CURSO DE LATIM
 



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LIÇÃO 1

A. O sistema verbal

O português guarda muitas características em comum com o latim. Como provavelmente já é de seu conhecimento, o português derivou-se de uma forma popular de latim falado na região de Portugal, sendo uma de várias outras línguas neolatinas, como o italiano, o espanhol e o francês, para citar as mais conhecidas.

Também o sistema verbal português guardou uma íntima relação com o latino, não sendo os dois, no entanto, perfeitamente equivalentes. Durante este curso veremos exatamente onde os dois divergem. As diferenças devem ser bem aprendidas para uma boa tradução: nem sempre a forma latina terá uma tradução fixa, principalmente no caso do subjuntivo.

O sistema verbal latino possui as seguintes características:

1. Pessoa: as formas verbais do latim indicam a pessoa que fala, se a primeira (eu, nós), a segunda (tu, vós) ou a terceira (ele/ela, eles/elas), sem que necessariamente exijam a presença do pronome para indicar qual seja. Assim, se dizemos em português “amas”, sabemos que se trata da segunda pessoa (tu amas). Em latim ocorre o mesmo: “amas” significa “tu amas”, ou simplesmente “amas”.

2. Número: as formas verbais latinas indicam se o sujeito é singular ou plural: “amas” (tu amas, singular); “amatis” (vós amais, plural).

3. Tempo: as formas verbais latinas indicam se a ação se dá no passado, no presente ou no futuro. Mas como existe a preocupação de se distinguir se a ação foi completada ou se está em curso no momento pedido, o latim, como em português, vai dividir seus tempos passado e futuro. Note as diferenças: “amavi”, eu amei; “amabam”, eu amava; “amàveram”, eu amara (ou eu havia amado).

4. Voz: as formas verbais latinas distinguem dois tipos de voz: a ativa indica que o sujeito realiza a ação, e a passiva indica que o sujeito de alguma forma recebe a ação. Note: “amo”, eu amo; “amor”(pronuncie ámor), eu sou amado.

5. Modo: as formas verbais latinas distinguem três modos verbais. Por modo entendemos a maneira como o sujeito concebe a ação verbal. O modo indicativo é o modo do fatual, e é usado para se fazer afirmações e perguntas; o modo subjuntivo é usado para expressar idéia, intenção, desejo, potencialidade ou suposição; e o modo imperativo é usado em ordens.

B. Os tempos do indicativo

O indicativo quase não apresentará problemas na tradução, e a cada um de seus tempos podemos atribuir uma forma equivalente em português.

Os tempos são:

1. Presente: “amat”, traduzido em português pelo presente simples: “ele ama” (e às vezes por “ele está amando”, já que o latim não faz distinção entre a forma simples e a progressiva)

2. Imperfeito: “amabat”, traduzido em português pelo pretérito imperfeito: “ele amava” (e às vezes por “ele estava amando”)

3. Futuro: “amàbit”, traduzido em português pelo futuro do presente simples: “ele amará” (e às vezes por “ele estará amando”)

4. Perfeito: “amàvit”, traduzido em português pelo pretérito perfeito: “ele amou” (e às vezes por “ele tem amado”)

5. Mais-que-perfeito: “amàverat”, traduzido em português pelo pretérito mais-que -perfeito simples, “ele amara”, ou pelo composto, “ele havia amado”.

6. Futuro perfeito: “amàverit”, traduzido em português pelo futuro do presente composto: “ele terá amado”.

Serão chamados de tempos primários os seguintes: presente, futuro e futuro perfeito; serão chamados de tempos secundários os seguintes: imperfeito, perfeito e mais-que-perfeito. Quando o perfeito representar uma ação começada no passado e que perdura no presente (chamado de perfeito lógico), ele será considerado tempo primário. Por ora, basta saber o seguinte: o presente e os futuros são primários, e todos os passados secundários.

Voltaremos a falar disso mais à frente, quando tocarmos na seqüência dos tempos, sem o conhecimento perfeito da qual não serão possíveis traduções fiéis dos tempos do subjuntivo.

C. O infinitivo

As formas do indicativo são chamadas de finitas, Em latim, “finis” significa “fronteira, limite”, e podemos pensar que as formas finitas são limitadas por pessoa, número, tempo, voz e modo. O infinitivo não é limitado por pessoa, número e modo, mas o é por tempo e voz.

Daremos a seguir a tradução “padrão” para as formas do infinitivo. Nem sempre todo infinitivo que você encontrar nos textos latinos deve ser necessariamente traduzido por uma dessas formas, uma vez que existe uma construção muito importante em latim, chamada oração infinitiva, onde o significado do infinitivo depende do tempo do verbo principal.

Eis as formas:

                                   ATIVO                       PASSIVO

            PRESENTE     amare                         amari
                                   amar                            ser amado
            PERFEITO      amavisse                    amatus esse
                                   ter amado                    ter sido amado
            FUTURO        amaturum esse          amatum iri
                                   haver de amar              haver de ser amado
                                                                       (forma rara)

D. As quatro conjugações

Com exceção do verbo ser, todos os verbos latinos pertencem a uma das quatro conjugações abaixo:

1. Primeira: verbos com o presente do infinitivo em -àre: amàre
2. Segunda: verbos com o presente do infinitivo em -ère: implère
3. Terceira: verbos com o presente do infinitivo em -ere: incìpere
4. Quarta: verbos com o presente do infinitivo em -ìre: sentìre

Uma importante diferença entre a segunda e a terceira conjugações: na segunda o penúltimo e é longo, e por isso recebe o acento tônico; na terceira, o e é sempre breve, e por isso o acento tônico recua. Voltaremos a esse assunto quando tratarmos da segunda e da terceira conjugações.

E. Os tempos primitivos

Tempos primitivos são os tempos fundamentais, de que derivam os demais tempos. Com o seu conhecimento, todos os demais tempos podem ser formados. Por exemplo, o verbo “amar” tem os seguintes tempos primitivos: amo, amavi, amatum, amare, que são, respectivamente, a primeira pessoa do singular do presente do indicativo, “eu amo”; a primeira pessoa do singular do perfeito, “eu amei”; o supino (veremos seu significado mais à frente), “amado”; e o infinitivo presente, “amar”.

Cada um desses tempos primitivos é responsável pela formação de uma série de outros tempos, cujo conjunto formará a conjugação completa do verbo. Costuma-se recomendar que, juntamente com o verbo, sejam aprendidos seus tempos primitivos. Com a prática, no entanto, isso se tornará automático, e não será necessário por ora que você se preocupe com eles. Apenas guarde que esse fato: de apenas quatro tempos os outros todos podem ser formados.

Em um dicionário você deverá procurar sempre pela primeira pessoa do presente do indicativo, ou seja, em “amo”, e nunca em “amare”. É um costume diferente do nosso, que costumamos sempre procurar o significado de um verbo pelo infinitivo.

Um outro fato interessante é que no dicionário você encontrará, para o verbo “amar”, a enunciação de seus tempos primitivos de forma abreviada: amo, -as, -avi, -atum, -are, de onde você formará amo, amas (a segunda pessoal do singular do presente do indicativo, “tu amas”, embora não seja um tempo primitivo), amavi, amatum, amare. E assim com todos outros verbos.

F. O sistema do presente do indicativo ativo das duas primeiras conjugações

Como vimos na seção B acima, seis são os tempos do indicativo, que listamos na seguinte ordem: presente, imperfeito, futuro; perfeito, mais-que-perfeito, futuro perfeito.

Os três primeiros formam o chamado sistema do presente. Todos estes três tempos, o presente, o imperfeito e o futuro, são formados de maneira semelhante. Primeiro, toma-se o infinitivo presente, amare, e retira-se o -re do final. No que sobra, ama-, adicione:

1. Para o presente, as terminações

            -o                                amao, que vira amo    = eu amo
            -s                                amas                           = tu amas
            -t         e forme            amat                           = ele ama, ela ama
            -mus                           amamus                      = nós amamos
            -tis                              amatis                        = vós amais
            -nt                               amant                         = eles amam, elas amam

2. Para o imperfeito, some -ba, formando amaba-, e as terminações:

            -m (não -o)                  amabam                     = eu amava
            -s                                amabas                       = tu amavas
            -t         e forme            amabat                       = ele amava, ela amava
            -mus                           amabàmus                  = nós amávamos
            -tis                              amabàtis                    = vós amáveis
            -nt                               amabant                     = eles amavam, elas amavam

Note que a única diferença nas terminações é que o -o virou -m na primeira pessoa do singular.

3. Para o futuro, some -bi, formando amabi-, e as terminações:

            -o                                amàbio, que vira amàbo         = eu amarei
            -s                                amàbis                                   = tu amarás
            -t         e forme            amàbit                                    = ele amará, ela amará
            -mus                           amàbimus                              = nós amaremos
            -tis                              amàbitis                                 = vós amareis
            -nt                               amàbunt                                 = eles/elas amarão

Note que as terminações são as mesmas do presente. Na terceira pessoa do plural, o i virou u.

Pare um pouco e note:

presente: ama- + terminações (na primeira amao vira amo)
imperfeito: ama- + -ba- + terminações (na primeira acrescente -m e não -o)
futuro: ama- + -bi- + term. (na primeira amabio vira amabo, e na última o i vira u).

Faça uso desse fato para formar os mesmos tempos da segunda conjugação. Use o verbo ìmpleo, “encher”: tome o infinitivo presente, implère, tire o -re, e com o restante, implè-, forme o presente, o imperfeito e o futuro do indicativo. Este é seu primeiro exercício. A substituição de ama- por implè-, sistematicamente, lhe dará a nova conjugação. Note que ìmpleo tem o e breve. Nas demais formas, é longo.

É bom guardar a lição: os três primeiros tempos do indicativo na primeira e na segunda conjugações têm terminações idênticas.

G. O verbo ser

O verbo “ser”, assim como é irregular em português, o é também em latim. Não nos resta outra alternativa senão decorar suas formas. Faça isso o quanto antes, uma vez que ele é dos mais freqüentes, além de servir de base para uma série de outros verbos muito importantes dele derivados.

Eis as formas:

PRESENTE                            IMPERFEITO                        FUTURO
sum     sou                             eram     era                             ero        serei
es        és                               eras       eras                           eris        serás
est       é                                 erat       era                             erit        será
sumus somos                         eràmus éramos                       èrimus  seremos
estis    sois                             eràtis    éreis                          èritis     sereis
sunt     são                             erant     eram                          erunt     serão

Repare a acentuação de cada forma.

H. O sistema nominal

Substantivos, adjetivos e pronomes em latim sofrem variações no fim da palavra, chamadas de flexões. Estas servem para mostrar qual é a relação da palavra em questão com as outras da oração.

Em português, costumamos usar preposições para mostrar uma série de relações. Por exemplo, quando dizemos “casa de Paulo”, usamos a preposição “de” para indicar de quem é a casa, em uma relação de posse, de pertença. Dois substantivos foram relacionados pela preposição “de”.

Em latim isso também se dá. Os Romanos tinham várias preposições para indicar variados tipos de relações e, além delas, usavam terminações especiais, no fim de cada substantivo, adjetivo ou pronome, que variavam de acordo com a relação que queriam estabelecer.

Cada tipo de relação é chamada de caso, e há seis casos em latim, que não esgotam de forma alguma todos os tipos de relações que podem ser estabelecidas entre as palavras. Na verdade, cada caso poderia ser substituído por uma preposição, e vice-versa. Os casos “privilegiados” em latim, com uma terminação especial, são:

1. Nominativo: é o caso da palavra que desempenha a função de sujeito ou de predicativo:

            Femina amat.              A mulher ama.
            Femina est regina.     A mulher é uma rainha.

Nesses dois casos, a terminação -a indica o sujeito da primeira frase (Femina) e o sujeito e o predicativo da segunda (Femina e regina). Note também que essa mesma terminação indica o singular: trata-se de uma mulher, e não de duas ou mais.

Você pode reparar também que em latim não existe artigo, nem definido, nem indefinido. Devemos supri-los, segundo o contexto da oração. É uma preocupação constante na tradução, saber quando usar o definido ou o indefinido. É bom aqui, neste momento, estudar um pouco o uso dos artigos em português, para que possamos ter uma idéia mais clara de suas funções.

2. Genitivo: em geral, o genitivo é usado do mesmo jeito que usamos “de” em português:

            patria feminae             pátria da mulher
            timor aquae                 medo de água
            urna pecuniae             urna de dinheiro

3. Acusativo: em geral, o acusativo é usado para indicar quem ou o quê é o objeto direto de uma oração. Procure saber o que é um objeto direto. Além desse uso, o acusativo pode ser usado após certas preposições.

            Feminam videt.                                  (Ele) vê a mulher.
            Femina in aquam ambulàbit.                A mulher andará para dentro da água.

Note que na primeira frase colocamos o pronome “ele” dentro de parênteses. Na verdade, o verbo “videt” não indica se quem vê é homem ou mulher, como ocorre em português. Por isso, tradicionalmente, o suprimos por “ele”.

Em latim a liberdade de colocação dos termos na oração é bem mais livre que em português. Isso é garantido pelos casos, impedindo uma palavra se “perca” de outra, se colocada em outro lugar, e nem perde sua função sintática. Note também que são equivalentes as orações “Feminam videt” e “Videt feminam”. O sujeito e o objeto são sempre os mesmos.

4. Dativo: esse caso expressa a pessoa ou coisa em relação à qual a idéia ou ação do verbo é relevante; é também o caso do objeto indireto:

            Aquam feminae dat.               Ele dá águas à mulher.
            Bonum puellae optat.              Ele deseja o bem à menina.

Se disséssemos apenas “Aquam dat”, “Ele dá água”, teríamos o direito de perguntar a quem ele dá água. É justamente o dativo que vem mostrar a quem a ação se refere.

5. Ablativo: geralmente expressa noções que expressamos em português com as preposições “com”, “em”, “por”, com a locução “de onde”, e outros. É o caso mais delicado do latim:

Cum feminā ambulat               Ele anda com a mulher
Femina est in aquā                  A mulher está na água
Nauta feminam taedā terret     O marinheiro amedronta a mulher com uma tocha

A diferença da terminação do ablativo com o nominativo está apenas, no singular, na quantidade da vogal final: no ablativo ela é sempre longa, o que mostramos com uma macro sobre as vogais (ver Introdução). Neste curso, como dito na introdução, não estamos marcando a quantidade das vogais. Por isso, cuidado: na primeira conjugação o ablativo singular tem o mesmo final do nominativo singular. Isso causará um pouco de confusão no começo.

Note também que a terminação do genitivo é a mesma do dativo!

6. Vocativo: é o caso do chamamento, da evocação:

            Femina, cave!             Cuidado, mulher!

Voltaremos a esse caso mais tarde. É o mais simples de ser reconhecido, pois sempre vem entre vírgulas.

I. A primeira declinação

Chamamos de declinação ao conjunto de finais dos seis casos acima, tanto no singular quanto no plural.

Em latim, existem cinco conjuntos diferentes de terminações. As que mostramos acima fazem a primeira declinação:

                                  singular                        plural

nominativo       fèmina                          fèminae
genitivo            fèminae                       feminàrum
acusativo          fèminam                      fèminas
dativo              fèminae                       fèminis
ablativo            fèminā                         fèminis
vocativo           fèmina                         fèminae

Chamamos de radical de uma palavra a parte sobra quando retiramos a terminação do genitivo singular. Na primeira declinação o genitivo singular é sempre -ae. Todas as outras quatro têm terminações do genitivo singular diferentes umas das outras. Por isso, é pelo genitivo que se fica sabendo se uma palavra pertence a essa ou àquela declinação.

Todas as palavras são também enunciadas no dicionário fazendo menção de seu genitivo: femina, ae;   aqua, -ae. Mais à frente veremos a utilidade dessa disposição.

Note na primeira declinação quais são os casos semelhantes, tanto no singular quanto no plural. Freqüentemente surgem confusões entre eles. A regra talvez mais importante nesse sentido será sempre: observe o verbo! É com o conhecimento do verbo que se determinam facilmente o sujeito, os objetos, e os outros elementos de uma oração. É em torno do verbo, em verdade, que todos os elementos se organizam. Comece sempre a análise de uma oração em latim procurando o verbo. Muitas vezes você poderá ser enganado pela ordem das palavras, mas, com a ajuda do verbo, toda dúvida pode ser sanada. Não se esqueça de que o latim é econômico nos pronomes. Muitas vezes você terá que preencher essa lacuna, principalmente se a oração não vier já acompanhada por uma palavra no nominativo.

>>> CONTINUAÇÃO DA LIÇÃO 1 (EXERCÍCIOS)


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