A Águia de Sangue de Kanwulf

(Texto de Andrea Ortelan e Adrianna Siepierski, originalmente publicado no fanzine "O Quickening")

No episódio "Terra Natal" ("Homeland") de "Highlander: A Série", o Imortal viking Kanwulf realiza sacrifícios humanos chamados de "Águia de Sangue" para obter favores de seu deus Odin. Muita gente nunca ouviu falar disso, e com razão: a "Águia de Sangue" é um assunto pouco discutido até entre os estudiosos da cultura nórdica, e há quem diga que tal prática não tratava-se de um sacrifício ritual, mas sim de um cruel método de tortura. Seja como for, a "Águia de Sangue" realmente existiu mas, ao contrário do que é dito na série, não limitava-se apenas a arrancar a pele do peito das vítimas no formato de uma águia.

O sacrifício dedicado ao deus supremo Odin, senhor da guerra, na verdade consistia em pendurar uma pessoa de braços abertos, romper-lhe a caixa toráxica e afastar-lhe as costelas para os lados, expondo assim os órgãos internos. Os pulmões seriam então arrancados e a carcaça resultante lembraria o formato de uma águia com as asas estendidas. Como o ritual acontecia com a vítima ainda viva, certamente não deveria ser muito agradável para os condenados. E a Águia de Sangue era realizada propositalmente para inspirar terror nos inimigos, principalmente se eles também fossem vikings: os guerreiros acreditavam que só seriam admitidos no paraíso de Odin se mantivessem seus corpos inteiros.

Para os vikings, o mundo era dividido em três diferentes planos ou dimensões, todos existentes ao redor de uma árvore imensa e sempre verde, chamada Yggdrasil. No topo de seus ramos estaria Asgard, o domínio de Odin, onde os deuses viveriam em 12 maravilhosos reinos com palácios de ouro e prata. O mais rico e importante palácio era o Valhalla, que possuía mais de quinhentas portas e cujo teto era forrado de escudos de combate. Lá, os espíritos dos heróis lutariam entre si todos os dias mas seus ferimentos cicatrizariam ao anoitecer, quando então participariam de fartos banquetes com Odin. Essa animação constante era a idéia de paraíso eterno para os vikings, e ser um guerreiro significava pertencer à classe dos escolhidos que um dia conviveria alegremente com os deuses. Mas um mutilado não poderia combater diariamente no Valhalla, daí o medo dos guerreiros em ter seu corpo retalhado.

Já no tronco de Yggdrasil ficaria o mundo dos mortais, povoado não só por humanos mas também por gigantes, anões, elfos e outras figuras fantásticas. E as raízes desta árvore estariam no mundo inferior, reino da deusa Hel, que recebia todos os homens e mulheres que morriam por outro motivo que não fosse assassinato, como por exemplo doença ou velhice - no caso, as causas de morte da maioria da sociedade viking. Nesse reino sombrio as almas flutuariam tristemente pela eternidade, o que não era uma perspectiva animadora para um valente guerreiro viking.

E por que o Imortal Kanwulf buscava tanto seu machado, saqueando tumbas na Escócia? Porque ser um guerreiro significava conquistar riqueza através de invasões e saques, e os vikings acreditavam que precisariam dessa riqueza não só para obter poder, mas também para viver confortavelmente no além - os guerreiros eram enterrados ou lançados ao mar em grandes barcos junto com suas posses, inclusive seu cavalo, suas armas e seus tesouros. Assim o machado de Kanwulf, que ele dizia ter sido feito pelos próprios deuses, seria essencial para suas lutas diárias no Valhalla. Além do mais, tirar os tesouros das tumbas dos inimigos era uma forma de privá-los de conforto no pós-morte, portanto isso servia também como uma vingança para Kanwulf.

(agradecimentos a Mary Farah pela pesquisa original sobre o assunto)
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