primeira destas análises envolveu a leitura do livro "A consciência sem fronteiras", de Ken Wilber, do qual faço uma breve análise a seguir.
O maior mérito do livro, no meu entender, foi a forma de apresentação
que o autor elaborou para os tópicos apresentados nos capítulos
que tratam sobre os diversos níveis de consciência que fazem parte
da nossa estrutura psíquica. Para tal, fez uma introdução
das bases filosóficas que, no seu entender, embasavam o que chamou de
"limites". Esses limites foram apresentados como o principal agente
causador do sofrimento e das limitações pessoais ao desenvolvimento
integral do Ser (Self).
Através de exemplos e metáforas
concisas, o autor consegue levar o leitor à percepção da
impropriedade das concepções, principalmente ocidentais, relativas
ao tempo e ao espaço lineares e como esta visão possibilita uma
cisão entre os vários níveis de consciência, criando
os limites.
Nos capítulos destinados
ao que eu, particularmente, chamaria de anatomia da psique, o autor apresenta,
de forma clara e amplamente acessível, as idiossincrasias essenciais
de cada estado de consciência. Aborda isso de forma dialética,
isto é, apresenta sempre o aspecto "positivo" e o "negativo",
p. ex., a persona e a sombra, a dicotomia entre mente e corpo no ego fortalecido,
etc..
O autor deixa transparecer, no final
do livro, sua orientação tipicamente oriental. Na realidade, durante
todo o livro, ele prepara o leitor para um beco aparentemente sem saída,
pois incita ao mesmo que persevere em práticas que unifiquem os aspectos
dicotômicos de seu ser psicológico, mas, no final, sentencia que,
na realidade, após todo este esforço, nada há que precise
ser feito. Para ele, o fato de, em algum momento, percebermos que não
somos o que observamos, já abre as portas da libertação.
A partir do momento que desconstruímos nossos limites, derrubamos a parede.
E, na verdade, nada há para ser feito, apenas ser uma testemunha das
interações entre os opostos dentro de nós. Não existe
batalha, não existe vencer, não existe perder, nem mesmo existe
aquele que luta. Se lutamos é porque, de alguma forma, ainda estamos
presos às aparências de algum nível de nossa psique, a saber:
a persona, o ego, o centauro, o transpessoal.
Na unidade não há divisões (redundância!). Enquanto nos identificarmos com aquele que observa, ou com aquele que é observado, não estaremos unos, não seremos um "holos". É claro que não existe uma palavrinha mágica para fazer com que nos iluminemos, tipo "abracadabra". A vida é um processo e, como tal, acredito que há estágios a passar e foi assim que percebi os níveis abordados no livro. Porém, apesar de serem estágios, não possuem uma rigidez cronológica, tipo primeiro passarei pelo nível de persona, depois de ego, etc.. Se assim fosse, ficaríamos ansiosos por "ultrapassar" os estágios e por conquistar o "prêmio" de chegar ao próximo nível.
Isso só causaria a continuidade
da nossa ilusão. Todos os níveis são interpenetrantes e
funcionam mais como o que Fritjof Capra chamaria de "teia", ou rede.
A diferença que ocorre, quando se integralizam os opostos, é que
conscientizamos todos os níveis e transitamos livremente por todos eles.
Continuamos sofrendo, enquanto sombra; continuamos orgulhosos, enquanto ego;
e continuamos a sorrir e a festejar a vida; porém, estes estados assumem
sua verdadeira dimensão, seus verdadeiros valores. Eles se tornam passagens
em nossas consciências e não fardos aos quais nos agarramos, receosos
de perdê-los, no caso da felicidade; ou de vivê-los, no caso do
sofrimento.
Não sei quanto aos demais
participantes desse grupo de estudos, mas, quando percebi o que ele quis dizer
no livro, fiquei apreensivo. Porquê, mesmo que eu negue tudo e aja como
se não precisasse fazer nada, ainda assim estou fazendo alguma coisa!
A palestra sobre Filosofia Oriental do Sr. Julio Jacobi, instrutor de Tai Tchi
Tchuan, assistida por nosso grupo de estudos, ilustra muito bem essa filosofia
zazen. Quando alguma coisa se manifesta, o oposto também se manifesta
instantaneamente - Yin/Yang. Sendo assim, qualquer força produzirá
uma força igual em sentido contrário (Newton!).
Mas, no final das contas, devemos
apenas ser...
Ser o quê?
A partir do momento que você
é "alguma coisa", você é também o oposto
dela.
Então, sejamos... o tudo e o nada...
Notas
1-
Graduando do Curso de Ciências Biológicas da UNISINOS - 7o. semestre.
Integrante do Grupo de Estudos de Psicologia Transpessoal na UNISINOS.
Email: [email protected]