Katana, a Arma do Samurai

(Texto de Nuno Theodoro, originalmente publicado no fanzine "O Quickening")

Durante séculos, a espada japonesa tem sido um símbolo quase inigualável em vários sentidos. Desde o artístico, com todo o esmero e atenção para sua fabricação, passando pelo prático, como uma formidável e letal arma, culminando em todo seu sentido filosófico, que move muitas pessoas pelo "Caminho da Espada" desde o tempo dos samurais, guerreiros nipônicos cujas imagens são associadas a essa arma, até os praticantes de artes marciais de hoje.

As primeiras espadas que existiram no Japão medieval eram retas, pobremente temperadas e com fio duplo ou simples. Não havia desenho padrão, e elas eram atadas à cintura por meio de cordas. Durante as guerras em campo aberto, outras armas eram mais utilizadas, tais como lanças ou arco e flechas, e as espadas, chamadas "tachi", eram usadas pelos guerreiros montados a cavalo. Somente os oficiais com as patentes mais altas é que tinham direito a uma legítima espada, importada da China e muito cara para os padrões da época. Mesmo essas eram facilmente quebradas, o que gerava, obviamente, muitos acidentes.

Conta-se, então, que em meados do século X um ferreiro de nome Amakuni teve a idéia de fazer uma curvatura na lâmina e corte somente em um lado. A partir daí um novo parâmetro se estabeleceria e se solidificaria até hoje. A princípio as espadas japonesas eram feitas em moldes e somente com um tipo de aço. Após o desenvolvimento de técnicas de fabricação mais elevadas, foi usada uma maior diversificação dos metais, misturando uns mais pesados com outros mais leves, com o propósito de melhorar o balanceamento da lâmina, mantê-la resistente e ao mesmo tempo apta a realizar cortes perfeitos.

Inicialmente o ferreiro especializado na confecção das espadas usa um pequeno bloco de metal, que é refinado e depois passa a ser aquecido e batido, sendo que alguns deles podem ser batidos de dezenas até centenas de vezes até atingir-se o ponto desejado, para depois ser colocado o metal mais duro na lâmina. Depois, a peça é aquecida com barro e rapidamente resfriada, criando o Hamon, nome dado ao desenho ondulado próximo ao fio da lâmina, sendo que a variação da temperatura de aquecimento é que cria o desenho desejado. Após isso é que o espadeiro coloca a tsuba (guarda) e a bainha, que é feita de madeira e geralmente ornamentada e acabada com couro. Em muitos casos, existe um artesão específico somente para a fabricação dessas duas últimas peças.

Devido à influência religiosa nas artes marciais e suas derivações no oriente, existe também um processo espiritual que o cuteleiro deve seguir. Acredita-se que a espada reflete os sentimentos daquele que a fez e, depois, os do seu dono. Por isso, fazê-la era um ato religioso, acompanhado de preces e meditações, e o ferreiro podia abster-se de sexo, comida, bebida alcoólica e da presença de outras pessoas, transformando seu ateliê num templo, para que a espada pudesse obter sua própria alma e tornar-se um objeto "vivo".

Existem várias lendas em torno da fabricação de espadas. Uma das mais conhecidas é sobre o famoso armeiro Masamune. Dizia-se que ele tinha um espírito muito bom e via suas obras como objeto artístico e um instrumento para a busca da paz. Um de seus melhores alunos chamava-se Muramasa, porém, apesar de ter aprendido todas as técnicas, tinha um espírito ruim. Quando se colocava uma espada de cada um dos artesãos na água e jogavam-se pétalas, estas eram repelidas para longe da lâmina de Muramasa e atraídas pela de Masamune, devido à diferença do espírito que ambos colocavam nas armas.

A história da katana está intimamente ligada à do Japão por fatos como a divisão de classes de 1588 - quando o então imperador, Toyotomi Hideyoshi, decretou que essa arma só poderia ser usada pela classe guerreira, ou seja, os samurais - ou o período pós-guerra, com a ocupação americana, que proibiu o porte ou a fabricação de quaisquer armas, incluindo a espada. Hoje a tradição da espada ressurge e se expande cada vez mais, trazendo consigo suas raízes para o ocidente. Consigo trouxe também a prática das escolas de esgrima japonesas, que cada vez mais se difundem. Alguns exemplos são o Kendo e o Kenjutsu (técnicas de esgrima propriamente dita), o Battojutsu (técnica de saque e corte com espada), o Nintojutso (técnica com duas espadas) e assim por diante. Além disso, o Bushido, que é o código de ética samurai, também encontra mais adeptos, cultivando os preceitos dos antigos guerreiros samurais (palavra que significa "aquele que serve"), tais como honra, bondade, serenidade e lealdade, na eterna luta para melhorar o corpo, a mente e o espírito.

Não é de se espantar que tal arma, com tanto valor histórico e filosófico, logo encantasse os MacLeods. Ambos utilizam katanas conhecidas como Dragon Head (Cabeça de Dragão) por causa do desenho esculpido em seu cabo. Connor MacLeod usa a katana presenteada por Ramirez, seu mestre, que teria sido dada a ele pelo próprio Masamune, enquanto Duncan ganhou a sua de Hideo Koto, respeitado samurai, como prova de amizade e agradecimento.

Num jogo em que a perícia com uma arma faz-se decisiva para a própria sobrevivência, cabe a cada Imortal escolher a que melhor se adapta a si e a seus confrontos, e a katana mostrou-se cada vez mais confiável, aumentando ainda mais para nós o fascínio que ela desperta.
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