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Os Filhos Da Terra I - Ayla: a Filha das Cavernas

 

 

"...A sede fez com que prestasse atenção a um rumor de água nas proximidades. Passou então a seguir o barulho e com grande alívio deu de novo com o pequeno rio. Estava tão perdida ali como na floresta, mas o riozinho fazia com que se sentisse melhor, era qualquer coisa que lhe dava um sentido de direcção e sempre poderia matar a sede, se permanecesse junto dele. Só  que, na véspera, ele pôde dar-lhe alguma alegria, mas agora pouca coisa podia fazer por sua fome.

 

Não ignorava que se comiam folhas e raízes, mas não tinha noção de quais eram comestíveis. A primeira folha que provou era de gosto amargo e lhe deixou a boca ardendo. Cuspiu e lavou a boca, ficando hesitante em fazer novas experiências. Depois de beber mais água para sentir-se temporariamente cheia, retomou a caminhada descendo o rio. A escura floresta agora a amedrontava e ela tratou de ficar sempre perto do riacho, onde o sol era brilhante. Quando a noite caiu, cavou um lugar fora do terreno do pinheiral e ali se enroscou como na véspera.

 

Sua segunda noite sozinha não foi melhor do que a primeira. Tinha fome e sentia na boca do estômago um medo paralisante. Jamais tivera tanto pavor, tanta fome e se sentido tão só. O sentimento de perda era tão doloroso que bloqueou na memória tudo que se referia ao terremoto e à sua vida anterior. Quanto ao futuro, o seu pensamento lhe dava pânico e ela se esforçava para não pensar nele. Não queria pensar no que lhe poderia acontecer ou quem iria tomar conta dela.

 

Vivia exclusivamente o momento, tratando apenas de vencer o obstáculo seguinte, de cruzar algum afluente do rio ou escalar um lenho atravessado no caminho. Seguir o riozinho tornou-se um fim em si mesmo, não por que isso a fosse levar a alguma parte, mas porque era a única coisa que lhe dava uma direção, um propósito, uma linha de conduta. Era melhor do que não fazer nada.

 

Depois de algum tempo, o vazio no estômago tornou-se uma espécie de dor anestesiada que lhe amortecia o pensamento. De vez em quando chorava, enquanto prosseguia, penosamente, o caminho com as lágrimas escorrendo e fazendo riscas brancas no rosto encardido. Seu corpinho nu estava em pastado de lama e os cabelos, outrora quase brancos, lindos, macios como seda, achavam-se emplastrados na cabeça, formando um emaranhado de folhas de pinho e barro.

 

A caminhada ficou mais difícil quando a floresta verdejante foi-se transformando numa vegetação menos densa, desaparecendo do chão as folhas caídas dos pinheiros e sua passagem obstruída por matos e gramúleas altas, o característico revestimento de terrenos com árvores de folhas pequenas e efêmeras. Quando chovia, ela se enroscava em algum tronco caído, ou debaixo de alguma pedra grande ou aforamento de rocha, ou então, simplesmente, continuava caminhando pela lama, deixando a chuva cair sobre ela. À noite, amontoava folhas velhas e secas, sobras de outras estações, e se metia dentro desse monte para dormir.

 

O enorme suprimento de água impediu a desidratação que provoca a hipotermia, isto é, o abaixamento da temperatura do corpo que pode levar à morte devido à longa exposição ao frio. Mas a menina estava cada vez mais fraca. Havia ultrapassado a sensação da fome, apenas acompanhava-a uma dor enjoada e constante e, de vez em quando, o sentimento de vertigem. Tentava não pensar nisso ou em qualquer outra coisa, a não ser no rio, simplesmente seguir o rio, nada mais do que isso.

Com o sol penetrando em seu ninho de folhas secas, acordou. Levantou-se do aconchego de seu buraco e, ainda com folhas úmidas coladas ao corpo, foi ao riacho tomar seu gole matinal. ..."

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

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