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Doutrina Católica

Mensagem do Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales

Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

11/6/2004

O Sagrado Coração de Jesus

O mês de junho é tradicionalmente consagrado ao culto do Coração de Jesus. Ele está incluído entre as devoções populares aprovadas pela Igreja. No Brasil, muito se deve ao Apostolado da Oração que tem servido através de séculos como veículo de difusão desse costume. A História da Igreja em nosso país reserva-lhe um lugar especial. Nos períodos de transição como no pós-conciliar, a eles se deve valioso contributo à perseverança e à vitalidade religiosa.

As origens dessa associação são modestas. O Diretor Espiritual de escolásticos da Companhia de Jesus em uma região da França, os convidou a formar um grupo de oração pela salvação das almas. Isso ocorreu a 3 de dezembro de 1844. Os atos piedosos eram feitos em união com o Coração de Jesus, conforme os ensinamentos de Santa Margarida Maria Alacocque. Em 1846 toma corpo a idéia, encorajada pelos Bispos, enriquecida de indulgências pelo Papa Pio IX, em 1849. Cresceu rapidamente na França e se espalhou por todo o mundo. O Padre Henri Ramière, em 1860, era o Diretor da obra e deixou claro que seus objetivos estavam vinculados aos propósitos da devoção ao Coração de Jesus. Nos mais antigos documentos aparece nitidamente essa união.

O Senhor possui um coração igual ao nosso, do ponto de vista humano. Ao cultuá-lo, nós adoramos nele o amor infinito de Deus pelas criaturas, que levou o Salvador a dar sua vida pela Humanidade. A veneração ao Sagrado Coração de Jesus vai além do órgão físico para atingir o principio vital, a pessoa do Cristo, o Mistério da Redenção. Ao nos referir a esse centro da nossa existência, nós proclamamos a inesgotável bondade do Salvador, como lemos no Evangelho de São João (3,16): “Deus tanto amou o mundo que entregou o seu próprio Filho”. A devoção a esse centro divino-humano nos dá um critério de julgamento e uma fonte de estímulos eficazes à pastoral que promove práticas piedosas, como o Apostolado da Oração, no meio do Povo de Deus. Essa associação religiosa é um válido instrumento para fazer crescer o culto ao amor de Deus pelos homens. Ao celebrar o 1º centenário da Consagração do Gênero Humano ao Divino Coração de Jesus, a 11 de junho de 1899, João Paulo II enviou aos católicos reunidos em Paray-le-Monial um documento alusivo à data. Destaco seu depoimento pessoal: “O Coração do Verbo Encarnado é o sinal do amor por excelência; também eu, pessoalmente, ressaltei a importância e os fiéis penetrarem o mistério desse Coração transbordante de amor pelo homem, que contém uma mensagem de extraordinária atualidade” (nº 3). O Sucessor de Pedro toma, assim, posição clara e entusiástica sobre esse culto. O exemplo merece especial reflexão por parte dos católicos para um revigoramento da vida cristã e, em decorrência, maior atuação no campo social. Eles têm aí sólidos alicerces. Somos conduzidos ao mistério da Redenção, à Chaga aberta na Sexta-feira Santa, conforme o Evangelista S. João (19,34): “Um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança”. Esse culto possui uma força específica. A religião cristã não venera idéias abstratas. Ela vive o fato concreto e histórico: Jesus. O amor redentor de Deus não é produto de reflexão teológica, mas é realidade que tem seu lugar e sua hora na História do mundo.Assim, falamos das mãos incansáveis de uma mãe, e não nos referimos exclusivamente às mãos físicas e sim ao agir, ao sofrer, receber e dar. A adoração ao Cristo vai além de determinada parte de um corpo, órgão físico para atingir a pessoa do Senhor, o Mistério da própria Encarnação. Esta é a base da nossa Fé: Deus viveu no corpo humano e o símbolo de sua pessoa é o resumo deste mistério que nele adoramos. Como estímulo a esses atos, recordo o objetivo de uma etapa da nossa Missão Popular Rumo ao III Milênio. Por determinação do Papa Leão XIII foi feita a consagração de todo o gênero humano ao Coração de Jesus. Sua importância pode ser avaliada na afirmação do mesmo Pontífice, referindo-se a esse evento: “O maior acontecimento do meu Pontificado”. A 25 de maio de 1889, ele havia publicado a Encíclica “Annum Sacrum” sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Vários outros documentos semelhantes foram editados por seus Sucessores na Cátedra de Pedro.

Ao criar um clima favorável ao perdão, à preservação dos valores morais e ao respeito à vida humana estamos indo às raízes dos males e não só lutando contra os efeitos delas advindos. Somos bombardeados constantemente por um noticiário, que não somente revela a total insensibilidade de bandidos e traficantes pela dignidade do homem criado à imagem de Deus, mas também manifesta a gravidade dos males oriundos de acidentes do tráfego, da miséria, da violência. Todo esse quadro agressivo nasce de um coração insensível ao amor de Deus e, em conseqüência, à vida e aos direitos humanos. O mesmo se verifica quando notoriamente se advoga uma vida imoral, o que se constata com alguma freqüência em artigos, fotografias, novelas etc. Torna-se público e com crescente audácia, o combate explícito aos valores morais. Quando ouvimos e lemos algo contra tais excessos, às vezes temos a impressão de que assim agem um tanto constrangidos, pois tentam desculpar-se: “Não sou moralista...”. Parece que ser honesto, hoje, envergonha o homem que se diz moderno. No entanto, defender a dignidade somente nos enobrece. Por diversas vezes foram realizadas aqui no Rio de Janeiro Missões Populares. Assim, por exemplo, em 1992, a Cruz de Santo Domingo foi entronizada em 200.000 lares, por 10.000 missionários leigos devidamente preparados, que trabalharam em 140 paróquias. Em 1999, atendendo a pedido do Santo Padre em “Tertio Millennio Adveniens” (nº 39), a Missão Popular rumo ao Terceiro Milênio teve como objetivo “Um coração para o Rio 2000”. Recordemos o significado desse símbolo - coração – e busquemos “revelar o Rosto amoroso do Pai”.

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