Contribuições para o Plano Reconstruir o Centro
12 de Junho de 2001

O Fórum Centro Vivo, dentro do prazo proposto pela Prefeitura, encaminha suas observações iniciais a respeito do Plano Reconstruir o Centro. Após a apresentação do Plano em maio, realizamos diversos debates entre as entidades que participam do FCV, em plenária geral e em frentes de trabalho, contribuindo inclusive na divulgação do Plano. Ressaltamos que, como se trata de um Fórum, não há pretensão de enviar um documento acabado e definitivo, mas sim um material preliminar que reflita os debates realizados até o momento.
Encaminhamos em anexo o primeiro número do Jornal do Fórum Centro Vivo, que contém: a história da sua fundação, a composição dos participantes (movimentos populares, sindicatos, ongs, grupos culturais, assessorias técnicas, entidades de universidades, estudantes, militantes etc.), a Carta de Princípios aprovada na fundação (que orienta o modo como avaliamos as propostas para a região), informações sobre a campanha que estamos empreendendo junto com os movimentos de moradia contra os despejos e pelo direito à habitação, uma entrevista com o Pe. Júlio Lancelotti e uma explicação da estrutura atual do FCV.
Quanto às nossas observações preliminares sobre o Plano, deixamos claro que as críticas apresentadas não desmerecem o importante trabalho realizado até o momento pela Prefeitura, nem o fato de em pouco tempo de governo ter sido apresentada uma proposta inter-secretarial como esta. O objetivo de enfrentar o desafio de realizar uma política urbana com inclusão social  merece todo nosso apoio e já indica a posição crítica assumida pela Prefeitura em relação aos tradicionais processos de renovação das áreas centrais caracterizados pelo aprofundamento da exclusão social e da segregação espacial. Desse modo, esperamos que esse documento seja recebido como uma contribuição para que esse objetivo seja alcançado. Temos a certeza de que nossas propostas não serão desconsideradas e que pontos polêmicos poderão ser debatidos, através de espaços mais amplos de participação.

1) OBSERVAÇÕES GERAIS

Participação

A primeira questão que apontamos é a forma de participação na elaboração do Plano. Não consideramos que o envio de contribuições por escrito dentro do prazo estipulado seja um modo efetivo de se convocar a população a participar. Esse procedimento torna a participação algo fortuito: pode-se ou não participar, assim como a Prefeitura pode ou não aceitar as contribuições, a depender da sua própria avaliação. Afirmamos a necessidade de se constituir um fórum de participação amplo. Esse fórum não pode se reduzir a um conselho como o do Procentro, criado na gestão Maluf, e até hoje com sua composição inalterada (o Fórum Centro Vivo já encaminhou à Administração Regional da Sé proposta de ampliação da composição do Procentro, mas ainda assim consideramos insuficiente como espaço democrático de participação).
Relação com a política urbana para o município
Embora seja positivo o fato da Prefeitura ter conseguido elaborar um plano para o Centro, é preocupante a ausência de uma discussão sobre o Plano Diretor da cidade. Se não podemos esperar a aprovação de um PD para iniciar outras propostas, é de se estranhar que o processo não tenha ao menos se iniciado, e por isso gostaríamos de saber qual a relação do Plano para o Centro com o Plano Diretor e com a política urbana geral. Haverá planos semelhantes sendo realizados em outras sub-prefeituras? O Plano Reconstruir o Centro é uma espécie de modelo para as outras sub-prefeituras? Corre-se o risco de chamar a atenção para o Centro, e não tratar do conjunto da cidade. Desse modo, deixamos de inverter prioridades, e não revertemos a concentração de investimentos no setor centro-sudoeste, que marcou as últimas duas administrações, Pitta e Maluf. Não há como falar em inclusão no Centro, sem que o Plano esteja inserido numa política de descentralização, uma vez que numa cidade do porte de São Paulo, com um sistema de transporte público ineficiente, uma grande parte da população tem poucas condições de uso do Centro. No caso dos equipamentos de cultura e lazer, por exemplo, torna-se inviável sua utilização noturna para quem mora longe, na periferia.
Uso dos espaços - Informalidade, Ilegalidade e Direitos
Apoiamos a proposta de resgatar o caráter público do espaço público , aspecto central do Plano, mas colocamos as seguintes questões:
- A questão da informalidade, que é estrutural na formação de cidades na periferia do capitalismo como São Paulo, não pode ser tratada como ilegalidade. A condição de informalidade em que a que a população pobre é levada a viver, para garantir sua habitação, trabalho, etc é decorrente da falta de políticas públicas sociais que garantam os seus direitos como cidadãos. Essa condição repercute sobre todas as outras relações sociais. Por isso, o problema do comércio informal, das favelas, dos cortiços e das ocupações, não pode ser apenas tratado do ponto de vista da lei e da sua suposta ilegalidade, por uma leitura conservadora do direito jurídico. Ao tratar desses problemas, consideramos que um enfoque mais progressista não pode abrir mão de compreender como superar a informalidade pelo ponto de vista da inclusão social e dos direitos.
- A grande ilegalidade  no uso dos espaços que devemos combater é a dos grupos econômicos que se apropriam dos espaços públicos não como forma de sobrevivência, mas de ampliação de seus lucros. Quem é ilegal nessa cidade? É necessário afirmar o resgate das áreas públicas ocupadas ilegalmente ou através de concessão, para particulares que não têm interesse social, como, por exemplo, grandes clubes ou estacionamentos (alguns deles revelados na CPI dos espaços públicos, na CMSP).
- A ação não pode se restringir ao espaço público, por isso sugerimos acrescentar o objetivo de fazer cumprir a função social da propriedade, contra a retenção de imóveis vazios. Não podemos aceitar que imóveis permaneçam ociosos numa cidade com alto déficit habitacional como São Paulo. A função social da propriedade e o direito à moradia devem prevalecer na definição de políticas.
Mercado imobiliário
A detenção de imóveis no centro de São Paulo continua a ser um grande negócio, seja pela excessiva proteção da propriedade urbana, seja pelo potencial de negócios futuros na região com melhor infra-estrutura na cidade. Um programa de reconstrução do centro não pode compactuar com este estado de coisas. Pelo contrário, deve denunciá-lo e minar as fundações deste modelo anti-social. Combater a especulação, desestimular a concentração imobiliária e impor o cumprimento da função social da propriedade são alguns dos pontos que devem alicerçar tal programa de reconstrução. Medidas paliativas, desacompanhadas de políticas sociais efetivas, podem representar um desastre, renovando as forças excludentes do mercado pelo efeito reverso das boas intenções.
Questionamos a legitimidade de operações urbanas e outras ações do poder público que tenham por fundamento um processo de valorização imobiliária, mesmo que sob a justificativa de gerarem contrapartidas sociais (ver carta de princípios, no jornal do FCV, em anexo). Acreditamos que seja esse o caso da Operação Urbana Centro, e por isso propomos sua revogação. A Operação Urbana Centro foi aprovada em um contexto político em que as práticas do poder público estavam intimamente vinculadas aos promotores imobiliários, inclusive através de esquemas ilícitos. A O.U. Centro visa atrair um tipo de uso do chamado terciário avançado, e tem como objetivo uma reconversão dos espaços que serve mais aos grandes projetos imobiliários do que à reciclagem dos edifícios para fins sociais. Ao promover a valorização imobiliária, pode-se inviabilizar a inclusão social, objetivo do Plano Reconstruir o Centro, uma vez que o preço dos imóveis atualmente já dificulta a realização de uma política habitacional, e leva muitos inquilinos à condição de encortiçados.
A respeito dos grandes projetos imobiliários, temos preocupação quanto ao impacto sócio-econômico e territorial que produzem. Outras cidades, como Porto Alegre, exercem controle na implantação desse tipo de equipamento. Na França, por exemplo, há uma proibição desse tipo de equipamento de grande porte nas áreas centrais, e uma regulação da sua implantação nas áreas periféricas.
Centro como lugar democrático
O Centro é apresentado no Plano como um dos territórios mais democráticos da cidade . Certamente apoiamos iniciativas com o objetivo de transformá-lo nesse lugar democrático, mas não concordamos com a naturalização das desigualdades sociais e de classe como se fossem
apenas um fenômeno democrático  de diversidade social .
Não se pode deixar de lembrar que enquanto alguns desses grupos são recebidos com todas as honrarias dos incentivos fiscais, da produção de infra-estrutura publicas, espaço em noticiários etc, outros recebem um tratamento repressivo, como é historicamente o caso do povo de rua, dos catadores, dos ambulantes, das minorias etc.
Como caso exemplar da ausência de democracia nessa convivência , podemos mencionar as reintegrações de posse. A reintegração dos imóveis na área central tem se dado através de ações rápidas da justiça. Isso mostra que enquanto a ocupação é tolerada em áreas de risco, especialmente na periferia, ou em regiões que não são de interesse do mercado imobiliário, é rapidamente reprimida quando se trata de imóveis vazios no Centro da cidade. Esse modo diferenciado de tratamento indica a existência de uma disputa pelos espaços da cidade, que não pode ser escamoteada.
A democracia pressupõe o enfrentamento público de posições e interesses divergentes, por isso a nossa reivindicação de que o plano e as políticas da Prefeitura sejam construídos coletivamente, com ampla participação, e não apenas com conselhos restritos, sujeitos a pressões dos lobistas.
Violência
Outro questionamento que fazemos sobre o texto do Plano Centro é a abordagem sobre a violência urbana. Não há dúvidas que apoiamos o combate ao crime, organizado ou não. Nosso questionamento é que, se somarmos às diversas falas desta Administração Regional, tanto pelas apresentações públicas deste plano quanto pelas reportagens veiculadas na mídia, temos no texto uma referência direta sobre combate ao crime como uma forma de intimidação dos ambulantes.
Como citaremos adiante no espaço destinado aos ambulantes neste documento, não apoiamos atividades ilegais como o contrabando ou a receptação. Mas o problema da violência na área central é bem maior e mais grave do que a venda de produtos de fonte duvidosa. Mesmo sabendo que muito pouco a prefeitura pode atuar nesse campo o diagnóstico da violência/ilegalidade no Centro não pode restringir-se aos camelôs. É notório, por exemplo, que as principais máfias que atuam no país estão territorialmente localizadas no Centro da cidade, impondo nestes espaços sua lei própria. Podemos citar como exemplo as máfias coreana, a chinesa, a japonesa, a nigeriana. Também é notória a presença de trabalho escravo de bolivianos, concentrados na região do Bom Retiro e entorno, principalmente no setor de confecção. Assim, da maneira em que o texto dispõe, não aparece a preocupação com a atuação do crime organizado no centro, mas sim a repressão ao comércio informal.
2) MORAR NO CENTRO

OBJETIVOS
* incluir no texto: prioridade à Habitação de Interesse Social 

PRODUÇÃO DE UNIDADES HABITACIONAIS
1) Não consideramos as linhas de financiamento atuais adequadas a faixas de baixa renda. O PAC (CDHU) foi uma promessa que não saiu do papel. O PAR (CEF) tem viabilizado alguns empreendimentos, mas beneficia apenas famílias com renda superior a 540 reais (3 SM) e além disso, obriga a execução de obras por empreiteiras, resultando em apartamentos muito pequenos (muito abaixo do índice de m2 por pessoa recomendado pela ONU).
2) Por isso defendemos que estas linhas de financiamento (federal e estadual) sejam utilizadas dentro de diretrizes e parâmetros elaborados conjuntamente com a Prefeitura e os Movimentos Populares, de forma a privilegiar o interesse social, a qualidade das habitações e a auto-gestão dos empreendimentos.
3) Apoiamos o programa de subsídio municipal complementar proposto e pedimos mais informações a respeito. Propomos que atinja faixa de 1 a 3 SM, para que esta seja incluída nas linhas de financiamento existentes.
4) Cobramos da Prefeitura a existência de programa próprio para produção de unidades habitacionais na área central, com recursos orçamentários e da Cohab, privilegiando a auto-gestão dos empreendimentos pelos futuros moradores.

PERÍMETROS DE REABILITAÇÂO INTEGRADA DO HABITAT (PRIH)
Este programa surgiu numa parceria com os Movimentos Populares e suas Assessorias Técnicas que apresentaram o Morar Perto - Centro . Entretanto, o Morar Perto , que pretendia seguir as diretrizes e o nome dado no Programa de Governo do PT, foi transformado em PRIH no Reconstruir o Centro , sem maiores explicações. Não é por este ato de momentâneo (e talvez involuntário) descompromisso por parte de técnicos da Prefeitura que deixaremos de apoiar esta iniciativa, na qual temos participação fundamental. Reiteramos que o programa só terá sucesso se mantiver uma relação positiva e participativa com os Movimentos Populares e não de cima para baixo.

OUTRAS INTERVENÇÕES
- Apoio à conclusão do projeto do Casarão Celso Garcia.
- Apoio à simplificação dos procedimentos para aprovação dos projetos.
A) FAVELA DOS GATOS: Apoio a relocação da favela, tendo em vista sua situação de risco, desde que em área no bairro e mantendo a integridade da comunidade. Não consideramos adequada a transferência para outros programas da Sehab fora do entorno.
Deve ser firmada uma Carta Compromisso da Prefeitura com a comunidade para que haja garantia do prazo de permanência nos alojamentos, evitando o que ocorreu repetidamente nas últimas administrações, com famílias esquecidas há anos em abrigos provisórios.
* substituir no texto: para outros programas da Sehab , por para conjunto habitacional no bairro, em projeto com participação da comunidade .
obs: técnicos da Sehab já nos informaram que a área do entorno imediato da Favela já possui aprovação de HIS para um Cingapura. É possível utilizar esta aprovação e realizar um projeto diferenciado e com a participação da comunidade. O financiamento pode ser casado entre recursos municipais, federais, estaduais e privados (como do Holliday Inn). É preciso garantir que o corte atual de renda do PAR não exclua a maioria dos moradores da favela do novo conjunto habitacional. Por isso a necessidade de subsídio e de um fundo complementar.

PROJETOS PREVISTOS
- Apoio à implantação do sistema de Locação Social, especialmente para atingir famílias entre 0 e 3 SM, idosos, solteiros, moradores de rua. Quanto ao fundo de aval, temos dúvidas se sua criação não irá estimular a especulação imobiliária na região, pois traz para o especulador um investimento de alta liquidez e segurança, em que os riscos são socializados, já que a Prefeitura é quem arca com eles. Assim, o fundo de Aval tem que ser acompanhado por uma política que torne antieconômica a especulação imobiliária na região central.
- Para as intervenções de controle de risco, propomos que, no caso de transferência das famílias para abrigos provisórios, estes possuam qualidade habitacional mínima (conforto térmico, iluminação, salubridade) e tamanho adequado à composição familiar, seguindo normas internacionais.
- Apoio às intervenções de melhorias em cortiços e favelas, realizadas com participação das famílias envolvidas.
- Apoio ao programa de formação de cooperativas para produção residencial, desde que esteja vinculado ao programa de produção de unidades habitacionais da prefeitura.
- Apoio à viabilização de soluções habitacionais para minorias não atendidas.
* Sugestão: Contemplar nos programas habitacionais iniciativas de emprego e renda, atividades sociais e culturais. Para isso, o programa habitacional deve conter recurso e apoio técnico específicos para essas atividades e espaços físicos a elas destinados. Associar áreas comerciais e de trabalho aos empreendimentos contribui para sua sustentabilidade econômica e social (renda para as famílias, pagamento do condomínio e manutenção, maior auto-estima, etc).

REVISÃO DA LEGISLAÇÃO
A revisão da legislação é uma ação premente para o sucesso de qualquer intervenção pública na área central e necessária para a viabilização de projetos urbanísticos e habitacionais econômicos e de qualidade.
Neste sentido, Fórum Centro Vivo apresenta algumas intervenções prioritárias em relação ao Plano Centro:
- Apoio à alteração no conjunto da legislação urbanística e edilícia, com destaque para a aprovação de Áreas e Zonas de Interesse Social que bloqueiem a especulação imobiliária em curso na área central, que muitas vezes procura se beneficiar dos financiamentos destinados à baixa renda para vender imóveis que estavam em dificuldade de entrar no mercado.
- Proposta para que na revisão da legislação sejam contempladas as sugestões dos Movimentos e Assessorias, como por exemplo:
- Uma maior flexibilização das normas edilícias (tanto das previstas no Código de Obras como no Decreto de habitação de Interesse Social) e padrões técnicos de construção (permitindo diversidade de projetos); A legislação é voltada para a construção de novas unidades e não foi pensada para a reciclagem ou reforma de edifícios.
- Permitir uso misto nos imóveis destinados à Habitação de Interesse Social, possibilitando o uso comercial das áreas térreas, por exemplo, para garantir a sustentabilidade do condomínio.
- Melhor aproveitamento no uso e ocupação do solo (buscar instrumentos urbanísticos de ampliação do coeficiente do potencial construtivo, urbanização consorciada, etc) para imóveis destinados à habitação de interesse social.
- Redução dos prazos de aprovação e dos trâmites burocráticos.
- Canais que permitam a democratização e participação popular desde a discussão da política urbana da região até a execução dos projetos.
- Buscar solução para as demandas que não são atendidas em outros programas de financiamentos para a habitação existentes (por exemplo, a população situada na faixa de renda abaixo de 1-3 s.m. e os sem-renda).
- Utilizar instrumentos urbanísticos legais para conter a especulação imobiliária da região.
- Buscar instrumentos que contenham a expulsão da população local moradora, que ocorre em centros urbanos de muitas cidades, quando prevalece a lógica da valorização imobiliária.
- Criação de um sistema para controle público sobre a aplicação dessas legislações e assessoria jurídica gratuita à população carente, como forma de democratização de informações.
- Apoio à todas as formas de controle (e não apenas monitoramento) dos preços imobiliários. Caso contrário, o programa de habitação social na área central pode ser inviabilizado.
- Como foi dito na introdução, mais do que avaliação, controle ou correção da Operação Urbana Centro, propomos a sua revogação, uma vez que o plano Reconstruir o Centro  aparece dando novas diretrizes para a política urbana do centro, que não é aquela apontada por este diploma legal. Por isso: Sugestão de corte no texto no que se refere à revisão da lei de Operação Urbana Centro.

FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE
Qualquer programa que pretenda ultrapassar os limites das boas intenções e enfrentar a questão da especulação imobiliária no centro de São Paulo deve partir de um diagnóstico preciso sobre a situação fundiária de São Paulo, bem como a destinação dos imóveis localizados na região central.
A Prefeitura pode tomar uma série de medidas considerando o respaldo legal da Emenda Constitucional 29, que prevê expressamente a utilização do IPTU progressivo como instrumento jurídico de garantia à função social da propriedade urbana.
Como sugestões deste Fórum à municipalidade podemos citar algumas medidas, de caráter intersecretarial que podem relacionar-se com a proposta de moradia deste Plano:
1. Elaboração de critérios para a verificação do cumprimento da função social da propriedade.
Como por exemplo, criar critérios que classificariam o que é imóvel subtilizado, quanto tempo um imóvel pode ficar sem uso etc. Aí também ressaltamos o papel de um Plano Diretor, que defina as prioridades da região e a função social que estes imóveis têm que cumprir. Este trabalho pode ser conjunto da Secretaria de Negócios Jurídicos, SEMPLA, SEHAB, AR-SÉ, etc.
2. A partir destes critérios, processar um levantamento de todos os imóveis localizados na Região Central que não cumprem a função social.
Verificar se há imóveis vazios e a quanto tempo, por exemplo. Este levantamento deve ser feito pela Administração Regional.
3. Elaborar legislação, com base no art. 156, §1o., I e II, que torne antieconômica a especulação imobiliária no centro da cidade.
Afinal, a Constituição Federal apresentou um grande avanço no âmbito da política urbana democrática e simplesmente não é aplicada, por ausência de regulamentação legal. Mais uma vez, chama-se atenção para o Plano Diretor, que deve ter cuidados neste sentido.
4. Elaboração de relação com o nome dos maiores proprietários do centro, bem como a situação fiscal de seus imóveis.
A idéia é um cadastro dos grandes proprietários do Centro. Como é sabido, a região central possui um grande número de imóveis concentrados nas mãos de alguns poucos especuladores imobiliários, que podem ser chamados de latifundiários  urbanos. Um levantamento mais detalhado pode dar uma visão diferente da questão dos investimentos imobiliários no Centro. E este levantamento é relativamente simples, pois basta consultar cadastros de fiscalização da Secretaria de Finanças.
5. Impossível, porém, falar em política tributária sem que haja um mecanismo dinâmico de arrecadação e execução de dívidas fiscais.
Atualmente, milhares de execuções fiscais encontram-se paradas na Justiça, seja pela morosidade do Poder Judiciário, seja pela falta de procuradores que possam defender a municipalidade em juízo. Apesar de tal situação calamitosa, a administração da dívida ativa pode ser instrumento de políticas públicas, pelo estabelecimento de prioridades. É imprescindível que seja levantada a relação dos imóveis dados em garantia pelos contribuintes devedores, no sentido de revertê-los para o Município. Seja pela venda em hasta pública, seja pela possibilidade de acordos, o levantamento de tais imóveis pode representar um início de reversão da dívida ativa em benefício da população de São Paulo. Neste sentido propomos:
Elaborar em conjunto com a Secretaria de Finanças e Secretaria de Negócios Jurídicos um mecanismo de administração da dívida ativa que compreenda:
A. Levantamento dos imóveis no Centro dados em garantia em processo de execução fiscal.
B. Priorizar execuções fiscais que impliquem reversão de imóveis privados para o poder público.
C. Desestimular o alongamento de pendências judiciais através de acordos que impliquem na reversão de imóveis privados para o poder público.
A situação da administração da dívida ativa municipal chegou a um estado tão crítico que o Poder Público não tem conseguido receber créditos líquidos e certos, resultado de decisões transitadas em julgado. Para o devedor, a morosidade da Justiça e a incapacidade de cobrança do Município têm sido incentivos para a prorrogação de pendências judiciais. Tal quadro se agrava por um acordo firmado entre a Procuradoria do Município e o Poder Judiciário que, em razão da insuficiência no atendimento à demanda, tem limitado o número de execuções fiscais propostas mensalmente. Assim, com o levantamento proposto, é possível priorizar, na administração da dívida ativa do Município, as execuções que comportem reversão de bens localizados na área central e recebimento de créditos que desestimulem a especulação imobiliária nesta área.
6. Levantamento das grandes áreas públicas da Região Central ocupadas (legalmente, por concessão ou ilegalmente) por particulares e que não tenham interesse social, como por exemplo áreas levantadas pela CPI de áreas públicas.
Este levantamento pode ser feito através de consulta aos cadastros do Departamento de Patrimônio da Secretaria de Negócios Jurídicos, que tem registro de todas as áreas públicas e processos relativos à irregularidades no uso destas áreas. Feito este levantamento a AR-SÉ faz estudo da destinação adequada destas áreas, seja para habitação de interesse social, para equipamentos coletivos, áreas verdes e de lazer, etc.

3) INVESTIR NO CENTRO

OBJETIVO
Seria interessante a AR-SÉ explicitar que tipo de investimento (de caráter social ou imobiliário?) e o que está sendo entendido como intervenções de grande porte .
Como está sendo proposto o monitoramento das intervenções, pressupomos que exista a previsão de que elas podem ocasionar impactos socioeconômico negativos . Por isso propomos que:
1) As intervenções sejam amplamente discutidas antes de ocorrerem, ao invés de realizar o monitoramento a posteriori
2) Evitar que as intervenções beneficiem grandes grupos privados nacionais e estrangeiros ao invés da maioria da população.
Incluir no texto: Discussão pública e aprovação das intervenções e da forma como serão realizadas através de consulta a toda a população diretamente envolvida.

FAVELA DOS GATOS
Consideramos que a remoção da favela não deve ocorrer em função de investimentos imobiliários. Ao contrário, o novo Hotel Holiday Inn, por exemplo, deveria ser chamado para colaborar financeiramente com a realocação das famílias no entorno e não com a sua remoção . Por isso:
- Cobramos a retirada completa deste item do Investir no Centro , uma vez que o problema da Favela deve ser tratado no sub-programa Morar no Centro  e do Parque Norte no sub-programa de áreas públicas e de lazer. A manutenção de uma questão social dentro do sub-programa de Investimentos  nos parece inadequada.
- A proposta do Parque Público Norte não está bem explicada e deveria ser contemplada num sub-programa de áreas públicas e de lazer e não no de investimentos.
- Somos a favor de que os atuais clubes privados voltem a tornar-se públicos. Propomos a vistoria da dívida municipal que possuem.
- Somos contrários à instalação de Shopping Centers, Hipermercados, torres de escritório etc na área.
- Ver nossa posição a respeito da Favela dos Gatos nos comentários ao sub-programa Morar no Centro .

ORLA FERROVIÁRIA E PÁTIO DO PARI
- Certamente trata-se de um intervenção necessária, capaz de mudar a cara da cidade. Por isso somos a favor de que seja amplamente discutida com a sociedade para a construção de um pedaço de cidade mais democrático, humano e bonito.
- Somos contra e faremos oposição à entrega da área para Operação Urbana e empreendedores imobiliários, o que quase ocorreu por ocasião da Torre Marrarish.
- Apoiamos uma iniciativa que contemple parques, escolas, hospitais, universidades, habitações, comércio e que seja garantida a participação popular na discussão e na gestão destes espaços.


PARQUE DOM PEDRO I
- Apoiamos a iniciativa e solicitamos mais informações a respeito do projeto.
- Cobramos a participação popular e a garantia da devolução do espaço público ao público.
* Proposta: retirada imediata das cercas que rodeiam o Palácio das Indústrias, como no projeto original e na primeira gestão do PT.

4) COMÉRCIO INFORMAL
Uma vez que o Plano Reconstruir o Centro  tem como um de seus principais objetivos a organização do comércio ambulante , e a questão do comércio informal perpassa ou tem relação com vários tópicos deste plano, senão todos, faremos um comentário geral.
O plano sinaliza a execução de um Projeto Piloto no quadrilátero compreendido entre as ruas Sete de Abril, Conselheiro Crispiniano a as avenidas São João e Ipiranga. Só esta região concentra hoje aproximadamente 2 mil trabalhadores informais.
- Qual a alternativa oferecida a eles? Para onde eles irão?
- Por que não foram chamados para buscar alternativas conjuntamente?
As medidas preconizadas, além de representarem um desrespeito ao Programa de Governo do PT pelo qual foi eleita a prefeita Marta Suplicy em nada de diferencia das empreendidas por Celso Pitta:
O Plano de governo da Prefeita prevê:
COMÉRCIO-CIDADE: articula a relação comerciante independente ambulante e as necessidades de valorização do espaço público, fornecendo instrumentos de apoio e crédito por meio de agência de desenvolvimento.
O trabalhador ambulante será reconhecido e terá seu trabalho regulamentado no campo da economia solidária de modo a criar as condições para que se torne um agente econômico legal reconhecido. A autorização para esse tipo de atividade será coletiva, e não mais individual, e assentada num projeto que definirá o padrão urbanístico, a forma de instalação desse comércio e as mercadorias a comerciar, conforme o local da cidade. Ações previstas:
- identificação e cadastramento dos ambulantes em atividade no âmbito das Subprefeituras;
- definição, com a participação de todos os atores envolvidos, de projetos urbanísticos para os locais de grande concentração de ambulantes de modo a compatibilizar o direito ao trabalho dos ambulantes e os interesses do comércio foral;
- desenvolvimento de programas em parceria com entidades como Sebrae, Banco do Povo e outras para qualificação e financiamento do comércio ambulante;
- criação de programas de apoio às micros e pequenas empresas que atendem preferencialmente o comércio ambulante;
- desenvolvimento de projetos de pequenos e médios centros de comércio (shoppings) economicamente viáveis nas regiões com alta densidade de trabalhadores ambulantes .

Mas, o que vêm ocorrendo é diverso deste plano:

1. O tratamento proposto é a política do fato consumado, e apresenta como primeira medida a retirada dos ambulantes, recorrendo a velha fórmula da coerção, a utilização repressora dos órgãos policiais e de segurança.
2. Apresenta a contratação de mais fiscais e aquisição de viaturas, como se esta fosse a varinha de condão que faltava para a realização de ação disciplinadora.
3. Fala em atualização de dados dos ambulantes cadastrados para emissão de Termos de Permissão de Uso (TPU s), mas não revela que isto nada mais é do que validar o cadastramento realizado por Celso Pitta. A CPI da Propina condenou, em seu relatório final, este cadastramento por inúmeras fraude. Além do que cerca de 60% dos ambulantes ficaram de fora dele.
4. Propõe a imediata reabilitação dos Bolsões feitos por Celso Pitta e avaliação de demais áreas. Não há uma citação sequer à proposta de se criar outras alternativas como, por exemplo, os Shoppings Populares. Medida que, com certeza requer maior atenção e participação, pois é justamente no centro onde se apresenta maior potencial para implementá-los. O centro possui muitos prédios desocupados que podem gerar pequenas lojas em número significativo, contribuindo com a desobstrução de espaços públicos.
5. Propõe a divulgação de cartilhas com palestras sobre o Decreto baseado na lei Bruno Feder, considerado defasado pelo próprio ex-vereador. Este decreto além de jogar no lixo o Programa de Governo do PT, foi elaborado para atender uma pequena parcela dos ambulantes, e o mais grave: sem nenhuma discussão. Mas o que ele evitou foi a concretização de uma nova alternativa baseada em projeto de lei que se encontra na Câmara Municipal, por isso que se cria forte resistência em realizar novo cadastramento.
6. Fala em capacitação dos ambulantes, mas não apresenta nenhuma proposta concreta. Não diz qual o papel do governo nesta questão e que medidas poderão ser tomadas. Não há referência a políticas de geração de renda e nem a articulação com os programas que já existem.
7. No sub-programa denominado Descobrir o Centro  aborda-se o potencial do turismo e limita-se a proposição de criação de feiras como a de imigrantes, a ampliação do horário de funcionamento de equipamentos culturais públicos e privados, incentivando a ocupação do centro após as 18 horas. Novamente não há a inclusão dos trabalhadores informais. Podemos perfeitamente criar feiras voltadas ao turismo de negócios, feiras temáticas e com produtos e souvenires com a marca de nossa cidade.
8. No sub-programa Investir no centro : poucas referências são feitas ao comércio informal, concentra-se basicamente nas regiões da rua 25 de Março, Parque Dom Pedro e zona cerealista. Até o momento mais parece uma política de segregação. Por ter toda a importância colocada no Reconstruir o Centro, a questão do investimento e os poucos recursos traduzem a real discussão e a distância entre o discurso e a prática, afinal manter a velha política não requer grandes investimentos.
9. Por último, lamentamos não haver sequer uma referência ou abordagem à questão da Economia Solidária.

Apresentamos abaixo o levantamento feito pelo Sindicato do número de ambulantes no centro, aproximadamente 16 mil, e apenas cerca de 5 mil se cadastraram na gestão de Celso Pitta.
 Região 25 Março: já a partir das 3 horas da manhã cerca de 2 a 3 mil ambulantes se instalam nas ruas, número que chega a 5 mil por volta das 8 horas. É conhecida como Feirinha da 25 de Março , os produtos vendidos no atacado para abastecer os próprios ambulantes e sacoleiras de todos os lugares do país. Predomina a venda de bijuterias, confecções, cintos, bolsas e uma infinidade produtos sazonais. A partir das 8 horas há uma troca de ambulantes, e cerca de 3 mil ocupam os pontos trabalhando até às 17 horas.
 Parque D.Pedro / Praça Fernando Costa (Bolsão): 700 ambulantes
 Ladeira General Carneiro: 300 ambulantes.
 Largo da Concórdia / Brás: 3 mil ambulantes.
 Ruas São Bento / 15 de Novembro / Direita: 1500 ambulantes.
 João Mendes / Liberdade: 300 ambulantes.
 Xavier de Toledo / Barão de Itapetininga / 24 de Maio / 7 de Abril / Ipiranga: 2 mil ambulantes.
 Praça do Correio / Metrô São Bento: 400 ambulantes.
 Ladeira da Memória: 300 ambulantes.
 Metrô Anhangabaú: 200 ambulantes.
 Metrô Luz/ CPTM / Cásper Libero / Parque da Luz: 350 ambulantes.
 Bolsão Armênia: 200 ambulantes.
 Santa Cecília / Santa Casa: 200 ambulantes.
 Avenida Angélica 100 ambulantes.
 Avenida Paulista e travessas: 400 ambulantes.
 Rua Vergueiro / Beneficência Portuguesa: 300 ambulantes.
 República / Ipiranga / Consolação: 150 ambulantes.
 Rua Santa Ifigênia: 200 ambulantes.
 Praça da Bandeira: 100 ambulantes.
 Avenida Brigadeiro Luiz Antônio: 150 ambulantes.
 Viaduto Jacareí até a Praça da Sé: 100 ambulantes.
 Largo do Paissandu / Avenida Rio Branco: 50 ambulantes.

PROGRAMA MÍNIMO:
Constituição de grupo de Trabalho Executivo (Centrais sindicais, Secretaria de Desenvolvimento do Trabalho, Sempla, Emurb, Sehab Secretaria de Transportes e Legislativo Municipal, entidades da Sociedade Civil), que discuta e implemente as seguintes ações:
1) Elaboração em cada área administrativa de proposta que incluam múltiplas possibilidades para comércio informal, Shopping Populares, feiras temáticas e voltadas ao turismo, shopping populares munidos de coberturas, além da distribuição de pontos em vias públicas subordinados a projetos urbanísticos, compondo assim um mapa final com as localidades e o número de ambulantes presentes.
2) Realização de um novo cadastramento, visto que o cadastramento efetuado na gestão Pitta foi condenado pela CPI por inúmeras fraudes, fazendo parte de seu relatório final.
3) Nova Legislação que conduza o comércio informal ao campo da economia solidária, e a projeto de desenvolvimentos local.
4) Criação de Fundo Municipal para captação de recursos junto à iniciativa privada e outros parceiros, objetivando a viabilização dos projetos referidos.
5) Inclusão dos ambulantes em programas sociais como:
- Banco do Povo
- Cursos de Requalificação
- Incubadoras de cooperativas, entre outros de forma articuladas

5) POPULAÇÃO DE RUA

A população de rua é um fenômeno crescente mundialmente. Ela não existe para o IBGE, que somente se preocupa com quem tem casa. Mesmo fora da contagem do censo está cada vez mais presente nas ruas de nossas cidades, empurrada pelo desemprego, falta de moradia aumento da miséria provocada pela política econômica neoliberal, globalizada e recessiva do Governo Federal.
Na atual conjuntura os moradores de rua não são apenas mendigos que vivem de esmolas. São também trabalhadores. Alguns com emprego, outros até com carteira assinada, mas com salário tão baixo que não têm como pagar o aluguel de um barraco numa favela ou num quarto de cortiço. São homens, mulheres, crianças. Famílias inteiras que vivem pelas avenidas, ruas, pelas praças e viadutos da cidade.
Entidades e grupos sociais sensibilizados e comprometidos com os moradores de rua vêm desenvolvendo trabalho com eles há vários anos na perspectiva de que o morador de rua não deve viver de esmola, mas precisa ser de fato incluído nas políticas sociais. Deve ser tratado como ser humano e cidadão na melhoria de sua condição social (Constituição Da República Federativa do Brasil, 1998 Cap. II dos Direitos Sociais Art. 7 ).
Em maio de 1991, foi realizada uma pesquisa pela Secretaria Municipal de Bem Estar-Social, o primeiro levantamento dos pontos de concentração da população de rua em São Paulo. Essa pesquisa foi realizada na região central da cidade e nos bairros adjacentes. Foram encontrados 329 pontos com pessoas dormindo principalmente sob marquises de prédios públicos e comerciais, 199 ruas, 51 praças e 39 viadutos, e a grande concentração se localiza na área central da cidade. A pesquisa foi concluída com o número de 5.000 pessoas dormindo nas ruas.
O Fórum das Organizações que Trabalham com a População de Rua há 9 anos tem empreendido esforços na mobilização e organização da população, discutindo e exigindo dos órgãos públicos a garantia dos direitos do povo da rua.
O Fórum é um espaço de discussão e organização da sociedade civil na construção de propostas para a política pública.
Com esta organização, em 1997 foi criada a Lei nº 12.316/97 da População de Rua de autoria da vereadora Aldaíza Sposati, que garante os padrões éticos de dignidade e não violência na concentração de mínimos sociais e dos direitos de cidadania, de acordo a Constituição Federal, a Lei Orgânica do Município de São Paulo, a Lei Federal nº 8. 742/93 (LOAS).
Esta Lei foi vetada pelo prefeito Paulo Maluf, mas a população se organizou e derrubou o veto. Na gestão do Prefeito Celso Pitta em vez de regulamentar, julgou inconstitucional por ter sido originada do legislativo. A população continuou lutando por seus direitos e organizando para suas conquistas.
No primeiro ato público da gestão da prefeita Marta Suplicy em 2 de janeiro, a Lei foi regulamentada através do decreto nº 40.232/2001.
Em fevereiro de 2000, foi realizada uma pesquisa pela FIPE (Fundação Instituto de Pesquisa Econômicas) que constatou a existência de 8.704 pessoas morando nas ruas da cidade, 5.000 na região central.
Estudos e seminários Nacional e Internacional têm sido realizado sobre a população de rua. Em junho deste ano (2001), foi realizada a Marcha Nacional da População de Rua em Brasília, organizada pelo Fórum Nacional de Estudos sobre a População de Rua, buscando incentivar sua organização em todo país, também para sensibilizar a opinião pública e especialmente o Governo Federal, para a necessidade de uma atuação solidária na busca de alternativas sociais de políticas de atendimento.
Enfrentando a realidade do aumento da população de rua, o Fórum das Organizações que Trabalham com a População de Rua tem lutado incansavelmente por política sociais de inclusão dos moradores de rua.
 Albergues e Abrigos com qualidade no atendimento;
 Casa de convivência com recursos humanos e materiais para a promoção de trabalho sócio-educativo;
 Moradias Provisórias, serviço realizado em conjunto por SEHAB e SAS;
 Restaurantes Comunitários, garantindo padrões nutricionais adequados;
 Soluções Habitacionais Definitivas, sob responsabilidade de SEHAB, para atendimento a pessoas em processo de reinserção social, que incluam auxilio moradia, locação social e financiamento de construção em regime de mutirão;
 Oficinas, Cooperativas de Trabalho e Comunidade Produtivas;
 Programas Integrados e Projetos Sociais.
 Programa de Saúde qualificado no atendimento da população de rua.
No momento do lançamento do Plano Reconstruir o Centro, que propõe uma política urbana com inclusão social, temos certeza de que há um compromisso da prefeita Marta Suplicy em garantir uma política de atendimento adequada à população de Rua, conforme decreto Lei já citado.


6) CULTURA

O grande risco desse enfoque das coisas é que a gente pode descambar para a estética urbana, não é isso? E para a cosmética urbana, que é a grande moda atual. E para o divertimento das pessoas. E, com isso, se desvia também a direção política. Você não enfrenta os problemas: oferece, cristalizados, os novos espaços. E aí também ajuda os escritórios: aos grandes, você dá as grandes obras, e aos pequenos e médios você dá as renovações locais: 80, 100 pracinhas. E diz que está planejando a cidade toda para os pobres e para o futuro. 
Milton Santos, Cadernos do Le Monde Diplomatique 
Um outro mundo urbano é possível, janeiro 2001.

Inclusão social: uma meta? Diversidade (um exemplo: os moradores de cortiços e a classe média de apartamentos sofisticados): uma característica natural  da sociedade brasileira a ser mantida?
Estas questões estão presentes na proposta de recuperação do Centro de São Paulo. Mas não ficam claras as opções ou caminhos escolhidos.

Exemplo: quando o assunto é cultura, o que parece predominar:
1. é a oferta de programação/produtos/lazer a partir das 18 horas (opção pelos eventos? pela indústria de entretenimento? para quem? com finalidades economicistas  de gerar empregos e lucros?)
2. é a recuperação de cinemas e da vida noturna/cultural, cujas simpatias caminham para o modelo shopping center defendido pela CIE, Hudson e SS, ou seja, ocupação de espaços por uma arquitetura e uma programação de entretenimento para deleite dos já incluídos no circuito da diversão (o capital precisa de recursos públicos para prosseguir / construir (n)esses caminhos que lhe interessam?)

Mas não há nenhuma palavra sobre as centenas de espetáculos, grupos e companhias teatrais que teimam em permanecer vivos no Centro, embora marginalizados pelo processo de mercantilização da cultura. Não há também nenhuma palavra sobre investimentos na produção cultural do morador da região, galpões de cultura, oficinas, festas etc. para atividades para uso cotidiano, sem ser os grandes equipamentos sofisticados e de escala metropolitana.
O Plano apresentado não tem nenhuma proposta clara que assegure a revitalização desse Centro Cultural e essa ausência talvez indique uma capitulação não anunciada frente à visão mercadológica do fazer artístico e do sonho provinciano de criação de uma Broadway subdesenvolvida (neste sentido, o parâmetro é o mesmo do governo federal e o Primeiro Mundo é o modelo a ser copiado).
Se a questão é inclusão, diversidade, participação, respeito aos habitantes desse Centro, o Plano tem que apresentar políticas públicas de fomento permanente a teatros (enquanto prédios), grupos, companhias, artistas, projetos e criações, e que incluam, por sua vez, a população tradicionalmente marginalizada da produção artística.
Aqui se trata da cidade e não apenas da zeladoria e/ou ocupação do patrimônio da Prefeitura. Um bom exemplo nesse sentido é o Programa de fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, formulado pelo Arte Contra a Barbárie e em tramitação na Câmara Municipal.

Participaram na elaboração deste texto do Fórum Centro Vivo:

Arte contra a Barbárie
Central Única dos Trabalhadores  CUT/SP
Centro de Educação Popular - CEPIS
Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
Comunidade Favela dos Gatos
Engenho
Fórum da População de Rua
Fórum de Cortiços de São Paulo
Gabinete do Vereador Nabil Bonduki
Grupo Folias d´Arte
Instituto Pólis
Laboratório de Habitação do Grêmio da FAU-USP
Laboratório de Habitação e Assentamentos Humanos da FAU-USP
Movimento de Moradia no Centro - MMC
Movimento Sem-Teto do Centro - MSTC
Peabiru-TCA
Projeto Perifa
Sindicato Economia Informal - CUT
Teatro de Narradores
Teatro União e Olho Vivo
Teatro X
União dos Movimentos de Moradia - UMM/SP
Unificação das Lutas de Cortiços  ULC
USINA
estudantes da FAU-USP
e pessoas sem vínculos a entidades ou movimentos

(a lista mais geral das entidades que fazem parte do FCV e participaram da elaboração da carta de princípios que orientou este documentos está impressa no jornal do Fórum Centro Vivo, encaminhado em anexo)
ANEXOS

Ambulantes - Breve Histórico
 1711 - Elevada à categoria de cidade  a Câmara impõe medidas para ordenar o comércio ambulante.
 1730 - A Câmara Municipal proíbe os negros de praticar o comércio, acusados pela elite afortunada pela sujeira das ruas e pelas doenças da cidade.
 1797 - A Câmara proíbe qualquer comércio ambulante na cidade - Irmãs do Tenente coronel José Arouche de Toledo, conhecidas como as meninas da Casa Verde, exploravam 30 escravos no comércio ambulante.
 1886 - 50 mil habitantes. Os ambulantes são em sua imensa maioria imigrantes italianos, espanhóis e portugueses.
 1898 - Regulamento proíbe a presença de ambulantes na área central da cidade. Licença intransferível e o pagamento de imposto de estacionamento. Maioria dos ambulantes clandestinos.
 1915  A capital possuía 450 mil habitantes e 3483 ambulantes licenciados, 1 em cada 129 paulistanos exercia a atividade de ambulante licenciada.
 1930 Apesar da proibição oficial os ambulantes se concentravam nas ruas Direita, São Bento, XV de Novembro e Praça da Sé.
 Estado Novo  Os ambulantes passam a ser alvo da polícia e passam a ser detidos sob alegação de vadiagem.
 Anos 50  Jânio Quadros assina num só ano 7 decretos, um destes vetando o comércio ambulante na área central da cidade.
 1960  Jornais veiculam queixas de ambulantes que afirmam que os fiscais da prefeitura impedem doações registradas em Livro de Ouro  aberto pela esposa do prefeito com o objetivo de financiar obras sociais   14 mil ambulantes.
 1974  Estimativas apostam em 40 mil ambulantes, sendo 10 mil concentrados na área central - apenas 1350 possuem licença.
 Secretaria de Abastecimento deixa de conceder licenças: São malandros que preferem perder a mercadoria a sujeitar-se aos cadastros e impostos para a sua legalização .
 Década de 80  Figueiredo Ferraz e Olavo Setúbal desencadeiam campanha popular contra os ambulantes. Aumentam cenas de conflito entre fiscais e ambulantes. Policiais do Tático Móvel e fiscais juntos. Tiros e facadas se tornam comuns.
 Administrador Victor David caracterizou-se pela truculência. Declara ser um problema mais policial que social . Invocando o Exército na tarefa de prender esses marginais.
 1984  Vereadora Irede Cardoso denuncia a existência de uma Máfia que dominava os principais pontos do comércio ambulante da cidade.
 Jânio Quadros 24 horas após assumir o cargo de prefeito: varra o centro e os bairros .
 Luiza Erundina concede licenças e o Termo de Permissão de Uso (TPU) é dado e são distribuídos aproximadamente 9 mil pontos em toda a cidade.
 1993  Maluf  Volta a Turma do rapa   suspenderam a legalização e a emissão do TPU.
 1995  CPI presidida pelo vereador José Eduardo Martins Cardoso apura esquema de propina na Administração Regional da Sé.
 1998  Nova CPI em investigação conjunta com o Ministério Público constata rede de propina em praticamente todas as administrações regionais da cidade.

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