Jin Ke e o Imperador da China

(Texto de Adrianna Siepierski e Nuno Theodoro, originalmente publicado no fanzine "O Quickening")

Em "Highlander: A Batalha Final", o Imortal Jin Ke aparece como um honrado lutador chinês manipulado pelo poderoso e vingativo Kell, que teceu através dos séculos uma complexa trama contra Connor MacLeod. Porém a verdadeira história que levou Jin Ke à fama ocorreu há mais de doze séculos, durante a "Era dos Estados Guerreiros", período durante o qual sete feudos principais, cujos territórios depois formaram a atual China, enfrentaram-se constantemente. A guerra durou até que Ying Zheng, rei de Qin (que pronuncia-se "Chin"), finalmente reuniu todos os sete feudos sob seu comando, formando um grande império e estabelecendo um governo fortemente centralizado e tirânico.

O futuro imperador Ying Zheng nasceu em 258 a.C. e subiu ao trono do feudo de Qin em 246 a.C., quando ainda tinha apenas 13 anos de idade. Rico, ambicioso, inteligente e controlando um grande e bem treinado exército, o jovem rei continuou com sucesso a guerra de seus antecessores contra os feudos rivais, vencendo-os e anexando-os um a um. Mas Ying Zheng mostrou ser também paranóico, megalômano e cruel, obcecado com a idéia de juventude eterna. Governando com mão de ferro, Ying Zheng condenou vassalos leais à morte por qualquer falha, massacrou as populações das terras que conquistava e tornou-se odiado até por seu próprio povo. Para defender-se de invasões (e também impedir a fuga de seus súditos apavorados), Ying Zheng ordenou a construção de uma gigantesca muralha ao redor de seus territórios e, para isso, recrutou operários à força entre os camponeses, submetendo-os a condições desumanas de trabalho. Seus métodos antipáticos de governo levaram a uma tentativa de rebelião entre os anos de 238 e 237 a.C., a chamada Revolta Lao Ai, que foi duramente reprimida.

O príncipe Zhao Dan, filho do Rei Zhao do feudo de Yan, no norte, decidiu dar um basta no temível avanço do rei Ying Zheng sobre os territórios vizinhos e contratou um homem para matá-lo, imaginando que assim o feudo de Qin, sem seu forte líder, pudesse ser forçado a aceitar um acordo de paz. O escolhido para a perigosa missão foi Jin Ke, que já teria alguma antipatia pessoal por Ying Zheng.

Algumas fontes históricas citam Jin Ke como tendo sido um assassino profissional do feudo de Yan que, arrependido de seu passado de crimes, decidiu fazer algo honrado por seu povo. Outras fontes, contudo, dizem que Jin Ke foi um soldado que trabalhava como vigia nas obras das Grandes Muralhas Chinesas, onde via operários morrerem todos os dias para satisfazer a loucura de Ying Zheng. Especula-se que um oficial superior ou mesmo um parente de Jin Ke teria sido condenado à morte por não cumprir uma ordem do rei, talvez durante a Revolta Lao Ai, o que mais tarde levou-o a aceitar a chance de vingança. Há fontes ainda que alegam que Jin Ke teria apenas matado sem querer um homem num restaurante, ao tentar impedi-lo de maltratar uma criança, e por isso foi chantageado pelo príncipe Dan, que obrigou-o a tentar matar o rei Ying Zheng em troca de perdão por seu primeiro crime. Essa última versão acabou sendo usada no filme chinês "O Imperador e o Assassino" ("The Emperor and the Assassin"/"Jin Ke Ci Qin Wang"), de 1999.

Junto com o príncipe Dan, Jin Ke elaborou então um complicado jogo de diplomacia, suborno, traição e falsificação para aproximar-se do rei inimigo. Em 227 a.C., fazendo-se passar por um desertor ou um agente duplo infiltrado no alto escalão dos exércitos de Yan, Jin Ke finalmente conseguiu uma audiência particular com Ying Zheng sob o pretexto de entregar-lhe documentos militares secretos e um importante mapa do feudo de Yan. Só que o mapa na verdade escondia uma adaga, que Jin Ke imediatamente usou para atacar o rei. Ying Zheng, mesmo assustado, conseguiu desviar e esconder-se a tempo atrás de uma pilastra e, ao arremessar a adaga contra ele, Jin Ke infelizmente errou o alvo, morrendo em seguida sob a espada do rei furioso.

Os planos de dominação de Ying Zheng prosseguiram e, em 221 a.C., ele conquistou o último feudo independente, tornando-se enfim Qin Shi Huang Di, o "Primeiro Imperador de Qin". Outros atentados contra sua vida também falharam e Ying Zheng governou até 210 a.C., quando morreu durante uma viagem por seus vastos domínios - e de Qin ("Chin") originou-se o nome "China", usado hoje pelos ocidentais para nomear o grande país asiático. Mas mesmo tendo cometido barbaridades, como mandar queimar milhões de livros ou enterrar professores e estudantes vivos, é preciso reconhecer que o rude imperador também foi bom para a China. Além das Muralhas, ele construiu importantes estradas e represas, introduziu a escrita e a moeda padronizadas e revolucionou a agricultura. O "exército de terracota", encontrado em sua tumba no Monte Li, em Shaanxi, com mais de 7.000 estátuas (algumas das quais em exposição no Brasil a partir deste mês), é uma prova inegável da grandiosidade de seu império.

Seja como for, Jin Ke entrou para a história da China como um herói patriótico, o primeiro dos que morreram tentando dar fim ao rei cruel, e uma lenda ainda lembra os versos que ele teria cantado antes de partir em sua funesta missão: "Suave é o vento que soprava, frio é o rio que corria, corajoso é o homem que se foi, e nunca irá o homem retornar!"
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