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 O Amante de Lady Chatterley

 

 

 

“… De manhã chovia sempre. Clifford dizia que gostava mais de Wragby do que de Londres. Aquela região tinha uma determinação própria, inflexível, e os habitantes eram corajosos. Connie perguntava a si mesma se teriam algo mais: olhos e espírito não tinham com certeza. As pessoas eram tão pálidas, disformes, tristes e hostis como a terra. Só na dureza do seu dialecto e no malhar das botas mineiras, ferradas, quando em grupo se arrastavam no asfalto em direcção a casa vindos do trabalho, havia qualquer coisa de terrível e de misterioso.

Não houve boas-vindas para o jovem fidalgo, nem festa, nem delegação, nem mesmo uma simples flor. Somente uma viagem húmida de carro através de uma estrada sombria e húmida, que desaparecia por entre as árvores tristes e reaparecia na vertente do parque, onde carneiros cinzentos e húmidos pastavam, até chegar ao cimo do monte, onde a casa estendia a sua fachada castanha-escura e a governanta e o marido esperavam, como caseiros indecisos, prontos a balbuciar as boas-vindas.Não havia comunicação entre Wragby Hall e a aldeia de Tevershall, nenhuma. Nem saudações, nem reverências.

Os mineiros apenas olhavam, os comerciantes tiravam os bonés a Connie como a uma pessoa conhecida e baixavam a cabeça desajeitadamente a Clifford. E era tudo. Havia um abismo intransponível e um tranquilo ressentimento de parte a parte. Ao princípio, Connie sentiu-se afectada com os laivos constantes de ressentimento que a aldeia manifestava. Depois tornou-se insensível e passou a ser como um tónico aquilo com que era obrigada a viver. Ela e Clifford não eram de modo nenhum impopulares, mas pertenciam a uma espécie diferente da dos mineiros.

Havia um abismo intransponível, uma brecha indescritível, talvez como riem sequer exista no sul de Trent. Mas nos Midlands e o Norte industrial havia um abismo tal que era impossível uma comunicação. "Fica no teu lugar que eu fico no meu!" Uma estranha recusa do pulso comum da humanidade. No entanto, a aldeia gostava de Clifford e de Corime, num plano abstracto. Na carne, de cada lado era "Deixem-me em paz".

 

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